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Chapter 58 - Boa garota

Os dias foram passando e Alexia se sentia realizada. As coisas, enfim, começaram a dar certo na vida dela. Seus filhos se tornaram inseparáveis desde o primeiro momento em que se conheceram. A pequena Marcela estava forte e saudável, crescendo em um ambiente seguro e cheio de amor. Apesar do desenvolvimento dela estar um pouco lento, consequência da bactéria que pegou no hospital, Matheo contratou especialistas para ajudar a filha a ter uma vida sem limitações. O processo será lento, mas para ele, sua filha já era um verdadeiro milagre.

Lorena havia comentado um tempo atrás com Alexia que queria abrir um pequeno negócio. Porém as coisas se complicaram, fazendo ela esquecer tal sonho, mas Alexia nunca esqueceu. Exagerada, quase nada, realizou um sonho que meses atrás estava longe de se tornar real. Ela comprou um salão de estética completo, inscreveu Lorena em cursos especializados, contratou profissionais na área, fazendo Lorena sentir-se cada vez mais realizada.

Matheo, com a chegada de Alexia e a saída da filha da UTI, revigorou suas forças. Ele ainda pensava todos os dias em Ana, mas diferente de meses atrás, suas lembranças não doíam mais. Ana ficou gravada em sua memória como seu primeiro e único amor.

Mas se engana quem pensa que o destino do belo rapaz seria ficar sozinho. A vida lhe preparava para receber um novo e inocente amor, que assim como ele, tinha feridas e mágoas que ficaram marcadas em seu coração. Laila, com a aproximação, pouco a pouco começou a se apaixonar por Matheo. Apesar de pensar em nunca revelar tal interesse, curtia esse novo sentimento que surgiu dentro dela, era algo leve que ela gostava de sentir. Laila, mesmo sem perceber, se tornou uma mãezona para Marcela, desde o seu nascimento ela ajudou Matheo a cuidar da pequena, fazendo a ligação que unia os dois se fortalecer.

Na empresa, as coisas estavam indo de vento em popa. Laila decidiu dar um tempo na medicina e hoje trabalha junto com Alexia em sua empresa. Alexia, vendo o olhar brilhante da amiga por seu tio, decidiu dar uma forcinha para eles, colocando-os para trabalhar juntos em um projeto que foi um sucesso. Desde então, vários outros projetos surgiram, e a sinergia entre eles era evidente para todos. Os funcionários comentavam nos corredores sobre a química entre os dois. E a torcida para que eles se tornassem um casal era gigantesca.

Lorena, por sua vez, estava radiante com o sucesso do salão. Ela se dedicava de corpo e alma ao novo negócio e sentia-se realizada por essa oportunidade de alcançar seus sonhos.

Enquanto isso, Alexia se via envolvida em um turbilhão de emoções. O amor dos seus filhos e as amizades que construíra ao longo do tempo a faziam sentir-se feliz. Mas sua felicidade ainda estava incompleta, algo dentro dela faltava e, mesmo tentando evitar, Alexia não conseguia imaginar sua vida sem Benício.

Depois de mais um dia de trabalho intenso em sua empresa, o cansaço e a exaustão a pegaram em cheio. O céu já estava escuro e as luzes de Paris se acendiam, criando um clima mágico na cidade.

Alexia sempre foi uma mulher vaidosa e que ama se cuidar, porém hoje ela estava ainda mais radiante. Vestia um elegante sobretudo bege, que contrastava com seus longos cabelos escuros e o brilho dos seus olhos azuis. Seus sapatos de salto alto ecoavam pelo calçadão enquanto ela caminhava em direção ao estacionamento.

Durante todo o dia, Alexia não conseguia tirar Benício da cabeça. E hoje seus pensamentos estavam atraindo ainda mais. Hoje era o dia 25, o dia em que ele prometera estar na Torre Eiffel. Ela sabia que ele estaria lá, assim como esteve todos esses quatro meses. Algo dentro dela dizia que ele não desistiria dos dois tão facilmente.

Decidida a dar uma chance para o amor, Alexia chegou perto da Torre Eiffel. Ela viu Benício de longe, parado debaixo da imponente estrutura, segurando um lindo buquê de rosas brancas, num terno azul escuro. Seu coração acelerou ao vê-lo aparentemente nervoso. Os olhos de Benício a procuravam entre as inúmeras pessoas que estavam ali presentes.

Alexia sorriu como nunca havia sorrido antes, seu coração acelerou como na primeira vez que o viu. Ela se olhou no espelho para ver se estava tudo certo, quando foi para descer do carro e ir de encontro com Benício, seu celular toca. Ela tenta ignorar, mas começam a chegar mensagens incessantemente. Disposta a colocá-lo no silencioso, Alexia desvia o olhar e pega o aparelho, mas antes de desligá-lo ela vê que a mensagem é de um número desconhecido. Curiosa, ela lê a mensagem e congela por inteira.

