Era impossível saber com precisão como e de onde o ataque do Terrafryano viria. Mas, esperançosamente acreditando em suas palavras sobre não atacar civis, decidiram montar defesas num bairro evacuado da cidade, esperando que ele viria até eles.
É uma decisão idiota e que deixaria eles em desvantagem? Obviamente. Mas o que poderiam fazer? O inimigo tinha posse de um veículo grande, asonoro e irrastreável por qualquer tecnologia que eles tinham em mãos. Infelizmente, aquela era a sua única opção.
Em uma formação circular externa, virada para todas as direções possíveis, estavam praticamente todas as defesas que a AE e a prefeitura conseguiram mobilizar nas poucas horas que tinham. Dezenas de tanques, helicópteros, veículos equipados com armas de supressão e destruição... Que nem se comparavam à principal força ali.
Uma garota de cabelos loiros segurava uma gigantesca espada, presa ao chão. Essa garota estava no meio daquela formação, e não para ser protegida, mas para protegê-los. Mesmo que não parecesse, ela sozinha era capaz de lidar com um ou dois mil soldados. Mas apenas isso não a fazia uma Sól... Tinha algo a mais.
Cristine tinha algo a destacar. Todo seu corpo abaixo da linha do pescoço, estava coberto com uma estranha armadura... Ou se parecia mais com um exoesqueleto, uma carapaça, uma couraça. A superfície das placas daquela armadura era rústica, e aos olhos era mais como algo rochoso do que um metal em si. E suas brechas brilhavam em uma luz amarela fraca, destacando suas articulações.
O que separava sua cabeça dessa estranha armadura era uma linha na altura de sua garganta, que constantemente continuava a soltar faíscas. Como se fosse uma espécie de transformação parcial, que piscava incansavelmente esperando para cobrir todo seu corpo.
Uma estranha luz começou a se tornar mais forte em seus pés. E essa luz foi condensando e condensando até começar a formar uma espécie de propulsor. Com isso, Cristine começou a flutuar no céu, se sustentando a alguns metros no ar, para que todos os soldados pudessem vê-la.
— Tropas! Não se abalem! O inimigo pode chegar a qualquer momento! – Ela começava seu discurso, iluminando a alma dos soldados com esperança, como sempre fazia. – Mantenham a coragem! Mantenham a firmeza! Mantenham a-
De repente, uma luz surgiu.
Não a esperançosa luz amarela... Mas a desesperadora luz azul.
— AAAAAH! M-MINHA PERNA!
— E-ESTÃO MORTOS!
— ATAQUE! ATAQUE!
A luz era derivada de uma explosão. Uma pequena, porém concentrada explosão de energia, que pulverizou alguns soldados e dilacerou os que estavam nas extremidades. Em desespero, homens gritavam e atiravam para todo canto.
— ATIREM! ATIREM NAQUELA COISA!
— LÁ ESTÁ! ARMAMENTO PESADO!
— ESQUADRÕES, ABRAM FOGO!
Mesmo sendo soldados treinados, e tendo em sua vida inteira experienciado cenas de guerra, nenhum dos homens ali era imune ao medo que Rei causava. O desconhecido que podia ceifar suas vidas com as mãos, era assustador.
Foi muito rápido para a garota. O ataque ocorreu de repente, e ela ainda estava chocada com a cena de alguns homens, apenas com suas partes superiores, tentando se arrastar pelo chão.
Chocada demais para notar a escuridão que a sombra da nave causava.
Tão escura quanto à noite, a Frostbite de Rei já estava ali há muito tempo.
Canhões eram lançados em direção aquela monstruosidade, mas não conseguiam sequer acertar. A nave era a maravilha da engenharia: muito grande pra ser inofensiva, muito pequena para ser lenta.
Quanto às outras armas, apenas batiam na lataria, e não causavam o mínimo dano. Nem mesmo ao ser que descia dela.
— Hoho, obrigado por me esperarem, queridos anfitriões. Me perdoem por chegar de forma tão silenciosa.
Aquele demônio branco era a coisa que mais se destacava no céu escuro. Estranhas asas insectóides batiam em suas costas, enquanto ele descia tranquilamente de uma abertura na neve.
Seus braços abertos e sua aura arrogante, dava aos soldados a maior sensação de medo que já sentiram. Era como se ele abraçasse e tomasse para si o destino de todas aquelas vidas, como se não fossem nada.
Cristine só conseguiu acordar, quando notou mais daquelas explosões. Os tão poderosos veículos de guerra derretiam, como se fossem brinquedos de plástico.
Seus olhos se enchiam de raiva, enquanto ela virava sua cabeça para trás, encarando Rei.
— Você... seu... MALDITO!!
— A capitã, eu suponho? Venha, me entretenha, senhorita!
