Candel estava parado em frente aos portões imponentes da Academia Militar de Valtara. O vento soprava suavemente, agitando seus cabelos negros, e os olhos dele, gélidos e vazios, observavam o ambiente com indiferença. A construção à sua frente era grandiosa, com torres altas que pareciam tocar o céu, e o brasão da academia—um símbolo de honra e poder—reluzia na luz da manhã.
Havia um certo burburinho ao redor dele. Grupos de estudantes, novos e antigos, se amontoavam, trocando risadas e conversas animadas. Mas onde quer que Candel passasse, as conversas diminuíam, e os olhares curiosos, especialmente das garotas, se voltavam para ele. Sua presença era magnética, e seu rosto impecável, com feições fortes e marcantes, parecia ter sido esculpido pelos próprios deuses.
Candel, contudo, não parecia notar ou se importar. Ele caminhava de maneira determinada, ignorando os olhares e os sussurros ao seu redor. Mas dentro de si, sentia uma leve inquietação—não por causa das pessoas, mas pelo que estava por vir.
Ao chegar à área de testes, ele foi abordado por um dos instrutores, um homem alto e musculoso, com uma cicatriz que cortava seu rosto de cima a baixo. Ele o olhou de cima a baixo, com uma expressão cética.
"Nome?" perguntou o instrutor, sua voz rouca e autoritária.
"Candel Ciarlini," respondeu ele, em um tom baixo, mas firme.
O instrutor levantou uma sobrancelha. "Ciarlini... nunca ouvi falar desse nome. Você é de onde?"
"De um lugar que não existe mais."
A resposta vaga e fria de Candel fez o instrutor estreitar os olhos, mas ele não pressionou mais. "Muito bem, siga em frente. Seu teste começa agora."
Candel assentiu e seguiu para a arena, onde outros candidatos já estavam se preparando. A arena era vasta, cercada por arquibancadas que começavam a se encher com os olhares curiosos dos alunos veteranos, ávidos para ver o desempenho dos novos recrutas.
Um garoto alto, com cabelos dourados e olhos verdes brilhantes, se aproximou de Candel enquanto eles esperavam. Ele tinha um sorriso fácil no rosto e uma postura descontraída.
"Ei, sou Tristan. Parece que estamos na mesma fila," disse ele, estendendo a mão.
Candel olhou para a mão estendida por um momento, sem mover um músculo. Finalmente, ele deu um leve aceno com a cabeça, mas não retribuiu o gesto. "Candel," disse ele, seco.
Tristan abaixou a mão, sem se deixar abalar pelo comportamento frio. "Candel, hein? Nome interessante. Está nervoso para o teste?"
"Não."
Tristan riu. "Você é bem direto, hein? Bom, de qualquer forma, boa sorte. Vamos precisar."
Candel apenas deu de ombros, mantendo os olhos na arena à sua frente. O instrutor voltou a aparecer, explicando as regras do teste. Os candidatos seriam avaliados em três etapas: combate, resistência e controle de frequência. Cada etapa exigiria habilidades diferentes, e somente os melhores seriam aceitos.
A primeira etapa era o combate. Candel foi chamado ao lado de Tristan, que parecia animado por ter sido emparelhado com ele. A arena foi cercada por uma barreira de luz, e os dois se posicionaram em lados opostos.
"Vamos ver do que você é capaz, Candel," disse Tristan, com um sorriso desafiador.
Candel permaneceu em silêncio, sua expressão impassível. O sinal para o início do combate foi dado, e Tristan foi o primeiro a atacar, movendo-se com agilidade, sua frequência de luz manifestando-se em uma espada de energia verde que cortava o ar em direção a Candel.
Mas antes que Tristan pudesse completar seu movimento, Candel desapareceu de vista, movendo-se com uma velocidade inacreditável. Num piscar de olhos, ele estava atrás de Tristan, segurando-o pelo braço e jogando-o no chão com uma força que fez a arena tremer.
Tristan tentou se levantar, mas Candel já estava sobre ele, o pressionando contra o chão com um golpe direto no peito. O público ficou em silêncio, surpreso com a rapidez e brutalidade do ataque de Candel.
"Renda-se," disse Candel, a voz baixa e sem emoção.
Tristan ofegava, o choque estampado em seu rosto. Ele não esperava que alguém pudesse se mover tão rápido. Relutante, ele ergueu a mão, sinalizando sua rendição. Candel soltou-o imediatamente, levantando-se e se afastando sem olhar para trás.
