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Chapter 2 - CONHECENDO. Parte 1

06/03/2106

 

Lembrava claramente de como havia começado, era um dia normal do qual caminhava pelo parque ao lado da mãe, onde a primeira visão ocorrera. Era como se o tempo tivesse parado e mais ninguém podia ver o que via... ouvir ou sentir. Podendo ter o vislumbre um tanto desfocado de uma mulher que corria, ela pisara em falso e acabou por tropeçar contra uma pessoa que vinha de bicicleta que pela velocidade que estava não conseguiu desviar a tempo e virou para um pequeno barranco caindo direto num lago.

A sua cabeça martelou assim que as imagens dissiparam, passaram se alguns minutos para a mesma sena se repetir dessa vez sem estar desfocada. No início fora uma surpresa, na verdade, uma confusão era o que descrevia o que sentia. Achando até certa graça da situação por ser apenas uma criança de seis anos.

— Mamãe... eu vi isso acontecendo antes. — Manteve um tom suave direcionando o olhar para a alta mulher, mas era como se uma nuvem acinzenta dominasse a sua vista impedindo de ver qualquer coisa claramente ao mesmo tempo que emanava uma luz do entorno das pessoas e objetos. A silhueta feminina abaixou-se para ficar na altura da menor. — Os meus olhos estão estranhos de novo. — Resmungou coçando o lugar que passou a incomodar.

— Filha isso não é possível. — Firmou sorrindo, a menor desdenhou o olhar pela sensação que a mãe emanou. A sua luz refletindo com uma quebra fraca se misturando a uma cor amarela clara.

— Está preocupada mamãe. — A mãe sorriu a abraçando de forma terna.

— Não.

Depois disso sombras que apenas ela via, rondavam-na a todo instante, passando pelas pessoas, as tocando. Por vezes causando mal. Em certo momento começaram a lhe perseguir. Como se sentissem que eram vistas "E como se estivesse a enlouquecer lentamente". As outras pessoas anunciavam ao perceber que tinha algo errado e mesmo que não falassem sentia o que vinha dos seus interiores. Fosse emoção ou sensação.

As incontáveis vezes que acordava assustada aos gritos.

— Não tem nada de errado com você... você é apenas diferente. — A mãe mantinha um tom suave e extremamente acolhedor.

Lembrava claramente que a mãe sempre estava lá, protetora e acolhedora mesmo que preocupada.

Numa noite tudo mudou, sua mãe, a mulher que lhe amava e protegia e a única que lhe parecia entender. Quem sempre esteve lá estendendo os braços, não mais estaria.

Fora numa noite fria na qual acordou despreocupada até ouvir os sons de coisas sendo partidas, lembrava claramente de ter levantado da cama e descido para o andar de baixo da casa, havia um cheiro forte que fazia arder o nariz, cacos de vidro pelo chão e pedaços de madeira dos móveis destruídos que estavam espalhados pelos cómodos.

Ao passar pela porta. Grandes garras e uma enorme sombra da criatura que estava na sua frente, a grande quantidade de sangue espalhada pelo chão, e mais nada, uma escuridão rondava a sua mente enquanto escutava uma voz feminina gritando ao longe. — HELLENA... — No mesmo instante chamas se alastraram por todos os cómodos, não via nada ou sentia qualquer coisa, mais conseguia ouvir o tom baixo vindo da voz doce recitando o poema que tanto ouvira da mãe antes de dormir.

Durma meu bem,

Pois os anjos irão... lhe proteger,

Afastando o mal e trazendo o bem...

Quando lágrimas derramar... eu estarei lá

Medo não terá e a dor sumirá

Deixar transparecer um sorriso no lugar

Sonhos irá ter, pesadelos passarão.

Meu anjo é você, e sempre irei-te amar.

 

[DIAS DE HOJE, ano 2120].

 

— Então como se sente? — A mulher preta de roupa social e cabelos escuros amarrado num coque perfeito perguntava pela última vez de tantas centenas que já havia perguntado.

— Bem... de certo modo. — Murmurou se mantendo deitada na poltrona esperando as próximas palavras.

— Está confortável com tudo? — O seu tom estava sereno, a mais nova virou o olhar de relance podendo notar as linhas de expressão no seu rosto pela idade que ultrapassava os 42.

"Mas o que queria! Já fazia mais de sete anos que ela continuava como a sua psicóloga."

— Na verdade, sim. — Desviou o olhar sem antes notar ela anotando algo na caderneta e olhar-lhe por cima dos óculos em busca de uma falha, mas logo suspirou desistindo.

