O barco, agora a salvo da névoa mágica, navegava calmamente sobre as águas tranquilas do amanhecer. O céu, tingido com tons de rosa e dourado, anunciava o início de um novo dia. A luz do sol começava a refletir na superfície do mar, criando um brilho suave e reconfortante. A brisa leve balançava as velas do barco, que agora se movia com uma velocidade constante em direção ao horizonte.
Léo, Lucas, Alex e Cedric estavam reunidos no convés, ainda vestindo suas roupas de viagem e com expressões cansadas mas aliviadas. O som das ondas quebrando contra o casco do barco era um som agradável após a tensão da fuga. A academia estava agora a uma distância segura, seus contornos desaparecendo lentamente na neblina da manhã.
— Não dá mais para voltar atrás — disse Cedric, sua voz carregada de uma mistura de cansaço e determinação. Ele olhava para o horizonte com um olhar resoluto. — Estamos comprometidos agora. Precisamos pensar no próximo passo.
Alex, que estava examinando um mapa espalhado sobre uma mesa improvisada, ergueu os olhos.
— Concordo. Mas não podemos simplesmente desembarcar no porto de Romagna. A academia provavelmente já notificou as autoridades locais sobre a embarcação não autorizada. Se desembarcarmos lá, seremos facilmente capturados.
Lucas, que estava sentado à beira do barco, lançando olhares para o mar, acrescentou.
— Então, onde vamos? Temos que encontrar um lugar seguro para desembarcar e planejar nossos próximos movimentos.
Cedric, pensativo, observava o mapa com uma expressão concentrada.
— Precisamos de um local que não esteja nos radares dos cavaleiros, um lugar onde possamos ficar escondidos por um tempo. O litoral ao norte parece ter algumas áreas remotas que poderiam servir. Há pequenas vilas pesqueiras e ilhas desabitadas onde poderíamos nos refugiar.
Alex assentiu.
— Isso parece razoável. Podemos ir para lá e usar o tempo para nos reorganizar. Precisamos de uma nova estratégia e de um lugar seguro para fazer isso.
Com a decisão tomada, o grupo começou a preparar o barco para a nova rota. Alex ajustou as velas para alterar a direção, enquanto Cedric verificava os suprimentos e equipamentos necessários para a jornada. O grupo estava cansado, mas a sensação de liberdade e a certeza de que estavam longe dos perseguidores davam forças renovadas.
Enquanto o sol subia no céu e a luz do dia se intensificava, o barco navegava em direção ao norte, em busca de um novo refúgio. A jornada seria longa e cheia de desafios, mas a determinação do grupo era inabalável. Eles estavam prontos para enfrentar o que viesse a seguir, unidos pela necessidade de se manterem fora de alcance e encontrar um novo caminho para sua jornada.
A bruma matinal ainda pairava sobre o vilarejo pesqueiro quando Léo, Lucas, Alex e Cedric desembarcaram do barco. O céu estava tingido de uma paleta suave de laranja e rosa, anunciando o amanhecer. As primeiras luzes do dia filtravam-se através das nuvens, refletindo nas águas calmas do porto. O vilarejo era pequeno e pitoresco, com casas de madeira dispostas ao longo da costa, seus telhados inclinados cobertos de telhas vermelhas. Cedric, com seu porte robusto, carregava uma mochila cheia de suprimentos adquiridos no mercado local, enquanto os outros se dirigiam para um bar próximo.
O bar, de paredes de madeira escura e iluminação suave, tinha um ambiente acolhedor. O cheiro de peixe fresco misturava-se com o aroma quente de pão recém-assado. Os clientes locais, uma mistura de pescadores e mercadores, conversavam baixinho em mesas rústicas. Léo e seus amigos se acomodaram em uma mesa ao canto, longe da visão curiosa dos outros frequentadores.
O garçom, um homem corpulento com um avental manchado de vinho, aproximou-se com um sorriso cansado.