×××
Nos arredores do parque de Rivertown, um carro trocava do asfalto para a estrada de terra. Com a pintura corroída e o porta-malas tão cheio que só foi possível deixá-lo escancarado, duas irmãs cantavam uma simples música de estrada.
Pelos primeiros minutos.
Agora, ambas pareciam bem entediadas, na verdade. Lilly focava em dirigir pelas estradas escuras, enquanto Mia se deitava sobre a porta do carro, olhando para a janela. Sem bateria no celular e sem sinal para ouvir rádio, a garota estava morrendo de aborrecimento.
— Mia, realmente tá tudo bem?
— O que quer dizer?
— Cê sabe... Já faz um tempo que você tá quieta aí - Tentando recuperar o clima de alguns minutos atrás, Lilly tenta puxar um assunto.
O tédio fazia parte das possíveis causas, mas nem mesmo a própria Mia sabia o motivo de estar olhando o céu à tanto tempo. Mas algo lá fora ainda chamava sua atenção, mesmo que inconscientemente.
— As azuis são mais bonitas... Lembra disso? – A irmã mais velha dizia, enquanto também começava a olhar pro céu pelo retrovisor.
— Sim... ela sempre dizia isso. Talvez seja por isso que aquilo me chamou tanto a atenção.
Devido ao efeito que a atmosfera causava na luz, as estrelas na vastidão noturna não eram tão diferentes assim umas das outras. Mas havia uma mulher, que tinha o poder de diferenciar cada uma delas: Dora Lane
Nesse mesmo acampamento, ambas as garotas estavam acostumadas a ouvir sua mãe falar por horas sobre essas bolas de fogo espaciais. Inclusive lembram da primeira vez que sua mãe disse que não havia lâmpadas no céu... Na inocência da infância, elas choraram o dia inteiro ao saber disso.
— Aliás, Lilly. Quantas constelações você memorizou esse ano?
— Não muito. Só consegui 3, por conta do trabalho e dos estudos. E você?
— Hehe... 5! Estou na frente finalmente!
Realmente, o céu de hoje parecia tão diferente...
— Irmã
— Sim?
— Você acha que existem aliens?
Mal sabiam as duas garotas, que literalmente um dia depois, um alienígena faria uma transmissão mundial... Que elas não assistiram, por não terem sinal algum.
— Talvez. Mas se existirem, não acho que seriam baixos e verdes, como os que você pensa.
— Ahh... Aliens baixinhos seriam tão fofos – Ela fazia um biquinho.
— Por que seriam fo-... enfim. Acho que eles seriam mais parecidos conosco do que você imagina.
Ainda com sua vida ocupada, trabalhando para sustentar sua irmã, Lilly era uma excelente estudante de biologia excelente. Ela não lembraria exatamente o artigo, mas se lembra de uma vez ter lido sobre uma estranha teoria, a da "Evolução Convergente"
Em sua base, a teoria citava que a evolução de quase todo ser vivo tende a seguir por um caminho, mesmo que de forma independente. Por exemplo, diversas vezes pernas, olhos, comunicação fonética, já evoluíram em animais com árvores genealógicas completamente separadas entre si.
Então, Lilly passou alguns minutos explicando tudo isso à sua irmã, com um sorriso no rosto que só mostrava ao falar das coisas que ela gostava.
— É exatamente por isso, que eu acho que os aliens seriam iguais a nós. Não que sejamos o melhor exemplo de evolução a ser seguido, mas gosto de pensar que o caminho humanóide sempre ocorre.
— Wow... só fiz uma pergunta, e agora estou com dor de cabeça.
— Mia! – Um pouco envergonhada por se deixar levar, Lilly exclama, com seu rosto vermelho.
Então, ela tenta mudar de assunto, buscando algo mais divertido de se conversar.
— E se você encontrasse um? O que acha que faria?
— Não sei... talvez namorar com ele? – A garota responde, sorrindo com sua voz em um tom brincalhão.
— Eew, que nojo, Mia.
— Ué? Por quê? Você não acabou de dizer que eles podem ser similares a nós? E se acabar sendo um homem bonitão? Ele pode acabar sendo um Leonard Di Capuccino!
Leornad Di Capuccino era o ator preferido de Mia, que já trabalhou em muitos filmes. Até mesmo o famoso Tutinic.
— Não era desse tipo de similaridade que eu tava falando, sua idiota! O que eu quis dizer é...- Ah esquece, já chegamos mesmo, guarde esse assunto pra depois, porque eu vou enfiar a teoria completa nessa sua cabecinha oca!
Próximas ao local reservado e protegido para os turistas, ambas voltam a focar em olhar em volta. Mia por outro lado, dá pequenas risadas sozinha, pensando no quão bobo e irreal era a ideia de aliens..