Eu estava perto da casa onde meu pai morava, morava com ele porque a alcateia da minha mãe não aceitou muito bem o meu nascimento. Mamãe era uma loba da lua, ela era diferente dos lobos que falavam por aí, ela não tinha fraqueza em relação a ferro ou até mesmo aquela flor estranha que tinha um nome esquisito. Já papai era descendente da primeira bruxa que existiu, ou seja, eu era diferente dos lobinhos da alcateia da minha mãe.
O campo onde eu estava ficava atrás da casa da minha família, era muito grande e repleto de vários tipos de flores e ervas. Eu estava colhendo ervas para um chá que papai iria preparar para o meu pequeno irmão Allan. Ele havia nascido com um corpo muito frágil e dependia dos cuidados mágicos do papai. Mas algo faz os pelos da minha nuca se arrepiarem. Olho ao redor e vejo Tia Branca conversando com um homem estranho. Nunca havia visto ele pelos arredores, o que mais me incomodava era seu cheiro podre, diferia dos cheiros dos vampiros, que era doce demais.
Suspiro com o pensamento de que minha tia com certeza irá levá-lo para conhecer minha família, por ser a filha mais velha do meu pai. Eu tinha apenas sete anos, mas era muito responsável e meu pai confiava em mim para tomar conta de tudo quando ele não estava em casa, Allan tinha cinco anos, mas ainda parecia um bebe de dois anos por causa da sua frágil saúde. O homem com quem a minha tia falava, era alto, de cabelos loiros escuros e possíveis olhos azuis. Não queria admitir, mas estava encantada com o modo como ele se vestia. Aqui ninguém tinha o costume de se vestir tão formalmente do modo como ele se vestia. Talvez isso tenha atraído a atenção da minha tia. O homem loiro acenou para mim, fazendo meu coração bater rapidamente, não sabia que os estavam observando por tanto tempo. Com o instinto de fugir, corro de volta para casa, quando estava quase perto de casa, paro bruscamente quando Tia Branca grita por mim. Ela acena, me chamando para ir até onde estava.
━ Precisa de algo, tia Branca? ━ Pergunto, tentando disfarçar o nervosismo enquanto me aproximo. Ela sorri de maneira suave, mas seus olhos parecem estranhos, quase como se estivesse enfeitiçada.
━ Que falta de educação a minha, senhor, essa é minha sobrinha mais velha, Aylla. ━ Branca me apresenta para o senhor que me olha com um sorriso leve, mas algo em seus olhos faz aquela sensação ruim voltar, não sentia confiança nele.
━ Então pequena Ylla, como vai? ━ O senhor se abaixa para ficar da minha altura, mesmo com um pé atrás, acabo respondendo sua pergunta. Ao longe, vejo meu pai vindo em nossa direção, nunca me senti tão aliviada em ver meu papai.
━ Olá... ━ Meu pai perguntou, quando me puxou para perto dele, que papai não podia ser um lobo, porém era protetor como um.
━ Bom dia, meu nome é Nikolas. Nikolas Janger. ━ O homem se apresenta com uma voz firme, mas carregada de uma aura que me fazia estremecer. Meu pai franziu o cenho levemente, como se estivesse tentando reconhecer o nome, mas mantém a compostura. Ele olha para minha tia e depois para o homem de forma interrogativa.
━ Nikolas Janger? Não consigo deixar de notar o sobrenome... Alguma relação com o lendário caçador de Kurtlar, Niklaus Jäger? ━ Meu pai questiona, sua voz calma, mas com um tom de desconfiança. O homem sorri de forma enigmática, como se esperasse essa pergunta. Meu corpo pequeno se arrepiou com o nome que muitos não falavam por acharem que era um chamado do diabo. Kurtlar era como os lobos da lua são chamados antes de os lobos do sol serem descobertos. Niklaus foi o primeiro a conseguir matar um vampiro da lua. Essa espécie de vampiros era horrível de matar, mamãe sempre falava que eles eram como pragas, se multiplicavam muito rápido e era difícil de exterminar. Nikolas sorriu como se esperasse aquela pergunta. Sua voz é calma, mas há uma energia sinistra pairando ao redor dele.
━ Uma observação perspicaz, senhor... ━ Nikolas começa, deixando um momento de suspense no ar antes de continuar. ━ Mas não, meus pais foram criados ouvindo a história, tanto que mudaram seus sobrenomes para Janger, parecido, mas não o mesmo. ━ Mesmo achando estranho o homem, não prestei atenção nele, escutei um pequeno rosnado vindo do fundo da floresta atrás do senhor Nikolas e da minha tia. Era minha mãe, em sua forma de lobo, ela também se sentiu estranha com a presença do estranho que sorria constantemente para minha tia. Os três não conseguiam escutar por serem um "Humano" e dois Bruxos de Kurtlar.
Ela estava alertando sobre algo, algo que eu sabia que não podia ignorar. Com um olhar rápido para o meu pai, que agora estava tenso e observador, eu sabia que ele também tinha percebido o perigo iminente. Ele segurou meu ombro com firmeza, transmitindo confiança e determinação. Nikolas, apesar de seu sorriso aparentar não se abalar, seus olhos mostravam algo estranho e assustador. Seria impossível ele ter escutado o rosnado da minha mãe. Minha tia Branca, no entanto, parecia alheia à tensão crescente ao seu redor. Seus olhos estavam fixos em Nikolas, como se estivesse hipnotizada por ele. Isso só aumentou minha preocupação.
[...]
Após a conversa estranha que meu pai teve com o senhor Nikolas, meu pai me levou para longe de casa e pediu ao alfa da minha mãe que eu ficasse com ela enquanto aquele estranho permanecia na nossa pequena vila. Os dias que passei com minha mãe foram muito horríveis, pois minha transformação só pode ocorrer se eu me encontrar com um vampiro da lua ou passar por algum evento que mexa com as minhas emoções. Era raro um lobo do sol conseguir usar magia com as bruxas de Kurtlar, então tive que levitar os filhotes que me irritavam.
━ Olha, se não é a bruxa feia, ━ Não dou o trabalho de olhar para o ser que me perturbava, pelo cheiro de gambá podre, sabia que era o filho mais velho do alfa. O Noah Kim, o filho de uma égua mais insuportável do mundo. Não sei como a minha mãe o suporta. Ela assumiu a paternidade dele após a fêmea alfa morrer.
━ Por que você não vai atrás do que fazer antes que eu te transforme em lagartixa. ━ Mesmo não podendo me transformar ainda, conseguir rosnar. E que rosnado. Para um filhote, meu rosnado era forte e grosso. Vejo as pulguinhas se afastarem de medo. Vovó dizia que eu seria a melhor alfa e a mais velha existente. Eu fingia acreditar, já que os lobos do sol quase não existiam, eu era única mestiça fêmea, enquanto os outros três eram machos.