Maddison Junez
Eu sinto que não deveria estar aqui. Deveria estar fugindo de tudo e de todos, porque acredito que vou ser perseguida por todo lado. Enquanto eles não sabem quem matou o meu pai, eu poderia fugir para longe. Mas não sabia onde. Eu não sabia por onde ir. Eu não tinha por onde fugir.
Eu não tinha ninguém para fugir ou puder me esconder e isso iria acabar comigo. Não poderia estar com a minha mãe até que as coisas se acalmassem e pudesse resolver o que poderia fazer. Poderia confessar que a minha vida iria mudar completamente a partir de agora, porque eu descobri que tinha matado o meu próprio pai.
A minha intenção não era o matar, mesmo que o odiasse pelo fundo do meu coração, mas sim, puder fugir das mãos dele. Eu queria fugir de todo o mal que estava acontecendo naquela casa. Eu sabia que minha mãe nunca iria ser felize livre depois de tudo que aconteceu, mas acreditei que fugir daquela casa poderia ser a melhor solução.
E sim. Foi a melhor solução.
Mas também a pior.
Eu sabia que se eu colocasse remédios de dormir para o meu pai com doses extras, ele poderia adormecer direto e simplesmente acordar no dia seguinte, então não tinha como o plano dar errado. Mas deu. Mesmo que tenha conseguido fugir com a minha mãe, simplesmente eu percebi que não valia a pena, eu poderia ter outra alternativa e isso simplesmente poderia ser diferente. Completamente diferente.
Eu poderia achar outra coisa para estudar e simplesmente lidar com isso. Eu poderia focar e tentar evitar o meu pai dormindo. Poderia simplesmente ajudar a minha mãe quando ele estava perto dela. Tinha tantas alternativas e eu escolhi matar o meu pai. E esse é o problema. Eu não quis matar o meu pai.
Isso foi um erro. Isso foi um erro grande. E agora não sabia o que poderia fazer naquele momento. Eu poderia estar sendo considerada como procurada quando eles descobrirem que tinha sido eu. Eles não podem descobrir que fui eu. Eles não podem. A minha vida estava em risco e não tinha como voltar atrás. Não tinha outra solução. Não tinha nem outra solução. Mas tinha uma. Apenas uma que poderia dar certo e escapar de toda essa tragédia.
Fugir.
Mas como poderia fugir. Eu tinha que pensar e pensar. Olhava na televisão, ainda em choque dos detalhes do crime que eu nem tinha percebido. Engoli em seco e vi que meu celular estava vibrando. Era um nome desconhecido e simplesmente acabei por atender sem pensar duas vezes, correndo para o quarto, fechando as janelas, notando que a voz era meio embaçada.
— Quem é? — perguntei ainda sem conseguir ouvir direito, trancando as janelas, caminhando entre a casa, vendo que a ainda estava dando a notícia, dando a estampa da foto do meu pai, desligando a televisão na hora.
— Filha… me escuta, você está em perigo. — falou baixo Mrs. Junez, percebendo que o fundo estava meio embaçado e difícil de ouvir.
— Mãe, por favor. Eu… — engasgava completamente sem saber do que eu poderia falar, olhando para as minhas mãos tremendo. — Não me ligue, se eu for… eu vou te ligar. Eu te amo.
Desliguei.
Eu sabia que tinha que desligar, mesmo que eu não quisesse. Eu sentia falta daquela voz por volta da casa e seria capaz de nunca mais puder ouvir aquela voz nunca mais na vida. Eu estava com medo. Com muito medo. Percebi que minha vida estava completamente de cabeça para baixo e não tinha volta.
Mas tinha tempo para fugir, mas não sabia onde. Aonde que poderia fugir? E mesmo que eles me descobrissem, eu tinha que dar um jeito que eles não pudesse saber de mim. Eu não sabia como poderia fazer e mesmo que eu quisesse fazer com que eles não me achassem, eu tinha que fugir de qualquer forma.
