Vanusa olha assustada com o que ela fala.
— Como assim? Não sabe quem você é.
— Eu... eu não sei, onde estou? Quem são vocês? E por que meu corpo dói tanto? — Alexia pergunta com a voz baixa, quase num sussurro.
Vanusa corre para procurar uma enfermeira ou um médico, e logo volta com eles.
— A senhora sabe o seu nome? — pergunta o médico que estava de plantão.
— Desde que acordei, estão me chamando de Alexia, creio que vocês me conhecem melhor do que eu, pois não me lembro.
— Cadê o prontuário da paciente? — João pergunta para a enfermeira, que responde balançando a cabeça em negação. — Desculpe, logo resolvo isso! Pelo que falei com os meninos que estão lá fora, ontem a senhora sofreu um acidente junto com o seu namorado Benício. — Alexia abaixa a cabeça um pouco desconfiada, sem saber se o que estão falando é verdade. — Esses jovens estão desde ontem esperando para lhe ver, se puder, peço para eles entrarem, talvez os conheça. Infelizmente, o médico que te atendeu não atende o telefone, a enfermeira que estava de plantão saiu de férias. Não sei muito sobre seu estado, mas vou me informar, logo volto.
O médico sai para procurar o prontuário com informações sobre ela, ele estranha, pois não encontra nada, como se ela nem estivesse internada no hospital.
Os gêmeos de 22 anos, Fred e Júlio, são homens de bom coração. Além de serem muito unidos, foram criados com maestria pela mãe Clarice. Eles entram no quarto e ficam olhando a bela jovem. Seus longos cabelos negros jogados por cima do ombro deixam ainda mais brilhantes seus enormes olhos azuis.
Eles ficam apreensivos, pois ela realmente nunca os viu.
— Oi? — Júlio fala com um sorriso educado. — Meu nome é Júlio, e esse cara amassada aqui é o Fred. — Alexia sorri, divertindo-se com a expressão de Frederico.
— Cara amassada? Sua cara é igual à minha, idiota. — Ele fala rindo e revirando os olhos, amenizando o medo que Alexia estava sentindo. — Você está bem? Confesso que me assustei quando vi você e seu namorado no meio daquela fumaça toda que estava saindo do seu carro.
— Estou, eu acho! Eu conhecia vocês?
— Não, ontem foi a primeira vez que nós te vimos. — Júlio responde um pouco amedrontado.
— Então foram vocês que me ajudaram? Obrigada! — ela os olha com ternura.
— Imagina, não fizemos nada que qualquer outra pessoa faria no nosso lugar. — Fred fala, e seus olhos vão para a mesinha que tem no quarto, onde estava o presente de Laila. Ele pega e entrega o chaveiro.
— Que lindo, é meu? — eles balançam a cabeça concordando, mas com dúvidas. Ela fica longos minutos olhando para as iniciais em volta do seu nome. — E essas letras... I e H?
— Infelizmente não sabemos te responder.
Eles conversam por longos minutos como se conhecessem há anos, até que ela começa a sentir muita dor no corte da cesariana.
— Hum... por que tem esses pontos aqui? O que aconteceu? Por que sinto tanto vazio dentro de mim? — Os gêmeos se entreolham, na dúvida se falam que o bebê que ela estava esperando havia morrido. — Por que dói tanto? Com o acidente, machucou alguma coisa? — ali eles confirmam que ela não lembra que estava grávida.
— Então, é que você estava...
—Meninos!— Vanusa percebe que Júlio ia falar do bebê e interrompe. — Fizeram uma cirurgia na sua barriga, nada muito grave. Logo você estará bem. Alexia precisa descansar, talvez se ela dormir um pouco, a memória volte. — Vanusa fala encarando os gêmeos, que entendem que era hora de ir embora.
— Dormir? — Ela fala tentando saber se estava com sono. — Tudo bem, senhora, como quiser. Até logo, meninos. Espero voltar a vê-los novamente. — Se a senhora Vanusa permitir, gostaria de continuar vendo eles. — Alexia fala um pouco triste. Com a ajuda de Júlio, ela encosta a cabeça no travesseiro e ele a cobre.
— Tudo bem, filha. Será como desejar.
Eles se despedem dela e saem do quarto, deixando-a sozinha. Mas ao contrário do que Vanusa falou, ela não consegue dormir. Tenta descer da cama, mas os pontos a atrapalham. Voltando a deitar, sua cabeça parece vazia, sem memórias, sem lembranças.
No corredor, Vanusa tenta convencer os meninos a não falarem sobre o bebê.
— Sei que parece horrível o que vou dizer, mas não falem da gravidez. Ela não se lembra nem de quem ela era. Por favor, a poucas horas não sabia nem quem era minha nora e que ela estava esperando um neto meu. Só peço que não aumentem a dor dela. Não vale a pena. Ele já está morto e não vai mudar nada se ela souber.
Os meninos se olham como se conversassem com os olhos e, mesmo não concordando, decidem não falar nada.
— Tudo bem, senhora. Pode ficar tranquila. Não falaremos nada. — Fred fala, segurando o braço do irmão, e saem do hospital. — Júlio, não sei se essa é a melhor decisão. Ela é mãe e tem o direito de saber a verdade.
— Também acho. Acredito que se nós contarmos, é capaz até dela se lembrar de quem era.
