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Chapter 44 - Memórias

Alexia acorda no banco de trás do carro, sua mente repassando cada lembrança como se estivesse assistindo a um documentário sobre sua vida. Tudo, absolutamente tudo, voltou; suas memórias eram vivas de tudo que passou. Ao lado dela, Fred estava visivelmente chocado ao ler a página da revista caída no chão. A reportagem detalhava como ela foi exposta, incluindo a traição de Lucas e até mesmo aspectos de seu temperamento, conforme Matheo descrevia.

— Fred. — Ela sussuta sentando-se com um rosto frio, olhando para ele. Ele parece um pouco sem jeito, pois sabe que foi ele e seu irmão que deram início a toda essa confusão. — Como essa história começou? — ela pergunta, encarando-o.

— Júlio e eu te vimos de mãos dadas com Benício e acreditamos que você seria a namorada dele... Alexia, eu juro que não fiz por mal.

Alexia permanece séria, embora tudo ao seu redor pareça não fazer sentido.

— Me fale do meu filho, onde ele está?

— O bebê nasceu morto...

— Meu Deus... — Ela sussurra, levando as mãos ao ventre e apertando como se sentisse um enorme vazio dentro de si. — Por que não me falaram? Vocês não tinham esse direito, não tinham! — ela se levanta e sai do carro batendo a porta com força. Fred faz o mesmo rapidamente e segura sua mão.

— Sinto muito, Alexia. Julio é eu queríamos ter dito a verdade sobre o menino, desde o começo. Mas a dona Vanusa achou que você iria sofrer muito e com medo disso acontecer ficamos em silêncio todos esses anos.

— Era um menino? — ela sussurra, sentindo seu coração sangrar, suas pernas perdem as forças, suas mãos tremem sem parar, o mundo da Alexia acabou de ser arruinado e ela não sabe como irá se levantar.

Sentada na calçada, ela chora desesperadamente. Fred a abraça fortemente, sem saber o que dizer ou como agir diante dessa situação. Alexia sonhava com o momento em que seguraria seu filho nos braços, nutria tantas esperanças de que ele a tiraria da solidão em que vivia. Agora, seus planos, seu amor por Isac, foram tirados dela.

— Sim... sinto muito.

— Onde o meu filho foi enterrado?

— Não houve enterro. O médico disse que cremaram.

— Como assim? — Ela fala com raiva. — Ninguém tem o direito de fazer isso sem o consentimento da mãe.

— Sempre achei essa história estranha. Quando fui ao hospital novamente, o médico já não trabalhava lá... Seu acidente não foi um acidente, sempre soube disso, eu vi um carro saindo acelerado. Mas estávamos preocupados com você e com Benício. Quando contei às autoridades, naquele tempo a cidade não tinha muitos recursos e nada pode ser feito... Como sabe, era uma cidade quase fantasma, você não tinha documentos, nada que desse uma pista de onde você era e quem você era.

— Só pode ser um pesadelo.— Ela sussura sentindo a dor de perder seu filho.

— Jamais imaginei que Benício, ao acordar, ficaria em silêncio sobre tudo. Agora o comportamento dele quando saiu do coma faz todo sentido.

— Por que ele me fez passar por tudo isso? Que tipo de pessoa faz isso com alguém? Vivi um inferno, tentando encontrar meu lugar, me encaixar numa realidade que não era a minha. Olha tudo que passei, fui agredida verbalmente, traída e caluniada... tudo por que? Para no fim descobrir que vivi uma mentira que amei um homem que tudo que fez é mentir.

Alexia está cheia de raiva, dor e confusão. Ela quer respostas, precisa de justiça. Fred fica encarando os olhos dela por longos minutos e percebe que a doçura e aquele olhar meigo já não existia mais, era tudo um completo vazio.

Alexia se levanta e limpa suas lágrimas, ela está se sentindo traída e usada. Lembrar de tudo que aconteceu com ela, tudo que Benício fez quando acordou, das ofensas de Dafne do pesadelo que viveu a fez ferver de raiva. Ela fecha as mãos em punho fortemente, seus dedos se apertavam quase perdendo a cor.

— Alexia se acalma.— Fred fala preocupado e segura em suas mãos, um arrepio percorre em seu corpo quando sente o olhar dela sobre os dele.

— Entra no carro.— Ela diz friamente.

— Onde vamos?— ele pergunta nervoso.

— Tenho um casamento que espera a minha presença.

Fred entra com incertezas pairando em sua mente, o curto caminho foi um silêncio insuportável, logo em seguida eles param na frente da igreja. Betina ao avistar a cunhada subindo as escadas pede para que todos fiquem nos seus lugares.

A emoção está presente em cada traço do rosto de Alexia enquanto ela entra apressadamente na igreja. Seus olhos, antes tão expressivos, agora parecem vazios, sem brilho sentindo uma dor dilacerar sua alma.

— O que está acontecendo?— Algumas pessoas perguntam.

Ela avança pelo corredor, ignorando os olhares e cochichos das pessoas ao redor. Seu coração está em pedaços, sua mente ainda está tentando processar todas as revelações e traições que acabou de descobrir.

