Chapter 23 - O plano de Fuga

O sol despontava no horizonte, iluminando a vasta biblioteca da Academia de Cavaleiros Perlasca com uma luz suave e dourada. A biblioteca, um dos lugares mais imponentes da academia, era um santuário de conhecimento e história, com estantes que se estendiam até o teto e corredores labirínticos de livros e pergaminhos. O cheiro de papel antigo e cera de vela permeava o ar, criando uma atmosfera de serenidade e contemplação.

Léo, Lucas e Alex haviam escolhido a biblioteca para sua reunião, cientes de que era um dos poucos locais onde poderiam falar com privacidade. As mesas de leitura, feitas de madeira escura e polida, estavam repletas de livros e pergaminhos espalhados, mas os três amigos tinham reservado um canto isolado próximo às janelas, onde a luz natural entrava filtrada pelos vitrais coloridos. O ambiente estava quase deserto naquela manhã, o que facilitava a conversa sem preocupações.

Léo havia trazido consigo a carta de Lumina, agora aberta sobre a mesa de leitura. O pergaminho estava desenrolado, suas inscrições brilhando levemente sob a luz do sol. O conteúdo da carta revelava a inquietante situação de Lumina e a necessidade urgente de uma ação. Seus olhos passavam rapidamente pelas palavras, tentando decifrar qualquer detalhe que pudesse lhes fornecer pistas.

— Vocês leram a carta? — perguntou Léo, sua voz carregada de preocupação.

Lucas examinou o pergaminho com uma expressão de seriedade, enquanto Alex folheava um livro próximo, mantendo uma orelha atenta à conversa.

— Sim, eu li. Lumina está claramente em apuros, e a mensagem dela é cheia de enigmas — respondeu Lucas, seu tom grave refletia a gravidade da situação. — O que ela quis dizer com "não confie em ninguém"? E como isso nos afeta?

Alex, que estava mais distante na mesa, olhou para os amigos e decidiu intervir com uma ideia.

— Eu estava pensando — começou ela, a voz baixa e cautelosa — Se precisamos sair da academia sem chamar atenção, podemos usar o pequeno barco no porto. É uma maneira de evitar o caminho principal e, se fizermos isso à noite, podemos escapar sem sermos vistos.

Léo e Lucas trocaram olhares surpresos, mas a ideia parecia razoável. Léo se inclinou para frente, interessado.

— E como faremos para evitar que alguém nos veja? A academia tem muitos pontos de vigilância e, à noite, há menos pessoas, mas isso pode ser ainda mais arriscado.

Alex sorriu, um brilho de astúcia nos olhos.

— Precisamos ser extremamente cuidadosos. Vamos aproveitar a escuridão e evitar as áreas iluminadas. O barco está localizado em uma parte isolada do porto, longe dos olhares curiosos. Se formos rápidos e silenciosos, conseguiremos sair sem ser notados.

Lucas assentiu, claramente interessado na proposta.

— Concordo. Vamos elaborar um plano detalhado para garantir que tudo corra bem. Se a situação é tão crítica quanto Lumina descreveu, precisamos agir rapidamente.

Os três amigos se reuniram em torno da mesa, começando a esboçar um plano meticuloso. A biblioteca, com seus altos tetos e corredores silenciosos, parecia o lugar ideal para um planejamento estratégico. Enquanto o sol iluminava o espaço, a mente de Léo estava a mil, focada em garantir que sua próxima ação fosse a certa.

A aula de História da Cavalaria estava prestes a começar, e o ambiente da sala de aula contrastava fortemente com a atmosfera de tensão que Léo, Lucas e Alex carregavam consigo. A sala de aula, com suas paredes adornadas com tapeçarias que retratavam cenas de batalhas lendárias e conquistas históricas, emanava um ar de solenidade e tradição. As mesas, dispostas em fileiras ordenadas, estavam cobertas com pergaminhos, tintas e penas, enquanto o professor se preparava para iniciar a aula.

O Professor Willis, um homem de aparência austera e cabelos grisalhos, entrou na sala com um olhar autoritário e uma postura que impunha respeito. Ele vestia um manto escuro com detalhes em ouro, simbolizando seu status de especialista em história militar. Sua voz, profunda e autoritária, reverberava pelas paredes enquanto ele começava a introduzir o tema do dia.

Léo, Lucas e Alex, embora visivelmente interessados no conteúdo da aula, estavam mais concentrados na ideia de sua fuga iminente. Sentados em uma das fileiras centrais, eles trocavam olhares discretos e sussurros baixos. A ansiedade era palpável, cada um ponderando sobre a melhor forma de proceder.

— E se chamássemos Cedric? — murmurou Léo, olhando para os dois amigos com uma expressão de preocupação.