— O que vão querer? — ele perguntou, olhando para os quatro.
— Um copo de chocolate quente para mim, por favor — pediu Léo, esfregando as mãos para aquecê-las.
— Café para mim — disse Lucas, olhando pela janela e observando o movimento tranquilo do vilarejo.
Alex e Cedric fizeram pedidos semelhantes, e logo o grupo estava reunido, cada um com uma bebida quente para enfrentar o frio matinal.
Enquanto saboreavam suas bebidas, Alex se inclinou para frente, seu olhar sério.
— Após o desastre na capital real, as famílias nobres envolvidas na disputa pelo trono deslocaram-se para a antiga capital de Lumirian, a Cidade de Sorano. Lá está o castelo do primeiro rei de Lumirian, Arthur Spadoro. — Alex fez uma pausa, avaliando o impacto de suas palavras. — É bem possível que Lumina esteja lá.
Cedric franziu a testa, absorvendo a informação.
— Então, o que estamos esperando? Precisamos planejar como chegar lá sem chamar atenção. Não podemos simplesmente aparecer de repente.
Léo assentiu, o olhar determinado.
— Concordo. Primeiro, precisamos encontrar um transporte seguro para Sorano. Além disso, temos que ter cuidado para não deixar rastros que possam levar os cavaleiros da academia até nós.
Enquanto conversavam, o bar se tornava cada vez mais movimentado, mas o grupo estava concentrado em seus planos. Com as informações de Alex, o próximo passo parecia claro, mas o caminho até Sorano estava cheio de desafios que ainda precisavam ser enfrentados.
O vilarejo pesqueiro ainda estava envolto em uma atmosfera de tranquilidade quando Léo, Lucas, Alex e Cedric se prepararam para partir. O sol matinal, já mais alto no céu, banhava as ruas estreitas com uma luz suave e dourada. Pequenos barcos de pesca oscilavam nas águas calmas do porto, e o som distante das gaivotas completava a serenidade do local.
O grupo se dirigiu a um estábulo simples, onde um cocheiro aguardava ao lado de uma carroça puxada por um robusto cavalo castanho. O transporte, com suas rodas de madeira desgastada e coberto por um toldo de tecido surrado, era o que eles precisavam para sair do vilarejo discretamente. Cedric, ainda carregando os suprimentos, trocou algumas moedas com o cocheiro, que, sem fazer muitas perguntas, apontou para a carroça.
Antes de subir, Léo puxou o capuz de seu manto escuro, garantindo que seu rosto ficasse oculto. Os outros seguiram seu exemplo, cobrindo-se completamente. Com as espadas mágicas guardadas e fora de vista, eles estavam equipados apenas com espadas normais presas aos cintos, armas simples que não despertariam suspeitas.
Enquanto o grupo se acomodava na carroça, o cocheiro deu um leve estalo com as rédeas, e o cavalo começou a trotar lentamente pela estrada de terra que levava para fora do vilarejo. As casas de madeira do vilarejo logo ficaram para trás, dando lugar a campos verdejantes e árvores antigas que ladeavam o caminho. A estrada era tranquila, com apenas o som rítmico dos cascos do cavalo ecoando no ar.
Léo olhou para o campo ao redor, atento a qualquer sinal de perigo. O silêncio era quase reconfortante, mas a tensão ainda pairava entre eles.
— Não podemos baixar a guarda — murmurou, mais para si mesmo do que para os outros.
Enquanto a carroça avançava, o grupo manteve-se em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. A estrada, apesar de deserta, parecia estender-se infinitamente à frente deles, como uma linha tênue que os conectava ao destino incerto que os aguardava em Sorano.
Após algumas horas de viagem, as árvores começaram a se fechar ao redor da estrada, formando um túnel natural de sombra e luz. O ar ficou mais denso, e a sensação de perigo iminente fez Léo apertar o punho ao redor do cabo de sua espada de madeira.
