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Chapter 4 - Capítulo 4: Limitações

Locus estava em sua sala, uma vasta e austera câmara repleta de mapas antigos e artefatos de combate. O lugar exalava a aura de sabedoria e disciplina, e as paredes estavam adornadas com pergaminhos e troféus de batalhas passadas. O instrutor estava sentado em uma grande mesa de madeira escura, onde um holograma do exame de combate de Candel se projetava no ar, girando e analisando a performance do cadete.

Ele olhou para o holograma com uma expressão de incredulidade. O desempenho de Candel no exame de combate era, no mínimo, peculiar. Locus revisava os dados, tentando encontrar alguma explicação para o que acabara de testemunhar.

— Não pode ser... — murmurou Locus para si mesmo, esfregando os olhos. — Ele não manifestou nem uma partícula de fóton sequer.

Os cadetes ao redor, enquanto observavam o exame, não perceberam nada de anormal devido à velocidade supersônica de Candel. Mas Locus, com seu treinamento e experiência, havia notado a ausência completa de qualquer manifestação de luz. Ele lembrava-se claramente de um tempo em que a falta de fótons em um combatente era quase inconcebível.

Seus pensamentos foram interrompidos por uma lembrança, que surgiu vívida como um relâmpago em sua mente.

— Rian... — disse Locus em voz baixa. — Meu velho amigo...

Rian, um guerreiro notável durante a guerra contra os terráqueos, tinha sido um exemplo de determinação. Mesmo sem uma quantidade significativa de luz para manifestar, ele havia desenvolvido uma técnica de combate suicida, confiando apenas em sua habilidade física e estratégia. O esforço imenso de Rian para compensar sua falta de luz havia custado a vida dele, mas sua memória permanecia uma lembrança constante para Locus.

— Então é isso, Candel Ciarlini... — Locus murmurou, observando o holograma. — Ele tem uma capacidade física aprimorada, mas nenhuma manifestação de fóton. Será que ele está no mesmo caminho de Rian?

O instrutor se levantou, sua mente fervilhando com uma mistura de perplexidade e preocupação. Ele caminhou pela sala, pensando no significado daquilo para o futuro de Valtara. Os três tipos de manipulação de fótons—atiradores, lutadores de curto alcance e conjuradores—eram os pilares do combate, e cada um desempenhava um papel crucial nas batalhas. Candel não se encaixava em nenhuma dessas classes.

Com isso em mente, Locus decidiu que precisava conversar com Candel, descobrir o que estava por trás daquela estranha habilidade e como isso poderia ser moldado para o bem da academia e do país.

No campo de treinamento, Candel estava envolvido em uma sessão de combate. Ele se movia com uma precisão e velocidade notáveis, mas seu rosto permanecia uma máscara de frieza. Seus movimentos eram perfeitos, mas havia uma ausência de brilho, de uma aura de luz, que o fazia parecer uma sombra em meio ao treinamento dos outros cadetes.

— Vamos lá, Candel! Mostre um pouco mais de energia! — gritou um dos instrutores, tentando animar o cadete.

Candel não respondeu, apenas continuou a treinar com uma intensidade quase mecânica. Seu olhar distante e a falta de interação com os outros cadetes começaram a atrair a atenção e a preocupação de seus colegas.

— Ei, Candel, você está bem? — perguntou um dos cadetes, um jovem chamado Tyron, que se aproximou com uma expressão amigável.

— O que você quer? — Candel respondeu, sua voz carregada de frieza. — Estou aqui para treinar, não para fazer amigos.

Tyron hesitou, surpreso com a resposta rude. Ele tentou manter o tom amigável. — Só queria ver se você estava se adaptando bem. Todos nós estamos tentando nos entender, você sabe?

Candel desviou o olhar e bufou. — Não me importo com isso. Apenas me deixe em paz.

O instrutor Locus observou de longe, analisando a interação. Ele sabia que Candel estava lidando com uma grande quantidade de frustração, e compreendia que a falta de manifestação de fótons o fazia sentir-se insuficiente. Locus se aproximou com uma expressão séria.

— Candel, venha aqui — chamou ele, sua voz firme e autoritária.

Candel virou-se para Locus com um olhar desafiador. — O que é agora?

Locus cruzou os braços, estudando o jovem com uma expressão pensativa. — Observei sua performance. Não emitiu nenhum fóton durante o exame de combate. O que você tem a dizer sobre isso?

Candel, com um olhar frio, respondeu com um tom de desdém. — O que há para dizer? Não tenho nada a mostrar, além do que posso fazer fisicamente. Isso é tudo.

Locus franziu a testa. — Todo guerreiro de luz manifesta pelo menos uma quantidade mínima de fótons. É o que nos define. Sua habilidade física é notável, mas isso não é o suficiente para ser um combatente completo.

— E daí? — Candel replicou, com raiva na voz. — Se eu não posso ser como vocês, então não vale a pena.

Locus suspirou, vendo a frustração e a raiva de Candel. — Você precisa entender que a habilidade física é apenas uma parte do que faz um guerreiro. Se você não pode manifestar fótons, deve encontrar uma maneira de usar o que tem para criar uma vantagem. Não é uma questão de ser como os outros, mas de usar suas próprias habilidades para superar suas limitações.

Candel não respondeu, mas o olhar em seus olhos mostrava uma mistura de raiva e confusão. Ele estava claramente lutando para aceitar sua situação e lidar com as expectativas que lhe eram impostas.

Locus se aproximou um pouco mais, com um tom mais suave. — Se você quiser encontrar seu lugar aqui, terá que aprender a trabalhar com o que tem. Lembre-se, Rian também lutou sem uma manifestação significativa de luz, mas ele encontrou seu próprio caminho.

Candel olhou para Locus, a frustração visível em seu rosto, mas também uma centelha de determinação. — Então o que devo fazer?

Locus deu um leve sorriso. — Treine. Descubra como suas habilidades físicas podem ser aprimoradas. E, mais importante, aprenda a trabalhar com os outros. A força não vem apenas da luz que você emite, mas também do apoio e da colaboração com aqueles ao seu redor.

Enquanto Locus se afastava, Candel ficou em silêncio, refletindo sobre as palavras do instrutor. A raiva e o ressentimento ainda estavam presentes, mas havia uma nova faísca de determinação em seus olhos. Talvez, só talvez, houvesse um caminho para ele encontrar seu próprio lugar e superar suas limitações.

Com uma nova resolução, Candel voltou ao treinamento, sua mente fervendo com as possibilidades do futuro. A luta estava apenas começando, e ele estava determinado a encontrar seu próprio caminho, não importa o quão difícil fosse.