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Chapter 2 - Capítulo 2 - Sacrifícios Necessários

Eric POV

O coração batia descompassado em meu peito enquanto eu observava Caitlyn consentir em se casar comigo. O eco do silêncio no quarto, após minha pergunta ousada, parecia um julgamento da mais alta ordem. Eu podia sentir os olhares da minha mãe e de seus pais, todos carregados de expectativa e, talvez, um pouco de desespero diante do escândalo iminente.

Eu não podia deixar meu reino ser prejudicado e manchado por causa disso, por causa da Calista. Então tomei uma decisão sem pensar demais, que eu sabia que era o certo. O reino devia vir acima de todas as coisas, até mesmo acima da minha felicidade, e cancelar um casamento em cima da hora iria mostrar uma imagem do nosso reino que eu não queria passar.

Porém quanto mais eu olhava para Caitlyn, mais eu me perguntava se essa decisão tinha sido certa. Não era apenas a minha vida em jogo, não era apenas meu coração em jogo, o dela também estava nisso. E minha decisão egoísta arrastou ela. "Mãe, você pode ajudá-la a se vestir?" Eu perguntei, sentindo um nó na garganta ao recolher minha mão. Seu toque era delicado e quase angelical, seus olhos brilhavam com inseguranças e incertezas, eu podia sentir sua infelicidade á distância.

A cada segundo mais que eu ficava aqui dentro, mais sentia a culpa caindo sob os meus ombros. O que é que eu estava fazendo? "Sim, Eric. Volte para lá e logo Caitlyn aparecerá."

Olhei para minha mãe, e seus olhos transbordavam de compaixão. Ela sabia o sacrifício que eu estava fazendo, mas ela sabia o sacrifício de Caitlyn também?

Juntei os pedaços do meu coração e assenti calmamente, caminhando para fora do quarto sem dizer mais nenhuma palavra.

Quando vi Caitlyn vindo em direção aos aposentos onde Calista ficaria antes da cerimônia fiquei preocupado. Achei que algo tinha acontecido com minha noiva, que ela tinha ficado doente ou coisa assim, e ignorei todos os murmúrios enquanto eu ia até lá também. Nunca imaginei que ela pudesse fazer algo assim comigo.

Ela jurou amor para mim ontem mesmo, quando nos despedimos após nosso passeio. Ela sempre jurou amor por mim a vida toda. Porque ela mentiria sobre isso? Quem era o homem que ela amava? O que levou ela a partir meu coração dessa maneira?

Quanto mais eu pensava em motivos e razões, mais tenso eu ficava em cima do altar. Os olhares preocupados e os sussurros das milhares de pessoas ali presentes parecia um zumbido enquanto eu encarava o corredor vazio, onde momentos antes eu esperava ver a mulher que eu amo caminhar até mim. Não apenas para casar comigo mas para ser minha rainha.

A dor em meu coração era excruciante, como uma espada sendo cravada lentamente em minha carne.

Quando Caitlyn finalmente emergiu do corredor, o vestido branco fluindo atrás dela, percebi a hesitação em seus olhos sob o véu. Seu rosto, normalmente iluminado, estava marcado pela preocupação ao olhar ao redor. Denunciavam a tensão que ela também carregava. O suspiro dos convidados presentes foi alto e surpresos quando observaram que quem estava ali era Caitlyn, e não a mulher a qual passei anos cortejando, que tinha o nome no convite como a noiva.

Caitlyn parecia ainda mais nervosa que eu, seus olhos finalmente fixos em mim, ou pelo menos eu acreditava assim. Me perguntei o que ela estava pensando neste momento ao ouvir a surpresa dos convidados. Inicialmente chocados, agora se murmuravam entre si, tentando entender o que estava acontecendo. Os olhares de reprovação eram tangíveis, mas também havia uma compaixão silenciosa em alguns rostos.

Apesar de todo o infortúnio dessa situação tinha que admitir o quanto ela estava bonita naquele vestido. O tecido abraçava cada curva de seu corpo, sendo ele até ousado demais para tal cerimônia, seus cabelos pretos e longos se destacavam no tecido branco do vestido. E o véu caía sob seu rosto delicadamente.

A música soou em meus ouvidos e ela começou a andar firmemente, mas eu não estava prestando atenção. Nada disso parecia real, eu estava anestesiado, fazendo isso no automático, minha mente nublada por memórias que nunca aconteceram, memórias que eu queria ter construído com Calista.

Engoli em seco, forçando um sorriso que, desta vez, não alcançava meus olhos. Aproximei-me de Caitlyn, e juntos nos posicionamos diante do altar. Ao lado dela, eu podia sentir o peso da coroa sobre minha cabeça e a sombra do que poderia ter sido pairando sobre nós.

O olhar de Caitlyn para mim era uma mistura de incerteza e vulnerabilidade. Ela merecia mais do que ser uma solução de emergência para a tragédia que se desenrolava. Eu queria acreditar que essa união inesperada poderia encontrar algum tipo de equilíbrio, mas era difícil acreditar nisso enquanto eu continuava pensando na mulher que fugiu.

As palavras do celebrante tornaram-se um zumbido distante, afogado pela culpa e pela tristeza que se misturavam em meu peito.

Naquele momento, tudo ao meu redor parecia desmoronar. A mulher pela qual me preparei para fazer votos de amor eterno havia fugido, deixando-me com um vazio insondável. As palavras de Caitlyn pairavam no ar, ecoando como um sussurro inoportuno que se recusava a desaparecer.