— Meu Deus. — Ela sussurra, levando a mão na boca.

A mensagem era de Lucy, com uma foto de um laudo médico que para Alexia era inexistente. Nele estava afirmando que Mael não morreu num acidente de carro, como surgiu na imprensa e o que foi lhe dito. Na foto, comprovava que seu pai foi torturado e envenenado. Alexia estava numa tentativa de se acalmar, apertando as mãos no volante fortemente. Benício, que finalmente encontrou os olhos da mulher amada, apressou os passos para ir na sua direção; ele achou estranho ela estar com o semblante tão assustado.

Alexia se desespera ainda mais quando vê uma luz vermelha no meio da testa de Benício. Ela olha para os lados desesperada, abaixa por completo o vidro e fica olhando enquanto ele se aproximava; seu corpo parecia estar paralisado, ela não conseguia reagir. De repente, outra mensagem chega, agora com uma foto dele.

" Sua ousadia irá lhe custar caro demais. Você decidiu me investigar, acredito que agora saiba com quem está lidando. Se não quer seu amado morto, recomendo ir embora. Você e tudo que envolve seu sobrenome não merecem ser feliz."

Alexia olha para ele novamente, as lágrimas embaçam seus olhos enquanto rolam sem parar. Quando ele chegou ao seu lado, ela ligou o motor.

— Amor, o que aconteceu? Por que está assim? — Ele perguntou preocupado, tentando abrir a porta do carro, mas ela a travou. — Abre, me conta o que aconteceu.

— Eu te imploro, se afasta. — Ela grita fazendo ele se assustar e afastar as mãos do carro.

— Amor?

— Desculpa, eu não quis gritar com você... eu...— Seus olhos se escurecem e sua voz soa firme e cruel.— Benício, eu não estou pronta ainda para te perdoar, por favor não me procure mais. — As palavras entraram como punhais direto no coração de Benício. Alexia tremia sem parar, como se dizer tais palavras fosse realmente o fim para os dois.

— Alexia... — Ele grita vendo o carro partir. Benício conhece ela, ele sabe que alguma coisa aconteceu.

Ele pega o celular e tenta ligar para ela, mas havia descarregado. Benício tinha saído de uma longa reunião e correu direto para o aeroporto de Barcelona, apesar de estar um pouco atrasado, ele conseguiu chegar a tempo como prometido.

Ela olhou para o retrovisor uma última vez para Benício, que corria atrás dela; seu rosto mostrava uma mistura de tristeza e angústia. Mas Alexia sabia que precisava de um tempo para encontrar Lucy e, como forma de protegê-lo, Alexia decidiu novamente se afastar do homem que ama.

Com um suspiro pesado, ela dirigiu para longe dali, deixando para trás um homem desesperado e com o coração despedaçado.

Antes de entrar pelos portões da mansão da sua casa, Alexia debruçou sobre o volante e chorou.

— Isso não pode estar acontecendo, não é possível... por que agora? — O celular novamente começou a receber mensagens; ela olhou, acreditando ser Benício, mas estreitou os olhos com o que viu.

"Boa garota! Espero que goste do meu presente que reservei especialmente para você, torço para que não chegue tarde demais."

— Meus filhos. — Alexia sussurrou e desceu desesperada correndo em direção à porta da mansão, seu único pensamento naquele momento era que Lucy pudesse machucar seus filhos. Ela entrou e encontrou todos na sala, as crianças brincando no quarto de brinquedos.

Matheo, que conversava animadamente com Lorena e Laila, olhou desconfiado com o jeito assustado da sobrinha e se aproximou.

— O que aconteceu? Por que esteve chorando?

— Aconteceu alguma coisa estranha aqui? — Ela perguntou andando por todos os lados para ver se encontrava algo fora do lugar.

— Não, por que?

— Tem certeza, ninguém veio entregar nada? Nem uma ligação ou coisa do tipo?

— Por quê, qual é o problema?

Alexia começou a olhar o celular sem parar, ela não conseguia encontrar uma resposta do por que Lucy odiá-la tanto.

— Senhora. — O segurança a chamou entrando na sala. — Tem um carro preto ali no portão, fique dentro da casa que vamos averiguar.

Alexia correu para fora, ignorando o pedido do segurança, o carro começou a acelerar sem sair do lugar, fazendo as marcas do pneu queimarem na calçada. Antes de seguir embora, dois homens encapuzados jogaram alguém no chão e saíram rapidamente. Os seguranças de Alexia já estavam todos em volta dela; eles sacaram as armas e se aproximaram.

Alexia correu em direção à pessoa que estava ensanguentada e aparentemente morta. Com passos vagarosos, ela se aproximou.

— Não... — Alexia gritou. Seus olhos se encheram de lágrimas quando viu quem estava ali, suas pernas perderam a força com tamanha crueldade que fizeram com a mulher à sua frente, fazendo com que ela caísse de joelhos no chão. — Matheo... É a minha mãe!