Chereads / Querido Tirano Imortal / Chapter 34 - Dezessete Verões

Chapter 34 - Dezessete Verões

Lina acordou em outro pesadelo. Desta vez, era um cenário familiar de sua primeira vida, onde pilares dourados sustentavam telhados também dourados curvados em direção ao céu, paredes vermelhas separavam os palácios e guardas estavam posicionados em todas as entradas. Ao longe, ela viu o estandarte de Ritan balançando orgulhosamente ao vento.

Lina estava de volta a onde tudo começou.

O céu estava pintado de preto, com as nuvens cobrindo sinistramente uma lua pálida. Grilos cantavam ao longe, vagalumes brilhavam contra a grama dos jardins, e o vento passava por Lina.

"Princesa, Princesa, espere!" Uma voz familiar gritou, agarrando o pulso da Princesa.

Lina se virou com a confusão e ficou assustada ao ver Sebastian segurando o pulso da Princesa. A Princesa em questão era a própria Lina. Ela podia se lembrar vagamente dessa cena em suas memórias.

"Solte-me," a Princesa rosnou, puxando sua mão de volta e lançando um olhar acusador em direção a Sebastian.

"Por favor, você deve ouvir minha explicação, Princesa, antes de—"

"Ver a explicação com meus próprios olhos," disse friamente a Princesa. Antes que Sebastian pudesse detê-la novamente, ela se aproximou da porta do palácio de Kade. Guardas alinhavam a entrada, fortemente armados, e ainda mais escondidos nas sombras.

A Princesa levantou um pingente que reluzia contra a luz da lanterna. Feito de obsidiana lisa incrustada com ouro, um nome era talhado com jade branco. O Segundo Príncipe de Ritan, o próprio Kade. Possuir este pingente significava uma coisa—essa era a mulher do Príncipe.

"Abram passagem," a Princesa comandou.

Sem poder objetar à mulher do Príncipe, os guardas relutantemente abriram caminho. Eles trocaram olhares preocupados enquanto a Princesa entrava no palácio.

Imediatamente, ouviu-se a voz de uma mulher. "O que você está fazendo?!"

Lina rapidamente seguiu após a Princesa. Os guardas não a impediram, o que significava que ela não passava de um fantasma errante. Ninguém podia vê-la. Nem mesmo os deuses.

Lina observou enquanto a Princesa agarrava uma mulher pelo pescoço. Cabelos da cor do ouro fiado e olhos da cor do mar esmeralda, Priscila estava sendo estrangulada.

"Da próxima vez que ousar insultar meu reino será a última vez que terá uma língua," cuspiu a Princesa, lançando um olhar perigoso em direção a Priscila.

"Lina," Kade advertiu, segurando sua mulher pela cintura e puxando-a para si.

A Princesa afastou seu braço e continuou a ameaçar a vida de Priscila.

"Você pode ser a serva favorita do Imperador, comprada como um porco em um leilão, mas eu sou o motivo pelo qual Ritan será unido a Taren," advertiu a Princesa.

Sem mais um olhar para Priscila, a Princesa jogou a serva ao chão. Ela empurrou Kade para longe dela, com ódio brilhando em seus olhos.

"O que está errado?" Kade perguntou calmamente, segurando sua mão e puxando-a para perto. Hesitação passou por seu olhar belo e ele sorriu suavemente.

"Agora, diga a seu marido o que está em sua mente?" Kade guiou a Princesa para fora da sala, sem lançar um único olhar para a descartada Priscila. Ele não viu o olhar pesado apontando adagas para as costas da Princesa. Nem viu o desejo em seus olhos.

"Você não é meu marido," a Princesa argumentou, com o coração ainda ardendo. "O que estava fazendo com a mulher que insultou Taren, meu reino natal?"

Taren.

Os olhos de Lina se encheram de lágrimas ao ouvir o nome. Ela baixou o olhar, seus lábios tremendo. Um império esquecido. Uma Princesa esquecida. Tudo por causa de uma espada. Ela havia esquecido como era orgulhosa em sua primeira vida, tomando tudo diante dela. Ela era uma Princesa mimada, favorecida por todo seu reino e pai, portanto, seu coração estava podre.

