Ele era ingênuo. Ele havia subestimado o que significava ser um guerreiro. Isso não era um filme, ou um anime, era a vida real. Ele teria morrido no local se o seu salvador estivesse atrasado demais. Rui pensou que ele poderia apenas treinar e se tornar um guerreiro, mas subestimou severamente o temperamento e a resolução necessários para lutar com sua vida em jogo. Como ele, um ex-morador do século vinte e um, poderia entender? Ele nunca havia lutado na vida, nunca. Ele não entendia quão forte o medo primal da morte estava enraizado na alma de alguém.
Artistas Marciais não eram artistas decorativos e estéticos cujo trabalho era parecer legais. Eles eram guerreiros, assassinos, protetores, caçadores, pioneiros, eram pessoas que lutavam todos os dias com suas vidas em risco. Eles trilhavam o Caminho Marcial sabendo que cada passo poderia facilmente ser o último.
Ele possuía tal resolução?
Aquele dia havia tornado a resposta clara.
Ele não tinha. Ele era indigno de ser um guerreiro, um Artista Marcial.
"Você está errado."
Disse o homem que o salvou. Ele caminhou até ele e sentou-se ao seu lado, afagando sua cabeça. Seu gesto era quente e gentil, mas sua mão era pesada e áspera, como uma rocha.
"Garoto, você quer ser um Artista Marcial, certo?"
Rui assentiu; ele ainda estava sufocado pelas emoções.
"Mm, claro que sim. Não há outra razão para uma criança da sua idade se submeter ao treinamento pelo qual você passou." Ele observou.
"Você se acha indigno de ser um Guerreiro por causa do medo e do desespero que sentiu?"
Era como se o homem pudesse ler o coração de Rui. Rui assentiu, relutantemente. O homem sorriu em resposta.
"De fato, você estava bastante patético, não vou mentir. Você tremia de medo e desespero enquanto era pressionado contra o chão..."
As palavras rasgaram um buraco no coração de Rui.
"... Mas se você é digno ou não de ser um Guerreiro, meu filho, depende do que você faz daqui para frente."
Ele se virou para Rui, que encontrou seu olhar em troca.
"Não existe uma única alma que não tenha sentido medo e desespero incapacitantes. Até mesmo os Artistas Marciais mais fortes que podem rachar a Terra com um dedo experimentaram o que você passou. O que separa os fortes dos fracos, é se alguém supera esse medo e se esforça para seguir em frente."
Rui cerrava os punhos e rangia os dentes.
"Diga-me, garoto, você vai se render ao seu medo?"
"Nunca... Nunca mais!" Rui jurou, mesmo enquanto lágrimas de frustração, vergonha e raiva escorriam de seus olhos. Cada músculo em seu corpo estava tenso, ele sentia como se cada célula de seu corpo estivesse unida enquanto ele gravava seu juramento em cada uma delas.
"Nunca mais deixarei o medo e o desespero me dominarem!"
O homem sorriu ao olhar o fogo nos olhos do jovem garoto.
Rui se levantou e fez uma reverência profunda ao homem. "Obrigado por salvar a minha vida."
"Estou apenas cumprindo o meu dever." o homem se levantou, afagou a cabeça de Rui mais uma última vez e se afastou.
"Fique seguro garoto. Eu gostaria de ver você se tornar um Guerreiro, você tem o que é necessário."
Rui assentiu, antes de fazer uma última reverência. Ele fez seu caminho até o mercado, antes de voltar para o caminho de casa.
"Ah, esqueci de perguntar o nome dele."
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Ele encontrou Farion no caminho de volta para casa, explicando o que havia acontecido, deixando Farion em choque. As coisas só pioraram quando ele chegou em casa. Todos os cuidadores adultos não paravam de paparicá-lo, e constantemente fazendo carinho e abraçando-o, parte para reafirmar seu bem-estar e também para acalmar sua ansiedade. Lashara chegou ao ponto de quase proibir que ele saísse do Orfanato por paranoia, mas ele conseguiu fazê-la mudar de ideia sobre isso, embora não completamente. Rui teve que ficar nas proximidades do orfanato ou estar sob supervisão se quisesse ir mais longe.
Ele não teve escolha senão aquiescer com grande relutância.
Ele havia decidido pular o treinamento pelo resto do dia, e passar um tempo com seus irmãos e irmãs, ele queria uma mudança de ritmo.
"Heh, você finalmente decidiu se juntar a nós para jogar Cartas, hein Rui?" Horatio perguntou enquanto abria espaço para Rui.
Nos últimos sete anos ele havia forjado laços inquebráveis com cada um dos membros do Orfanato. Ele gostava de passar tempo com o rabugento Farion, a travessa Nina, o pragmático Horatio, a reservada Mica e o inteligente Julian. Quando Rui entrou pela primeira vez no orfanato, os adultos ignoraram a superstição boba referente ao seu cabelo e olhos, e as crianças rapidamente seguiram o exemplo, em grande parte devido à sua ignorância, expressando adoração por como ele era fofo.
Os últimos sete anos o fizeram desenvolver uma grande afeição por cada um deles e pelo Orfanato como um todo. Quase a ponto de ele preferir ficar com eles a sair para se tornar um Artista Marcial.
('Quase, mas ainda não suficiente.') Ele refletiu.
Sua vontade renovada e determinação depois do incidente daquela manhã não o permitiriam não se tornar um Artista Marcial, ele apenas sentia um pouco de tristeza que isso eventualmente o levaria para longe de sua família. A Academia não apenas cuidava da moradia e alimentação, mas também exigia que seus alunos ficassem nos dormitórios da Academia. O Caminho Marcial era um que exigia disciplina, que só poderia ser totalmente imposta se a Academia regulasse a vida dos alunos do amanhecer ao anoitecer. Mesmo uma vez formado, ele suspeitava que teria que passar longas horas, dias e talvez até semanas longe de sua família.
Ele certamente se tornaria um pouco distante deles, era inevitável. Embora ele sempre os amasse, períodos prolongados de separação provavelmente amorteceriam suas emoções. Ele não era uma pessoa muito sociável, mesmo em sua vida anterior, seus pais morreram cedo, e desde então ele nunca forjou um único relacionamento significativo ou mesmo amizade.
('Farei o máximo destes tempos, então, pelos próximos seis anos... Depois terei que deixá-los.') Era uma pena para Rui. Ele rapidamente afastou esses pensamentos antes de se envolver no jogo.