"Seus pais biológicos. Eles foram mortos por outros lobisomens."
Aila apenas encarou o homem atrás da mesa, as palavras dele se impregnando lentamente. Desviando o olhar dele, ela olhou para a janela ao lado do sofá; seus pais morreram quando ela tinha oito anos e Mandy e Andy, seus padrinhos, a acolheram imediatamente. Eles a adoravam, e ela a eles. Seu peito apertou enquanto pensava neles e no que eles deveriam estar passando agora.
Contudo, não era tão absurdo ouvir que lobisomens mataram seus pais.
Afinal, ela agora fazia parte deste mundo cheio de criaturas. Então não foi tanto um choque para ela. O relatório policial afirmava que nunca encontraram os corpos deles, mas as evidências deixadas para trás indicavam um ataque animal.
"O ataque animal foi realmente lobisomens..." Ela murmurou para si mesma, sem perceber que havia falado alto.
"Sim. A polícia encontrou marcas de garras e o sangue deles por todo lado, sem deixar outros traços deles." Silas confirmou o que ela murmurou.
Aila franziu a testa e olhou de volta para Silas,
"Por OUTROS lobisomens. Então meus pais eram lobisomens?"
Silas a encarou com uma expressão perplexa no rosto.
"Você não sabia?" Os olhos dele se estreitaram. Ela podia ver as engrenagens se movendo por trás de seus olhos enquanto ele pensava.
"Eu meio que desconfiei na semana que estou aqui. Antes de vocês me sequestrarem, eu não tinha ideia de que eu era até uma lobisomem. Então, obrigada por isso."
Aila desviou o olhar do intenso olhar dele, embora ainda sentisse os olhos dele em seu rosto mesmo do outro lado da sala. Seus olhos cintilaram em direção a Chase, que parecia ter ficado mais pálido no pouco tempo desde a última vez que ela o olhou. Ele fixou o olhar à frente, sem olhar novamente em sua direção enquanto também parecia estar mergulhado em pensamentos.
"Por que outros lobisomens matariam eles? Eles não são animais de alcateia?" Aila duvidou.
"São. Mas os lobisomens são conhecidos por se voltarem uns contra os outros, especialmente se houver um lobo mais fraco. As alcateias diferentes também entram em conflito se não houver uma aliança entre elas, então eles não hesitam em matar um lobo que adentra em seu território. Os renegados, no entanto, estão no fundo da cadeia alimentar no mundo dos lobisomens. Eles não fazem parte de nenhuma alcateia e tendem a se movimentar bastante devido às chances de sobrevivência se eles ficam muito tempo perto do território de uma alcateia." Silas explicou.
"Mas meus pais devem ter estado em território da alcateia deles. Morávamos lá desde que eu me lembro. Não nos mudamos uma vez sequer, então não poderíamos ter sido renegados. Ou mortos por estarmos em território de outra alcateia." Aila disse.
Havia algo na afirmação de Silas que não se encaixava para ela. Por que outros lobisomens matariam seus pais? A casa deles era no meio do nada, pelo que ela se lembrava.
"Não poderíamos ter sido renegados..." Ela continuou.
"Você com certeza não é uma renegada", Silas zombou; até Chase soltou uma pequena risada.
Aila esperou que ele continuasse, mas a porta se abriu suavemente enquanto uma senhora mais velha com cabelos grisalhos e um rosto bondoso chegou carregando uma bandeja com suas bebidas. A senhora imediatamente colocou o primeiro café sobre um porta-copo na frente de Silas, sorrindo para ele enquanto ele agradecia. Então ela se virou em direção à mesa de café.
"Os renegados são mais animal do que humano. Eles dependem mais de seus sentidos como um lobo e tendem a permanecer em sua forma de lobo 98% do tempo. Eles são sanguinários e matarão humanos para sobreviver. Eles não podem ser racionalizados." Chase falou enquanto olhava pela janela, sem encontrar o olhar dela.
Aila então sentiu outro par de olhos queimando em seu rosto. Ela olhou para cima e viu que a senhora bondosa a olhava com nojo; um olhar de ódio puro brilhava por trás de seus olhos castanhos. Parece que as aparências realmente enganavam. Aila presumiu que ela agiria tão gentil com ela quanto foi com Silas e Chase porque ela era uma senhora mais velha e de aparência amável.
