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Como Melanie mencionou quando elas estavam saindo do dormitório, as primeiras fileiras das arquibancadas estavam cheias. Até alguns professores tinham vindo dar uma olhada no jogo que começaria em quinze minutos. Julie ofegava por ar enquanto Melanie a fizera correr metade do caminho para que não se atrasassem. Com o céu lentamente escurecendo, os holofotes estavam acesos, permitindo que os espectadores vissem o campo aparado.
Os estudantes estavam barulhentos, criando um burburinho. Julie, que procurava por assentos vazios, puxou Melanie, "Olha lá! Tem três assentos," e arrastou sua amiga consigo.
"Deus abençoe seus óculos com mais spray para limpar," respondeu Melanie.
Elas abriram caminho desde a frente e subiram as escadas, espremendo-se entre os estudantes antes de alcançarem e sentarem. Embora não fossem os assentos do centro, elas ainda veriam os jogadores no campo.
"Eu nunca soube que Conner estava interessado em jogar futebol," comentou Julie, com os olhos observando a multidão de alunos ao redor delas.
"Estou surpresa que eles estejam deixando ele jogar. Estou preocupada que ele vá acabar na enfermaria antes do fim do primeiro tempo," murmurou Melanie porque Conner era magro na constituição física. Ele havia sido rejeitado nos últimos dois anos quando se inscreveu para fazer parte disso.
"Talvez ele seja mais forte do que aparenta," respondeu Julie, dando ao amigo o benefício da dúvida.
Melanie cruzou oito dos seus dedos em apoio a Conner e disse, "Vamos esperar pelo melhor."
Julie olhou para o espaço após a primeira fila das arquibancadas, onde duas líderes de torcida estavam animando pelas respectivas equipes. Um grupo de garotas estava vestido de azul, e as outras garotas, de vermelho. "Qual é a equipe do Conner novamente?" ela perguntou.
"Corvos. Eles são os de uniforme azul. Vermelhos são os Falcões," explicou Melanie.
Enquanto seus olhos continuavam a observar as garotas torcendo, os olhos de Julie pousaram sobre Eleanor, que fazia parte da equipe de torcida. Ela usava o uniforme vermelho, balançando as mãos para frente e para trás com um sorriso nos lábios. Embora Eleanor fosse lenta quando se tratava de correr, Julie teve que aplaudir a garota por ser capaz de esticar seu corpo. E levou apenas alguns minutos antes dela entender o que Eleanor fazia no grupo de cheerleaders.
Roman entrou no campo pelo lado direito com o resto da equipe. Ela também avistou Simon na mesma equipe.
Quando seus olhos se desviaram de Roman para olhar os Corvos, ela avistou o amigo deles que parecia uma camisa pendurada em um ombro. No fundo de sua mente, as palavras anteriores de Melanie a deixaram preocupada.
"Oh não," Julie ouviu Melanie dizer. O Conner tinha sido emparelhado com o Porco-espinho e alguns outros, que tinham má reputação.
"Estou confusa," murmurou Julie. Claro, ela apoiaria Conner e apenas ele, pensou consigo mesma. "Parece que Conner está jogando o primeiro tempo."
"Seu amigo está jogando?"
As sobrancelhas de Julie se juntaram quando ela ouviu alguém falar. Virando a cabeça, ela viu um rapaz que ocupara o assento vazio à sua direita. Seu rosto parecia familiar, como se ela já o tivesse visto antes, mas ela não conseguia se lembrar onde.
Ele tinha um rosto redondo, e seus olhos castanhos escuros a olhavam através de seus óculos.
"Sim, está," respondeu Julie.
"Me desculpe, não pude evitar ouvir a preocupação pela sua amiga. Meu nome é Dennis Mcoy," ele se apresentou.
"Julianne," respondeu Julie, e quando o olhar dele se desviou para Melanie, Mel disse, "Melanie."
"É aquele garoto magricela dos Corvos?" perguntou Dennis, e Julie sentiu um desgosto imediato pela pessoa. Ela não sabia se era porque ele havia decidido fazer perguntas se envolvendo como se fossem amigos ou porque ele havia chamado Conner de magricela.
"É ele," respondeu Julie, virando a cabeça para a frente enquanto tentava não fazer outro contato visual com a pessoa que estava imediatamente à sua direita.
"Os jogos deste ano vão ser difíceis. Parece que eles selecionaram os melhores de ambas as equipes, além dos novatos," Dennis tentou reacender a conversa com Julie, enquanto Melanie não ouvia Dennis falando devido ao barulho que os cercava. "Você deve estar apoiando o grupo do seu amigo."
"Não é natural," perguntou Julie.
"É. É a coisa óbvia a fazer. Como seu amigo precisa de mais apoio, gostaria de me juntar para torcer por ele," disse Dennis com um sorriso. Dando uma segunda olhada, Julie percebeu que ele também tinha uma figura magra. A única diferença era que ele era mais alto que Conner.
"Você não precisa fazer isso. Melanie e eu somos suficientes. Tenho certeza de que você tem seu próprio jogador para apoiar," disse Julie, querendo estabelecer limites para que ele não tentasse se tornar muito íntimo delas. Dennis lhe ofereceu um sorriso.