— Será? Mas se falarmos e ela sofrer e não lembrar de nada? — Fred fala tristemente. O caminho para casa foi pensando se era isso mesmo que deveriam fazer, até que escolheram não falar nada.
O médico que fez seu parto chega no hospital, disposto a contar o que fez. Ele está arrependido por ter entregado o bebê, mas antes que possa se aproximar, vê Cleber encostado na parede, com a mão na cintura, como se estivesse segurando sua arma, e o encara com o olhar frio e intimidador.
Cleber não conseguiu matar a criança. Ele estava desde que pegou o pequeno Isaac pensando no que fazer. Com as novas ordens de matar Alexia, ele deixou o menino numa lixeira e saiu para terminar o que começou. Mas quando chegou no hospital, deu de cara com muitas pessoas na porta do quarto, o impedindo de entrar.
— Doutor! Você por aqui? Pensei que com o dinheiro que minha senhora lhe deu, você iria sumir. — O médico treme de medo. Cleber fez isso para deixá-lo alertado, mostrando que está de olho. Fagner encontra o outro médico, que o interroga sobre o estado da paciente do quarto 105, onde Alexia estava.
— Então ela acordou e não se lembra de nada? — Ele fala surpreso e aliviado ao mesmo tempo. Cleber observa e escuta a conversa. Fagner logo dá as ordens para que façam uma radiografia e um exame completo na cabeça de Alexia. — Pode ser a batida, ela tinha alguns pedacinhos de cacos de vidro na cabeça, tivemos que dar 12 pontos. — Fagner fala, ignorando o seu colega de profissão.
Durante dois dias, Alexia fica em observação. Ela gosta daquela atenção que recebe. Vanusa está se revezando entre ela e Benício. Sozinha no quarto, entra uma moça muito bonita. Seus olhos azuis e cabelos claros até os ombros tinham uma grande semelhança entre Benício e ela. Antes que Alexia conseguisse cumprimentar ou perguntar quem era, Betina se aproximou da cama dela e segurou seu braço com certa raiva.
— Escuta aqui, sua vaca desmemoriada. Foi por sua culpa que meu irmão está em coma. Você é quem deveria estar naquela droga de cama. — Betina falou, demonstrando toda a raiva e rancor que sentia por Alexia. Seus olhos lacrimejados pela dor de ver quem ela tanto amava em coma, ela não conseguia parar de odiar alguém que sequer conhecia. — Você é uma miserável interesseira que só quer o dinheiro do meu irmão. Bem que Lívia me falou que eu ia detestar te conhecer. Por sua culpa, lembre-se disso, por sua culpa meu irmão pode morrer... — Falando isso, Betina saiu do quarto sem olhar para trás. Alexia se sentiu mal ao ver tamanha dor nos olhos de Betina e passou a se culpar. Encolhida na cama, sozinha, ela chorou com medo de ser realmente culpada.
Sem querer incomodar ninguém, ela decidiu ficar em silêncio sobre o ocorrido. Vanusa entrou e, como sempre, sorridente. Ela era uma mulher muito bonita, loira de olhos claros, assim como Benício e Betina. Ela ajudou Alexia a tomar banho e comprou algumas peças de roupas no estilo que ela estava usando antes, um pouco mais simples, pois a cidade não tinha muitas opções. Vanusa ajudou a arrumar seu cabelo, amarrando-o em um rabo de cavalo, e a alimentou como se fosse uma criança. Alexia se apaixonou por Vanusa sem ao menos tentar.
— Senhora Vanusa? — Alexia falou com medo de estar incomodando sua leitura.
— Oi, filha. O que foi? Está com fome? Quer algo para beber?
— Não, eu estou bem! É que eu queria saber se posso ver ele, digo, o seu filho. — Apreensiva, ela abaixa a cabeça, como se fosse sinal de submissão.
— Claro, minha nora linda, vamos? — Vanusa segura suas mãos e a olha sorrindo. Ela ficou feliz por Alexia querer ver o Benício. — Você acredita que ele acordou? Digo, abriu os olhos. O médico disse que é reflexo, mas eu sinto que ele vai acordar.
— Sim, também tenho fé de que ele logo vai sair do coma. — Alexia fica feliz em saber que Benício abriu os olhos, sinal de que ainda há esperança.
Caminhando lentamente pelo corredor, ela chega no quarto ao lado. O belo rapaz estava com os olhos abertos, como se estivesse olhando para algum lugar. Alexia o olha por longos segundos, mas sua atenção é desviada para uma bela moça alta, de cabelos loiros medianos e lisos. Sua postura perfeita, equilibrando-se perfeitamente em cima dos lindos saltos agulha, com um vestido branco curto, com uma pequena abertura na coxa. Ao ouvir a porta se abrir, ela solta o travesseiro e o coloca ao lado. Segura sua pequena bolsa com uma mão e vira-se olhando para as duas.
— Quem é você? — Vanusa pergunta estranhando a visita dessa desconhecida, pois havia acabado de sair do quarto dele e não tinha ninguém. Vendo uma estranha segurando um travesseiro ao lado do filho, lhe deu um pressentimento ruim.
— Desculpe, senhora. Vi a porta encostada, resolvi entrar. Estava arrumando a cabeça dele... parecia estar desconfortável, pois estava um pouco torta! Prazer, sou Dafne... uma amiga do Benício.