Lina abriu os olhos na terra dos sonhos. Ela era uma sonhadora lúcida e bem ciente de seus pesadelos. Mas desta vez, as coisas estavam diferentes. O cenário já não era mais de pilares deslumbrantes, telhados dourados e muros orientais. Agora, ela estava numa terra de nuvens, luz e colunas de mármore. Onde era esse lugar...?
Lina sentia-se como se estivesse flutuando nas nuvens, alto acima dos céus. Será que ela estava no Céu? Teria morrido em seu sono?
"Kade!"
Lina ofegou com a voz familiar. Ela se virou para ver quem era, seus olhos se arregalando. Era Lina. Desta vez, ela estava vestida em roupas etéreas, com várias camadas em tons pastel. Ela corria entusiasmada em direção a um homem e passou direto pelo corpo fantasmagórico de Lina.
Lina se virou e o sangue drenou de seu rosto. Kade. Ele estava coberto de vermelho. Manchas de sangue permaneciam em seus traços frios, suas roupas encharcadas com uma cor sinistra, e o mesmo líquido escorria por sua espada.
Apesar disso, a Lina dos Sonhos não tinha medo. Ela segurava seu vestido requintado e corria direto para ele.
"Você está ferido?" Lina dos Sonhos perguntou, preocupada segurando suas mãos cobertas de sangue.
Foi então que a expressão distante de Kade finalmente mudou. Seus olhos estavam desolados e distantes antes. Agora, a primavera desabrochou e o inverno derreteu. Kade balançou a cabeça suavemente, a espada clangendo no chão.
Antes que Kade pudesse tocá-la, um trovão estalou à distância.
"EU AVISEI!" Uma voz ressoou acima das nuvens.
De repente, as nuvens de algodão branco transformaram-se em cinza tempestuoso. Trovões ribombavam nos céus, o sol fugindo. O reino celestial estava assolado pelo caos, relâmpagos atingindo os pisos de mármore, perigosamente perto de onde Kade estava.
"Eu venci a guerra," Kade disse friamente, agarrando sua mulher e puxando-a para perto. "A cabeça de seus generais inimigos jaz aos seus pés."
Lina não se lembrava dessa parte em sua primeira vida. De fato, ela nunca tinha testemunhado essa cena antes. Onde estavam? Por que as roupas eram tão diferentes? Por que parecia que eles estavam além do reino mortal? O que estava acontecendo?
"Uma promessa é uma promessa. Sua filha é minha." Kade envolveu sua mão ensanguentada em torno da cintura dela, trazendo-a para o seu lado. O tecido de musselina branca estava imediatamente manchado com sujeira. Sujeira criada por ele. Sujeira das pessoas que ele havia matado.
O número de pessoas que ele tinha matado seria suficiente para fazer um rio de sangue derramar dos castelos celestiais para o mundo mortal. Nada neste mundo poderia impedi-lo de levá-la. Nem mesmo uma guerra perdida.
"Minha filha está destinada a ser mais do que a esposa do Deus da Guerra," uma voz trovejou dos céus. "Você não tem poder no meu reino. VÁ EMBORA."
A cabeça de Lina começou a doer. Ela reconheceu a voz de algum lugar, mas de onde? Ela se contorceu de dor, segurando a testa. Sentia como se uma névoa em sua mente tivesse começado a dissipar-se, mas tudo ainda estava embaçado.
O que estava acontecendo?
Lina olhou para o casal marcado pelas estrelas. Kade parecia com Kade. Lina parecia com Lina. Não havia dúvida. Esta era ela. E aquele era Kade. O que isso significava?
"O destino de Lina sempre esteve entrelaçado com o meu. O destino dela pertence a mim. Levarei sua filha com ou sem o seu consentimento," Kade rosnou, apertando o abraço nela, desafiando o Imperador do Reino Celestial a vir e tomar a mulher de seus braços.
"TOLO!" A voz acima dos céus rugiu. "O destino de minha filha com você foi há muito tempo cortado pelas próprias mulheres que teceram seus fios de destino!"
Kade nem piscou quando o relâmpago atingiu o chão. Os pisos de mármore racharam, e as cercas baixas estilhaçaram em nada. As árvores ao lado deles até pegaram fogo. Ele não se abalava com o caos. Inabalável por tudo, pois ele era o Deus da Guerra e nada neste mundo o aterrorizava.
"Se o preço a pagar pelo amor é a morte, então este mundo será um campo de batalha," Kade disse lentamente, calmo e composto. "Se me é dado uma vida com ela, barganharei por uma eternidade. Nada que você faça ou diga me impedirá de ficar com minha mulher."
"Então, é a morte que você busca!" A voz nos céus gritou. "Então é a morte que você receberá."
Mas a morte não veio para Kade. Veio para a Lina dos Sonhos que havia empurrado seu amante para fora do caminho. Sem aviso, um trovão atingiu o local onde ele estava há um momento. Milhares de faíscas voaram pelo ar, mandando tudo para trás.
