Sorano estava em plena atividade, mesmo com a tensão que pairava sobre a cidade. Léo e Alex caminhavam pelas ruas movimentadas, misturando-se aos habitantes locais e aos comerciantes que começavam a desmontar suas barracas. O céu, tingido por tons cinzentos, sugeria uma chuva iminente, e o ar estava denso, carregado de antecipação.
Cada canto da cidade parecia estar sob vigilância. Cavaleiros em armaduras polidas patrulhavam as vias principais, enquanto os homens da máfia Wolfs, reconhecíveis por seus trajes impecáveis, se misturavam à população com uma naturalidade inquietante. Léo e Alex mantinham um perfil discreto, vestindo mantos escuros que ocultavam suas identidades e espadas de madeira que usavam para evitar atrair suspeitas.
— Esse lugar está cheio de patrulhas — comentou Léo em voz baixa, enquanto parava diante de uma barraca que vendia frutas. O vendedor, um homem de idade avançada, lhes lançou um olhar desconfiado, mas logo voltou a organizar seus produtos.
— E a máfia também não fica muito atrás — acrescentou Alex, observando com cuidado os arredores. — Vamos manter a cabeça baixa. Não podemos dar bandeira agora.
Eles se aproximaram de um grupo de comerciantes que discutiam animadamente perto de uma fonte. Fingindo interesse nas mercadorias, começaram a perguntar, de forma indireta, sobre as patrulhas e os mafiosos na cidade. A informação não era fácil de obter; as pessoas estavam claramente assustadas, mas a insistência de Léo e a persuasão de Alex acabaram rendendo resultados.
— Dizem que as carruagens das famílias Visley e Lightbringer foram vistas indo ao castelo — disse um dos comerciantes, um homem corpulento de bigode grosso, enquanto empacotava seu material. — Parece que amanhã haverá uma votação entre as casas nobres. Vão decidir quem será o novo rei.
— E sobre os mafiosos? — perguntou Alex, tentando parecer casual.
— A única coisa que sabemos é que Bruno Luponnaro, o chefe da máfia Wolfs, está na cidade — respondeu outro comerciante, olhando para os lados como se temesse ser ouvido. — Ninguém se mete com ele.
A informação foi recebida com um aceno discreto, e Léo e Alex agradeceram antes de se afastar. As notícias confirmavam suas suspeitas: as grandes casas nobres estavam todas reunidas em Sorano, e a presença de Bruno Luponnaro só aumentava a urgência de sua missão.
Enquanto isso, Lucas e Cedric estavam em outra parte da cidade, seguindo uma estratégia similar. Perguntando aos donos de tavernas e pequenos comerciantes, descobriram que as carruagens das famílias nobres eram vistas frequentemente no castelo. A eleição de um novo rei estava prestes a acontecer, e o clima na cidade estava eletrizante.
Quando o grupo finalmente se reuniu de volta à estalagem, o ambiente no quarto estava tenso. As informações recolhidas confirmavam o que temiam: o castelo estava repleto de nobres e figuras perigosas. A pressão era enorme, e qualquer erro poderia custar-lhes a vida.
— Então é isso — disse Léo, quebrando o silêncio que se instalara enquanto eles compartilhavam as descobertas. — Amanhã vai ser o dia da votação. Se falharmos esta noite, será o fim.
— Temos que encontrar Lumina antes que eles tomem qualquer decisão — respondeu Cedric, sua voz firme, mas carregada de preocupação. — Se ela está no castelo, precisamos chegar lá sem sermos vistos.
— E evitar tanto os cavaleiros quanto os mafiosos — acrescentou Lucas, cruzando os braços e olhando para a janela. A noite estava caindo rapidamente, e as sombras da cidade começavam a se alongar. — Será difícil, mas não temos escolha.
Alex, que estivera em silêncio, finalmente falou, sua voz carregada de determinação.
— Estamos prontos. Esta noite, nada pode dar errado. Se falharmos, não haverá segunda chance.
