Meu coração se partia enquanto eu assistia o amor da minha vida no altar, esperando sua amada Calista para eternizar seu amor na frente de milhares de pessoas em seu reino, Valerian. Ele parecia ansioso, seu olhar fixo no corredor por onde ela viria, seus olhos brilhando com a empolgação. 

Não conseguia tirar os olhos dele, tão bonito, charmoso e forte em seu traje real, feito sob medida. 

Não me lembro com que idade eu me apaixonei por ele, mas sei que isso vem se arrastando por anos. Ele por outro lado se apaixonou por minha irmã mais velha, Calista de Eldora, e nunca olhou para mim mais do que deveria.

Ainda sim, sempre que estávamos juntos, ele era um perfeito cavalheiro, com um sorriso bonito que derretia meu coração, educado e prestativo. Não tinha como eu não me apaixonar por ele, ainda mais difícil deixar de gostar porque ele não gostava de mim como eu queria. 

"Calista não está no quarto," Acordei dos pensamentos com a voz do meu pai, Klaus, e desviei o olhar do altar, onde Eric estava, para prestar atenção nos meus pais. Eles estavam sussurrando. "Como não está lá? Olhe direito, ela deve ter ido ao banheiro, sei lá, já perguntou às damas de companhia dela?" minha mãe respondeu, me fazendo franzir a testa. "Já olhei por toda parte." suspiro. 

Onde Calista se meteu? Ela estava planejando dar um susto em todo o reino com seu atraso? "Vou procurá-la," eu disse, me levantando discretamente para que eu não chamasse muita atenção. O que era um pouco complicado, já que eu era irmã da noiva — E futura Rainha do reino. Todos queriam algo para comentar. 

Podia ouvir os murmúrios pelo salão enquanto eu andava até o quarto onde minha irmã estava se preparando. Era alto, e cheio de malícia. 

Na parte de cima, estavam os moradores do reino, pelo menos os que couberam na igreja e chegaram cedo o suficiente para entrar. Em baixo, as pessoas importantes, reis e rainhas de outros reinos, e seus preciosos filhos. Duques, duquesas e outros diversos tipos de gente que se considerava nobre. Eles não eram melhores que o povoado, fofocavam igual senão pior.

Soltei minha respiração quando finalmente cheguei ao corredor longe de todas aquelas pessoas, apenas eu e os diversos guardas de prontidão nas paredes, e finalmente andei até a porta onde Calista deveria estar. "Calista?" Bati na porta uma vez, esperando por respostas. Não queria pegá-la de surpresa ou algo assim. 

Calista e eu nunca fomos muito próximas, mas também nunca fomos malvadas ou coisa assim uma com a outra. Eu desejava sua felicidade, mesmo que isso significasse que eu nunca teria uma chance com Eric no final das contas. Eu o amava do fundo do meu coração, mas eu sabia que esse amor só pertencia a mim. 

Mamãe me disse que eu me casaria em breve também, que papai já tinha algumas propostas muito boas em suas mãos. Isso me assustava. Rezei para os dias passarem devagar e me ocupei o máximo possível com os preparativos da minha irmã para não me deixar desocupada e dar espaço para meus pais se aproximarem de mim. 

Eu queria me casar, é claro. Mas no fundo eu tinha aquela ilusão de que eu poderia me casar por amor. Besteira. Por que eu me apegava a isso? "Calista, estou entrando." Disse antes de abrir a porta e entrar, fechando-a atrás de mim. Estava vazio. "Calista?" chamei, escutando apenas minha própria voz no cômodo gigante. 

Andei até o banheiro mas também estava vazio. Exceto pelo vestido de noiva pendurado, que deveria estar no corpo de Calista. Oh Céus.. "Calista, isso não tem graça. Estão todos esperando por você." Eric está esperando por você. Vai decepcioná-lo?

Voltei para o quarto e olhei em volta. Onde essa garota se meteu? 

Então eu vi um pedaço de papel dobrado em cima da penteadeira e meu coração gelou. Havia tinta fresca e a caneta jogadas na madeira, sinais de um trabalho apressado. Ah não. Me aproximei cautelosamente como se aquele pedaço de papel pudesse ser um monstro — Talvez fosse — e quando finalmente o peguei, arfei, vendo a letra cursiva da minha irmã perfeitamente escrita: 

'Querido Eric, 

Eu não posso fazer isso. Não posso me casar com você quando eu amo outra pessoa. Não posso me tornar sua rainha porque não é você que quero como o meu rei. Eu fugi. Para longe de toda essa besteira para finalmente ser feliz. Espero que possa me perdoar um dia.

Com amor, Calista.'

Isso era um problema. Um grande problema. 

A porta do quarto se abriu de repente, me causando um susto enorme. Mas meu coração ficou ainda mais acelerado quando eu vi Eric e sua mãe Eleanor, com meus pais atrás deles. "Cait?" A voz dele aveludada ecoou, fazendo meu coração se encher de amor e ao mesmo tempo de preocupação. Ah merda. 

