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Chapter 5 - O Primeiro Passo Perigoso

O sol brilhava intensamente sobre a floresta próxima à residência de Kael. Entre as árvores, uma se destacava pelo seu tamanho enorme e pelas marcas de golpes que a cobriam. O tronco estava deformado e coberto de manchas de sangue seco, evidências de que havia sido usada para treino por muito tempo.

Sons de golpes constantes ecoavam pela floresta, Kael estava socando as rochas de uma montanha próxima. Diferente de quando socava a árvore usando sua carne, agora suas mãos não tocavam diretamente as pedras, mas buracos continuavam a aparecer nelas. Uma energia estranha cercava suas mãos, tênue e difícil de perceber, mas inconfundível para quem sabia o que procurar: era a energia espacial que Kael vinha treinando ao longo dos anos.

O suor escorria incessantemente pelo corpo de Kael, resultado de uma rotina rigorosa que ele impôs a si mesmo desde muito jovem. Seu treinamento físico e mental não dava tréguas, e ele sabia que estava trilhando um caminho difícil e solitário. Após mais alguns minutos de golpes, Kael respirou profundamente, permitindo que seus músculos relaxassem.

"Meu controle sobre a energia do espaço melhorou bastante no começo, mas agora está mais difícil fazer melhorias. Faz um ano que consegui destruir essas pedras sem tocá-las, e desde então quase não fiz progresso."

Kael suspirou, sentindo um misto de frustração e determinação.

Ele sabia que qualquer habilidade era difícil de desenvolver, especialmente sem um método de cultivo específico. A energia espacial era algo pouco convencional, e Kael entendia que desânimo não era uma opção. Ele continuaria a perseverar, custasse o que custasse.

Enquanto caminhava para casa, Kael ouviu o rugido de uma fera próxima. Em segundos, um enorme urso, conhecido como Urso das Sombras, surgiu correndo em sua direção. Os olhos da criatura estavam vermelhos de raiva, e saliva escorria de sua boca aberta, expondo dentes enormes. Para um cultivador, esse tipo de animal não representaria ameaça, mas para pessoas comuns, ele poderia significar a morte.

Kael já havia encontrado e confrontado várias bestas ferozes nessa floresta, então não entrou em pânico. Esperou o urso se aproximar e, quando estava prestes a ser atingido, desviou para o lado, reunindo um pouco de energia espacial no punho e golpeando diretamente o estômago da criatura. O urso soltou um último rugido antes de cair morto.

Com movimentos hábeis, Kael retirou a pele do urso e algumas partes de valor, assim como uma boa quantidade de carne. Tudo isso foi feito de forma tranquila e natural, evidenciando sua familiaridade com esse tipo de ação. Em seguida, ele continuou seu caminho de volta para casa, refletindo sobre seu treinamento e a ideia que havia concebido antes.

Criar uma técnica não era tarefa fácil. Desde que Kael teve a ideia de criar um mundo próprio, ele passou os últimos três anos imerso em treinamento e estudo. Seu quarto estava cheio de rabiscos; o chão e as paredes quase não tinham mais espaço para novas inscrições. Durante esse tempo, ele estudou incansavelmente a estrutura do corpo humano, os locais dos meridianos e veias, além de treinar sua energia espacial.

O processo de criar uma técnica era perigoso. O menor erro podia causar lesões graves ou até a morte. Por mais animado que Kael estivesse, ele sabia que não podia se precipitar. Seus pais continuavam preocupados, mas Kael já lhes havia dito que descobrira o caminho que devia seguir. Mesmo que ele não tenha explicado muito, seus pais sentiram-se um pouco aliviados.

Como filho do líder do Clã do Firmamento, Kael não conseguia derrotar algumas crianças de dez anos, mesmo possuindo quinze agora. Era louvável que conseguisse derrotar os de nove anos. Essas crianças começaram a treinar aos cinco anos e a praticar suas técnicas de cultivo aos sete. Mesmo tão jovens, já eram mais poderosas que adultos normais.

Kael não se importava com o que os outros pensavam dele. Sabia que seus pais o apoiavam, mas também entendia que sua fraqueza era uma fonte de vergonha para a família. Ele não podia participar dos torneios entre os clãs, nem das competições dentro do Clã do Firmamento ou das competições familiares. Mesmo assim, Kael não pensava em mudar sua atitude; apenas sentia-se mal por seus pais. Ele sonhava com o dia em que poderia finalizar sua técnica e lavar toda essa vergonha.

Mei Ling, a dedicada criada da família, entrou no quarto.

Mei Ling era uma mulher gentil, de cerca de 35 anos, com cabelos negros presos em um coque simples. Seu rosto sempre exibia um sorriso caloroso, e seus olhos transmitiam uma serenidade tranquilizadora.

"Kael, trouxe alguns lanches para você," disse Mei Ling, colocando a bandeja ao lado dele. 

"Você precisa se alimentar bem para continuar forte."

Kael sorriu agradecido.

"Obrigado, Mei Ling. Você sempre cuida de mim."

Ela acariciou levemente seu ombro.

"É meu dever, jovem mestre. E também, acredito em você. Sei que conseguirá alcançar seus objetivos."

Depois da partida de Mei Ling, Kael sentou-se no centro do quarto, com as pernas cruzadas. Ele acalmou sua respiração e relaxou, deixando seu corpo atingir o melhor estado possível. Hoje seria o dia em que daria início ao processo de criação de sua técnica de cultivo.

O suor escorria pela testa de Kael. Esse seria um procedimento perigoso, e pelos seus cálculos, com sua habilidade atual, demoraria de um a um ano e meio para finalizar. Durante esse período, ele correria perigo constante.

Kael deu uma última olhada nas inscrições, reuniu sua determinação e estava prestes a iniciar quando uma voz suave falou bem ao lado do seu ouvido: 

"Deixa que eu faço isso para você."

Kael deu um pulo para trás, como um gato que teve a cauda pisada, seu coração quase saindo pela boca.