"Nisso era ótima, esconder verdades da qual fugia, era melhor que continuasse assim."

— Nenhuma lembrança nova? — O seu tom estava firme enquanto cruzava as pernas.

— Não. — Manteve um tom relaxado sem a olhar. — Sem lembranças daquele dia ou alucinações. — Completou sem receio. "Era uma verdade da qual se orgulhava e desconfiava de que duraria por muito tempo."

— Isso é bom. — Voltou a olhá-la, havia colocado um pequeno frasco de remédio com vários comprimidos na mesa e ao lado havia uma pequena placa com o seu nome Doutora Lúcia. — Está quase há dois meses sem tomar os comprimidos e nada voltou. É um grande progresso!

Não se sentia animada quanto aquilo.

— É..., acho que sim. — Se forçou a dizer ao se sentar se atentando ao redor. O consultório mantinhas cores em tonalidade de castanho e bege como os móveis rústicos que davam uma sensação de aconchego, no momento não era seu caso. Apesar de já estar a muito tempo da companhia de Lúcia, lhe ajudando, incentivando, apesar de a considerar como uma amiga se sentia feliz por não ter que voltar lá como paciente.

— Já terminou o primeiro ano na universidade! Pretende se envolver com alguma empresa?

— Estou decidindo, Maíra está me ajudando nisso.

— É, você tem que se limitar. Descanse e aproveite! Ainda é jovem! — Concordou enquanto se levantava da cadeira e caminhou para trás da mesa onde começou a mexer em alguns papéis atentamente indicando que a consulta estava no seu fim. — Parece que essa e a nossa última consulta. — Murmurou e a mais nova concordou com um leve acenar se levantando e aproximou-se com cautela. — Bem... espero que o nosso próximo encontro não seja aqui. — Brincou e a outra não deixou de sorrir apertando a sua mão e desviou o olhar para janela no canto da sala, já estava escuro. Logo virou o olhar para o sobretudo cinza apoiado sobre a poltrona.

— Este inverno está horrível. — Lúcia murmurou ao seguir o olhar da mais jovem. — Está de carro?

— Não, mas estou hospedada aqui perto. — Respondeu firme por seu tom preocupado sabendo que ela havia ficado desconfiada. — Então, tchau. — Se manteve incerta antes que ela pudesse intervir, sempre fora péssima com despedidas.

— Nos vemos. — Ela cumprimentou com um sorriso e deixou-se abrir os braços num abraço curto que não deixava de ser acolhedor. — Vou sentir saudade Hellena, mande lembranças a Maíra e ao Dilan. — Completou assim que desfez o abraço.

— Para sua família também... agradeço por tudo. -Hellena confirmou dando meia volta recolhendo o sobretudo da poltrona, deu um curto aceno e retirou-se da sala sentindo um alívio no peito assim que a porta se fechou.

Finalmente, depois de sete anos estava livre daquelas sessões, sentiria falta de Lúcia, ela sempre fora um amor de pessoa e uma das mais pacientes que conhecia. Os seus concelhos sempre ajudavam.

~~

Suspirava pela décima vez, enquanto caminhava pela calçada da cidade de Costei, era desconfortável ter que se manter encolhida sobre densos casacos pelo clima que se instalava, naquela noite em especial que estava sem carro, mas por sorte o hotel era próximo, mesmo assim o incomodo era presente, e outro fato importante era que mesmo sendo uma cidade grande aquela era uma região afastada, não havia carros ou pessoas andando na rua num horário que já passava das onze.

Respirou e soprou fundo vendo a fumaça sair por entre os lábios. Tratou de colocar as mãos no bolso do sobretudo. "Boa hora para não se ter uma luva." Se condenou, contudo, não deixou de sorrir, chegava a ser irónico por ser a estação que mais gostava.

Lembrava de quando caminhava com a mãe e passeavam pelos parques. Balançou a cabeça tirando tais pensamentos de mente se concentrando no caminho.

Não demorou a avistar uma figura feminina sentada na calçada a frente trajando um singelo vestido cinza manchado em vários tons.

Acima de tudo quem podia estar usando um vestido daqueles naquele tempo? Rapidamente a voz de Mary veio em mente, mas ela era um caso à parte.

O corpo alertou perigo, mas algo no seu interior lhe fez seguir, e foi o que fez, olhando de relance para a mulher, pois assim que estava próxima ouviu o seu choro baixo e bateu o ressentimento, se aproximou com cautela, notando melhor os cabelos compridos ressecados de cor preta e a sua pele que estava num tom quase que acinzentado.