Lina gritou. E sem aviso, Lina sentou-se ereta na cama, respirando pesadamente. Ela piscou rapidamente e olhou ao redor do seu quarto, percebendo que acabara de acordar.
Que diabos foi esse sonho?
Lina de repente lembrou das palavras de Kaden no museu.
"Apenas uma vida?" ele tinha perguntado a ela.
Os olhos de Lina tremiam com a realização. Eles... teriam passado mais de uma vida juntos? Haveria mais nela do que a morte durante sua vida passada como uma Princesa favorecida?
Lina não entendia o que estava acontecendo. Ela pensou que eles estavam destinados a apenas uma vida, mas o que significava aquele pesadelo?
"Ai," Lina gemeu.
Lina não conseguia lembrar. Quanto mais pensava nisso, mais sua cabeça começava a latejar. Ela segurou o peito, ofegando com a dor que se espalhava pelo seu coração. Sentia como se alguém tivesse enfiado uma faca diretamente em seu corpo. A dor era insuportável.
Finalmente, quando Lina decidiu parar de pensar a dor foi embora.
"Que inferno," Lina respirou fundo.
Lina acreditava que havia mais do que o que se via. Era como se seu próprio cérebro tivesse bloqueado memórias queridas para ela. Memórias que causavam total agonia.
Imediatamente, Lina jogou o cobertor para fora de suas pernas. Ela tinha tantas perguntas e zero respostas. A única pessoa que poderia acalmar sua curiosidade era Kaden. Ele devia saber algo que ela não sabia.
Com uma missão em mente, Lina se vestiu rapidamente para a manhã. O sol mal estava surgindo das nuvens quando ela saiu do chuveiro e escovou os dentes pelo caminho. Em pouco tempo, Lina estava vestida e descendo as escadas.
Mas enquanto descia, ela recebeu uma mensagem de texto no seu telefone.
[Isabelle: Você não vai acreditar no que eu vi hoje. Corre e me encontre no shopping local. Aqui está o endereço!]
Lina piscou confusa, mas respondeu rapidamente.
[Tudo bem, estarei aí em duas horas.] Lina respondeu.
"Lina!" Milo gritou, correndo até ela antes de qualquer um.
Lina levantou a cabeça e quase tropeçou na escada. Milo rapidamente agarrou seu pulso para estabilizá-la. A última coisa que ele queria era que ela caísse de cara e achatasse ainda mais!
De repente, Lina viu lampejos do futuro dele. Ela testemunhou pílulas pretas, um Milo taciturno e... chá quente?
Felizmente, a reação de Lina à clarividência não foi tão severa quanto da última vez. Normalmente, suas reações não eram ruins, no máximo ela ficaria um pouco tonta. Isso a deixou ainda mais curiosa sobre por que ela tinha desmaiado na frente de Kaden.
"Eu não entendo!" Milo se exaltou. "Tio deveria ter apagado todas as fotos da existência, mas olha isso."
Milo rapidamente enfiou jornais e revistas na mão dela. As sobrancelhas de Lina se arquearam ao ver as empresas editoras respeitáveis com fotos não respeitáveis. Que diabos era isso?!
"É aquele maldito Leclare!" Milo argumentou, o rosto cheio de irritação. Ele ia matar aquele bastardo!
"Eu aposto que esse bastardo tem algo a ver com isso!" Milo gritou, apontando um dedo acusador para os papéis.
"Milo!" Evelyn repreendeu severamente, franzindo a testa para o comportamento de seu único filho. "Sua linguagem é inadequada."
"E assim são suas ações, Mãe!" Milo contra-atacou, encarando-a. "Eu sei que foi você que armou o encontro às cegas de ontem."
As mãos de Lina tremiam com as fotos. Havia tantas. Em tantas posições diferentes. Ela e Everett foram perfeitamente capturados em cada imagem. Eles pareciam um casal perfeito. Ele parecia profundamente apaixonado, especialmente com o jeito que olhava para ela.
"Olha, está em toda a mídia social," Milo disse à sua irmã mais velha. "Veja!"
Milo enfiou o telefone na frente do rosto dela. O coração de Lina caiu. Na mídia social mais popular do país, havia vários artigos e posts sobre essas fotos.
Sem dúvida, todo o país pensaria que Lina Yang estava namorando Everett Leclare. Em breve, seu nome e identidade seriam conhecidos em todos os lugares. Suas afiliações com os Yangs, sua universidade, sua vida pessoal. Estavam transmitidas alto e amplamente.
"Estou ferrada," Lina praguejou.
"A mídia também acha," Milo rosnou. "Eles estão começando a dizer que você deu um jeito no herdeiro Leclare e conseguiu trazer um dos solteirões mais cobiçados da nação para casa!"
Lina cerrou os dentes. Como isso pôde acontecer? Os homens do Tio eram diligentes. Não havia como eles permitirem que essas fotos fossem publicadas por todo o país. De jeito nenhum... a menos que alguém tivesse intervindo antes.
Mas quem?