Mas assim como os caçadores, a senhora parecia odiar qualquer coisa que não fosse totalmente humana. Era uma pena ver pessoas com essa mentalidade. Estar cheia de tanto ódio cega-as. Essa senhora não sabia nada sobre ela, mas imediatamente lhe deu um olhar maligno porque provavelmente sabia que ela era uma lobisomem.
Bem, chupa essa, bruxa!
Aila internamente lhe enviou o dedo do meio enquanto segurava o olhar dela sem piscar, deixando sua raiva ferver por baixo da superfície de seus olhos. A boca da senhora se abriu e ela imediatamente saiu. Pegando sua xícara, Aila não pôde deixar de se sentir um pouco arrogante. Uma risadinha do outro lado chamou sua atenção; Chase estava escondendo-a atrás de sua própria xícara. Seu olhar foi tão severo assim?
"Por favor, tente não assustar minha equipe. Especialmente Milly, a pobre senhora, ela trabalha aqui há anos." Silas repreendeu-a.
"Assustar?" Aila murmurou para si mesma antes de olhar para seu chá e dar um gole hesitante. Ela nunca assustou ninguém antes com um olhar; aquela mulher era muito sensível. Não dê olhares malignos e recue quando um é devolvido para você então!
"Seus olhos brilharam", Chase falou baixo, olhando por cima da xícara da qual ele tomou um gole.
Aila arregalou os olhos em choque. Eles brilharam? Nunca brilharam antes!?
O que a fez mudar na última semana que agora ela estava rosnando e seus olhos estavam brilhando quando estava brava? Eles ficaram da cor âmbar como os de Finn? Antes que ela pudesse perguntar, seus pensamentos foram interrompidos por Silas,
"Chase. Você esqueceu que existem dois tipos de renegados. Mas o último não é importante. Talvez você devesse estudar mais sobre as criaturas da Terra e a história da Associação dos Caçadores, a SUA herança, do que ir à Universidade todo dia e conseguir um diploma que você não usará."
Chase revirou os olhos abertamente, ainda de costas para seu pai. Ele olhou de volta para a janela, porém, tomando um gole do seu café depois que Aila pegou seu pequeno ato. Ela continuou a encará-lo, porém.
Esse estilo de vida foi forçado nele? Ela continuava recebendo sinais mistos dele ao longo da semana. Ela presumia que estava apenas ficando apegada ao modo como ele a tratava normalmente às vezes; ela se deliciava com a gentileza em seus olhos então. Mas então ele a excluía, seus olhos ficando frios novamente e um olhar de nojo mascarando suas feições.
No entanto, mesmo com o olhar duro, ele sempre a tratava com delicadeza. Ele parou de empurrar e agarrá-la de forma brusca; ela até o ouviu assobiar ocasionalmente do lado de fora dos banheiros. Ela balançou a cabeça para livrar seus pensamentos sobre ele. Não era hora de mergulhar na psique de Chase.
Retornando à conversa original, Aila perguntou novamente,
"Eu ainda não entendo. Por que lobisomens matariam meus pais?"
"Eu me faço essa pergunta o tempo todo. É uma coisa de animal. Uma alcateia irá matar os seus próprios se o alfa e a luna são fortes ou fracos demais. Suponho que você tem que estar nesse meio termo." Silas riu.
Mas Aila ainda estava confusa; o que ele disse não fazia sentido. Certamente quanto mais forte um alfa é, mais forte a alcateia?
"Com seus pais, foi um caso diferente", Ele continuou. Aila o encarava, esperando que ele continuasse.
Por grande parte de sua vida, ela questionou a morte de seus pais. Animais os mataram, dizia o relatório da polícia, o que a fez questionar como eles estavam na casa em primeiro lugar e depois não deixaram nenhum rastro exceto pelo sangue deles. Mas agora, na frente dela, ela finalmente estava conseguindo algumas respostas.
Lobisomens fizeram isso, mas por que eles matariam os seus próprios?
Os pais dela fizeram algo que justificasse a morte deles?
"Não foram apenas seus pais que eles estavam atrás..."
Aila sentiu vontade de jogar um dos estúpidos livros da estúpida estante dele nele. Era como se ele estivesse se divertindo vendo ela se contorcer com suas respostas vagas. O que diabos eles estavam atrás que justificaria matá-los?
"O que era tão importante que eles mataram por isso?"
"Você."
