Angelica não conseguia acreditar que seu pai ameaçou expulsá-la de casa e proibi-la de ver o irmão. Ela sabia que ele podia ser impiedoso às vezes, mas isso era um novo nível de frieza. O que ela faria agora?
Ela se virou na cama, incapaz de dormir.
— Tem algo errado? — William perguntou, que estava dormindo ao lado dela.
— Não, — ela mentiu.
Mesmo estando de costas para ele, ela poderia dizer que o irmão não acreditou nela.
— O pai está te forçando a se casar com Sir Shaw?
— Sim, — ela respondeu.
Ele ficou em silêncio por um longo momento. — Eu te disse, estamos melhor sem ele. —
Angelica se virou, perturbada pelo comentário dele.
— William, ele está apenas fazendo o que ele acha que é melhor para mim. Na verdade, eu preciso me casar. — Explicou ela.
— Então ele deveria encontrar alguém com quem você esteja contente. —
Esse era o problema. Ela nunca estava contente.
— Está demorando muito para encontrar alguém com quem eu esteja contente e o pai está ficando preocupado. —
— Você não tem que me fazer gostar dele. Estou bem apenas gostando de você, — disse William.
Angelica ficou surpresa com as palavras dele a princípio, mas depois ela conhecia o irmão. Ele conseguia ver as intenções das pessoas, mesmo quando elas mesmas não sabiam.
Ela acariciou o cabelo dele, — tudo vai ficar bem. —
Ele fechou os olhos enquanto ela continuava a acariciar o cabelo dele. Então, eventualmente, ele adormeceu.
Angelica ficou acordada, pensando no que fazer. Talvez ela devesse ir até o Rei, mas e depois? A menos que ele a chamasse, ir até ele era sem sentido.
Onde estava ele agora que ela queria que ele a chamasse?
De repente, ela ouviu as rodas de uma carruagem do lado de fora, seguida pela voz cantante e alta do pai.
Angelica afastou os cobertores e foi olhar pela janela. Seu pai estava cambaleando em direção à entrada. Ele estava bêbado de novo.
Angelica vestiu seu robe e decidiu descer e encontrar o pai antes que ele causasse confusão no meio da noite. Assim que ela chegou ao salão, ela esperou que ele entrasse.
O cheiro de álcool fez ela franzir o nariz quando ele entrou, cantando alto.
— Pai, está tarde. — Disse ela.
Ele parou e olhou em sua direção.
— Angelica! — Ele chamou como se ela estivesse longe. — Venha aqui! —
Ele fez um gesto para que ela se aproximasse e Angelica foi até ele, hesitante. Ele colocou uma mão no ombro dela e inclinou-se para perto. O cheiro fez com que ela apenas respirasse pela boca.
— Estamos condenados, — ele sussurrou perto do ouvido dela. — Estamos. Condenados. O diabo veio atrás de nós. —
Angelica já tinha o ouvido nomear o diabo algumas vezes agora.
— Pai, o diabo sempre esteve aqui. — Disse ela.
Ele se inclinou para trás, balançando a cabeça, — mas você já viu ele? — Ele perguntou.
Angelica olhou nos olhos temerosos dele.
— Eu vi, — ele sussurrou. — Eu o vi. Ele é... assustador, mas não me assusta. Não, não. — Ele sacudiu a cabeça e moveu o dedo indicador de um lado para o outro. — Eu vou eliminá-lo. Não vou deixar o mal nos governar. —
Ele passou por ela, — Não vou deixar o mal prevalecer. — Ele chamou.
— O que você vai fazer? — ela perguntou enquanto ele se afastava.
— Eu vou matá-lo. —
— O diabo?
— Sim. —
Isso era absurdo.
— E como você fará isso? — ela perguntou, indo atrás dele.
— Vou encontrar um jeito, — ele disse, atirando-se no sofá. — Vou encontrar um jeito, — ele repetiu antes de começar a roncar.
— Pai? —
Ele já dormiu?
Angelica suspirou, sentindo-se esgotada pelo comportamento do pai. Ela voltou para o quarto e dormiu as poucas horas que restavam até a manhã.
