Kaden DeHaven percebeu algo. Lina estava vulnerável agora. No seu ponto mais baixo, poderia acrescentar. Ela não tinha outra opção, senão ele. Se ele fosse um canalha, poderia ter se aproveitado disso. Tudo o que queria era torná-la sua. Mas não assim—não com uma arma pressionada contra sua cabeça, forçando-a a escolher.
Kaden queria ser aquele que propunha. E não o contrário. Ele estava pensando que ela imploraria por sua ajuda. Ele deveria ter sabido que ela era muito mais esperta que isso.
Lina iria usá-lo. E não o contrário—algo que ele não havia previsto.
"Rejeitado." Kaden empinou o queixo em direção à porta. "Agora vá."
Lina ficou chocada com as palavras dele. Seu queixo caiu e ela ficou boquiaberta. Esse era o seu único plano. Ela nem sequer concebera a ideia de Kaden rejeitá-la. Ela pensou que ele a desejasse. Será que o tratamento dele para com ela era apenas parte de seus jogos doentios e retorcidos?
Lina sentiu como se tivesse levado um tapa no rosto. Cambaleando para trás, piscou rapidamente. Então era isso.
Lina iria se casar com Everett.
"Eu vou me casar com Everett," disse Lina.
"Eu sei."
Lina apertou a bolsa com força. "Contra a minha vontade."
Kaden alcançou suas gavetas e tirou óculos de armação prateada. Ele era um monstro, mas não uma besta. Ele não planejava se aproveitar dela.
"Eu sei."
"Eu não posso me divorciar uma vez que me casar com Everett," Lina tentou novamente.
Kaden colocou os óculos em seu nariz proeminente. "Eu sei."
Lina estava magoada. Seus lábios tremeram, mas ela não disse mais nada. Se essa era a reação dele, ela não queria mais se casar com ele. Ali mesmo, ela pensou em um Plano B—fugir com algum desconhecido.
"Por que não?" Lina cuspiu. "Por que—"
"Você está no seu ponto mais baixo e eu não vou me aproveitar disso," disse Kaden. "Vá para casa e repense sua decisão."
Foi uma rejeição educada. Para Lina, foi um tapa no rosto. Ela tinha engolido seu orgulho para vir a esse escritório e implorar pela mão dele em casamento. Agora, o vilão estava tentando se passar por herói.
"Que seja," disse Lina, enfaticamente.
"Que seja."
"Ótimo," retrucou Lina.
"Fantástico," respondeu Kaden.
"Maravilhoso," disparou Lina.
"Excêntrico," Kaden falou sem emoção.
O peito de Lina se enchia a cada respiração que ela tomava. Esse homem a irritava! Virando-se nos calcanhares, ela saiu tempestuosamente. Então, ele disse algo que a fez parar.
"Você é virgem, não é?" Kaden perguntou.
Lina se perguntou o que isso tinha a ver com algo.
"Você teria descoberto na noite do nosso casamento," Lina respondeu com rancor, como a mulher mesquinha que era.
Kaden riu baixinho, recostando-se na cadeira. Ele estava apenas começando a passar para suas outras tarefas do dia, mas ela sempre o intrigava. Ele tinha vivido por mil anos e poucas pessoas o interessavam. Exceto ela. Sempre tinha sido ela.
"Não precisaria descobrir, eu sei que você é," disse Kaden.
Kaden não podia se aproveitar dela, mas lhe ofereceria uma saída—um plano que o envolveria. Que só poderia envolvê-lo. Caso contrário, haveria um homem morto na cama e uma mulher horrorizada.
Lina virou-se, encarando-o furiosa. "O quê? Eu me visto como uma puritana?"
"Eu gosto disso em você," murmurou Kaden.
O coração de Lina acelerou, então ela repreendeu seu coração tolo. Sempre se apaixonando pelas pessoas erradas. Sempre se quebrando por um homem. Ela o encarou como se ele fosse seu pior inimigo. Aqui estava ela, colocando de lado seu orgulho, para pedir a um homem que se casasse com ela. Não só ele a rejeitara, mas também questionara sua virtude?
De repente, houve uma batida na porta.
Kaden olhou para Lina e ela o encarou de volta. Ele pressionou o botão para abrir a porta. Imediatamente, Sebastian entrou, seguido por uma Priscilla impaciente. Uma reunião estava prestes a começar e todos os três precisavam estar presentes.