— Moça... tudo bem? — Não conteve o receio principalmente pelo intensificar do seu choro. — Precisa de ajuda?

— Eu quero viver... e preciso de um corpo para isso. — A mulher sussurrou incompressível para a audição da mais jovem.

— Como? — Questionou ao inclinar o olhar notando o sangue escorrendo pelo braço acinzentado e levantou-se de uma vez se afastando um passo, se dando conta de algo inevitável. Uma categoria. — Não devia ter forma. — A voz saiu num fio, engoliu em seco quando a mulher começou a rir, uma risada estridente e assustadora.

— Se eu conseguir um corpo forte... posso... posso viver novamente. — Anunciou com a voz entre cortada como um suspiro e se levantou aos poucos.

Hellena arfou recuando vários passos até sentir as costas irem de encontro com a parede, notando apenas no momento que estava próxima de um beco com várias latas de lixo e não tinha como correr para o outro lado.

Todas as luzes dos postes da rua se apagaram no mesmo instante que densas nuvens cobriam a luz da lua deixando o ambiente num completo breu. Conseguia notar entre as sombras mãos se formando próximas a seu corpo, a mulher caminhava na sua direção cambaleante esticando uma das mãos enquanto mantinha o tronco curvado para baixo e o cabelo espalhado para frente impedindo de ver o seu rosto.

Com as pernas bambas não conseguiu se mexer e quando sombras mais densas saíram de trás dela fechou os olhos com força, ainda sentindo a presença aterrorizante.

— Me dê o seu corpo... ele... ele vai me servir bem. — Escutava a fala da criatura enquanto mantinha os olhos fechado esperando pelo pior, em vez disso, um rosnado se fez existente e o silêncio se permaneceu por longos segundos.

Deixou o medo de lado por um momento e abriu os olhos lentamente e o que antes parecia ser uma mulher, agora era outra coisa, com olhos vibrantes brancos, o rosto e o corpo deformado e um dos tentáculos que lembravam navalha a centímetros da sua face, agora ela estava imóvel.

Conseguia sentir o medo que ela emanava no instante que ela virou o olhar prendeu a respiração pelo susto, ao seguir o seu olhar notou o par de olhos no meio da escuridão que cintilavam num tom vermelho sangue enquanto as escleras eram totalmente pretas em vez de brancas, tinha uma energia forte que aumentava cada vez mais como se transmitisse superioridade.

— Perigo... perigo... corrompido. — Ecos baixos saiam das sombras por todos os lados, e seja lá o que fosse aquele animal, ele tinha olhos sedentos, as presas pontudas e afiadas na expressão de fúria, mesmo pelo escuro podia deduzir que ele era enorme com o dobro do tamanho de um ser humano.

— Rumm. — Rosnou novamente como um aviso e no mesmo instante a criatura pressionou a mão contra o pescoço feminino e a levantou sem esforço algum a jogando para o outro lado, fazendo o corpo deslizar pelo chão e ir de encontro com a outra parede do beco e logo um grunhido se fez presente ao mesmo tempo que Hellena sentia a cabeça girar, por sorte não havia a batido, por outro lado, podia sentir as costas ardendo.

— Minha presa... — A criatura avisou alto fazendo com que o outro sorrisse, gritos dominaram o ar e o silêncio voltou a reinar quase que de imediato. Por uma fresta de luz o animal atacava a coisa, a destroçando em questão de segundos fazendo o copo derreter numa espécie de gosma escura juntos de um gás que saia desta.

Hellena apoiou-se cambaleante e com um pequeno esforço se levantou agradecida pelos panos a mais que vestia, que provavelmente havia amortecido.

— Rumm... — Curvou a face pelo som em busca de conseguir enxergar algo, o que foi em vão, apesar de conseguir sentir a forte presença que estava ali, entre partes conseguia ver ele afastando-se no meio da escuridão completa. Arriscou avançando um passo em busca de ver melhor e no segundo seguinte estava contra a parede com a cabeça levemente arqueada com uma grande mão contra a boca e a outra segurando um dos seus pulsos, não parecia um animal muito menos humano, e, com certeza, era mais forte e alto do que ela, pois podia sentir a respiração quente sobre a cabeça e ele curvado.

— Quantos anos tem? — A voz rouca e grave causou um arrepio assustador pelo corpo feminino, exalando como a de um predador.