O instrutor observava com olhos estreitos. "Interessante," murmurou para si mesmo, antes de chamar o próximo combate.
Após o combate, Candel passou pela etapa de resistência com a mesma facilidade. Suas habilidades físicas, aprimoradas pelos anos de treinamento intenso, o tornaram praticamente imbatível. Mas foi na última etapa—o controle de frequência—que as coisas começaram a se complicar.
Candel foi instruído a manifestar sua frequência de luz. Ele sabia que seu poder estava além da luz visível, algo que Beatriz havia mencionado diversas vezes. Mas ele não sabia como controlar aquilo conscientemente. Respirou fundo, fechou os olhos e tentou se concentrar.
Por um breve momento, uma leve aura vermelha começou a emanar de seu corpo, mas logo desapareceu, deixando apenas um vago vestígio de calor no ar. O instrutor franziu a testa.
"Isso é tudo? Tente novamente."
Candel tentou mais uma vez, mas o resultado foi o mesmo—uma manifestação fraca e instável. Ele sentia a fúria dentro de si, mas era como se estivesse contida por uma barreira invisível que ele não conseguia romper.
"Você é forte no combate, mas parece que não tem controle adequado da sua frequência," disse o instrutor, com um tom de desapontamento. "Isso pode ser um problema."
Candel manteve-se calado, mas por dentro, sentia-se frustrado. Ele sabia que havia algo mais profundo em seu poder, mas a academia parecia não entender isso. Ele foi aceito, mas com uma nota baixa no controle de frequência, o que lhe deu uma posição baixa entre os recrutas.
No primeiro dia de aulas, Candel se viu cercado por olhares curiosos e comentários sussurrados. As garotas olhavam para ele com admiração, e alguns rapazes, como Tristan, tentavam se aproximar, apesar da frieza dele.
"Ei, Candel!" Tristan chamou, se aproximando com um sorriso, ignorando completamente o fato de ter sido derrotado com tanta facilidade no teste. "Parece que estamos na mesma turma."
Candel apenas acenou com a cabeça, seu rosto sem expressão. Antes que pudesse responder, outra garota se aproximou, seus olhos brilhando com curiosidade.
"Você é Candel, certo? Ouvi dizer que você é incrível no combate," disse ela, com um sorriso tímido.
Candel olhou para ela, seus olhos frios analisando-a brevemente. "Sim," respondeu, simples e direto.
A garota corou levemente, enquanto Tristan ria. "Você realmente sabe como encantar as pessoas, hein, Candel?"
Antes que pudesse responder, um grupo de veteranos entrou na sala, interrompendo a conversa. Eles tinham um ar de superioridade e um sorriso malicioso nos rostos. O líder deles, um rapaz alto com cabelos prateados e um olhar arrogante, se aproximou de Candel.
"Então, você é o tal novato que todo mundo anda falando," disse ele, a voz carregada de desprezo. "Acho que não se importa de mostrar um pouco do que sabe... agora."
Candel o olhou de cima a baixo, sem medo ou hesitação. "Não estou interessado em perder tempo com você."
O veterano riu, mas a risada não chegou aos olhos. "Parece que temos um novato com atitude. Acho que vou gostar de te ensinar seu lugar."
Ele fez um movimento rápido, tentando pegar Candel de surpresa, mas antes que pudesse sequer tocar nele, Candel agarrou seu braço e o torceu, fazendo o veterano gritar de dor. Em um movimento fluido, Candel o jogou no chão, o som de ossos estalando ecoando pela sala.
Todos os presentes ficaram em choque. O veterano se contorceu de dor no chão, enquanto Candel permanecia imóvel, sua expressão fria e indiferente.
"Isso foi por teimosia," disse Candel, olhando para os outros veteranos, que agora hesitavam em avançar. "Alguém mais?"
O grupo recuou, levando o líder caído com eles, sem dizer uma palavra. A sala estava em silêncio, todos ainda processando o que havia acabado de acontecer.
Tristan se aproximou, batendo levemente no ombro de Candel. "Você realmente sabe como causar uma primeira impressão, hein?"
Candel apenas deu um leve sorriso, o mais próximo de uma reação genuína que ele demonstrara até então. Algo estava mudando dentro dele, lentamente, mas com certeza. Ele sabia que a academia seria um desafio, mas também uma oportunidade—uma oportunidade para descobrir mais sobre si mesmo e, talvez, para encontrar algo que havia perdido há muito tempo.