Capítulo 16
A Magia do Destino - Parte 2
Gabriel:
Eu meio que vim no automático para o apartamento do Alex . Sei onde ele guarda uma chave sobressalente. Entro e fico parado na sala, angustiado demais. Não sei o que pensei quando vim para cá. Será que imaginei que o lugar me ajudaria a ter um pouco de lucidez depois da imagem dele segurando aquele cheque?
Minha mãe sorrindo pra ele.
Céus, eu só queria tirar aquela imagem da minha mente. Mas estar aqui, olhando para aquele sofá que me trás tantas boas lembranças, não foi o suficiente para me acalmar. Por que ele não estava aqui. Eu precisava dele, não das coisas dele.
Então resolvo sair dali. Não havia nada para mim aqui... Subo para o terraço e me sento no banquinho por algum tempo. Eu não gostava daqueles pássaros. Não ao ponto de fazer mal a eles ou algo do tipo, apenas nunca fui bom com animais. Mas ao vê-los ficarem em volta da vasilha de ração que estava tampada resolvo me levantar e abri-la para eles. Mas em vez de fazer apenas isso, continuo depositando as pequenas porções de ração em cada um dos vasilhames que estavam distribuídos em vários lugares do terraço.
Também aproveito e reponho água nos bebedouros. Não sei o motivo, mas estar ali cercado pelas aves de certa forma fazia eu manter uma calma mental que geralmente eu não teria depois do que presenciei.
Um dos pássaros me surpreende voando até meu braço e pousando ali. Outro, em meu ombro. Fico estático. Se eu me mexesse bruscamente talvez os assustasse, sei lá.
E logo, outro faz a mesma coisa no outro ombro. Só espero que não façam cocô em mim. Penso, e esse pensamento me faz sorrir. Bem, se são capazes de me trazer um sorriso num momento tão conturbado da minha vida, não podem ser tão ruins não é?
Logo, outros aparecem e ficam voando ao meu redor, e o leve bater das asas deles fazendo com que eu fosse me acalmando mais e mais.
Alguns pássaros mais afastados de onde eu estava, começam a bicar algo que fazia um estranho barulho. Era tipo um pinicar irritante de algo sobre metal. E quando isso acontece todos os outros pássaros se juntam ao redor do que causou o barulho. Curioso me aproximo e vejo que era um objeto que lembrava bastante uma taça de prata pequena, dentro dela havia um papel roxo enroladinho, juntamente com uma caneta esferográfica. Na mesma hora me lembro do papel roxo com o desejo do Alex , e mesmo com o coração apertado pego o papel e o abro com cuidado. Esperava que algo estivesse escrito ali, mas não tinha nada. Era apenas um simples papel roxo.
Não era O Dia Das Bruxas, não era 12:01, e eu não acreditava nessas bobagens, mas eu precisava tentar qualquer coisa, não é? Acho que hoje eu entendia o por que de o Alex ter arriscado seu segredo ao escrever seu desejo naquele papel.
Quando peguei a bonita caneta, tive a sensação de que ela estava um pouco quente. O que era estranho, já que um vento gelado começava a me deixar meio desconfortável mesmo com meu moletom.
Decido não pensar muito nisso e escrevo o desejo que mais quero nesse momento. Depois de escrever, me pergunto o que fazer agora. Eu não sabia... Seja qual for o ritual que as pessoas faziam para que desse certo eu não fazia a mínima ideia. O que Alex fez?
Me lembro dos pássaros vindo em minha direção naquela noite, fazendo o papel entrar sorrateiro para dentro do meu carro. Eles vieram do terraço também. Então me dirijo ao parapeito, sentindo o vento bater em meu rosto bem mais gelado.
Fecho meus olhos e coloco todo meu pensamento no pedido que escrevi. Tem que dar certo. Por favor, que dê certo…
O papel está precariamente seguro entre meus dedos, e quando abro meus olhos eu o solto. Na mesma hora os pássaros passam por mim, todos eles formando uma espécie de redoma para o papel. Sinto meu coração disparar com a estranha formação deles.
Um arrepio percorre meu corpo e como o bom medroso que sou, resolvo sair dali, me sentindo um completo idiota por ter pensando por um instante que essa coisa de papel roxo poderia funcionar.
Desço as escadas sentindo a tristeza me tomar novamente, eu deveria ir embora, eu nem tinha que estar aqui pra começo de conversa...
Alex :
"Que Alex Cooper nunca deixe de me amar".
As palavras escritas no papel fazem acontecer algo dentro de mim que eu não saberia como explicar em detalhes. Apenas posso dizer que assim que as palavras saltaram aos meus olhos, meu corpo ganha vida própria e quando percebo já estou dentro do edifício, correndo e subindo os degraus de dois em dois em direção ao meu apartamento.