"Fuja." A mente alertou e foi para frente, mas ele a empurrou de volta a parede, não fazendo esforço nenhum para tal feito, a deixando completamente imóvel.

Arfou, podia deduzir que ele estava sem roupas e possuía a pelagem macia como a de um animal por todo o corpo.

— Quieta... — Mandou. E Sem saída obedeceu. — Continuo instintivo. — Murmurou.

Sentia o próprio corpo tremer quando ele virou seu rosto com a mão que lhe cobria facilmente o pescoço.

— É atrativa de mais para uma humana. — Anunciou rouco em tom baixo enquanto aos poucos retirava a mão. A voz grotesca e rígida.

"Grite."

— Não irei lhe machucar! — Afirmou antes que ela pudesse o fazer e soltou o pulso dela se afastando sem deixar de a segurar firmemente com uma das mãos e como se a enxergasse naquele breu passou um dos dedos com a grande garra e ela arfou quando o sentiu forçar um dos botões do sobretudo e recuou. — Se não quer ser devorada, não se mova. — Sussurrou como um aviso.

Ela engoliu em seco por tal afirmação sentindo uma das mãos dele subiram para cima e logo ele estava desabotoando, ou melhor arrebentando os primeiros botões do tecido quente, afastou o cabelo do pescoço o colocando para trás e com a garra puxou levemente o colar que estava escondido por dentro do tecido parecendo se atentar ao pingente de águia o segurando fortemente entre os dedos e puxou arrebentando a corda. — Assim eu tenho mais liberdade, estou intrigado com o seu cheiro.

— Por favor, me deixe ir. — Pediu arfa. — Obrigada, mas por favor... — Agradeceu em dúvida com a voz baixa, ele pareceu exalar surpresa e suspirou afrouxando um pouco o aperto, ela se inclinou para ir para o lado o que o fez a prender novamente sem dar chance de ela fazer qualquer coisa só contorcer assustada olhando na sua face. — Só me dei... deixe... ir. — Murmurou parando a frase aos poucos por se deparar com os olhos vermelhos dele que aos poucos adquiriram uma tonalidade clara se tornando azuis como duas safiras em contraste com o mar mais profundo, no mesmo instante sentiu como se uma corrente elétrica passasse pelo corpo, arfou como se o coração tivesse falhado uma batida e logo voltou a bater como nunca havia batido antes, enquanto o sangue estava a mil pelo corpo, se sentia debilitada por só poder ver os seus olhos. Não havia mais medo e sim uma sensação estranha no lugar. Pode sentir uma das mãos dele subirem e as suas grandes garras pousarem sobre a face feminina e os olhos azuis dele cintilaram como se pudesse ler a sua alma, aproximou a face a um ponto que podia sentir a sua respiração, logo se afastou a olhando atentamente.

— É uma especiaria! — Ele afirmou com ironia, ela ignorou o timbre rouco, contudo mais humano, não podia distinguir a sua face, mas sabia que ele não era humano. Ergueu uma das mãos levando ao peito duro, algo a incomodava, e isso, era a sensação que emanava dele. Azul em volta de um cinza intenso.

— Solidão e dor. — Murmurou.

Ele a empurrou de leve e desapareceu na escuridão.

 

~~ [2 MESES DEPOIS.] ~~

 

Seguia determinada rotina na cidade de Costei, acordava pelas quatro da manhã, saia para correr voltando pouco antes das seis, tomava um curto banho, pegava um ónibus até o emprego, um pequeno café no centro onde o seu expediente começava as seis e meia e terminava por volta das duas da tarde.

Ao término seguia para pegar o metrô para chegar as três em ponto na faculdade onde ficava pelas três horas seguintes, além de também lhe render um ganho extra por auxiliar os professores e alunos com as matérias escolares.

A noite fazia serviço de babá ou retornava ao café para fazer hora extra incluindo nos finais de semana, no fim chegava em casa por volta das dez e tomava banho. Por muitas vezes estudava até de madrugada ou seguia direto para cama.

Pelo menos nas férias a correria acalmava um pouco.

Entrou em casa claramente exausta encarando o relógio que demarcava meia-noite em ponto em vez de ir ao café acabou por aceitar um serviço de babá, porém os pais passaram do horário, tinha cuidado de gémeos ambos bem animados por volta dos 6 anos, fizeram uma bagunça na sala da mãe, eram fofos mostrando cada desenho que faziam. Esfregou os olhos atenta as mãos um tanto manchadas de caneta e seguiu direto para cama onde se jogou e fechou os olhos com força.