Ao fitar Caitlyn, uma mistura de emoções tumultuava meu interior. Seus olhos transmitiam compaixão, e ao mesmo tempo eu conseguia ver sua dor. A troca de votos estava prestes a começar, e eu estava prestes a casar-me com a irmã mais nova da mulher que amava. Estava prestes a roubar a felicidade dela, roubar a felicidade de outro homem que poderia amá-la da maneira que ela merecia.

A cerimônia transcorreu em meio a uma névoa de desorientação. Meus olhos se encontraram com os dela diversas vezes, e cada troca de olhares era uma colisão de sentimentos. O sorriso de Caitlyn era doce, mas eu sabia que não era genuíno. Ela sempre se certifica de fazer as pessoas ficarem bem.

Os votos foram pronunciados. A aliança foi colocada em meu dedo, mas a verdadeira aliança de meu coração permanecia perdida. Talvez fosse uma grande sorte não ser tradição beijar a noiva na cerimônia em casamentos reais. Eu não sei se conseguiria nesse momento.

Após a cerimônia, quando os aplausos ecoavam pela sala, me vi conduzindo Caitlyn para fora da catedral para cumprimentar nosso povo. Havia uma multidão à nossa espera, mas meus pensamentos estavam longe dali. Os cumprimentei automaticamente, eles não tinham culpa do que aconteceram por trás das cortinas.

A responsabilidade de liderar Valerian e as complexidades emocionais me afastavam da felicidade que deveria inundar este momento.

O silêncio entre nós dois era pesado enquanto andávamos até a nossa carruagem para voltarmos ao palácio para o banquete real. Ajudei ela a entrar e se sentar e a ajudei com o vestido e depois entrei logo atrás dela, ficando tenso no segundo seguinte em que ficamos a sós.

Eu conhecia Caitlyn há anos, mas naquele momento sentia como se fossemos dois desconhecidos.

Ela estava olhando pela pequena janela da carruagem, seus olhos distantes, "Você está bem?" Me sentia responsável por toda a reviravolta que ela estava passando em sua vida.

Ela olhou para mim e sorriu docemente, "Na medida do possível". Pelo menos ela estava sendo honesta com isso. Era uma qualidade da qual eu sempre adorei em Caitlyn. "E você?"

"O mesmo"

"Hum" ela assentiu, e voltou a olhar para a janela. Suas mãos estavam juntas em seu colo, brincando uma com a outra, denunciando que ela não estava tão calma como parecia. Ela sabia encenar isso muito melhor do que eu.

"Sinto muito," soprei, tentando amenizar a situação.

"Por quê?" Ela não olhou para mim.

"Por fazer você fazer isso."

Observei ela morder o lábio inferior, assentindo lentamente. "Você não me forçou, Alteza." Sua voz era dura. Eu tinha magoado ela?

Não tive tempo para corrigi-la. Os guardas bateram na porta da carruagem e então abriram, para que pudéssemos descer. Eu olhei para Caitlyn mais uma vez, tentando decifrar o que se passava em sua cabeça.

Quando eu lhe fiz a proposta, ela pareceu tão surpresa, tão confusa e perdida. Eu arruinei a sua vida.

Desci da carruagem e esperei por ela, ajudando-a a descer. Muitos dos nossos convidados reais já estavam chegando e entrando no palácio. Enquanto eu conduzia Caitlyn pelos corredores conseguia ouvir e ver os olhares assustados dos empregados, e principalmente os convidados que não paravam de fofocar.

Diferente do que eu esperava, Caitlyn parecia não se abalar com isso e andava graciosamente até nossos assentos na frente do grande salão. Eu cumprimentava alguns convidados aqui e ali enquanto tomava minha taça de vinho para suportar a noite. Caitlyn, com toda sua graciosidade que eu nunca percebi que ela tinha, sorria e acolhia os convidados como eu deveria estar fazendo.

Meu pai se aproximou de mim cautelosamente, colocando a mão sob meu ombro, "Podemos conversar?" Ele perguntou e eu assenti. Caitlyn olhou para nós e nos deu seu melhor sorriso enquanto se levantava.

"Vou dar-lhes privacidade." Ela disse, se curvando em seguida, para meu desânimo. Eu não queria que ela agisse assim como se eu fosse superior a ela ou coisa do tipo. "Com sua licença"

Observei ela se afastar aos poucos, se aproximando de seus pais. Eles olharam para mim de relance mas desviaram o olhar ao perceber que eu estava olhando. "Sua mãe contou o que aconteceu" meu pai começou, me forçando a desviar o olhar da minha nova esposa e voltar a atenção à jarra de vinho.

"É" Eu não sabia bem o que ele queria ouvir. Eu não estava animado para discutir como Calista me abandonou por um desconhecido.

"Você fez a escolha certa, meu filho." Ele colocou a mão em meu braço de novo. "Caitlyn é uma mulher excepcional. Ela não vai decepcioná-lo."

Eu ri, amargo com seu comentário. Isso era tudo o que ele se importava? Não me admirava com isso. "Eu sei que ela não vai."

Ele suspirou. "Então sabe o que esperamos de vocês"

Eu não respondi, não senti a vontade de responder. Apenas bebi um grande gole de vinho.

Eu sabia bem minha responsabilidade como homem, como marido, como rei. E sabia que não podia falhar com meu povo nisso também. Nunca achei que cumprir a tradição pudesse ser tão difícil. Sempre esperei pelo momento em que eu me deitaria com Calista pela primeira vez, pelo momento que eu sairia orgulhoso ao dia seguinte quando os criados recolhessem os panos sujos de sangue, mostrando o quanto ela tinha esperado por mim.

Será que Caitlyn se guardou para seu amado? Jesus, eu iria tirar algo que ela nem sequer guardou pra mim?

Isso estava se tornando um pesadelo.