"Então é esse tipo de esposa que você seria," Kade provocou, seus lábios inclinando para cima. "Você vai denunciar nosso casamento e dizer que o filho não é meu quando estiver com raiva?"

Kade a levou aos jardins e na direção do seu pavilhão favorito. Ela costumava sentar aqui e admirar a lua pelo tempo que podia, pois Taren era o Reino da Lua.

Diziam que a Lua brilhava mais bonita lá, sempre tão clara e nítida, pois era o Reino que a Deusa da Lua protegia.

"Sim," a Princesa admitiu amargamente.

Kade riu de suas palavras. "Vejo que minha querida esposa é bastante mimada."

A Princesa parou. "Foi você quem me disse para ser mimada por seu amor e carinho. Para ser tão mimada, que nenhum outro homem no mundo pudesse comparar à sua devoção."

Um sorriso sombrio e perigoso cruzou o rosto de Kade. Sádico como sempre, ele a trouxe para perto e descansou sua testa sobre a dela. Pensamentos maldosos cruzaram sua mente, mas ele a trataria bem, senão ela fugiria. E ela era bastante fugitiva.

"Não cumpri minha promessa?" Kade perguntou, trancando suas mãos atrás das costas dela, de forma que ela só tivesse para onde ir para frente e para dentro de seu peito.

"Não recusei todas as ofertas por outra concubina? Não te dei tudo o que você queria? Não permiti que você treinasse, mesmo nunca querendo que minha mulher se machucasse com uma lâmina?" Kade confessou, acariciando a bochecha dela.

Ela esfregou o rosto contra sua mão. Seu coração agitou, seu ventre apertou com desejo. Seus cílios tremularam quando ela fechou os olhos, para saborear seu toque gentil.

Kade queria mais. Queria ser o único homem a ver sua hesitação, sua vulnerabilidade e sua fraqueza. Ele a queria, corpo e coração, alma e espírito.

"Você será a única mulher que eu sempre mimarei e saborearei," Kade prometeu, roçando seus lábios nos dela.

Mas então, ela enterrou o rosto em seu peito.

Kade riu e a envolveu com seus braços, abraçando-a. Ele pressionou os lábios no topo da cabeça dela.

"Nesta vida e na próxima, você pertencerá a mim," Kade jurou. "Se alguém ousar nos separar, os céus cairão e a terra se partirá. Eu farei guerra com o céu e a terra se isso significar ter você em meus braços mais uma vez."

O coração da Princesa tremeu. Ela segurou tremulamente suas roupas, sua respiração ficando pesada. Quando ele fazia uma confissão aterrorizante como essa, como ela iria dizer a ele que Teran a queria de volta?

"Ouvi do Imperador," Kade disse lentamente. "O casamento foi cancelado."

A Princesa congelou. Kade apertou seu abraço.

"Diga-me por quê," Kade comandou, sua voz crescendo baixa e nivelada. "Agora."

"Pai diz que sou muito jovem," confessou a Princesa. "Mal completei dezessete verões, eu—"

"Fique." Kade pressionou o rosto dela contra seu peito, sua mão deslizando pelo cabelo dela.

Ele admirava seus cabelos sedosos, na esperança de esconder sua expressão assassina dela. Sua mulher merecia ver apenas as melhores vistas, tocar nas coisas mais luxuosas e respirar o ar mais esplêndido.

"Em seu reino, mulheres tão jovens quanto dezesseis se casam, mas ele se atreve a me pedir para esperar?" Kade rosnou.

"Kade, meu pai—"

"Será condenado ao inferno se voltar atrás em sua palavra."

O fôlego de Lina ficou preso na garganta. A Princesa talvez não tenha visto sua reação, mas ela sim.

Olhando para trás agora, Lina desejava saber antes. Desejava saber que o amor de Kade por ela era tão severo, que era uma obsessão. Ela desejava saber que ele cumpria cada palavra dita. Céu e inferno, ele devastaria cada terra, apenas para vê-la mais uma vez.

Foi exatamente por isso que sangue foi derramado no campo de batalha. Sangue que não era dos soldados, mas da única coisa que começou a guerra.