Eu tinha que fugir.
De qualquer forma.
De tudo e de todos. Eu estava com medo do que poderia acontecer a partir de agora, porque eu mesmo que quisesse me esconder, eles poderiam me achar. E foi aí que me lembrei. Os meus documentos. Corri para o meu quarto, pegando os meus documentos, pegando o meu certificado de nascimento, notando uma coisa enorme que poderia me salvar.
Eu não tinha o certificado de nascimento comigo. E isso era estranho. Eu nunca tive, mas seria capaz de eu puder achar em alguma forma. Engoli em seco, completamente perdida. Não sabia o que poderia fazer. Eu queria me salvar, mas não conseguia. Tentava engolir o choro e não dava. A garganta ardia e os meus olhos encheram de lágrimas gordas e quentes, deixando elas cair.
Minhas mãos tremiam e olhava para elas, percebendo que elas estava transbordando de sangue. Via o sangue completamente escorrer pelas mãos e cair no chão. Estava completamente transbordando e não sabia de onde via. Tentava manter a calma e me levantei da cama. A cama estava coberta de sangue.
Eu gritei.
Acabei caindo no chão, vendo o sangue pingar, fazendo eu correr para o banheiro e me limpar, atropeçando pelo corredor, fechando a porta com força, trancando o mesmo. Abri a torneira e comecei a limpar as mãos. Esfregava e o sangue continuava ali, fazendo o pânico piorar, deixando mais lágrimas cair e tentar engolir o grito.
Me olhei no espelho, limpando as lágrimas apressadamente, percebendo que no reflexo não tinha sangue nas minhas mãos, fazendo eu olhar para as minhas mãos.
As minhas mãos estavam limpas. A torneira e o chão estavam encharcados de água, dando um suspiro, mas ainda assim, estava confusa. Caminhei aos poucos para a porta do banheira, destrançando o mesmo, caminhando lentamente para o corredor. O chão do corredor estava completamente seco, fazendo eu dar um passo de cada vez.
Eram passos lentos. Passos que me atormentava e me deixava com medo. Não queria admitir o que estava vendo, mas me deixava confusa se eu não visse. Fui me aproximando cada vez mais do meu quarto. Eu não queria entrar no quarto, porque não queria ver o que eu vi antes. E aquilo estava me atormentando cada vez mais quando pensava no que tinha visto.
Eu não queria ver aquilo de novo. Parecia que alguém tinha sido morto no meu quarto e simplesmente estava sangue por toda a parte. Eu não queria ver aquilo de novo. Parecia que eu tinha matado aquela pessoa. Eu não queria ver aquilo de novo. Parecia que era sangue fresco e simplesmente tinha espalhando por toda a parte e não tinha por onde fugir, porque o sangue estava ali.
Estava a poucos metros do quarto e não poderia fazer nenhum movimento brusco. Eu não tinha nenhuma ideia de como aquele corpo foi parar ali, mas acreditava que apenas tinha sido eu. Eu tinha matado outra pessoa? Eu sou tão monstro assim? Quem sou eu? Agora sou um monstro que mata pessoas sem piedade?
Engoli em seco, fechando os olhos com força e simplesmente me arrastava na parede, pronta para virar e ver se realmente tinha um corpo na cama. Lentamente, fui me aproximando da entrada do quarto e eu sabia que tinha que enfrentar aquilo. Fui eu que fiz, então tinha que encarar, mesmo não sabendo o que poderia fazer com o corpo.
Eu tinha que esconder aquele corpo de qualquer forma, mas não poderia fazer aquilo sozinha. Eu precisava de ajuda. Tombava a minha cabeça na parede de nervosismo, completamente em pânico, sem saber o que poderia fazer naquele momento. E foi aí que percebi que o sangue no chão já não estava ali.
Fique confusa de primeira, me aproximando mais na entrada no quarto, caminhando diretamente para o quarto.