Quando a manhã chegou, Angelica ainda estava cansada. Ela não tinha vontade de acordar. Acordar significava lidar com seus problemas, e ela ainda não estava pronta para isso. Mas mais sono não faria seus problemas desaparecerem, e ela finalmente teve que acordar.
— Você está doente, Minha Senhora? — Sua camareira, Eva perguntou, enquanto penteava seus cabelos.
— Não. Por quê? —
— Você nunca acordou tão tarde. —
— Estou apenas cansada, — disse Angelica. — Onde está William? —
— Ele está lendo no quarto dele. —
Angelica se sentiu mal por ele estar perdendo todas as suas aulas por causa do pai.
— E o pai?
— Ele saiu. —
Esperançosamente não para causar problemas. Angelica não sabia o que esperar. Será que ele voltaria para casa bêbado, machucado, ou não voltaria de forma alguma?
— Outra jovem foi encontrada morta esta manhã. Não sei o que está acontecendo em nossa cidade, — disse Eva, preocupada.
Angelica também estava cada vez mais preocupada. Eles precisavam encontrar o assassino em breve antes que mais mulheres se machucassem.
— Minha Senhora, — Thomas bateu à porta dela e esperou na entrada. Ele parecia ansioso. — O Lorde Rayven está aqui. Ele pediu pelo seu pai e eu disse que ele não estava em casa. Ele está pedindo por você agora?
O coração de Angelica gelou. Será que o pai não tinha ido para o castelo? Então onde ele estava e por que Lorde Rayven estava procurando por ele?
— Você o convidou para entrar? — ela perguntou.
— Sim, mas ele recusou meu convite. Ele está esperando lá fora. —
— Está bem, estou descendo, — ela disse.
O pai causou problema? Temendo o pior, Angelica foi até o lado de fora para ver Lorde Rayven. Ter que falar com ele também a deixava ansiosa.
Lorde Rayven estava ao lado do cavalo dele, carregando sua aura sombria assim com roupas luxuosas. As pessoas o chamavam de Senhor das Trevas depois que ele se mudou para a toca do lobo. Agora ela entendia por que ele recebeu esse nome.
Os olhos negros dele desviaram para ela enquanto ela se aproximava, e o coração dela acelerou ao encontrar o olhar dele. — Boa tarde, meu Senhor, — ela fez uma reverência.
Ele estreitou os olhos, mas não se moveu.
— Posso ajudá-lo? — Ela perguntou quando ele não falou.
Ele a deixava mais nervosa do que o Rei.
— Você pode dizer ao seu pai que ele tem deveres como o comandante-chefe do Exército Real. Negligenciar seus deveres terá consequências. —
A voz dele. Ela se tornou certa de que já tinha ouvido ela antes, mas onde?
— Vou avisá-lo, — ela disse.
Ela sabia que seu pai tinha causado problemas.
— E seu irmão… —
Ah não! E o irmão dela?
— Ele não tem comparecido às suas aulas. —
— Ele tem estado doente, meu Senhor, — ela mentiu.
O olhar de Lorde Rayven ficou mais sério como se soubesse que ela estava mentindo.
— Se ele quer que eu o treine, avise que doença não é desculpa para faltar às aulas. —
Ele o treinaria? Angelica piscou algumas vezes sem acreditar. Seu irmão ficaria animado, mas… Lorde Rayven o trataria bem?
Espera! Ele disse que doença não era desculpa.
— Você quer que ele treine estando doente? —
— Bem, ele não está morrendo. — Ele assentiu atrás dela.
Angelica olhou para trás e viu seu irmão parado na varanda.
Sentindo-se envergonhada, ela voltou-se para Lorde Rayven. Ignorando-a, ele subiu no cavalo.
— Você está procurando pelo assassino? — ela perguntou antes dele poder partir.
Ele olhou para baixo na direção dela, dessa vez não com desprezo. — Não há necessidade de procurar quando as pessoas já determinaram quem é o assassino. — Ele disse e então cavalgou para longe.
Levou um momento para Angelica perceber o que ele queria dizer.