Será que ele ainda estava no terraço?
Meu subconsciente caótico gritando em minha mente se pergunta. Já estou sem fôlego quando chego ao meu andar e decido ir direto pra cima, mas antes que eu tenha chance de subir mais alguns lances de escadas, ali estava ele em minha frente.
Seus olhos vermelhos, a expressão de tristeza me quebrando mais um pouco. Ficamos apenas uns segundos parados de frente um para o outro e então sem que nenhum de nós falasse algo, damos mais uns passos e nos abraçamos.
Aperto meus braços em volta dele o máximo que consigo. Estava frio lá fora, estava frio em meu coração, mas agora com ele me abraçando de volta, sinto o calor retornar pouco a pouco para mim.
- Gabriel, eu não... - começo a falar mas ele me corta.
- Eu sei que não. - ele afirma, ainda com a cabeça enfiada em meu pescoço.
- Então por que você saiu correndo daquele jeito? - me afasto um pouco, querendo entender o que aconteceu.
- Alex, estou com frio, podemos entrar? - ele estava tremendo. Então minha preocupação com ele faz com que eu o pegue pela mão e o leve para dentro. - Vem.
Quando estávamos no conforto do meu apartamento, o levo direto para o quarto, tiramos os sapatos e o faço se deitar. Ele ainda está com aquela aparência de quem tinha chorado bastante e isso acaba comigo. Pego um cobertor e o cubro. Os olhos dele nunca me deixam. Quando me deito ao seu lado, ele automaticamente me abraça e ficamos assim por mais um tempo. Era a calmaria em meio ao caos que ele sempre me trazia. Sempre que tivemos algum desentendimento nesses dois anos de amizade, nunca nos afastamos um do outro. Não importa o quão bravo ou chateado estivéssemos. Ele sempre estaria ali por mim e eu por ele.
Quando percebo que ele não tremia mais, decido retomar nossa conversa. Eu estava feliz agora sabendo que ele ainda não havia desistido de mim.
- Gabriel? Por que você saiu correndo, quando me viu com a sua mãe ?
- Eu... Não sei. Entrei em pânico. Tive medo... Medo de que tudo se repetisse, Alex , eu...
- Eu nunca aceitaria! - Reafirmo.
- Eu sei. - Tento olhar em seus olhos, esperando encontrar alguma verdade ali. - Sério. Eu acredito realmente que você não aceitaria nada da minha mãe. Você não é como ela, mesmo que você não me ame...
- Mas, eu te amo. - digo, sem vergonha ou receio nenhum dos meus sentimentos.
Espero mais um pouco, querendo que ele continue. Que me responda. Então, ele se mexe, tentando se sentar e eu o imito. Ficamos assim, sentados na cama, lado a lado.
- Mas você deseja não me amar, não é? - ele fala e a tristeza em seus olhos é enorme.
- Isso foi antes, Gabriel. Levo uma de minhas mãos ao seu rosto, olhando bem dentro dos seus olhos. - Antes de você decidir querer ficar comigo. Antes eu achava que esse amor que eu sinto te afastaria de mim…
- Mas eu... Eu não sou bom o suficiente pra você Alex... Eu entenderia se você não me quisesse.
- Nunca mais repita isso, entendeu? - digo o puxando para mim. Querendo que ele acredite de todo jeito em minhas palavras. - Eu passei dois anos te amando, convivendo com todos os seus defeitos, Gabriel Bianchi. E isso não vai mudar, ainda mais agora, que eu sei como você é bom no sexo.
Ele sorri, com os olhos marejados e deixa sua cabeça pender sobre meu corpo. Como uma criança sendo mimada.
- Então é isso que te fez mudar de ideia sobre me amar? - ele resmunga numa clara demonstração falsa de mal humor. - Eu ser bom no sexo?
- Bem, sua personalidade eu já sabia como era. Ser bom no sexo foi uma surpresa muito agradável.
- Você é um idiota.
- Gabriel, você acredita que nossos desejos possam se realizar? - pergunto, mudando totalmente de assunto.
- Por que está me perguntando isso?
E para responder sua pergunta eu tiro o papel roxo que estava no meu bolso.
- Como encontrou isso? - ele se afasta de mim, parecendo constrangido.
- Provavelmente, do mesmo modo que o meu papel foi parar nas suas mãos. Mas eu não saberia explicar exatamente como e nem o por que.
- Alex , você acha que isso realmente pode dar certo? Tipo os desejos se realizarem por causa de um simples papel?
- Eu não sei. - digo me sentindo melhor.- Só sei que amei o seu pedido.
- Você nunca vai deixar de me amar, não é? - ele não me impede de me aproximar mais ainda o meu rosto do dele.
- Aquele nunca foi meu desejo de verdade, Gabriel. No fundo eu sempre desejei que você me amasse de volta.