— Cedric é confiável, sem dúvida — respondeu Lucas, mexendo nervosamente na caneta. — Mas ter quatro pessoas fugindo em vez de três pode complicar as coisas. A segurança ao redor do porto é mais intensa do que parece.

Alex fez um gesto para que seus amigos mantivessem o tom baixo, observando discretamente o Professor Willis que estava engrossando a voz ao falar sobre o reinado de um antigo imperador. A sala estava bem iluminada, com grandes janelas permitindo a entrada da luz do sol, criando um ambiente ideal para a aprendizagem, mas a luminosidade também revelava cada movimento e expressão dos alunos.

— A ideia de ter Cedric conosco tem seus prós e contras — continuou Alex, sua voz quase um sussurro. — Ele conhece o terreno melhor do que qualquer um de nós, e isso pode ser uma vantagem. No entanto, sua presença pode aumentar o risco de sermos detectados. Precisamos avaliar se os benefícios superam os riscos.

Léo assentiu, claramente dividido. Ele confiava em Cedric, que sempre havia sido um aliado leal e astuto. Contudo, a possibilidade de ser descoberto e enfrentar problemas adicionais em uma fuga tão arriscada era uma preocupação constante.

Enquanto o Professor Willis prosseguia com a aula, descrevendo as táticas militares usadas em antigos conflitos, a mente dos três amigos estava longe da história antiga. Eles planejavam cada detalhe da fuga, considerando a necessidade de ser silenciosos e rápidos para evitar a detecção. A sala de aula, com sua atmosfera de seriedade e dedicação ao estudo, parecia agora um cenário distante e irrelevante para o plano que estavam elaborando.

O tempo parecia passar lentamente enquanto o Professor Willis detalhava aspectos da estratégia militar medieval. Léo, Lucas e Alex mal conseguiam se concentrar nas palavras do professor, suas mentes estavam ocupadas com o esboço de uma estratégia que poderia, no final, determinar o sucesso ou o fracasso de sua ousada fuga.

Após a aula de História da Cavalaria, Léo, Lucas e Alex saíram da sala com passos rápidos, ansiosos para continuar com seu plano. A Academia de Cavaleiros Perlasca se estendia à sua frente, uma imponente construção de pedra e metal, cercada por jardins bem cuidados e pátios amplos. O céu estava limpo, e uma brisa suave passava pelos campos de treinamento, trazendo um leve aroma de grama e terra fresca.

Enquanto se dirigiam para o campo de tacos mágicos, o som das esferas e tacos se misturava ao ambiente, com aprendizes praticando suas habilidades sob o olhar atento de seus instrutores. O campo era grande, delimitado por linhas de marcação que demarcavam diferentes zonas de treinamento. Árvores esparsas forneciam sombra ocasional e uma atmosfera de calma, contrastando com a agitação interna de Léo e seus amigos.

Cedric estava no centro do campo, executando uma série de movimentos precisos com seu taco mágico, aparentemente concentrado no treinamento. Quando viu Léo, Lucas e Alex se aproximando, ele ergueu a cabeça com um sorriso amigável, pensando que eles vinham para a prática.

— Pensei que vocês estivessem aqui para treinar — disse Cedric, balançando o taco com destreza. — Prontos para aprimorar suas habilidades?

Léo, sem hesitar, começou a explicar a situação.

— Cedric, recebemos uma carta de Lumina. Ela menciona algo sobre um plano de fuga e diz para não confiarmos em ninguém. Precisamos discutir o conteúdo com você.

Cedric, com a expressão de surpresa, imediatamente se afastou de seu treinamento, deixando o taco de lado. Seus olhos se fixaram na seriedade dos amigos.

— Uma carta? Isso é grave. Por que não mostram isso a um dos professores ou ao diretor?

Lucas interveio, sua voz carregada de preocupação.

— O diretor está ausente, provavelmente resolvendo problemas na capital real. E não queremos mostrar isso aos professores. A frase "não confiem em ninguém" da carta nos deixa inseguros sobre em quem podemos confiar.

Cedric franziu a testa, claramente ponderando a situação.

— Entendo a preocupação de vocês. Mas, se a mensagem é tão importante quanto parece, talvez o melhor seria discutir isso com alguém em posição de autoridade. Podemos não ter todas as informações necessárias para avaliar a situação adequadamente.

Alex, com um sorriso desafiador, provocou Cedric.

— Então, está com medo de confiar na nossa intuição? Se a situação é tão perigosa, pode ser uma boa ideia ver o que os professores têm a dizer.

Cedric lançou um olhar de desafio a Alex, mas logo sorriu, reconhecendo a necessidade de agir com prudência.

— Tudo bem, vou acompanhar vocês. Vamos ver o que podemos descobrir, mas devemos ser cuidadosos.