"Você pode perdê-la comigo," disse Kaden, ignorando os dois que estavam na porta. Sua atenção estava totalmente nela, sempre esteve. Ela apenas não percebeu.
"O quê?"
"Os Leclares são mais conservadores do que você pensa, especialmente a avó do herdeiro. Ela vai querer ver sangue nos lençóis," Kaden afirmou.
Lina estava boquiaberta. Ela marchou até a mesa dele, olhando-o furiosa. Ela era uma piada para ele? Ela estava furiosa. Ele não queria compromisso, ele só queria o corpo dela.
Lina bateu a mão na mesa dele e ele nem sequer se abalou. Nem piscou. Sua expressão era distante e arrogante.
"Vá para o inferno," Lina rosnou, pegando o café gelado e jogando-o no rosto dele.
Silêncio.
Silêncio puro e mortal.
Eles podiam ouvir o café escorrendo. Gota a gota. Ninguém disse uma palavra, ninguém se atreveu a fazer isso.
Sebastian parecia que ia desmaiar a qualquer minuto.
Priscila não podia acreditar no que via. Eles compartilhavam um pensamento—essa mulher ia morrer a morte mais excruciante possível.
Em todos os anos que eles conheceram Kaden, ele não fazia ameaças. Ele dava garantias. Garantia de que você acabaria seis metros abaixo da terra. Garantia de que sua morte seria um suicídio. Garantia de que nem a polícia investigaria o caso.
"Eu já estou no inferno," afirmou Kaden, nem mesmo afetado pelo café que ela jogou nele, como alguma prostituta vulgar.
Kaden lambeu os lábios e ela seguiu o movimento com os olhos. Então, seu rosto corou e ela desviou o olhar. Ele podia dizer que ela estava contemplando como matá-lo. Como matar um imortal.
De repente, Kaden a agarrou pela gola da blusa, puxando-a em sua direção. Os olhos dela se arregalaram, até que ele viu cada minúsculo ponto de cor neles. Então, ele viu seu próprio reflexo.
"Quando você viveu por mil anos atormentado pelo desgosto, inferno e paraíso são o mesmo lugar," murmurou Kaden, de modo que só ela pudesse ouvi-lo.
O coração de Lina desabou. Mesmo após mil anos, mesmo após as vidas que ela viveu, ele não a havia esquecido. Nem um pouco. Ela podia ver isso na agonia no abismo de seus olhos, uma escuridão profunda onde a luz nunca poderia brilhar.
Quantas vezes ele reviveu aquele momento? Quantas vezes foi assombrado por seus próprios gritos? Quantas vezes sonhou com os olhos dela, cheios de lágrimas, enquanto ela se ajoelhava diante dele, implorando por algo que ele poderia facilmente ter dado, mas não deu.
Por causa disso, ela se foi.
"Bem então, talvez você devesse ter me dado o que eu queria," disse Lina, segurando o pulso que segurava sua blusa.
Lina encontrou o olhar intenso dele. Ela ouviu homens tremendo à vista do Jovem Mestre. Eles abaixariam a cabeça e baixariam os olhos, pois sabiam quem estava no comando.
Lina ainda se lembrava da besta no campo de batalha, do homem que rasgava pele como papel. Aquele que cortava cabeças, fazia sangue espirrar e membros se espalharem.
"E ainda assim, você não fez," sussurrou Lina. "Mais uma vez, você decepcionou as esperanças que eu coloquei em você."
O olhar de Kaden vacilou. Ele segurou sua gola com mais força.
"Você lembra," rosnou Kaden.
"Tudo," disse Lina, com raiva. "Incluindo sua traição."
Lina empurrou as mãos dele para longe dela. Ela ajeitou a gola da blusa e observou enquanto a realização se instalava em seu rosto.
Kaden saltou da cadeira, mas era tarde demais. Ele a havia perdido uma vez. Agora, ele a havia perdido duas vezes.
"Adeus Vossa Alteza," sussurrou Lina, dando um passo para trás, repetindo as mesmas palavras que lhe disse naquele dia chuvoso no campo de batalha.
De que adiantava vencer a guerra quando você perdeu tudo?