Não deixou de pensar em quando costumava morar em Rison Liden, uma cidade do interior, era calma com densas florestas e lagos, a sua própria casa sendo de frente para um.

— Já faz muito tempo mamãe. — Sussurrou se virando olhando diretamente para o teto manchado. — Só mais um pouco. — Fechou os olhos pesadamente, por ser o primeiro dia de aula, iria na parte da manhã para faculdade, já que Taira, a diretora havia pedido ajuda.

Agora morava em Costei, era uma cidade grande e bem movimenta, de um lado as pessoas de alta renda e do outro as de baixa como ela, por sorte acabava por ficar próximo da cidade de Estonces que era uma pequena ilha onde era conectada com Costei por uma grande ponte de ferro que passava pela água por conta da ilha não ser tão longe da costa e outra linha menor que passava o metro, apesar de pequena era uma cidade recorrida por ter uma das escolas e universidades mais bem desempenhada do país, onde teve a sorte de estudar.

~~

~PIII... PIII... PIII... ~O despertador do celular tocava alto a fazendo se revirar de um lado para outro na cama entre cobertas que a mantinham aquecida, contrariando todo o corpo inclinou a cabeça para cima em busca do aparelho que tanto apitava, ele demarcava 6h00 horas e encontrava-se ao lado da cama em cima da mesa de cabeceira.

— Droga. — Murmurou, o seu tom saindo um tanto grogue por conta do sono e contrariando o corpo retirou novamente o braço de baixo das cobertas e o esticou até a mesa deslizando o dedo várias vezes em cima do objeto fazendo com que parasse com o barulho desconfortante e voltou a deitar confortavelmente enquanto cobria o rosto com as cobertas na esperança de voltar a dormir, aquele não era um dia bom para se levantar.

Aos poucos acalmou a respiração sentindo o corpo relaxar e as pálpebras pesarem, estava prestes a fechá-las completamente até que respirou fundo paralisando se levantando num pulo correndo direto para o banheiro que por sorte ficava dentro do quarto, era pequeno, tinha espaço suficiente para locomover os braços, levou a mão até o interruptor, a lâmpada falhou um pouco antes de acender.

— Já estou atrasada. — Afirmou se olhando no espelho, o cabelo não estava tão balançado, era comprido e liso com cachos nas pontas, possuía uma cor preta com mechas arroxadas que se estendiam por sua extensão, principalmente nas pontas onde ficavam mais claras.

Abaixou o olhar para o corpo lembrando que Katia insistia para vestir roupas mais decotadas. Se sentia desconfortável e envergonhada, apesar de ter um corpo invejado (Palavras da amiga não dela), em palavras mais adequadas desejado, por ter curvas no estilo violão, cintura fina, busto favorável, quadril largo e nádegas médias, o que acabava por esconder que estava abaixo do peso. Levantou o olhar para a face, os olhos possuíam uma cor lilás escuro, o rosto sem expressões e a boca com lábios finos rosados. Quanto à altura? Tinha exatos 1,50, pele extremamente clara, branca, implorando por um pouco de sol. No momento véstia um pijama básico com calças e camiseta. Retirou rapidamente ao adentrar no box, não teria tempo de tomar um banho relaxante.

— Frio. — Se arrependeu na hora enquanto sentia a água gélida ir de encontro com a pele.

~~

Assim que terminou de escovar os dentes se enrolou numa toalha.

— Roupas. — Repetiu a si mesma enquanto saía em passos rápidos. -Aii... — Não conteve o murmúrio ao sentir uma dor aguda no dedão, podia deduzir que havia batido no pé da cama.

Como diziam a pressa é inimiga da perfeição. Isso que dá querer fazer as coisas com a luz apagada.

Após se recompor caminhou em passos calmos em direção do canto da parede do quarto já conhecido e acendeu a luz podendo finalmente olhar por todas as direções. Todas as paredes se encontravam um tanto manchadas.

O quarto possuía uma cama de casal e um tapete felpudo que cobria o seu centro, havia um guarda-roupa no lado direito, uma escrivaninha marrom ao lado esquerdo da cama, uma cómoda na parede de frente para a cama, algumas pantufas encostadas no canto esquerdo do quarto, para frente no lado direito da cama tinha uma janela, podia se dizer que o quarto era grande se comparado ao do antigo apartamento.

