Capítulo 12
A Novidade do Ciúme
Gabriel:
Houve mesmo um tempo em que eu não sentia ciúmes do Alex? Eu queria voltar a essa época, porque tudo o que eu conseguia nos últimos três dias era passar raiva toda vez que o tal "vizinho" aparecia a tiracolo de Alex.
Leo parecia que não sabia fazer outra coisa a não ser estar onde Alex estava. Eu me sentia nauseado toda vez que ele tocava em Alex , porque sempre me parecia que ele estava tentando algo. E pra piorar, agora que eu sei, que o Alex perdeu a virgindade com ele, sem nem mesmo ter algum tipo de sentimento por ele, fico toda hora me perguntando se o Alex iria se deixar levar novamente por ele.
Por que qualquer um via que o cara estava afim.
E tenho que confessar que o cara tinha lá seus encantos. Seria fácil pro Alex se interessar por ele, ainda mais que os dois já tiveram algo.
Alex e eu não conseguimos ficar muito tempo a sós depois disso. Parece que Renan e Leo também eram amigos e combinaram de fazer uma rodada de jogos na casa do Max, reunindo nosso pequeno grupo de amigos todos na casa dele.
Alex não era adepto a esse tipo de interações, então minha surpresa foi enorme ao escutá-lo confirmar presença.
Meu humor foi só ladeira abaixo depois disso. Eu não conseguia entender por que o simples fato de alguém ter tanta atenção assim do Alex me irritava tanto. Era como se eu nem estivesse presente na casa do Renan.
Certo. Se eu for pensar friamente, eu deveria estar contente que o Alex parecia se interessar por outra pessoa nessa altura do campeonato. Esse sempre foi o plano mesmo, não é mesmo?
Ele estava cumprindo com o nosso combinado. Teve um encontro com Kao, agora esse amigo...
Eu deveria estar feliz por ele. Então por que na verdade eu sentia que uma nuvem cinza se instalou em cima da minha cabeça? Me deixando com um humor tão obscuro que nem eu me reconhecia.
Era fato que eu não era monogâmico. Eu não enganava ninguém, sempre deixando claro que tudo que eu procurava era beijos, amassos e dependendo da pessoa, um algo mais baseado em sexo. Mas nunca fui do tipo que se prendia em ninguém...
Mas por que depois da noite de sexo quente com Alex, eu esperei que ele não estivesse a procura de mais ninguém. Droga. Minha cabeça estava tão confusa…
Estávamos todos na sala do Renan, latas de refrigerante e pacotes de salgadinhos espalhados por toda sala. O som de risos de alguns, misturados com xingamentos quando perdiam as rodadas, tomava todo o ambiente. Era meio caótico.
Estranhamente, eu que era viciado nesse jogo, não tinha cabeça pra isso hoje. Depois da segunda derrota consecutiva, desisto e cedo minha vez ao Max. Pensando bem, claro que eu iria perder facilmente, já que toda vez minha atenção era voltada aos dois no canto da sala, dividindo o mesmo puff, rindo de algo que parecia interessante no celular do Alex .
A vontade de me levantar e arrancar o braço que estava displicente jogado nas costas do Alex , era enorme. Mas eu me segurei e só conseguia olhar pra eles a cada dois segundos.
- Qual o motivo dessa cara feia? - Vini se senta ao meu lado e olha para mesma direção que eu. - Não vai me dizer que também é ciúmes?
- Ciúmes? - tento disfarçar, negando. - Por que eu estaria com ciúmes?
- Por que seu melhor amigo, está a noite toda dando atenção a alguém que não seja você.
- Claro que não.
- Eu sei que o seu ciúmes é diferente, mas eu entendo o que você está sentindo. - ele diz, e sua expressão também é fechada assim como a minha.
- Do que você está falando?
- Você está com ciúmes da sua amizade com Alex , já eu estou com ciúmes porque por mais que eu me esforce nunca parece que o Alex irá me olhar daquele jeito. - me lembrar de que o Vini, também era interessado romanticamente pelo Alex me deixa mais irritado ainda.
