Há oito anos.
"Corram! Eles vão nos pegar se desacelerarmos. Estamos quase no muro!"
Rosa, de treze anos, tentava acompanhar os dois garotos à sua frente. Se ela ficasse para trás, sabia que eles não poderiam esperar por ela. Um erro poderia levá-los à captura.
Ela podia ouvir os cachorros de Graham revelando a posição deles não muito atrás dela. Os chamados implacáveis dos cães aumentavam sua adrenalina. Uma mistura de medo e excitação a empurrava para correr o mais rápido que podia, sem parar quando seus sapatos desgastados se abriram, fazendo com que a sola de seus pés doesse com o caminho pedregoso.
"Eu não quero ser feito um escravo," disse Matias, um dos jovens garotos com quem ela tinha feito amizade. Ele tinha sido reticente em se juntar a eles na fuga, mas uma vez que Rosa e seu amigo Alexandre começaram a correr, ele seguiu e não conseguiu parar.
Rosa também não queria ser transformada em uma escrava. Ter a marca dolorosa da propriedade e ser vendida não diferente de um animal. As mulheres mais velhas que foram colocadas no mesmo quarto que ela tinham avisado Rosa do destino de uma flor bonita como ela se fosse vendida.
Rosa não gostava das piadas grosseiras que contavam sobre se acostumar a servir homens. Rosa já havia sido vendida uma vez pelo seu pai. Ela não queria ser vendida novamente.
Rosa sentiu um segundo de alívio quando se aproximaram do muro que lhes foi dito. Um muro de pedra com uma abertura apenas suficiente para que seus pequenos corpos passassem. Eles eram menores do que outras crianças que Rosa tinha visto, já que aqueles a serem vendidos não eram bem alimentados.
Uma vez que conseguissem passar pelo buraco, deveriam seguir para o porto para se esgueirar em um barco e deixar para trás a vida temida que tinham deixado.
Alexandre foi o primeiro a chegar ao muro, espremendo-se pelo outro lado enquanto os outros esperavam que houvesse espaço para outro se juntar. Uma vez do outro lado, Alexandre estendeu a mão para Rosa passar em seguida.
Embora ele e Matias compartilhassem o mesmo destino de serem vendidos como escravos, ele tinha ouvido o filho do dono do bordel, Graham, falar de quão especial Rosa era.
Rosa tinha que ir para bem longe desta cidade. Longe das mãos sujas do homem com seus olhos fixados nela.
Matias empurrou Rosa para o lado. Ele não tinha tempo para esperar que ela passasse. Os latidos dos cachorros estavam ficando mais altos e ele podia ouvir os xingamentos dos homens empregados pelo pai de Graham.
Matias não era amado por Graham como Rosa era. Caso fossem pegos, Matias sabia que o único que não seria machucado por Rosa seria, já que as novas garotas não deveriam ter marcas. Ele tinha observado como os homens que trabalhavam para Graham eram cuidadosos com Rosa, mas jogavam os garotos e homens para lá e para cá.
"Matias!" Alexandre chamou, irritado que Matias tivesse empurrado Rosa para o lado. Matias não achava que esse plano funcionaria, então como ele ousava passar à frente de Rosa agora?
Apesar de irritado, Alexandre puxava os braços de Matias para fazê-lo passar mais rápido.
Rosa assistia enquanto Alexandre lutava para puxar Matias para o outro lado. Matias era um pouco grande demais para deslizar facilmente pelo buraco pequeno.
"Peguem eles!"
Rosa se virou, aterrorizada mais uma vez por quão perto os homens estavam chegando. Ela colocou as mãos nas nádegas de Matias e empurrou para fazê-lo sair.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Rosa enquanto ela pensava que eles poderiam ser pegos e levados de volta.
"Passe pelo buraco," Rosa disse, dando tudo de si para empurrar Matias enquanto Alexandre puxava.
"Estou tentando. Não me deixem," Matias implorou a Alexandre. Ele também queria ser livre.
Rosa logo perdeu a esperança de que se juntaria a eles do outro lado do muro. Embora Matias estivesse deslizando, Graham e os outros estavam agora bastante próximos deles.