Com um aceno, todos concordaram. Eles estavam prestes a enfrentar um dos maiores desafios de suas vidas, e a tensão no ar só aumentava à medida que o crepúsculo se transformava em noite. A missão estava clara: resgatar Lumina e impedir que o reino caísse nas mãos erradas. E, com o destino de Lumirian em jogo, cada movimento teria que ser perfeito.
A noite havia caído sobre Sorano, mergulhando a cidade em um manto de escuridão e chuva constante. Os céu estava encoberto por nuvens densas, e a luz dos postes, refletida nas poças de água, criava um cenário sombrio e úmido. Léo, Alex, Lucas e Cedric avançavam pelas vielas estreitas e tortuosas, buscando evitar os patrulheiros e as ruas mais movimentadas. O som da chuva batendo nas telhas e nas pedras molhadas abafava qualquer ruído, mas o grupo se movia com cautela, atentos a qualquer sinal de perigo.
Enquanto cruzavam um beco particularmente estreito, um grito agudo e desesperado cortou o ar. Era o som de uma jovem mulher pedindo socorro. Léo e seus amigos imediatamente se apressaram na direção do som, encontrando uma cena perturbadora: vários homens encapuzados, membros da máfia Wolfs, tentavam arrastar a jovem para uma carroça escura. A mulher lutava, mas estava em desvantagem.
— Alex, vá rápido! — sussurrou Léo, sua voz firme e urgente. Alex, com a agilidade de um felino, não hesitou. Ela se lançou para a ação, movendo-se como um borrão entre as sombras. Seus movimentos eram rápidos e precisos, e em um piscar de olhos, ela desferiu golpes certeiros contra os mafiosos. Os bandidos, pegos de surpresa, caíram no chão, incapazes de reagir à velocidade com que Alex os atacava.
Lucas, de olhos atentos, notou a postura relaxada dos cavaleiros nas ruas, que pareciam ignorar os gritos e a confusão. A visão dos cavaleiros desinteressados em ajudar mostrou o quão profundamente a corrupção havia se infiltrado no reino. A traição e a indiferença eram evidentes.
Depois que os mafiosos foram neutralizados, Alex e Léo se aproximaram da jovem mulher, ainda trêmula e assustada, mas aliviada por ser resgatada. Com uma voz gentil, Alex a tranquilizou e a guiou para fora do beco, enquanto Léo garantiu que ela chegasse a um local seguro próximo, longe dos perigos imediatos.
Ao voltarem para a viela, ainda molhados pela chuva, o grupo começou a discutir o que havia acontecido, quando um estrondo no céu chamou a atenção. Com um som que parecia uma rajada de vento, uma figura voou e aterrissou de forma graciosa no meio deles. Era Annie Rivent, uma jovem cavaleira com uma aura de autoridade e confiança. Ela usava um manto escuro, e sua espada mágica rosa dos ventos brilhava suavemente sob a luz das lanternas da rua. Sua presença era imponente, e a forma como ela aterrissou demonstrava um domínio impressionante da magia.
Os quatro amigos ficaram paralisados por um momento, sem saber o que fazer. A surpresa e a preocupação eram visíveis em seus rostos. Annie era uma das mais poderosas alunas da Academia Perlasca, conhecida por sua habilidade excepcional e por ser uma das melhores de sua turma. Léo, Alex, Lucas e Cedric trocavam olhares nervosos, sem saber como reagir à inesperada aparição de Annie.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou Annie, sua voz clara e firme. — O que estão fazendo fora da academia em uma noite como esta?
Léo tentou organizar seus pensamentos enquanto olhava para a jovem cavaleira. Eles haviam sido tão cuidadosos para não serem descobertos, e agora estavam diante de alguém que poderia representar uma ameaça ou uma ajuda vital. A tensão no ar era palpável, e o grupo sabia que precisava lidar com a situação com cuidado.
Annie, com sua postura imponente e olhar penetrante, fixou os olhos em Léo e perguntou, sua voz carregada de urgência e preocupação.
— Você é Léo Stark, não é?
Léo, ainda atônito, confirmou com um gesto afirmativo. Annie então continuou, sua expressão revelando um misto de determinação e ansiedade.
