Chapter 7 - O Escritório

Já fazia quase uma semana desde aquela horrível interação com seu marido e o "amigo" dele, e Amélie não havia visitado a mansão deles nem uma vez. A mera ideia de passar por aquela humilhação novamente era nauseante.

Ela tentava se manter o mais ocupada possível, enterrando a cabeça no trabalho e nos preparativos para o evento beneficente que se aproximava. Sua devoção ao trabalho já havia alarmado tanto seus amigos quanto seus colegas, mas Amélie temia que, se parasse por mesmo algumas horas, ela seria tragada de volta para o caos implacável de sua própria mente.

'Ninguém se divorcia mais por causa de uma única amante...' Ela deixou a caneta de lado e se recostou na cadeira enquanto seus pensamentos continuavam a deriva para aquele tema perigoso. 'Mesmo que eu peça o divórcio, tenho muito a perder. O falecido pai de Richard cuidou disso a favor dele.'

Um casamento arranjado, especialmente um feito em prol de uma empreitada comercial conjunta, estava longe de ser simples. Era um negócio de alta manutenção envolvendo quantidades significantes de dinheiro e ativos unidos sob uma união.

Infelizmente, na maioria dos casos, tais arranjos não eram feitos a favor da esposa.

Amélie era ainda menos sortuda a este respeito. Como mulher casada, ela detinha quarenta por cento das ações da empresa. No entanto, se ela se divorciasse de Richard Clark, ela ficaria com menos de dez por cento.

"O Sr. Clark cuidou de tudo... Ele queria honrar o desejo da minha mãe para que este casamento durasse, mas para me manter acorrentada com o meu próprio dinheiro..."

Amélie fechou os olhos; a crescente enxaqueca estava se tornando insuportável.

Ao alcançar a caixa de pílulas na gaveta de sua mesa, ela ouviu uma leve batida na porta do seu escritório.

"Sra. Ashford, é a Carrie."

"Entre."

Carrie Wright era uma das secretárias de Amélie na sede da JFC. Era uma jovem alta com olhos vivos e cabelo loiro encaracolado, que ela sempre juntava de maneira arrumada em um coque alto.

Ao entrar no escritório de sua chefe, Carrie olhou para ela timidamente.

"Sra. Ashford, o Sr. Ron Lewis está aqui para vê-la. Devo pedir para ele voltar em outro momento?"

Amélie soltou um pesado suspiro. Ron Lewis era o secretário executivo de seu marido. Embora tanto a Sra. Ashford quanto seu marido trabalhassem no mesmo prédio, seus escritórios ficavam em andares diferentes. Esse arranjo havia sido feito pelo falecido Sr. Ashford, que acreditava que o jovem casal casado não deveria se envolver um com o outro com muita frequência, já que seus campos de trabalho eram diferentes.

Isso não incomodava nem Richard nem Amélie, mas dava bastante trabalho às suas secretárias sempre que eles precisavam ver um ao outro.

"Deixe-o entrar, por favor."

Seja qual fosse o motivo para a visita do secretário de seu marido, ainda era melhor do que lidar diretamente com Richard.

Carrie pediu para Ron entrar, e quando ele o fez, ela deixou a sala imediatamente, deixando os dois em um silêncio constrangedor.

Ron Lewis, da mesma idade que Richard, não era apenas seu secretário pessoal, mas também seu amigo. Eles haviam se conhecido no ensino médio e se reencontrado quando Ron estava procurando emprego após se formar em uma faculdade local. Um homem inteligente e de muitos talentos, Ron foi dado a chance por Richard para provar que merecia tal posição exigente, e desde então havia estado ao lado de Richard.

"Boa tarde, Sra. Ashford."

"Sim, o que foi?"

"O Sr. Clark gostaria de vê-la em seu escritório."

Amélie olhou para seu relógio de pulso e franziu a testa.

'Eu estava prestes a finalmente almoçar... Ah, tanto faz.'

Com outro pesado suspiro, ela se levantou de sua cadeira e acenou para o Sr. Lewis. "Tudo bem, vamos lá."

***

O escritório do Richard era drasticamente diferente do de Amélie. Ele preferia tons escuros de marrom, preto e cinza, enquanto ela favorecia tons mais claros que convidavam bastante luz solar para seu espaço. Era sempre divertido comparar seus escritórios porque eles eram decorados da mesma maneira, com a única diferença sendo a escolha de cores.

Quando Amélie abriu a porta e entrou no escritório do marido, Richard nem piscou. Sua atenção estava focada nos papéis que cobriam quase toda a sua mesa. Ela interpretou isso como uma tentativa deliberada de machucá-la, uma maneira de mostrar que, mesmo com sua esposa evitando-o por tanto tempo, ele não sentia a menor falta dela.

'Que mesquinho.'

No momento em que Amélie se aproximou da mesa do marido e tomou assento em uma cadeira coberta de couro ao lado dela, Richard imediatamente lhe entregou uma impressão fresca e finalmente desviou seus olhos irritados para ela.

"Então, quando eu disse que a Senhorita Dell deveria ter seu salário reduzido pela metade este mês, você foi contra minha ordem e mandou dinheiro da sua conta bancária pessoal para ela?"

Amélie olhou para a impressão por alguns momentos antes de responder em um tom calmo, "A Senhorita Dell tem um irmão mais novo no hospital. Ela é sua única parente e tem que sustentá-lo. Eu não poderia cortar o salário dela pela metade só porque você teve seu pequeno ataque de raiva."

"O quê? Um ataque de raiva?!" Richard elevou sua voz, mas rapidamente se acalmou e soltou sua gravata. Com um breve suspiro, murmurou, "É como se você estivesse se amargurando mais a cada dia que passa..."

Sua voz estava baixa, mas Amélie ouviu tudo. Claro, ele poderia feri-la quantas vezes quisesse, mas isso não mudaria nada.

Ignorando seu insulto sutil, ela fixou os olhos nele, e Richard continuou, "Por que você não pode simplesmente obedecer minhas ordens como todo mundo faz?"

Sua pergunta fez Amélie estremecer de nojo. Ele nunca havia demonstrado tal desrespeito antes.

Levantando-se, ela disse, "Eu sou sua esposa, Richard, não sua subordinada. Eu sou sua companheira que possui cinquenta por cento do controle desta empresa e—"

Ela não conseguiu terminar porque seu marido também se levantou e a interrompeu. "Sim, poder e controle, essas são suas características mais marcantes, Amélie. Em comparação com..."

Richard fez uma pausa, mas Amélie entendeu tudo. Ele estava comparando-a com aquela mulher.

Com outro suspiro alto, ele caiu de volta em sua cadeira e disse displicentemente, "Esqueça. Você deveria ir."