Chapter 7 - A Luz

Como dois relâmpagos cruzando o céu noturno, Rei e Cristine se misturavam aos lasers, tiros e explosões naquele local que aos poucos era completamente destruído, em uma cena linda e aterrorizante ao mesmo tempo.

Quando um descia até o chão, ou tocava seus pés em uma construção, era alvejado pelos projéteis do outro, e subia novamente ao céu, se envolvendo numa luta física intensa. Esse laço contínuo se repetia, enquanto os sons de suas armas batendo se misturavam numa bela melodia.

— Você é até que forte, garota. Eu retiro os números que disse anteriormente, provavelmente são maiores.

O rapaz continuava a estocar sua lança, sorrindo como se estivesse gostando daquela situação. Tantos anos como um soldado não o permitiam esconder sua excitação por uma boa batalha.

— São números suficientes para matar você, seu bastardo!

Mas ao contrário dele, que se deleitava com a animação, Cristine mal conseguia pensar direito, naquela situação traumatizante.

Lutar em batalhas sangrentas contra aliens nunca fez parte do dever de um Sol, eles apenas ajudavam pessoas. Acidentes, fenômenos naturais, desastres ou até monstros podiam ser considerados normais. Mas isso? Era irreal demais.

Ela apenas sentia raiva, misturada a uma leve dose de desespero. Ela queria pará-lo, e parar com tudo aquilo.

Novamente erguendo sua espada acima de sua cabeça, mais luz dourada se juntava em sua lâmina.

— Morra! [Light Slash]

— Oh, tem nome? Pena que é-

Novamente o Terrafryano havia levantado uma grande coluna de gelo... Que foi atravessada.

Ele desvia para o lado no último segundo, mas acaba percebendo um brilho diferente nos olhos de Cristine.

Ela finalmente vê uma ponta de esperança, ao notar o que Rei deixou para trás.

— Merda! Meu braço!?

O membro decepado de Rei caia lentamente pelo ar, até ser atravessado pela própria lâmina dele, que estava presa aos elos de uma corrente de gelo.

— Acha que isso é um problema pra mim? Não me faça rir!

Enquanto o Terrafryano o puxava para si e colocava seu braço de volta no lugar, Cristine não conseguia agir. Ela ficou focada demais em um estranho detalhe... seu braço estava se "destransformando"?

Ela tinha certeza de que viu pele. Não pele branca alienígena, mas pele normal se formando no braço decepado.

De repente, ainda segurando o membro arrancado, Rei gritava olhando em direção à sua nave.

— Nix! Ithem hith nazur lein!

A nave parecia se virar para ele... e atirar contra o próprio aliado?! Um estranho raio avermelhado o cobria, e seu braço se juntava novamente no lugar.

A esperança de Cristine esfria, ao perceber que ele parecia até mais recuperado.

— V-Você... Da próxima vez eu vou carbonizar! E não vai sobrar nada pra-

— Ah, não se preocupe, eu me regenero. Só não quis perder muito tempo na ponte de calor, então usei meu braço arrancado. Agora, voltaremos ao que interessa.

A garota notava que ele estava erguendo sua mão, prestes a fazer outro estrago daquele. Ela avança sem hesitar, e consegue cortar a cabeça dele.

— Hã?! E-Eu consegui?!

Mas ela não sentiu como se estivesse cortando carne, e sim como se tivesse acabado de cortar… gelo?!

De repente, uma intensa onda de frio a atingiu nas costas.

— C-Como?!

Ela claramente havia cortado a cabeça dele.

Mas ele estava atrás dela.

E na frente ao mesmo tempo?!

A garota podia sentir seus ossos congelando, sua pele rachando e sua armadura perdendo o brilho. Não era uma simples proximidade como antes, e sim um ataque direto de gelo.

— O que é isso?! Clones?!

— Nah, não. O real sou eu, mas você ainda acredita no que cortou.

Ao dizer isso, Rei desaparece pelo céu noturno. Cristine vira sua cabeça pra todos os lados, desesperada, mas seu cérebro força ela à focar no maldito clone de gelo sem cabeça em sua frente.

Um calafrio passou pela espinha dela.

Mesmo coberta de gelo, e com seus movimentos lentos, ela foi capaz de desviar. O lugar onde estava agora tinha uma lança fincada no chão, que se dissolvia em água.

Ela finalmente podia vê-lo novamente, ainda intacto no céu.

— Ho, que velocidade em escapar da minha habilidade. Enfim, não me importa, eu ainda não usei nem metade das cartas em minha manga.

×××

Enquanto a batalha entre a Cavaleira humana e o Demônio terrafryano alcançava seu auge, no cenário ao fundo, quase 60% das tropas humanas estavam fora de serviço. Isso se deve à eficiência da IA.

Soldados continuavam a amaldiçoar e xingar quem estaria pilotando aquela coisa, mal sabendo eles que não era nem mesmo uma criatura viva. Enquanto fazia cálculos complexos e dizimava esquadrões, Nix tentava contato com Rei.

— Jovem mestre! Responda! O que houve com o seu comunicador?!

A razão? Um perigo iminente que causaria problemas para Rei e interromperia seu plano... Um projétil, provavelmente explosivo, estava indo em sua direção.