— Lumina me pediu que enviasse uma carta para você com urgência. Eu disse a ela que ninguém tinha permissão para sair da academia, mas ela insistiu que você era diferente dos demais. Parece que ela estava certa.
Annie respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas para explicar a gravidade da situação.
— Lumina não me forneceu muitos detalhes, mas disse que alguém está tramando algo que pode destruir o reino. No começo, achei isso muito estranho. No entanto, quando Lumina mencionou o medalhão do dragão, eu me preocupei seriamente. Perguntei a ela como sabia disso, e ela me disse que alguém está tentando reunir os três pedaços do medalhão do dragão.
O grupo ficou em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade das palavras de Annie. Lucas, que estava ouvindo atentamente, interrompeu, sua curiosidade evidente.
— O que é esse medalhão?
Alex, que já havia ouvido histórias sobre o artefato, explicou com um tom grave.
— O medalhão do dragão é um artefato antigo e poderoso. Ele sela o dragão das almas, uma criatura devastadora que uma vez ameaçou a existência do mundo. Para conter o dragão, vários magos se uniram para selá-lo dentro desse medalhão, que foi dividido em três pedaços. Esses pedaços foram escondidos em locais secretos por todo o continente de Titanicus.
A chuva continuava a cair, criando um ambiente melancólico e sombrio ao redor deles. A luz fraca das lanternas refletia nas poças d'água, enquanto a cidade de Sorano continuava a sua rotina noturna, alheia ao drama que se desenrolava nas vielas escuras.
Annie olhou para o grupo com um semblante resoluto e falou.
— Se alguém está tentando reunir os pedaços do medalhão, isso significa que o dragão das almas pode ser libertado. Isso pode significar o fim do reino e de tudo que conhecemos.
Léo, ainda processando a informação, sentiu um peso de responsabilidade sobre seus ombros. O grupo agora entendia a magnitude da situação e sabia que a missão que tinham pela frente era ainda mais crucial do que imaginavam. O céu noturno, agora clareando, parecia pesar sobre eles, refletindo a seriedade da tarefa que tinham pela frente.
— Eu... eu tentei avisar o diretor Lucius sobre o que estava acontecendo — disse Annie, a voz baixa e cheia de frustração. — Mas quando chegamos em Sorano, ele me mandou ficar de vigia na entrada, e não tive tempo de procurá-lo depois. Achei que teria uma chance, mas... Ele sumiu.
— Temos que agir rápido — disse Léo, olhando para Annie. — Precisamos ir ao castelo e encontrar Lumina e o diretor Lucius. Se o que você disse for verdade, não podemos perder tempo.
Annie concordou com um aceno de cabeça, sua expressão determinada e firme. O grupo, agora mais unido na causa, se preparou para continuar sua missão, cientes dos perigos que os aguardavam. Eles sabiam que o tempo estava contra eles, e cada decisão que tomassem a partir daquele momento poderia determinar o destino de todo o reino.
Annie liderou o grupo pelas ruas de Sorano até uma área menos movimentada e, finalmente, chegou a um edifício antigo que parecia ser um depósito abandonado. Com um movimento ágil, ela empurrou uma das tábuas da entrada, revelando uma passagem escondida. A umidade da noite e o som da chuva ao fundo criavam um ambiente sombrio e silencioso.
— Sigam-me — ordenou Annie, enquanto adentrava a passagem.
Cedric, ainda em choque pela aparição inesperada de Annie, olhou para ela com admiração. Annie era dois anos mais velha do que ele e estava prestes a se formar como cavaleira do reino. Durante o tempo em que estiveram na academia, Cedric sempre admirou a determinação e o espírito inabalável de Annie. Seus olhos brilhavam com uma mistura de respeito e um pouco de timidez.
A passagem era estreita e sinuosa, e o grupo teve que se curvar para passar. A umidade e a falta de uso ao longo dos séculos tornaram o ambiente sombrio e degradado. Léo, Lucas e Cedric empurraram uma estátua antiga que representava um dos três deuses criadores, e um buraco no chão se abriu, revelando uma escada que descia para as profundezas. O cheiro de terra úmida e mofo emanava do buraco, e as paredes de pedra pareciam ter absorvido a umidade por gerações.