O quarto estava limpo. Nenhum sinal de sangue. A cama estava arrumada, as coisas estava no lugar e a janela estava trancada. Olhava em volta, completamente confusa e sem perceber o que tinha acabado de acontecer. Eu estava perdida. Não sabia o que falar ou o que sentir. E apercebi que nada que tinha visto era real.
Os meus olhos percorreram por todo canto, completamente arregalados, fazendo a minha respiração acelerar, deixando me levar com a fúria e medo dentro, pegando a cabeceira e jogar no chão, gritando com todas as minhas forças. Apenas jogava tudo que aparecia á minha frente.
Eu estava com raiva. Eu estava com ódio. Eu não queria me tornar o que realmente tornei. E não tinha mais volta. Aos poucos, as pessoas iriam saber que eu tinha matado o meu pai e acabar com tudo. Iria ser presa e não tinha volta. Eu não queria que isso acontecesse, mas não tem como você fugir do destino quando foi feito por você. Então, o meu destino era ficar atrás das grades?
Como que eu fui de uma garota que sonhava em arte para estar fugindo da prisão? E o choro voltou. Empurrava tudo e qualquer coisa que aparecia, fazendo eu cair no chão e chorar alto. Eu não sabia o que poderia fazer mais na minha vida além de puder me esconder por agora. Eu sentia medo do que poderia vir agora.
A minha vida iria mudar agora e não sabia como tornar de volta. O choro de medo continuava ali. Encolhia as pernas e as abraça, tentando me acalmar e sentir que estava segura e estava salva de tudo que estava ao meu redor, mesmo que estivesse um caos. Não sabia aonde estava a minha mãe e eu não fazia ideia como iria para as aulas da universidade a partir de agora.
Eu estraguei o meu futuro.
Eu não tinha mais futuro e muito menos uma vida para viver agora. Não sabia o que poderia acontecer agora, mas sabia que tinha que fugir e não sabia como poderia fugir. O choro ainda continuava e não parava. Sentia um enorme desconforto no peito que deixava falta de ar. E eu balançava e balançava o meu corpo de um lado para outro, apertando as minhas pernas para me segurar. Da mesma forma que minha mãe fazia em mim.
Me lembro que quando eu caia ou ficava com medo, ela me colocava no colo e abanava aos poucos, segurando as minhas pernas, acarenciando as mesmas, fazendo assim me acalmar e fazer eu parar de chorar. Aquilo me deixava completamente segura e amada pela minha mãe sempre que algo de ruim acontecia.
Mas não estava acontecendo no caso, estava ficando cada vez com mais medo.
— Vai ficar tudo bem… Vai ficar tudo bem…
Apenas sussurava em mim mesma, para ver se alguma coisa poderia acontecer para me acalmar ou algo do tipo, mas sabia que não ia funcionar. E o choro me deixava mais fraca e com falta de fôlego, ingustiada e apavorava. Os soluços ficavam ali e dava ecoo pelo apartamento.
Lentamente, ouvi leves passos pelo apartamento, tapando a minha boca rapidamente. Alguém estava dentro do meu apartamento. Eu esperava que isso iria acontecer, mas não tão cedo. Fui me encolhendo, vendo que o meu quarto estava completamente desarrumado e com coisas partidas e diversos pedaços de vidro pelo chão. Fechei os olhos e fui balançando as pernas, vendo que os passos estavam cada vez mais próximos.
De repente, senti um abraço.
Um abraço quente e aconchegante. Os meus olhos abriram de surpresa, vendo que era o menino da porta ao lado. Ele estava me abraçando naquele exato momento, acarenciando as minhas costas. Eu estava confusa e perdida. E isso simplesmente me deixou mais confusa que nunca. O que ele queria de mim? Será que ele já sabia que eu tinha matado o meu pai?
Se ele sabia que eu tinha matado o meu pai, por quê que ele estava me abraçando?
— Shhh, está tudo bem. Você está comigo agora.