- Eu sempre te amei, Alex . Eu apenas não sabia disso ainda.
- Bom, então no fim das contas eu devo agradecer ao MALDITO PAPEL ROXO.
E assim, colo meus lábios nos dele. De início gentilmente, apenas saboreando o quão macios seus lábios eram, mas quando ele invade a minha boca com a sua língua eu começo a me perder. Minha mente perde a batalha, e apenas as sensações do meu corpo passam a tomar conta de mim.
Minhas mãos enroscam em seus cabelos e eu perco o fôlego com a vontade alucinante que começa a tomar conta de mim, mas antes...
- Gabriel? - paro nosso beijo e ele me olha confuso. - Vem morar comigo?
- O que? - sua confusão se transforma em surpresa.
- Vem morar comigo. Eu não quero você com aquela louca da sua mãe.
- Alex... Aqui é sua casa. Eu não posso simplesmente me enfiar aqui e…
- Pelo amor de Deus, Gabriel… Você praticamente mora aqui. Vive enfiado nesse apartamento dia sim e dia sim. Só vamos oficializar a sua mudança.
- Você está realmente falando sério?
- Com toda certeza. Eu vou adorar ter você aqui comigo.
Ele começa a sorrir, começando a pensar na hipótese.
- Eu posso ajudar você, dividir as despesas, sei que meu trabalho de modelo pode me sustentar se eu começar a levar mais a sério e...
- A única responsabilidade que eu vou cobrar de você é uma só. - digo voltando a beijá-lo.
- Sexo?
- Não. Que você nunca esqueça de fechar as janelas quando for sair. Eu já te contei o episódio dos pássaros?
Gabriel
Alex aninha a cabeça em mim dessa vez, e o peso de suas palavras caem como uma bomba em minha cabeça.
Caramba. Isso era a vida acontecendo. Iríamos morar juntos. Então estávamos... Namorando? Nada tinha sido dito sobre isso e eu ainda achava que as coisas estavam indo rápido demais entre nós dois. Mas ao mesmo tempo, tenho que reconhecer que tivemos dois anos de atraso.
- Está nervoso? - ele me pergunta. Ele me conhece melhor do que ninguém.
- Um pouco.
- Você sabe que não precisa aceitar se não quiser, não é? - ele fala sério.- Não vou ficar chateado se você disser não e...
- Eu quero. Mas ainda não sei o que somos e isso é tão recente.
- Eu te amo. Você me ama. Somos namorados e não tem nada demais morarmos juntos.
- Namorados? - o olho cauteloso.
- Gabriel, não me diga que você ainda não me vê como seu namorado?
- Nunca falamos realmente sobre isso.
- Isso é por que a gente transa mais do que conversa. Talvez devêssemos mudar isso.
- Não... Eu não quero. - digo sorrindo o abraçando de novo e o puxando para minha boca. - Eu só preciso que você me beije sempre que puder. Por que Alex , eu sou seu e isso não irá mudar. Acho que morar com você será apenas uma consequência disso. - apesar do clima ameno e da brincadeira que ele fez, minhas palavras saem de uma forma mais intensa do que previ.
Alex está com os olhos arregalados e parece sem reação por um instante. Até que seus lábios estão de novo sobre mim.
- Gabriel, eu perco totalmente o chão quando você me fala essas coisas. - ele desce seus beijos pelo meu pescoço e eu já não consigo pensar em mais nada com clareza. - Eu te amo.
Sinto meu coração martelar desenfreado sempre que escuto ele dizer que me ama.
- Eu também te amo. - Então mergulho novamente em seus beijos, me derretendo toda vez que ele suspirava meu nome.
Acho que eu encontrei realmente a felicidade com ele. Acho não, tenho certeza. Por que seu toque, seu beijos... Tudo nele era sinônimo de felicidade.
Com Alex eu tinha encontrado meu lar...
Liz:
É quase meia-noite.
Enquanto estou no terraço, sinto a magia fluir até mim. Sorrio satisfeita de como as coisas iriam acontecer para Alex e Gabriel a partir de agora. Mas se algo viesse tentar prejudicá-los eu estaria aqui. Como uma fada madrinha, para protegê-los.
Os pássaros estão calmos agora.
Meus olhos se ajustam ao modo como o céu se transforma à minha frente. O breu da noite se modificando magicamente em um tom arroxeado e as estrelas se ascendendo quase que uma a uma diante dos meus olhos.
Era a prova que eu precisava.
O feitiço de proteção ao amor dos dois deu realmente certo.
- Liz?! - me assusto com o grito estridente do meu pai. - Que história é essa de feitiço de amor? - ele aparece no terraço, com a cara mais brava do mundo segurando meu livro marcado na página do feitiço.
- Droga. - falo baixinho. - Ferrou de vez.
Fim.
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