Adeline teve uma noite inquieta. Ela conseguiu cochilar, apenas para ser despertada novamente pelos seus terrores noturnos. Desta vez, em vez de andar por um corredor escuro, ela caminhava por ruínas.
Mármore desmoronado estava por toda parte onde ela olhava, e nuvens de tempestade a cercavam. Era como se ela estivesse caminhando além do solo e acima dos céus. Tudo estava bem, até que o trovão atingiu o chão que ela caminhava e sangue apareceu em suas mãos.
Apesar de Adeline estar no salão de baile, ela não conseguia parar de pensar no sonho.
"Por que essa cara longa?" Tia Eleanor perguntou com uma carranca. "Você parece exausta. Você dormiu bem na noite passada?"
Adeline balançou a cabeça afirmativamente de forma hesitante. Elas já estavam no salão de baile, mas olhar para o belo piso e cenário a deixava enjoada. O que era aquele estranho sonho desta manhã? Ela tinha acordado com o rosto marcado por lágrimas, como se a visão de seu sonho fosse a coisa mais deprimente do mundo.
"Sim, eu dormi—"
"Então aja como tal," Tia Eleanor repreendeu. "Eu te coloquei neste lindo vestido cor de jade, então o mínimo que você pode fazer é usar um sorriso e encontrar um pretendente."
Ao lado delas, Asher se enrijeceu.
Adeline novamente balançou a cabeça cansada. Ela não conseguia pensar direito com as mãos suadas e o coração disparado. Ela sentiu o olhar inquisidor de Asher perfurando seu crânio. Ele não parava de olhá-la fixamente.
"Posso… pegar um ar fresco?" ela perguntou hesitante à tia.
"Não, absolutamente não!" Tia Eleanor sibilou. Ela puxou o pulso da sobrinha e se aproximou. "Eu deixei você se afastar ontem e você ficou fora a noite toda, desperdiçando seu vestido caro."
Adeline desviou os olhos para Tia Eleanor. Havia música festiva ao fundo, exalando elegância e prestígio. Todos estavam sorrindo e rindo, enquanto trocavam conversas uns com os outros, seja sobre seu conglomerado, ou sobre sua alta posição no mundo.
Toda essa alegria, e ela estava infeliz.
"Eu não fui a lugar nenhum, eu estava dançando com um homem, Tia Eleanor," Adeline enfatizou. Ela não conseguia mais se conter. "Ontem, eu estava na pista de dança com um Puro-Sangue. Você não me viu?"
Tia Eleanor recuou, estupefata. "Do que você está falando, Adeline? Eu não vi nada disso!" ela sussurrou irritada. Seria problemático se as pessoas ouvissem a discussão delas.
Elas assumiriam que Adeline era uma mulher intransigente. Ela já era impopular com os pretendentes. Adicionar mais uma marca à sua lousa não faria bem para ela.
"Mas eu realmente estava dançando—"
"Chega, não vou tolerar suas mentiras," Tia Eleanor rosnou. "Eu estava procurando por você a noite toda. Eu saberia se minha sobrinha estivesse na pista de dança."
Adeline conteve um gemido. Ela olhou para o lado, obviamente irritada. Tia Eleanor desprezava Vampiros a ponto de se recusar a reconhecer a dança?
De repente, ela se animou. Havia uma testemunha bem ao lado dela! Ela girou apressadamente para seu guarda-costas e amigo.
"Asher, você me viu dançar com aquele homem, certo?" Adeline perguntou. Ela tinha fé de que ele não mentiria. Ele nunca havia feito isso antes. Ela confiava nele com sua vida por uma razão.
"Asher?" Tia Eleanor se interessou. Ela ergueu uma sobrancelha esperançosa e lançou a ele uma expressão incrédula.
Asher olhou da Madama para sua pequena Adeline. O que ele deveria dizer?
"Eu acredito—"
"Quando eu voltei da dança, você perguntou, 'quem era aquele homem' e eu disse que não sabia," Adeline interrompeu. "Você se lembra?"
A sobrancelha de Tia Eleanor subiu ainda mais. Sério agora?
Incapaz de decepcionar Adeline, Asher lentamente concordou. "Sim, Senhorita Adeline estava dançando com um homem."
Tia Eleanor ficou atônita. Ela colocou a mão no peito e inclinou a cabeça. Sua visão a enganou? Não era como se ela estivesse envelhecendo e ficando senil. Ela estava apenas na casa dos quarenta. Com certeza, ela teria visto Adeline na pista de dança?
"As piadas de vocês dois são péssimas," Tia Eleanor finalmente concluiu. "Não envolva seu guarda-costas nesta discussão, Adeline. E da próxima vez, não o faça mentir por você também."
O queixo de Adeline caiu. Ela realmente estava dançando com alguém! Antes que Adeline pudesse dizer mais alguma coisa, Tia Eleanor lhe deu um olhar decepcionado.
"Estou vendo meu grupo habitual de viúvas. Irei conversar com elas na esperança de lhe arranjar um dos seus filhos," Tia Eleanor declarou. "Enquanto isso, tente parecer feliz. Esta é uma sala de dança, não um serviço fúnebre."