De repente, o som de passos apressados e risos cruéis ecoou pela trilha. De trás das árvores, surgiram dez homens com expressões predatórias, vestidos em roupas sujas e desbotadas. Eram saqueadores, claramente à procura de presas fáceis.
— Ei, vocês aí! — gritou o líder do grupo, um homem alto com uma cicatriz atravessando o rosto. — Deixem tudo de valor e talvez saiam daqui vivos!
Léo e os outros rapidamente saltaram da carroça, com as espadas de metálicas em mãos. O cocheiro, assustado, recuou, mas ficou próximo o suficiente para que sua presença não fosse notada pelos saqueadores.
Lucas, sempre o mais impetuoso, foi o primeiro a avançar. Com um grito de guerra, ele atacou o saqueador mais próximo, acertando-o com um golpe seco no ombro. A espada de madeira, apesar de não ser mortal, era o suficiente para derrubar o homem ao chão.
Cedric, ao lado de Lucas, lutava com habilidade. Usando tanto os punhos quanto a espada, ele desferiu uma série de golpes rápidos, incapacitando dois dos saqueadores. Seus movimentos eram ágeis e precisos, revelando o treinamento intenso na Academia de Cavaleiros.
Léo e Alex, por outro lado, mantiveram-se próximos à carroça, prontos para defender o transporte. Alex, com sua postura sempre confiante, observava os saqueadores que se aproximavam, garantindo que nenhum deles conseguisse pegar o grupo desprevenido.
Um dos saqueadores tentou se esgueirar pela lateral, mas Léo estava preparado. Com um movimento rápido, desferiu um golpe certeiro na lateral do homem, derrubando-o antes que pudesse chegar perto.
A luta foi rápida, mas intensa. Em poucos minutos, os saqueadores estavam derrotados, gemendo de dor no chão ou fugindo de volta para a floresta. Lucas e Cedric, suados e ofegantes, olharam ao redor para garantir que não havia mais ameaças.
Alex se aproximou do cocheiro, que estava visivelmente abalado com o que acabara de presenciar.
— Desculpe por isso — disse Alex, forçando um sorriso e rindo nervosamente. — Somos aventureiros da guilda, sabe como é... Nunca podemos baixar a guarda.
O cocheiro, ainda assustado, apenas assentiu rapidamente, desejando que a viagem continuasse sem mais incidentes.
Com o caminho novamente livre, o grupo voltou a subir na carroça, e o cavalo, como se sentisse a urgência de seus passageiros, retomou a jornada com um ritmo mais rápido.
— Precisamos ser mais cuidadosos — disse Léo, olhando para os outros enquanto se ajeitavam nos assentos.
— Isso só reforça que estamos fazendo a coisa certa — respondeu Alex, ajustando o capuz e olhando para o horizonte.
E assim, a carroça seguiu adiante, levando o grupo para mais perto de seu destino, enquanto o vilarejo pesqueiro desaparecia lentamente na distância, engolido pela densa floresta ao redor.
À medida que a carroça avançava pelas ruas de paralelepípedos de Sorano, o sol lentamente mergulhava no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados e dourados. A cidade, que se erguia majestosa à frente deles, era um espetáculo para os olhos. Sorano era uma cidade grande e imponente, com suas casas de pedra cinzenta, torres altas e varandas enfeitadas com bandeiras coloridas. O movimento nas ruas era intenso, com comerciantes fechando suas lojas, crianças correndo pelas vielas, e viajantes de diversas raças ocupando as praças e tavernas.
Léo, Lucas, Cedric e Alex mantinham-se silenciosos, absorvendo a energia vibrante do lugar. Eles haviam trocado os mantos por roupas mais comuns para não chamarem atenção. Mesmo assim, a sensação de estarem sendo observados não os abandonava. Sorano, apesar de bela e movimentada, exalava uma tensão no ar, algo que não passou despercebido por Alex.