"Caitlyn, querida, cadê sua irmã?" Eleanor se aproximou de mim, seu semblante preocupado, colocando a mão gentilmente em meus braços. 

"Ela…" Eu não consegui falar, ainda olhando para o rosto preocupado do Eric. Suas sobrancelhas juntas, a testa franzida e os lábios entreabertos, nervoso, ansioso. Esses pequenos detalhes que me faziam amá-lo. Ele me encarava com expectativa e eu odiava ser aquela que iria arrancar isso dele. 

Desviei o olhar não conseguindo encará-lo, olhando para o chão. Ele amava Calista e isso partiria seu coração. Coloquei o bilhete nas mãos de Eleanor e me afastei, me sentando na cadeira da penteadeira e esperando pelo momento em que a mãe de Eric iria ler tudo. Isso era um desastre.

"Meu Deus." Eleanor suspirou, colocando a mão sob a boca.

Eric andou até ela. "Mãe, o que foi?" 

"Ela.. Calista.." Eleanor gaguejou, seu rosto pálido como se ela fosse passar mal e desmaiar. Me levantei imediatamente e me aproximei dela, puxando-a para a cadeira para ela se sentar. "Ela nos deixou." Eleanor terminou, murmurando e encostando seu corpo no encosto da cadeira. 

"O quê?" Minha mãe arfou, também completamente assustada. "Não, Calista nunca faria isso." Mordi os lábios, sentindo a tensão que se instalou dentro do ambiente. Não importava o quanto isso era grande, parecia que a atmosfera iria nos esmagar aqui dentro. "Ela queria isso, ela queria.." Os sussurros da minha mãe eram baixos. 

Eric estava parado, olhando para o bilhete fixamente, talvez lendo, ou talvez apenas tentando saber se esse pesadelo era real. Pela primeira vez na vida, vi que seu rosto estava sério, frio como uma muralha de gelo, sua mandíbula travada, talvez impedindo o choro que estava por vir. Seus olhos brilhavam, raiva, decepção? Eu não conseguia saber o que ele estava sentindo e isso me deixava aflita. "É a letra dela," A voz de Eric soou na sala, deixando todos em silêncio. Quebrada. "Eu conheço cada defeito dos traços de sua letra." A dor em sua voz era sufocante. Eu queria poder tirar essa dor dele.

"Por que ela não nos avisou? Por que deixou para fazer isso agora?" Eleanor murmurou, perdida em pensamentos, parecendo à beira de uma histeria a qualquer segundo. "Passamos meses organizando isso, as pessoas vieram de lugares muito, muito longe para celebrar o casamento de vocês." Ela colocou a mão no rosto. "Oh Céus, isso vai ser um escândalo." 

O silêncio depois de suas palavras era pesado e sufocante. Eu queria dizer algo para amenizar a situação como eu sempre fazia, mantendo as coisas positivas, mas até eu não sabia o que falar. 

"Devemos avisar que não haverá casamento?" Meu pai perguntou, chamando nossa atenção. Ele segurava minha mãe pelo ombro, apoiando-a enquanto ela chorava em seu colo, seu soluço baixo e contido. Ah Calista, o que você fez? 

"Não há outra esc.." Eleanor começou a dizer mas Eric a interrompeu, chocando a todo mundo na sala: 

"Caitlyn, você faria isso?" Congelei. O que diabos eu acabei de ouvir?

"O quê?" murmurei, olhando para ele atônita. Ele estava falando o que eu achava que ele estava falando? Não, impossível. Eu estava ouvindo coisas, não estava?

"Você se casaria comigo?" Ele disse firmemente, olhando em meus olhos. Em alto e bom som. Eu até diria que ele estava zoando com minha cara e riria de sua piada, mas devido ao seu semblante e seu tom de voz sério eu sabia que isso não era de longe uma brincadeira. 

Eric se aproximou um pouco mais, fazendo meu coração disparar e minha respiração ficar pesada como toneladas. Ele estendeu a mão em minha direção, esperando por minha resposta. Olhei em volta, minha mãe, meu pai e Eleanor me olhavam com expectativa, quase suplicando com os olhos para que eu dissesse sim. Eu nem mesmo sabia por que diabos eu estava hesitando, não era isso que eu sempre quis?

Coloquei minha mão sob a dele. Minha mão era pequena em comparação a sua, e seu toque gentil me fez estremecer inteiramente. Olhei em seus olhos timidamente, "Tudo bem" Eu sussurrei com medo. 

Medo de que se minha voz fosse mais alta eu pudesse acordar desse sonho. Isso não estava acontecendo da maneira que eu um dia sonhei, mas também eu nunca esperei que isso fosse acontecer. Já tinha aceitado que isso era destino da minha irmã, não meu. 

Aonde eu estava me metendo?