Andou em direção às gavetas, após vasculhar um pouco optou por uma calças jeans de cor azul escura, uma camiseta preta de manga cumprida e uma blusa de frio jeans preta, pegou um par de meias e um ténis, olhou mais para o lado avistando numa bancada pendurado um colar com pingente de águia bem moldado com cada detalhe impecável, rapidamente o pegou e o colocou no pescoço, o feio de couro preto, passou a mão com carinho, deixando lembranças invadirem a mente para em seguida abrir um sorriso se atentando ao espelho e em baixo a mesinha onde tinha uma pulseira com a metade de um coração feito de pedra com as iniciais ML, não deixou de sorrir o amarrando no pulso.

~~

Assim que terminou de calçar o ténis se inclinou pegando o celular na escrivaninha que marcava seis e dez o que a fez aumentar o passo até a porta apagando a luz ao dar uma última olhada pelo cómodo e seguiu para fora dando direto com a sala com sofás amarelados e uma mesa de centro com vários papéis sobre ela juntamente de vários livros, a sala era separada da cozinha por um pequeno balcão, a lavanderia era comunitária no térreo do prédio. Pelo menos para usar a máquina de lavar e a secadora era barato.

Se aproximou do sofá pegando a mochila surrada e colocou nas costas junto de algumas pastas e saiu sem pestanejar do apartamento trancando a porta com cautela, o ambiente não era tão ruim e os vizinhos na sua maioria eram quietos.

Ao se aproximar do elevador estreitou o olhar por estar com uma grande placa escrito "em manutenção", seriam cinco andares para se descer e o fez em passos rápidos.

— Está com pressa hoje belezinha. — Ignorou o tom soprado de Sunor ao passar pela recepção, se tratava de um senhor robusto por volta dos quarenta e seis anos, ele possuía um olhar que causava arrepios, os olhos profundos e o cabelo oleoso, se vestia com terno e tomava conta da entrada e saída do prédio além de ser o dono dos apartamentos.

— Bom dia. — Cumprimentou sem interesse saindo em seguida.

~~

Se mantinha paciente esperando o vagão que demorou a chegar, se sentou do lado da janela próxima à porta concentrada na paisagem pela janela divagando ao decorre da infinidade do mar.

Assim que chegou à estação conteve o ar olhando no visor do celular por já ser sete horas, teria que apresar o passo para chegar em trinta minutos.

~~

Começou a caminhar pela rua que agora se encontrava bem movimentada, com pessoas indo de um lado para outro, algumas com crianças e outras sozinhas, algumas com roupas sociais e outras com roupas simples de caminhada, por um curto momento atentou a face a uma 'vitrine' não evitando espremer os olhos pelo relógio marcar sete e vinte, voltou a atenção ao celular.

— Não... não pode ser. — Conteve o ar a tela estava completamente travada nas sete horas. — Começou a andar em passos rápidos e quando deu conta já estava correndo feito uma maluca. Mas se tratando de Taira podia se tratar de vida ou morte.

— Ei. — Se atentou o resmungo ao tombar acidentalmente numa moça.

— Desculpa. — Pediu olhando para trás ao mesmo instante que sentiu como se tudo ao redor estivesse em câmera lenta, as pessoas e o tempo, uma energia familiar fez-se presente, incrivelmente poderosa e um tanto sombria que fez cada pelo do corpo se arrepiar e assim que se virou deu de cara com algo duro que a fez tropicar para trás ao mesmo tempo que tudo voltava ao normal.

— Aí. O quê? — Murmurou olhando para a frente.

Era só o que faltava ter batido num poste, mas acho que postes não andavam com um copo de suco que estava caído no chão.

Assim que levantou o olhar se surpreendeu ao se deparar com a figura masculina, era um homem de no mínimo 1,80 de altura, os seus olhos eram um estremo azul intenso que transmitiam uma completa raiva com os olhos semicerrados. O que a assustou foi que de imediato sentiu um choque passando por todo o corpo. A voz falhou.

Ele abriu a boca e abaixou o olhar e ela acompanhou o olhar notando que o copo caído no chão era consequência da parte de cima do terno dele agora molhado. Quando ele ergueu a face deduziu que levaria um xingo, mas ele se manteve mudo.

— Desculpa. — Pediu constrangida levando a mão a boca, olhando para todos os lados. — Juro que não lhe vi. — Firmou voltando o olhar para ele que inclinou os lábios numa expressão zangada, ele estava com o braço apoiado na porta de um carro preto de duas portas daquele ano muito bonito, ele entrou batendo a porta e dirigiu em disparada fazendo o motor ranger sem ao menos lhe dirigir a palavra.