Visando proteger seu mestre, Nix moveu-se na frente desse objeto, enquanto uma luz avermelhada atingiu uma das quatro turbinas, causando danos significativos.

Uma explosão apareceu no céu... Não uma explosão de fogo, mas energia azul pura.

Rei reconheceu aquele som e aquela luz azul. Olhando para trás preocupado, ele percebeu o que havia acontecido: Um cristal de Hipergelo, posicionando nos motores de sua nave, havia explodido. O que explodia junto era à raiva de Rei, ao notar o recurso perdido.

Naquele momento, ele notou vários outros projéteis se aproximando a velocidades intensas. Mísseis estavam sendo lançados de... Navios flutuantes? Rei não tinha recebido informações sobre isso.

Agora, pensando nisso, muitas coisas estavam erradas...

De onde vinham as habilidades de luta de seu oponente, se o Respeitável disse que os humanos não passaram pela Metaevolução? Eles deviam ser seres orgânicos fracos...

Não poderia ser... Traição?!

— Nix! Traga a nave mais perto! Precisamos recuar! – Nesse momento, Rei lembrou que seu comunicador estava quebrado.

— MALDITO! TENTANDO FUGIR?! – Aproveitando uma oportunidade, Cristine aplicou uma sequência de golpes de espada. Mesmo retardados pelo gelo acumulado, eles ainda eram letais.

Enquanto tentava bloquear os golpes de Cristine, ele planejava algo para desviar dos projéteis e manter sua Frostbite inteira. Não havia forma de comunicação, então seu último recurso era gritar.

— Nix! Cruto ut hiro! Iszsy!

Cristine não pôde entender nada, então provavelmente era a língua nativa do alienígena. Mas ela não precisava entender para saber que ele realmente estava tentando escapar.

Ao ouvi-lo, Nix moveu a nave mais perto, e Cristine se aproximou como um raio, enquanto ele a perdia de vista. Talvez houvesse muito em sua mente, e Rei esqueceu da batalha.

— Nix, abra a por.. ta...

A dor percorreu todo o corpo de Rei.

Olhando para baixo, ele viu uma espada atravessando seu peito.

— MESTRE!

Para um ser que não deveria sentir emoções, Nix parecia desesperada.

Enquanto Cristine retirava a espada do peito de Rei, fazendo-o cair do céu em alta velocidade, a nave passou rapidamente com uma porta aberta e conseguiu pegá-lo antes de atingir o solo.

Instantaneamente, Nix começou a se retirar, voando em alta velocidade para longe dali. Infelizmente, era tarde demais.

— Olhem para o céu! – disseram os soldados, esperançosos. – É o Segundo Sol! Ele vai pegar o invasor!

Uma luz vermelha brilhante cruzou os céus em direção a Rei, que estava inconsciente na nave. O que antes era uma batalha unilateral agora era uma perseguição.

— Maldição... Nix... Salve os dados... – Rei ordenou, arrastando-se em direção às paredes de entrada, procurando algo para se apoiar. Um líquido prateado cobria o chão enquanto ele lutava para se manter acordado.

— Salvar os dados!? O que pretende fazer, jovem mestre?!

— Eu vou... evacuar.

Do lado de fora, estranhos flashes de luz vermelha cobriam o céu enquanto o que parecia ser um meteoro continuava a seguir.

Com uma explosão, outra das turbinas foi destruída. Com isso, a velocidade diminuiu, e o meteoro se aproximou pouco a pouco.

— Lembre-se... Nix... Não entre em contato com Terrafrya.

— Senhor?! O que quer dizer com isso?!

— Fomos traídos. Londore Zui não me enviou em apenas uma missão qualquer. Ele me enviou em minha missão suicida.

— Não pode ser... Mestre... Se evacuar, você vai...

— Morrer? Nunca.

Salvar os dados basicamente significava um comando: Armazenar tudo em uma caixa segura e desligar os processos. E evacuar significava pular da nave.

— Escute, Nix... Tenho a honra e o sangue do Azure... e essa traição não será perdoada. Terei a cabeça de Zui em minhas mãos.

A porta da espaçonave abriu lentamente enquanto Rei se agarrava a uma coluna. Sua forma demoníaca derretia como gelo, revelando sua forma humana, enquanto ele se cobria com seu capuz preto.

Em vez de se despedir, Nix disse algo a seu mestre.

— Desejo boa sorte, Azure Rei, meu comandante. Lá embaixo, há uma cadeia de rios, e você deve pular no momento em que a porta estiver completamente aberta. Dessa forma, você pousará em segurança.

Nem a possibilidade da morte de seu mestre, nem a destruição cruzaram os processos de Nix. Se ele mencionasse o nome do Azure, ele o faria. O oposto era simplesmente ilógico em sua programação.

Finalmente, a porta se abriu completamente.

— Luz para Terrafrya, meu senhor.

Com as mãos no peito, mais por orgulho do que por dor, Rei respondeu com uma frase final...

— Luz.

Então, ele mergulhou centenas de metros pelo céu escuro. Sua roupa o ajudou a não ser percebido enquanto estava em queda livre.

Ao longe, ele podia ver sua nave sendo abatida numa explosão, enquanto mergulhava na água... perdendo a consciência.