Benício a vê entrar e um suspiro de alívio escapa de seus lábios. Mas assim que seus olhos cruzam com os dela, ele percebe que algo está errado. Seu rosto se contorce em confusão e preocupação ao ver a expressão de Alexia. Quando ela finalmente chega à frente dele, sem dizer uma palavra, ela ergue a mão e desfere um tapa forte em seu rosto.

O som estala no ar e ecoa pela igreja, silenciando todos os presentes. Benício leva a mão ao rosto, atordoado pela dor física, mas mais atordoado ainda pela dor emocional que vê nos olhos de Alexia. Ela o encara com uma mistura de raiva, tristeza e desapontamento, suas emoções borbulhando à flor da pele.

— Como você pôde?— ela sussurra, sua voz trêmula mas firme. — Como pôde fazer com que eu passasse por tudo isso?

— Amor...— Ele tenta falar ao perceber que suas memórias haviam voltado.

— Meu Deus... Você mentiu para mim, para mim e para tantos outros. Eu te amei, confiei em você, e tudo que fez foi me enganar. Nunca mais olhe para mim, nunca mais se aproxime de mim. Você é a pior pessoa que já conheci. Não tem ideia do quanto eu te odeio, Benício.

enício, atordoado e com os olhos marejados, treme ao sentir tanta dor que exala dos olhos da mulher que ama. Ele segura delicadamente em seu braço, olhando-a com desespero nos olhos.

— Alexia, por favor, me escute. Eu posso explicar tudo... Mas antes saiba que eu te amo de verdade, eu juro. Tudo o que fiz foi para proteger você, para proteger nosso amor. Você é a única que importa para mim, eu faria qualquer coisa por você.— Benício implora, as palavras saindo apressadamente de seus lábios.

Alexia o observa com um sorriso frio, seus olhos mostrando descrença e decepção.

— Amar de verdade? Você acha que isso muda alguma coisa? As mentiras, as traições, os segredos que escondeu de mim. Isso não é amor, Benício. Isso é manipulação, é crueldade.— ela responde, sua voz cortante como gelo.

— Por favor me perdoa.— ele tenta se explicar, mas agora já é tarde demais. A antiga Alexia não perdoa uma traição principalmente uma que causou tantos danos psicólogos.

Ela o encara com firmeza antes de perguntar

— Me diz Benício, mas dessa vez fale a verdade. Quem é Dafne para você, afinal? O que ela significou na sua vida? Do por que tanto ódio por mim que nunca sequer fiz nada para merecer tal coisa.

Benício engole em seco, os olhos evitando os dela por um momento.

—Dafne... ela foi a mulher com quem eu ia me casar antes do acidente.— Ele revela. Todos na igreja fica chocado, Vanusa senta atordoada por tudo que está presenciando.— Mas não importa mais, Alexia. Você é tudo o que importa agora, você é o meu futuro, o meu amor verdadeiro. Por favor, me dê uma chance de provar que eu posso mudar, de provar que eu posso ser o homem que você merece. Você era feliz comigo, lembra... por favor me dá mais uma chance.

Alexia ouve as palavras de Benício congelada, sem demonstrar a menor reação. Ela respira fundo e olha nos olhos dele com um olhar vazio.

— Não há desculpas para o que você fez. Eu sei exatamente quem você é, Benício, e não quero mais nada com você que se refere a esse inferno que você me fez passar. Adeus.— Ela se afasta dele, descendo os poucos degraus que têm no altar.

— Amor, por favor, não me de deixe, eu lhe imploro.

Alexia iginora as suas súplicas, seus olhos se encontram com os de Lorena.

— Você vem comigo? Ou vai ficar?— Ela pergunta com um tom despreocupado. Apesar de amar todas as pessoas que ali estavam ela se sentiu traída por todos.

— Eu vou com você.— Lorena responde firmemente, porém sente seu coração despedaçar ao encontrar os olhos de Fred.

Os dois se aproximaram muito e um puro sentimento surgiu. Mas Lorena é fiel a Alexia, se não fosse por ela, sabe lá Deus o que aconteceria com ela nas ruas.

Segurando a mão do pequeno Brayan que olhava tudo sem entender, Alexia caminha com Lorena e o menino deixando Benício para trás, sem sequer olhar para saber por que dos gritos de Vanusa.

Benício fica parado ali até que sente seu corpo amolecer e ele cai de joelhos no chão, com o coração partido e as lágrimas escorrendo por seu rosto, Vanusa abraça seu filho desesperada, perguntas e mais perguntas são feitas todas de uma vez. Porém nada era ouvido por Benício, ele finalmente percebe que perdeu o amor da sua vida, e que as consequências das suas escolhas o assombrarão para sempre.

Alexia sai da igreja, seu coração partido e sua mente mergulhada em um turbilhão de emoções. A dor e a traição que sente são avassaladoras, e ela sabe que levará tempo para se curar e superar tudo o que descobriu. Mas uma coisa é certa: Ela acredita que Benício nunca mais terá espaço em sua vida. Ele a decepcionou de uma maneira que no momento ela não poderá perdoa-lo