O silêncio engolfou a sala como fogo em uma floresta. Ninguém disse uma única palavra. Ninguém respirou alto demais. Todos os olhares se voltaram para Lina como se já soubessem a verdade.
"Então," Milo disse. A tensão estava tão espessa que suas palavras a cortariam. "Eu acho que o encontro às cegas foi bem sucedido—"
Mais uma batida na porta interrompeu a conversa.
"Entre!" Milo disse animadamente, esperando aliviar o clima.
Milo estava começando a sufocar naquele espaçoso salão de jantar. Ninguém falava nada além dele. Era possível até ouvir um engolir de saliva do outro lado da sala.
"Hum, minhas desculpas por interromper a refeição," o mordomo começou, fazendo uma reverência em cumprimento. "Mas acabamos de receber outro pacote... Desta vez, o remetente e o destinatário estão identificados, ao contrário do primeiro pacote."
Milo se contorceu. Bem, isso certamente não ajudou em nada.
"E para quem?" Evelyn perguntou de forma incisiva, seus olhos se estreitando na direção da caixa branca com fita preta. Os opostos polares de cada pacote.
Lina exalou lentamente, sem querer saber o resultado. Ela rapidamente se aproximou da porta, justo quando o mordomo entregava a caixa para sua mãe. Foi então que ela ouviu um grito horrendo atrás dela.
"Sua pirralha! Como ousa mentir para sua mãe?!" Evelyn gritou para a filha, saltando da cadeira e apontando um dedo acusador na direção de Lina.
Lina fechou os olhos com dor, cansada dessa bobagem. Era cedo demais e ela já estava com dor de cabeça. Segurando um suspiro, ela olhou por cima do ombro.
"Pelo menos ele teve a cortesia de enviar um bilhete no topo do pacote," Milo murmurou, pegando o cartão da fita amarrada em um laço perfeito.
Milo começou a ler o cartão em voz alta, para o desgosto de sua mãe.
"Para a garota com a especialidade mais útil, espero que possamos aproveitá-la no museu que aluguei exclusivamente para nós. Com carinho, o herdeiro desesperado."
As sobrancelhas de Milo se ergueram em diversão, olhando para sua irmã que supostamente não tinha perspectivas, segundo a mãe deles. Ele soltou uma risadinha quando Lina lhe lançou um olhar sério. Certamente era uma maneira de começar a manhã.
"Agora, agora, Evelyn, deixe nossa filha explicar," Frederick disse suavemente. "Tenho certeza de que ela achou que o encontro não foi bem, mas na realidade foi e—"
"Não tente explicar por ela," Evelyn retrucou, fulminando com o olhar a pirralha que lhe roubou a juventude e lhe pagou com respostas atravessadas.
"O que são essas abominações?" Evelyn exigiu, apontando para as duas caixas de presente em cima de sua suntuosa mesa de jantar.
"Abominações."
"Você—"
"Aproveite sua refeição," Lina disse secamente, saindo do salão de jantar para ir para o seu quarto.
Lina soltou o gemido que estava segurando. Em que sua vida se transformou?
Deitando-se na cama, Lina pegou seu telefone com relutância.
Eram ótimos presentes e ela certamente não seria a protagonista irritante que tenta devolver ao remetente. O orgulho de um herdeiro era maior do que este país e feri-lo era declarar guerra, uma que ela não podia se dar ao luxo.
"Bastardos irritantes," Lina murmurou em voz baixa, mesmo que sua mãe pudesse discordar.
Uma vez que sua mãe superasse a raiva, começaria a planejar um casamento. Lina já podia imaginar o vestido horrível que sua mãe-monstra iria forçá-la a usar, as flores irritantes no salão de casamento e quantos convidados estariam presentes no maior casamento político do século.
"Como diabos vou superar uma bolsa como aquela?" Lina resmungou, olhando para suas informações bancárias, com zeros suficientes para comprar um presente inestimável, mas não o suficiente para um presente adequado.
Lina começou a percorrer seus contatos em busca de alguém que pudesse ajudá-la a adquirir presentes para seus remetentes arrogantes, mas perseguidores. Finalmente, ela viu um nome que poderia ajudar, mas custaria uma fortuna. Um favor.
Engolindo em seco, Lina pressionou o botão de ligar e colocou o telefone no ouvido.
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DeHaven Conglomerate.
O quarto de apresentação inteiro estava silencioso. Era tão quieto que se podia ouvir os apresentadores engolindo em seco. Seus olhos viajavam nervosamente pela sala, pousando sobre o herdeiro sombrio da companhia. Sua expressão era vazia, sua pele tom de mel pálida sob as luzes baixas, e seus olhos eram tão distantes quanto sempre.
Ele não disse nada, não fez nada, e sequer se mexeu.
Em nenhum momento suas feições mudaram, em nenhum momento seu rosto mostrou qualquer emoção. Ele estava apenas vazio e frio.
Os segundos passavam, ninguém falava. Ninguém se movia. Eles prendiam a respiração e esperavam pela decisão do presidente.
Finalmente, Kaden DeHaven levantou-se. Sem uma palavra de louvor ou reconhecimento, ele saiu caminhando. Geralmente, isso seria um sinal assustador, mas melhor silêncio do que amargura.
"Nós fomos bem?" Um apresentador nervoso perguntou ao seu colega, que o olhou como se ele fosse novato.
"Confie em mim," um deles disse devagar. "Se nós não tivésemos ido bem, saberíamos."
"Chefe," Sebastian disse, uma vez que todos estavam fora de alcance auditivo. "Suas previsões se tornaram realidade!"
"Eu acabei de ser informado de que a Senhorita Yang está estacionada lá embaixo," Sebastian disse. "Entretanto… ela está recusando subir."
Finalmente, as feições gélidas de Kaden derreteram. Ele continuou caminhando, mas seus olhos demonstraram reconhecimento da declaração de Sebastian.
"Insistimos para que ela esperasse em seu escritório, mas ela recusou e disse que seria inapropriado, alegando que a relação entre vocês dois era muito distante..." Sebastian deixou a frase no ar, percebendo de imediato que era mais um erro.
A mandíbula de Kaden se contraiu, seus olhos se estreitando. Distante? A audácia daquela mulher. Quem era que ficava encarando ele? Quem era que chorava ao vê-lo?
Kaden virou-se bruscamente para Sebastian. "Meu escritório. Agora."
Sebastian teria corado, mas ele era reto como uma vara e nunca jogaria em outro time.
"Vou avisá-la imediatamente, Chefe." Sebastian pegou seu telefone para fazer uma ligação para o segurança lá embaixo. Conforme falavam, seu rosto começou a empalidecer.
"C-como assim ela sumiu?" Sebastian perguntou, sua atenção voltando para o Chefe que parecia pronto para assassinar alguém.
"Hah… Então ela acha que pode fugir de mim." Kaden soltou uma risada sombria. Ele girou nos calcanhares e seguiu em direção ao elevador, deixando sua secretária para trás.
Kaden queria ver até onde ela ousava fugir dele, quão longe seu corpo pequeno poderia levá-la, e quanto tempo demoraria até que aquelas perninhas estivessem balançando sobre seus ombros e ela estivesse presa sob ele. Uma vez que ele a alcançasse, ela não teria chance.