Hoje foi um daqueles dias em que Ari conseguia sentir a tinta engolindo-a até que ela não pudesse mais respirar.
Ela encarava sua pintura e o desejo de atear fogo nela a dominava. A tela branca perfeita estava manchada de preto, uma mulher com um rosto não identificado com membros cortados, com correntes amarrando todo o seu corpo — incluindo sua garganta e apenas as mechas de seu cabelo livres e voando acima estava gritando de agonia.
Seus olhos sangravam. Mas não era sangue que escorria por suas bochechas, e sim lágrimas semelhantes a piche.
Como era possível que preto sobre preto fosse tão claro, Ari não conseguia entender. Tudo o que ela sabia era que conseguia ver as lágrimas da mulher muito mais claramente do que podia ver seu rosto.
Ou talvez ela não quisesse ver.
Ela pegou seu celular e olhou para a caixa de mensagens vazia. Nicolai não havia enviado nenhuma outra mensagem além do fato de que ele estaria ocupado hoje, por isso ele não iria acompanhá-la na corrida.