— Essa cidade está lotada de cavaleiros patrulhando — murmurou Alex, os olhos sempre atentos, varrendo os arredores. Ele observava os cavaleiros que se moviam em grupos organizados, armados e em alerta. Era evidente que Sorano estava sob vigilância.
— E não só cavaleiros — acrescentou Lucas, franzindo o cenho ao notar alguns homens que se destacavam na multidão. Eles estavam vestidos com ternos elegantes, algo incomum para a maioria dos habitantes da cidade. — Aqueles ali... Eu reconheço. São da máfia Wolfs. Provavelmente são lobisomens, como Bruno.
Léo seguiu o olhar de Lucas, seu coração acelerando ao ver os homens que se misturavam com a população local, mas que claramente pertenciam a outro mundo.
— Se a máfia Wolfs está aqui, então as Garras do Dragão também estão — concluiu Léo, a voz carregada de preocupação.
Cedric, que até então mantivera um olhar contemplativo, ficou mais tenso.
— Precisamos nos esconder. Rápido. Se eles nos pegarem, estamos perdidos.
— Concordo — disse Alex. — Não podemos nos arriscar. Vamos encontrar uma estalagem onde possamos nos abrigar e pensar em um plano.
A carroça diminuiu o ritmo conforme eles se aproximavam de uma rua lateral menos movimentada. À medida que o sol se escondia, a cidade se tornava mais sombria, com as sombras das altas construções engolindo as ruas estreitas. Sorano, que antes parecia vibrante e acolhedora, agora revelava uma face mais perigosa.
O grupo desceu da carroça e, mantendo-se próximos, avançou pela cidade com passos cuidadosos. As ruas estavam cada vez mais cheias de anões, elfos, e demi-humanos, uma diversidade que, em outro momento, teria encantado Léo. Mas agora, tudo o que ele sentia era a urgência de se misturar àquela multidão e desaparecer das vistas de qualquer um que pudesse estar à procura deles.
Finalmente, após uma breve caminhada, eles encontraram uma pequena estalagem, discretamente situada entre dois grandes edifícios. O letreiro de madeira, gasto pelo tempo, balançava suavemente ao vento, e luzes quentes emanavam das janelas estreitas, prometendo um refúgio temporário.
Ao entrarem, foram recebidos pelo cheiro de madeira velha e lareira acesa. O interior era acolhedor, com mesas de carvalho espalhadas pela sala principal, onde alguns poucos viajantes conversavam em voz baixa. O estalajadeiro, um homem corpulento e de cabelos grisalhos, olhou-os com interesse, mas sem demonstrar muita curiosidade.
— Precisamos de um quarto para passar a noite — disse Alex, assumindo a liderança, como de costume. — Algo discreto, se possível.
O estalajadeiro assentiu, pegando uma chave de um gancho atrás do balcão e entregando-a a Alex.
— Segundo andar, última porta à direita.
Sem mais delongas, o grupo subiu as escadas rangentes, sentindo um alívio temporário ao se verem longe dos olhares suspeitos da cidade. Assim que entraram no quarto simples e apertado, trancaram a porta e finalmente puderam respirar com mais calma.
— Precisamos pensar em como chegar ao castelo sem sermos vistos — disse Léo, enquanto se sentava em uma das camas. — Se as Garras do Dragão estão por aqui, então Lumina pode estar mais próxima do que imaginamos.
— Exatamente. Mas também significa que estamos em maior perigo do que nunca — respondeu Cedric, seu tom sério.
— Então vamos ser inteligentes sobre isso. Nada de heroísmo imprudente — disse Lucas, olhando para cada um deles com firmeza.
— Eu nunca fui fã de heroísmo — brincou Alex, mas seu sorriso desapareceu rapidamente. — Amanhã, vamos fazer o reconhecimento e bolar um plano. Por agora, descansem.
E assim, com a noite já avançada, o grupo se preparou para o que viria a seguir, sabendo que a jornada estava apenas começando, e que Sorano guardava segredos que poderiam ser decisivos para o destino de todos.