— Excelente — disse Alex, sua expressão se tornando mais resoluta. — E eu vou usar minha espada mágica gravitacional na fuga. Pode ser a chave para evitarmos a detecção e nos movermos mais rapidamente.

O grupo então se preparou para seguir para o porto da academia. Cedric, Léo, Lucas e Alex estavam prontos para enfrentar o desafio que se desenrolava à frente, cientes de que cada passo dado precisava ser cuidadosamente planejado para garantir o sucesso da fuga.

O campo de tacos mágicos lentamente se esvaziava conforme a prática de treinamento terminava, e a sensação de urgência aumentava enquanto os amigos se preparavam para o próximo passo de seu ousado plano.

Com a noite já cobrindo a Academia de Cavaleiros Perlasca, o grupo se preparava para a fuga. Cedric, Léo, Lucas e Alex estavam no campo de tacos mágicos, onde o ambiente estava agora envolto em uma calma que contrastava com a ansiedade dos fugitivos. O céu noturno estava claro, com estrelas brilhando sobre eles, enquanto o vento leve fazia as folhas das árvores balançarem suavemente.

Alex, com sua espada mágica gravitacional em uma mão, estava pronto para lançar o feitiço de levitação. Na outra mão, ele segurava firmemente a mão de Léo, que, por sua vez, segurava Lucas, que segurava Cedric. O grupo estava prestes a iniciar sua ousada fuga. Cedric, visivelmente nervoso, olhava para o chão abaixo, sua expressão misturando medo e fascínio pela altura.

— Está tudo bem, Cedric — disse Lucas, tentando tranquilizá-lo. — Esta é a segunda vez que Léo voa com Alex. Ele também teve dificuldades na primeira vez. E, a propósito, vocês pareciam um casal de pombinhos voando na Floresta de Brisighella.

Léo lançou um olhar irritado para Lucas.

— Cale a boca, Lucas. Agora não é hora para piadas.

Alex riu, sua voz carregada de sarcasmo.

— Ei, Cedric, não se preocupe. Apenas tente não olhar para baixo. A vista é linda, mas pode ser um pouco... assustadora.

À medida que Alex recitava o encantamento de sua espada, o grupo começou a flutuar suavemente para o céu. A Academia, com suas torres e pátios iluminados, parecia cada vez menor abaixo deles. Cedric, agarrado a Lucas, estava com os olhos fechados, enquanto Alex se divertia claramente com a situação, suas risadas ecoando no ar.

Eles flutuaram sobre as terras ao redor do castelo, a sensação de liberdade e adrenalina misturando-se com a beleza da paisagem noturna. As luzes da academia se distanciavam, e logo chegaram aos jardins próximos ao porto. O grupo se movia com a precisão de quem havia ensaiado essa fuga antes, seu destino final cada vez mais próximo.

Finalmente, eles avistaram o pequeno barco ancorado perto do porto. Léo e seus amigos, ainda flutuando, começaram a descer em direção ao barco. Mas, no momento em que estavam prestes a aterrissar, alguns cavaleiros que patrulhavam a área avistaram o grupo e começaram a persegui-los.

Alex, com um gesto rápido, usou sua espada mágica gravitacional para flutuar os cavaleiros que se aproximavam. Eles foram lançados para o ar, incapazes de alcançar o grupo em fuga. A ajuda de Alex foi crucial para garantir que o grupo pudesse chegar ao barco sem mais complicações.

No entanto, assim que estavam no barco e começavam a celebrar sua fuga, uma névoa espessa e densa começou a se formar ao redor deles. Era uma névoa mágica, carregada com feitiçaria que visava desorientá-los. A visibilidade se reduziu drasticamente, e o barco bateu contra algumas rochas submersas, quase virando devido ao impacto.

Cedric, com uma expressão de pânico, ergueu as mãos e começou a conjurar uma magia de proteção ao redor do barco. Sua concentração era intensa, e uma aura brilhante formou-se ao redor deles, criando uma barreira contra a névoa. A proteção de Cedric conseguiu estabilizar o barco e impedir que eles se perdessem no meio da névoa.

— Vamos, Cedric, mantenha a magia! — gritou Alex, enquanto tentava manter o barco na direção correta.

Finalmente, a névoa começou a dissipar, e o grupo, exausto mas aliviado, conseguiu se afastar da área perigosa. O barco navegava em direção ao horizonte, deixando a academia e seus desafios para trás. Cedric, embora ainda nervoso, sentiu um alívio crescente por ter ajudado a proteger o grupo.

Com a ameaça de seus perseguidores agora longe, o grupo finalmente teve um momento para relaxar e refletir sobre a audaciosa fuga que acabavam de completar. Eles estavam agora livres para enfrentar o que viesse a seguir, com a certeza de que, juntos, poderiam superar qualquer obstáculo que encontrassem em sua jornada.