Alex, com um olhar curioso, se voltou para Annie e perguntou.
— Como você descobriu esse lugar?
Annie, enquanto descia as escadas, respondeu com um tom nostálgico.
— Durante uma das minhas primeiras missões na academia, tive que encontrar um grupo de ladrões aqui em Sorano. Após muita investigação, descobrimos que eles estavam se escondendo nessa passagem. Desde então, aprendi a usar esse caminho em situações críticas. Ninguém usou essa passagem por muitos anos, então é provável que esteja bem escondida.
O grupo chegou ao fundo da escada e entrou em um túnel estreito e escuro. O tempo e a falta de manutenção haviam coberto as paredes de musgo, limo e teias de aranha. A madeira do teto estava podre e ameaçava desabar a qualquer momento. O caminho estava cheio de rachaduras e infiltrações, e o chão estava coberto por uma camada de água estagnada e sujeira. O som dos passos ecoava pelas paredes, e a atmosfera era de uma estranha melancolia.
Léo e seus amigos seguiram Annie com cautela, o som da chuva caindo sobre o teto da passagem criando um pano de fundo constante. O túnel parecia interminável, mas a promessa de uma rota secreta para dentro do castelo dava-lhes a motivação necessária para continuar. O ambiente sombrio e deteriorado só aumentava a sensação de urgência e de que estavam na beira de algo crucial.
Annie se virou para o grupo, seu rosto iluminado pela luz fraca das lanternas que carregavam.
— Estamos quase lá — disse ela, sua voz ecoando pelas paredes úmidas. — Mantenham-se alertas. O castelo pode estar cheio de patrulhas, e a entrada que vamos usar é bem discreta, então não podemos fazer barulho.
Enquanto o grupo avançava com cuidado, o frio da umidade se infiltrava em seus ossos, e o cheiro de decadência preenchia o ar. Cada passo parecia ser um desafio, mas a determinação de cada um mantinha-os firmes na busca pela verdade e pela salvação do reino. O caminho adiante estava cheio de incertezas, mas estavam dispostos a enfrentar qualquer obstáculo para alcançar seu objetivo.
O grupo saiu da passagem secreta no estábulo próximo ao castelo. A área estava mal iluminada, com apenas alguns feixes de luz fraca iluminando o espaço. O cheiro de feno e estábulo era predominante, misturado com a umidade da noite. O som da chuva caindo e o ocasional relinchar dos cavalos criavam um ambiente tranquilo, mas carregado de tensão.
Dentro da muralha do castelo, o grupo se reuniu em um canto escuro, longe dos guardas patrulhando as áreas externas. Annie explicou o plano: ela entraria em contato com o diretor Perlasca para tentar obter informações e distrações. Cedric e Lucas ficariam na passagem secreta, prontos para ajudar a qualquer sinal de necessidade. Alex e Léo voariam até o quarto de Lumina, um espaço que Annie havia descrito como altamente seguro e protegido.
Antes de se separarem, Lucas ergueu a mão direita e a estendeu em direção ao grupo.
— Ei, coloquem todos a mão direita aqui no meio. Vamos formar uma equipe de resgate.
Alex, com um olhar cético, murmurou.
— Que idiotice, isso é perda de tempo.
Cedric e Léo seguiram o exemplo e colocaram suas mãos sobre as de Lucas. Annie sorriu e fez o mesmo, acompanhada por Alex, que revirou os olhos e finalmente estendeu a mão, com um sorriso forçado.
— Vamos finalizar a missão, equipe Fênix — disse Lucas, com um tom decidido.
Léo riu baixinho. Ele sabia que o nome era uma homenagem à "Fênix Flamejante", a figura que, em seus sonhos, sempre lhe dava conselhos e orientação. O gesto parecia trivial, mas para Lucas era um símbolo de união e coragem.
Com o plano definido e as tarefas alocadas, cada um se dirigiu para suas respectivas missões. A atmosfera estava carregada de expectativa e determinação. O sucesso da missão dependia da colaboração e coragem de cada um, e todos estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para alcançar seu objetivo e salvar Lumina.