Rosa olhou para Alexandre, que balançou a cabeça quase como se pudesse ler seus pensamentos. Ela ficaria satisfeita em saber que os dois conseguiram fugir e não teriam que sofrer essa vida cruel. "Por favor, voltem por mim um dia. Prometam que irão voltar."
Rosa poderia esperar pelo retorno deles. Pelo dia em que eles poderiam libertá-la, roubando-a ou comprando a sua liberdade.
Alexandre balançou a cabeça. "Continue empurrando. Você deve fazer mais esforço para deslizar pelo buraco, Matias! Rosa não vai conseguir se você não fizer."
Rosa soltou Matias. Isso não ia funcionar. Os chamados de Graham pareciam estar bem atrás dela. "Por favor, prometam-me."
Alexandre não queria deixá-la, mas vendo quão perto estavam de ter Matias e Rosa capturados, ele assentiu com a cabeça. "Eu prometo."
"Vamos voltar," Matias prometeu, desesperado para que ela corresse e enviasse os homens para outro lugar. Afinal, eles principalmente queriam ela.
Rosa correu para a direita do buraco para liderar os homens para longe. Graham não iria querer deixar escapar uma das pessoas que ele pretendia vender, mas se importaria mais em perder ela. Desde que ela chegou, Graham não perdeu um momento para contar-lhe sobre o valor dela.
Graham perdeu o interesse pelos garotos e seguiu Rosa. Não havia mais como ela correr. "Alguém pegue aqueles dois bastardos e o resto de vocês, tragam Rosa para mim. Uma recompensa será dada a quem capturá-la."
Quando ele a capturasse, e ele sabia que iria, Graham pretendia atar uma corda nas mãos de Rosa e arrastá-la para onde quer que ele fosse. Ele não podia perder ela. Não só ela alcançaria um alto preço, mas ele a queria.
Rosa serviria como um bom agrado para uso futuro.
Rosa correu o mais rápido que podia, mas não conseguiu superar os homens que a perseguiam dessa vez. A distância que ela tinha entre eles há muito se foi.
"Te peguei," veio a voz áspera do homem que a agarrou.
Rosa se debatia, tentando se livrar dos braços de seu captor.
"Dê ela para mim," Graham disse quando alcançou.
"Não," Rosa gritou, mordendo a mão do seu captor em uma última tentativa de escapar. Sua pele parecia queimar quando Graham segurou-a, levantando-a sobre os ombros.
"Bom trabalho," Graham aplaudiu o homem que a pegou. "Agora, sua recompensa," disse ele, puxando um revólver das calças para atirar no captor de Rosa.
Rosa tremia, seu corpo tomado pelo medo. Ela não testemunhou o assassinato, mas ouvir já era o suficiente para parar suas tentativas de escapar. Ela poderia acabar como aquele homem se irritasse Graham mais do que já fez.
Graham não poderia deixar alguém que a tocou viver. "Jogue o corpo dele para os animais selvagens devorarem e coloque uma recompensa naqueles dois," disse ele, observando enquanto dinheiro escorria de suas mãos com os dois garotos fugindo do muro.
Eles estavam longe demais para um bom tiro e, com Rosa em suas mãos, Graham deixaria os homens ao seu redor caçarem os dois garotos. Com sua influência na cidade, Graham sabia que teria os dois de volta, vivos ou mortos. Quem iria se importar com dois órfãos e correr o risco de ficar do seu lado ruim?
"Hora de voltar para casa, Rosa. Você tem muitas desculpas para dar para voltar a estar do meu lado bom. É um mundo cruel lá fora com pessoas que não se importariam com você como eu me importo. Aonde você achou que iria?" Graham perguntou enquanto se virava para levá-la de volta.
Rosa permaneceu em silêncio. Ela não pensou que haveria alguém pior do que Graham lá fora. Do ombro dele, Rosa observava enquanto as figuras de Alexandre e Matias se tornavam menores.
Eles conseguiram fugir e com eles levaram a promessa de que voltariam por ela. Em vez de estar triste por não estar lá com eles, Rosa se apegava à ideia de que cumpririam a promessa e voltariam por ela.
'Fiquem seguros,' Rosa pensou.