Os ombros de Adeline caíram. Por que Tia Eleanor não acreditava nela? "Mas Asher nunca mentiu…"
"Chega," Tia Eleanor suspirou alto. "Estarei do outro lado da sala, mas de olho em você, então não ouse se esgueirar novamente."
Adeline concordou relutantemente com a cabeça.
Tia Eleanor deu um tapinha nas costas do braço de Adeline, então se afastou com um olhar de desaprovação no rosto.
Uma vez que a Madama estava conversando com as outras mulheres de sua idade, Adeline se virou para Asher. "Por que ela não acredita em mim?" ela desabafou num tom de voz baixo e abatido.
"Eu nunca menti para Tia Eleanor, também. Você acha—"
"Não se preocupe demais," Asher a tranquilizou gentilmente. Ele levantou a mão, fazendo-a recuar. Seu olhar se suavizou ainda mais. Ele colocou um dedo na testa franzida dela, e alisou suas sobrancelhas.
"Eu não ia te bater, Adeline," ele disse. "Eu nunca te machucaria."
E você também nunca me protegeu.
Adeline manteve a boca fechada. Onde estava seu guarda-costas quando o Visconde Marden a cintava na parte de trás das pernas? Seja por gaguejar, ou por ler demais. Todo pequeno erro era merecedor de uma punição. Ele supunha que quanto mais dura a lição, mais ela aprenderia.
Fazendo giros com os dedos, ela baixou o olhar para o chão. O salão de baile era absolutamente deslumbrante com o piso polido exibindo desenhos intricados em ouro entrelaçado. Havia janelas enormes que alcançavam o teto, com cortinas reais recuadas para revelar os jardins glamorosos ao redor do castelo.
"Você está chateada," Asher apontou.
Adeline balançou a cabeça languidamente. "Não é nada."
"Adeline."
"Estou com fome," ela admitiu finalmente.
Levantando a cabeça, Adeline lhe deu um sorriso forçado. Ela sabia que Tia Eleanor estava totalmente ocupada. A Madama estava distraída com suas amigas enquanto fofocavam sobre o último escândalo ou trocavam informações sobre seus filhos.
"O que você gostaria de comer?" Asher perguntou instantaneamente. Ele estava ansioso para garantir que ela recebesse pelo menos uma mordida de comida. Naquela manhã, ela havia bebido uma única xícara de chá acompanhada de um único scone. Para o almoço, era uma salada luxuosa de nada além de vegetais. Ela comia a quantidade de um pequeno pássaro.
Era insalubre. Ele precisava que ela comesse mais. Com Tia Eleanor vigiando o peso de Adeline como um falcão, era impossível. As empregadas traziam o prato de comida de Adeline e tudo era cuidadosamente monitorado. Não era como se ela tivesse a coragem de pedir mais.
Os comentários de Tia Eleanor eram prejudiciais. "Coma menos," "Você está desenvolvendo um papo," e "Eu ficaria mais feliz se você pulasse o jantar," eram algumas das suas opiniões mais gentis. O resto já havia manchado a autoestima de Adeline.
"Eu... " Adeline parou.
Asher viu a culpa piscar em seus olhos. Ela estava hesitante em comer, como se a ideia a repugnasse. Ele suspirou. "Eu acho que vi torta de limão merengue perto da mesa de sobremesas. Que tal eu pegar um pedaço para você?"
"Não, obrigada."
"Adeline," ele admoestou severamente. "Você precisa comer."
Adeline se afastou dele. Os ombros encolheram e ela balançou a cabeça rapidamente. "Eu mal consigo respirar neste vestido, o espartilho está me apertando a cintura. Se eu comer alguma coisa, o espartilho pode estourar. Quão embaraçoso isso seria?"
Asher ficou perplexo com ela. Ela estava usando um espartilho? Sua cintura já era tão fina! Ele estreitou os olhos sobre o vestido dela. Era um belo tom de verde primavera, como o aconchego da grama em um prado. A cor remetia à beleza de seus olhos deslumbrantes.
Mas isso não era o importante. "Eu posso envolver minha mão em volta da sua cintura e meus dedos se sobreporiam," ele disse secamente.
Adeline balançou a cabeça. "Asher, por favor... Estou bem."
Asher ergueu uma sobrancelha. "Se você comer a torta, na próxima vez que eu sair da propriedade, comprarei mais livros para você."
Adeline imediatamente se animou. Um pequeno sorriso hesitante se espalhou em seus lábios delicados. "Você promete?"
Asher imediatamente assentiu. "De coração aberto e juro morrer."
O sorriso de Adeline se alargou. Ela timidamente enfiou mechas de cabelo atrás das orelhas. Metade estava solta, enquanto a outra metade estava torcida em um coque.
"Então... se... se não for muito incômodo, por favor me traga uma torta de limão."
Asher sorriu. "Como você desejar, Adeline."
Adeline estava radiante de empolgação. Um livro e sua comida favorita! Ela não poderia ter pedido mais. Em sua empolgação, ela não notou os três pares de olhos observando-a atentamente. Nem percebeu os olhares curiosos e sussurros silenciosos.