- Que jeito? - sinto uma quentura estranha se apoderar de mim. - Ele não olha de jeito diferente pra ninguém…
- Claro que olha. Vai me dizer que você não percebe a afinidade que os dois têm?
E pra confirmar o que o Vini dizia, Alex solta aquela gargalhada bem característica dele, e olhando para os dois assim, minha raiva cresce exponencialmente. Então eu simplesmente me levanto e dou um tchau a todos. Não tinha cabeça pra continuar ali.
Eles mal me olham, atenciosos no jogo e eu saio dali o mais rápido possível. Eu não conseguia entender por que estava com tanta raiva assim. Eu não tinha o direito de me sentir tão possessivo assim com as amizades do Alex .
Do lado de fora da casa do Renan, me dirijo ao meu carro, entro e bato a porta com mais força do que o necessário. Fecho meus olhos e tento me acalmar um pouco. Acho que eu estava fazendo uma tempestade em copo d'água.
Se eu pensar bem, eu estava sendo um tremendo de um hipócrita. Eu não tinha nenhum direito de me sentir assim em relação às amizades dele. Eu não posso achar ruim que ele tenha pretendentes.
Viro a chave do carro e quando dou a partida levanto meus olhos e levo um pequeno susto ao ver o Alex parado bem em frente ao carro. E meu coração dispara com a simples presença dele ali. Tão lindo... Mesmo com aquela cara de quem estava chateado com alguma coisa, algo nele fazia meu coração triplicar a velocidade com que batia em meu peito.
Desligo o carro e desço. Dou alguns passos e paro em sua frente. E me pergunto mentalmente por que tudo relacionado ao Alex nesses últimos dias, fazia eu me sentir totalmente perdido.
Alex:
A noite toda eu não conseguia deixar de sentir a estranha sensação de que Gabriel não estava confortável ali… Na verdade ele estava diferente comigo desde a noite anterior ao que aconteceu no meu apartamento entre nós dois.
Eu não conseguia ver e nem entender o por que ele havia mudado nesses dois dias, pois antes ele disse que queria mais... Que queria continuar com o que havíamos começado. E do nada ele muda.
Naquele mesmo dia, na faculdade ele vai embora e nem se despediu de mim. Deixei passar porque pensei que ele precisava de um tempo pra pensar sobre o que aconteceu entre nós, e talvez ele precisasse de um tempo sozinho.
No dia seguinte ele apareceu na doceria como sempre, mas mal chegou e disse que tinha um compromisso e saiu antes mesmo que eu pudesse dizer alguma coisa.
Minha sorte foi Leo estar lá e ter me dado uma carona pra casa. Até ele estranhou aquele comportamento do Gabriel, dizendo que eu tinha amigos estranhos.
E hoje, tudo estava completamente fora de contexto. Começando pelo fato de que Gabriel estava com a cabeça fora do jogo o tempo todo. Era muito raro ver ele perder, ainda mais para amadores como nossos amigos.
Quando vejo ele abrir mão de continuar jogando, tenho a mais absoluta certeza de que algo realmente estava errado com ele. E quando ele vai embora, mal se despedindo de todos eu não me aguento e vou atrás dele.
E agora estamos aqui. Na rua. Frente a frente um com o outro e eu não sei o que dizer ou perguntar. Simplesmente sinto que preciso estar com ele, não importa se ele está chateado comigo ou não. Três dias praticamente sem nos falarmos e eu já sentia uma falta enorme dele.
- Gabriel... - começo dando um passo à frente. Mas me calo sem ter certeza do que falar. Eu não poderia cobrar nada dele, não é?
- Conseguiu fazer com que seu amigo te deixe respirar um pouco? - ele pergunta ranzinza.
- Do que está falando? - estou confuso. Ainda mais sendo alvo do olhar raivoso dele.
- Do que estou falando? - ele repete minha pergunta e se aproxima mais de mim. Agora estamos a centímetros de distância um do outro e ele levanta a voz. - Do que estou falando, Alex? Foi só aquele cara aparecer, que você praticamente esqueceu que eu existo.
