Safado.
Uma sequência de palavrões passava pela sua cabeça, nenhum dos quais ela pronunciou. Lina olhava para o seu Tio com puro ódio. Ela desejava que um buraco se abrisse e o engolisse por inteiro. Como ele poderia não tê-la consultado ao tomar uma decisão tão horrível?
Lina abriu os lábios, mas os fechou. Ela precisava de um minuto para respirar. Caso contrário, ia xingá-lo, seus ancestrais e toda a sua vida. Assim que teve uma tênue noção de sanidade, ela pigarreou.
"Você já anunciou isso publicamente?" Lina exigiu, tentando ao máximo controlar suas emoções. Mas tudo o que ela queria era jogar um copo d'água nele.
William ficou impressionado. Ele esperava que ela despejasse uma enxurrada de insultos contra ele, todos os quais ele aceitaria por ter tomado essa decisão por ela. Ele fez isso pelo bem dela. Suas intenções estavam no lugar certo, mas sua mente não.
"Eu ainda não anunciei essa decisão," William declarou. "Mas seu marido já concordou. Ele recebeu minha bênção esta manhã quando eu o contatei."
Lina não sabia que Everett tinha o contato do seu Tio.
"Ele não é meu marido," Lina disse com seriedade. "E nunca será."
William suspirou alto. Ele se recostou na cadeira e olhou para ela como um professor decidindo um castigo para seu aluno.
"Não seja infantil, Lina," William declarou. Ele a considerava sua própria filha, apesar de ela não se parecer muito com ele. Ele se importava com ela, à sua própria maneira distorcida.
"Lina, estou lhe oferecendo uma saída desta confusão," William disse sinceramente. "Faço isso pelo seu bem."
Lina deu de ombros.
William gesticulou em direção ao corpo dela. "Você queria liberdade—uma vida normal. Esta é a sua melhor chance de conseguir isso. É sabido entre o Círculo dos Diretores Executivos que os homens Leclare nunca gostam de mulheres ambiciosas ao poder, e você se encaixa perfeitamente nessa descrição," ele começou.
"Você pode se casar com Everett e poderá viver aquele estilo de vida de faculdade sem sua mãe no seu pé para se casar com um homem rico," William explicou.
"Ah, por favor, eu sou o homem rico," Lina murmurou.
William riu baixinho. "Tenho certeza que é, com o número de ações que você possui."
William fez uma pausa. "E os altos lucros de cada investimento que foi perfeitamente executado por você quando você substituiu por mim ou pelo seu Segundo Tio."
William não entendia como ela não conseguia ver seu potencial. Pelo amor de Deus, ela tomava decisões para a Empresa Yang como um hobby. No entanto, ela não queria comandar esta empresa?
"Mas você precisa entender de onde eu venho," William disse. "Suas melhores chances no casamento seriam com Everett Leclare."
Lina preferiria morrer do que se casar com um homem decidido por sua família. Especialmente um homem decidido pelo seu Tio. Ele era ótimo em tecer uma teia de mentiras para prender sua presa. Ele estava tirando algo desse casamento, e ela sabia disso.
"Lina, os homens Leclare são bastante bondosos. Tenho certeza que você saberia pelos seus encontros com o Everett. Ele me prometeu esta manhã que não irá impedi-la de perseguir suas ambições, contanto que não seja o poder dentro da empresa dele," William acrescentou, mesmo sabendo que ela relutava em ouvir.
"Com esse casamento, você ganhará liberdade, independência e segurança com um homem decente nos seus vinte e poucos anos que não tem antecedentes criminais ou um passado perigoso," William declarou, olhando para ela como se ela fosse uma idiota. "Qualquer mulher mataria por essa oportunidade."
"Qualquer mulher exceto eu," Lina disse.
"Lina, não seja rebelde, você é velha demais para isso," William repreendeu.
"É tão difícil dar um pouco de liberdade a uma mulher para fazer sua própria escolha?" Lina perguntou.
O olhar de William suavizou. "Você sabe que isso era impossível desde o momento em que você nasceu uma Yang. Sua vida foi definida em pedra e sempre será decidida por outras pessoas."
Lina balançou a cabeça. "Não."
"Lina—"
"Não, essa não será eu," Lina declarou.
Lina levantou-se da cadeira, fazendo-a ranger alto no chão. Ele estremeceu e lançou-lhe um olhar fulminante. Ela enfrentou o seu olhar feroz. Lobo versus raposa. Quem ganharia? Ela esperava que fosse ela, a astuta raposa.
"Lina!" William disse severamente, esperando conseguir razão com sua sobrinha irracional.
"Everett é a suposta vítima do seu caso, Lina, pois seu relacionamento com ele foi anunciado primeiro," William disse lentamente. "Aquelas fotos do seu encontro no museu—"
"Podiam muito bem ter sido postadas por você," Lina vociferou, seu coração trovejando com a tensão. "Você me prometeu, Tio. Você disse que minhas fotos nunca seriam vazadas em lugar algum."
"Fiz o melhor que pude, Lina," William afirmou, deslizando os dedos à sua frente e apoiando-os em sua mesa.
"Você está tentando me encurralar," Lina retrucou.
William olhou para ela com simpatia. "Você é a favorita do meu pai. Eu não faria uma coisa dessas."
"Você não é um homem de palavra, por mais que goste de mentir para si mesmo," Lina afirmou, endireitando os ombros.
Lina pegou sua bolsa de sua mesa e a segurou firmemente. Ela pensou em balançar a bolsa nele como quem balança um tijolo. Mas nenhum sangue derramado a satisfaria.
"Para onde você está indo?" William exigiu, levantando-se com ela. "Você assinará o certificado de casamento. E não aceitarei objeções."
Lina deu de ombros. O que ele faria? Trancá-la aqui até ela se submeter? Ele esqueceu que estava nos quarenta e tantos e ela poderia derrubá-lo com um estalar de dedos.
"Não se preocupe, Tio," Lina cuspiu a última parte. "Você terá seu certificado de casamento assinado até amanhã de manhã."
William ergueu as sobrancelhas. "Se você vai discutir isso com Everett Leclare, não adianta. Ele está fora da cidade em uma reunião de emergência com o Escritório de Advocacia Leclare. Ele não retornará por mais dois dias," ele declarou.
Lina revirou os olhos.
William franziu o cenho profundamente. "Você deveria se preparar para conhecer sua família, seus futuros sogros."
Lina sentiu algo estalar dentro dela. Ela se lembrou de se acalmar. Ela já havia perdido a calma antes e isso não tinha terminado bem. Nunca tinha.
"Ah, eu definitivamente me prepararei para conhecer meus futuros sogros," Lina concluiu.
Lina girou nos calcanhares e saiu andando.
"Lina—"
Lina agarrou a porta e a abriu com força, assustando Anna que estava esperando do lado de fora.
"LINA!"
Lina não parou. Ela nem mesmo olhou para trás. Ela era uma mulher em uma missão e não pararia por nenhum homem.