A resposta dele fez com que ela parasse de respirar. Ela foi a causa da morte dos seus pais? Seu peito se apertou, mas ao invés de tristeza, ela sentiu raiva.
"O que você quer dizer? Eu? Chega de respostas vagas e me dê o que eu preciso saber!" Ela sabia que seus olhos estavam brilhando dessa vez; suas emoções estavam ficando cruas.
Silas levantou-se e virou-se de costas para ela. Juntando as mãos atrás das costas novamente, ele olhou pela janela atrás de sua escrivaninha.
"Seus pais eram líderes da Matilha Crescente de Prata, ou em termos de lobos: Alfa e Luna. Eles eram a alcateia mais forte conhecida, mas seus pais começaram a se tornar sanguinários, quase como renegados. Eles queriam mais e mais territórios, matando centenas que estavam em seu caminho. A alcateia se tornou enorme, com as alcateias que se renderam e foram forçadas a se juntar a eles. O que, claro, é onde eles erraram." Ele levantou a mão e apontou o dedo enquanto falava de maneira contundente.
"Seus pais estavam cercados pelos inimigos. Mas a arrogância deles não tinha limites; eles não pensavam que eles se virariam contra eles. O que é como eles foram facilmente mortos. Agora. Você entra na história porque, bem, você é filha deles. Você assumiria a responsabilidade deles uma vez que você atingisse a idade, então naturalmente, eles queriam te matar também. Uma vez que seus pais morreram, a força deles passou imediatamente para você. Isso significa que você é uma lobisomem poderosa de uma linhagem forte de alfas."
A cabeça de Aila estava girando com todas as informações que ela acabara de receber. Seus pais mataram centenas, por territórios de alcateia. Seu cenho se aprofundou entre seus olhos; pelo que ela se lembrava, suas memórias deles eram sempre carinhosas.
Sua mãe, que ela sabia que agora ela quase se parecia, sempre parecia ser gentil e amável. Seu pai era rigoroso, mas ela nunca viu qualquer malícia ou maldade nele. Mas como ela saberia? Ela era uma criança de 8 anos; ela pode ter visto o que eles queriam que ela visse.
Mas ela poderia confiar no que esse homem disse? Não. Ela não confiava. Seus pais adotivos, Mandy e Andy, nunca lhe contaram essa história. Seu sequestrador era quem estava lhe contando sobre seus pais. Ela não sabia no que acreditar, mas ela estaria interrogando seus pais adotivos se ela escapasse deste lugar.
De repente, seus olhos voltaram para a figura em pé na frente da janela. Os caçadores a sequestraram porque ela era importante, mas que diabos eles queriam?
"Então, do que você precisa de mim? Como essa história que você me conta beneficia você?" Sua voz saiu fria, seus olhos endurecidos.
Silas riu sonoramente,
"História? Aquilo não era uma história de dormir. Eram fatos. E infelizmente, querida, são fatos sobre seus pais. Sinto muito que você tenha tido pais assassinos em massa, mas pelo menos você não cresceu se tornando como eles."
Aila ainda não sabia no que acreditar, mas cada palavra saindo de sua boca agora a enfurecia.
"Continue." Ela disse com os dentes cerrados.
"Precisamos do seu sangue, Aila. Como eu expliquei, você vem de uma linhagem de alfas forte. Depois que seus pais morreram, nós tentamos obter os lobisomens mais fortes que podíamos para colocar as mãos, mas não adiantou. Robert deduziu que era uma questão genética. Por anos experimentamos, mas nada funcionou. Um dia, minha equipe estava rastreando uma alcateia de lobisomens e se deparou com você. Uma garota que era exatamente igual a Alexandra, sua mãe. É realmente incrível." Silas agora se virou, a olhando de cima a baixo.
Aila o encarava de volta enquanto suas feições lentamente se transformavam em uma de perplexidade.
"Para que você precisa do meu sangue?"
Silas a olhou incrédulo, inclinando a cabeça para o lado.
"Para fazer nossos próprios lobisomens, é claro. A batalha entre nossas espécies tem sido contínua por séculos e, sinceramente, está ficando um pouco chato. Nosso objetivo sempre foi eliminar todos os lobisomens, vampiros e metamorfos. Mas não somos suficientes. A população das criaturas está aumentando e não conseguimos acompanhar."
A resposta deles para as criaturas era cometer genocídio.