- Gabriel... - estou chocado com aquela explosão. - Eu não... Claro que eu não me esqueci de você...
- Não? - ele dá um sorriso sarcástico e cruza os braços, num claro sinal de irritabilidade. - No primeiro dia que ele apareceu você nem falou comigo na aula.
- Você não quis falar comigo. Quando eu voltei pra sala você estava todo emburrado. E nem me olhava. Achei que você não quisesse falar comigo.
- Quando fui te buscar na doceria você estava todo meloso com ele, claro que eu não iria ficar segurando vela pra vocês dois.
- Gabriel? Eu não...
- E hoje, vocês dois cheios de intimidade, tocando um no outro como se fossem namorados.
- Leo e eu temos uma história, mas isso não significa que temos algo. Ele é meu amigo.
- Eu também sou seu amigo… e nós…
- Ele não é esse tipo de amigo.
- Não é o que parece.
- Gabriel? Você está com ciúmes do Leo?
Vejo os olhos dele se arregalaram e ele dá um passo atrás.
- Ciúmes? Claro que não.
- Pois é o que parece. - eu não deveria, mas ele sentir ciúmes de mim me deixou…
Feliz?
Sem me controlar começo a sorrir, fazendo com que ele fique mais bravo ainda. Seu rosto está corado e suas orelhas já estavam num tom forte de vermelho.
- Repito, Leo e eu não temos nada além de amizade. - digo, tentando acalmá-lo.
- Assim como eu e você. E há três dias atrás estávamos transando. Ou seja, você acha mesmo que eu não devo me preocupar com essa amizade de vocês?
- Eu não sou igual a você, Gabriel. - agora quem está irritado sou eu. - Só por que você consegue dormir comigo e com outros ao mesmo tempo, não quer dizer que eu seja assim também.
- Eu não fiquei com ninguém desde... - ele começa a falar mas se cala.
- Não? - era meio impossível de acreditar. Gabriel sempre tinha alguém.
- Não.
- Desde quando Gabriel? - me aproximo dele novamente. - Desde quando você não fica com outra pessoa?
- Desde que eu soube que você gostava de mim.- ele responde de uma vez. Seus olhos fixos nos meus.
- Por que não?
- Eu não sei. Talvez porque eu fiquei mais preocupado em perder sua amizade do que em ficar com alguém. Eu não sei, Alex ... Eu só não... Tive vontade.
- E... Bom, você tem vontade de ficar comigo? - arrumo coragem de perguntar. Por que, céus... Eu queria beijá-lo agora. Levanto uma de minhas mãos e a levo ao rosto dele. Ele fecha os olhos e não me impede de tocá-lo, me dando esperança.
- Sim. - ele sussurra, baixinho. Então, eu simplesmente desfaço a distância que havia entre nós e o beijo. Ali mesmo. Em frente a casa de nossos amigos. Eu não me importo que nos vejam, e não sei se Gabriel também não se importa ou apenas não se lembra de onde estamos, por que ele retribui o beijo com a mesma vontade que eu.
O gosto doce dele, somado ao cheiro que só ele tinha, me faz esquecer de qualquer coisa também.
- Alex?
- Hum? - Eu o abracei mais forte, levando minha boca ao seu pescoço.
- Eu senti sua falta.
E essas palavras me fazem ficar estático. Eu também senti muito a falta dele, mas escutá-lo dizer isso, era algo que eu não estava preparado.
Levanto meu rosto e o olho. Ele me olha de volta, como se essas palavras o deixassem inseguro.
- Eu também sinto sua falta. - digo me sentindo mais leve. Ainda mais quando ele me abraça de volta e ficamos assim por um tempo. Apenas sentindo o calor do corpo um do outro.
- Vem comigo. - ele diz, se afastando e segurando a minha mão.
- Pra onde?
- Pro seu apartamento.
- Eu adoro ser convidado pro meu próprio apartamento. - e então nós dois sorrimos, com a atmosfera bem mais leve.