Erlos preparou-se para retornar ao palácio.
Embora ele tivesse seu próprio quarto no palácio, de vez em quando, quando se sentia cansado demais e achava que já tinha suportado o suficiente de seu mestre insensível, ele retornava a esta casa. Esta era sua casa, o local onde ele se sentia mais relaxado, cercado pela natureza e por seus parentes. Sem mencionar que este era o território da Alta Anciã Leeora. Ela cuidava dele e o tratava bem como seu próprio neto.
Quando saiu de casa, viu Leeora cuidando de mudas recém-crescidas de ervas que pareciam preciosas. Eles eram vizinhos, suas moradias nas árvores conectadas uma à outra por uma ponte pênsil.
A velha senhora sorriu. "Partindo?"
"Eu tenho alguma outra opção?" ele perguntou enquanto descia de sua árvore, desaparecendo dali e deixando para trás nada mais que uma lufada de vento forte.
Se humanos vissem esse espetáculo, pensariam que ele possuía poderes de teleportação como seu mestre, mas só porque seu corpo estava se movendo rápido demais para os olhos mortais acompanharem. Era como se ele tivesse se transformado no próprio vento.
No entanto, embora estivesse se movendo em uma velocidade alta, invisível aos olhos dos humanos, seus companheiros elfos podiam vê-lo correndo como se sua vida dependesse disso. Ele fazia muitas pontes pênsil balançarem ferozmente para a esquerda e para a direita, e as folhas secas no chão explodiam em direção aos transeuntes inocentes que estavam no lugar errado.
Tendo perturbado o que deveria ter sido uma manhã pacífica, muitos elfos clicaram a língua e comentaram ao ver aquele jovem elfo de cabelos prateados.
"Oh, ele voltou?"
"Sim, e agora ele se foi."
"Tsk. Parece que está atrasado outra vez."
"Cuidado! Espírito, você quase me fez cair," um elfo gritou para Erlos enquanto ele abraçava as cordas de vinha da ponte pênsil que estava atravessando.
"Esse garoto precisa ser disciplinado. As ervas que eu deixei secando lá fora quase se espalharam por todo lugar."
Apenas a risada de Erlos e um pedido de desculpa insincero podiam ser ouvidos enquanto ele continuava seu rastro de destruição. Não era nada de novo para ele, e até aqueles elfos não levavam a sério o que diziam, pois já estavam acostumados ao seu comportamento travesso.
Contrariamente à natureza mais pacifista da maioria dos elfos, os Altos Elfos eram altamente agressivos. Eles eram, de fato, semelhantes aos antigos magos de batalha. Considerados a realeza dos elfos, os Altos Elfos eram os elfos mais fortes e os protetores de seu povo, capazes de usar feitiços mágicos com múltiplos atributos.
Apesar de sua pouca idade, Erlos era um Alto Elfo que possuía várias habilidades como força, velocidade, resistência, durabilidade, agilidade e reflexos que superavam até mesmo os talentos mais notáveis dos outros clãs elfos. Além disso, os Altos Elfos tem uma inclinação para a arquearia e Erlos, em particular, era especialmente dotado neste aspecto, mas raramente tinha a chance de usar qualquer uma de suas habilidades como servo no palácio. Tudo o que restava para ele era sua resistência.
Afinal, servir seu mestre insensível exigia não apenas resistência física, mas também muita paciência e forte força de vontade.
Erlos chegou à câmara do Rei num instante e, após verificar que não estava atrasado, rapidamente ajeitou seu cabelo prateado desordenado. Ele lambeu os lábios, um pouco triste que Leeora lhe tivesse dado apenas um único elixir, mas era claro poderoso o suficiente para revitalizar seu corpo e enchê-lo de energia. Ele suspirou aliviado antes de abrir a porta.
No momento em que entrou na câmara de seu mestre, viu o homem alto já acordado e conversando com sua coruja de estimação.
"Certifique-se de não cometer nenhum erro ou não poderá mais voar."
'Ahh, ele decidiu oferecer uma ameaça logo de manhã. Como esperado do meu mestre.' Erlos piscou e lançou um olhar de pena para a pobre coruja. Meia-noite captou sua expressão e piscou de volta para ele, como se dissesse 'O que eu posso fazer?' Ele então cumprimentou seu mestre, "Bom dia, Senhor."
Draven não respondeu e simplesmente encarou a coruja que usou aquela chance para fugir.
Erlos olhou para o chão e encontrou pegadas lamacentas no piso de mármore e no tapete. Ele também viu a visão familiar do roupão de dormir do Rei e as roupas que seu mestre usara no dia anterior jogadas no chão.
'Aqui começa o meu dia! Limpando a bagunça dele,' ele suspirou interiormente. No entanto, ele não conseguiu impedir sua boca de reclamar. "Eu limpei o chão antes de sair ontem. Por que há pegadas sujas no chão?"
"Fui brincar com um ratinho," Draven respondeu.
Não importava para Erlos quem ou o que era o ratinho. Tudo o que ele tinha em mente eram os afazeres que precisava realizar, começando por limpar essa bagunça.
Ele pegou as roupas do chão e arrumou as botas de um lado. "A Anciã Leeora disse que levará aquela garota humana com ela hoje."
"Hmm," foi tudo o que Draven respondeu.
Erlos não disse mais nada e foi ao compartimento anexo para preparar o banho para seu mestre. Lembrando-se da conversa que teve com Leeora, ele não pôde deixar de zombar.
'Descendente do clã elfo mais forte, eles dizem. E o que está fazendo esse precioso descendente? Lavando roupas, limpando o chão, servindo comida e cuidando de um adulto crescido como se fosse meu próprio filho.'