Demorou um pouco antes de Julie se lembrar de onde ela o havia visto. Ele era a mesma pessoa com quem ela tinha esbarrado alguns dias atrás enquanto subia as escadas!
Melanie se inclinou em direção a Julie e sussurrou, "Acho que ele está dando em cima de você."
Tentando ignorar o cara, Julie viu os jogadores de ambas as equipes caminharem ao centro do campo com o árbitro que estava reiterando as regras.
Ela notou como alguns dos caras bem construídos sentaram no banco enquanto deixavam os estudantes do primeiro ano jogar. Logo o árbitro soprou o apito e o jogo começou com a bola sendo passada de uma pessoa para outra, e dentro de dois minutos, os Corvos marcaram um gol.
Algumas partes da torcida comemoraram, enquanto outras vaiaram os times. O próximo gol foi marcado pelos Falcões. Depois do intervalo do primeiro tempo do jogo, alguns dos jogadores foram substituídos. Dois minutos se passaram no início do segundo tempo quando a perna de um membro da equipe adversária derrubou Conner e ele rolou no chão, sem se levantar.
Segurando a mão da amiga, Julie disse, "Devemos ir ver como Conner está." Era também uma boa oportunidade para se afastar de Dennis.
"Você está certa. Eles levam os jogadores machucados do vestiário antes de ir para a enfermaria," concordou Melanie e pegou a garrafa que tinha trazido consigo. Bem na hora, até Dennis virou o corpo, pronto para ir com elas.
Para impedir que ele as seguisse, ela rapidamente virou-se para ele e disse, "Aproveite a partida. Vamos indo agora," ela ofereceu um sorriso rápido para ele antes de descer as escadas. O jogo continuou com o jogador substituído enquanto ela se afastava do campo de futebol.
Em vez de ir para a enfermaria e esperar, as garotas chegaram na frente do vestiário dos meninos. "Isso é uma boa ideia?" perguntou Julie com uma voz duvidosa.
"Está tudo bem," Melanie acenou com a mão como se já tivesse feito isso antes. Ela se inclinou para dar uma olhada lá dentro. "Hm, parece que não tem ninguém aqui."
Julie olhou para frente e para trás, notando que o local estava deserto, e o único som vinha da multidão nas arquibancadas. Ela disse, "Devemos ir para a enfermaria, Mel. Eu que--"
"Veja o que o gato arrastou," disse alguém por trás dela. Julie virou-se rapidamente, e seus olhos encontraram o Porco-espinho. "Eu estava pensando quando te encontraria sozinha. Da última vez na detenção tinha sido difícil te pegar sozinha. Eu até consegui uma cadeira vazia para você vir sentar ao meu lado. Eu tinha algumas coisas para discutir com você," disse Mateo com um sorriso no rosto.
"Que atencioso da sua parte, você não precisava ter feito isso," Julie ofereceu a ele um sorriso educado enquanto sentia as palmas das mãos levemente suadas. "Eu sou uma mera pessoa, que não se importa em sentar em qualquer assento. Eu não preciso de tratamento especial."
Quase todos os estudantes e professores não estavam aqui, mas nas arquibancadas, deixando o lugar aqui com apenas Melanie, ela, o Porco-espinho e seus dois amigos. Ela se perguntava se havia alguma chance do jogo terminar naquele momento.
"Então, nós vamos indo, bom jogo," elogiou Julie, enviando a eles seu falso apoio e pronta para sair. Mas Mateo bloqueou seu caminho.
"Você não sai até eu decidir que é hora de você sair," afirmou Mateo. Um sorriso apareceu em seus lábios, e ele disse, "Da última vez você escapou, mas não pense que esqueci o que você fez."
Ah, então eles estavam nessa de novo, pensou Julie consigo mesma.
Julie respondeu, "Eu não sou muito de violência. Deixe-me me desculpar com você se isso te faz se sentir melhor. Talvez um pedido de desculpas escrito?" Ela sugeriu ao Porco-espinho. "Não?"
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"Dessa vez eu tenho algo melhor em mente. Para você e sua amiguinha," provocou Mateo, com o olhar passando de Melanie para Julie. Ele então passou a língua pelos lábios, e Julie fechou os punhos.
Ele estava sugerindo fazer sexo com ele?! Talvez ela fosse menor em tamanho que o porco-espinho, mas ela faria questão de socar seu rosto se ele tentasse.
Melanie, que anteriormente havia dito a Julie que estava tudo bem em vir aqui, agora parecia pálida e arrependida. "Eu vou gritar por ajuda!" Ela tentou ameaçá-los, mas com suas palavras, os três rapazes que estavam no corredor riram como se ela tivesse contado uma piada.
"Grite à vontade. Mas ninguém vai te ouvir, por mais que você grite. O jogo não acabou e temos bastante tempo," disse Mateo, dando um passo em direção à Julie.
Ele estava certo. Com a quantidade de pessoas gritando e berrando do lado de fora, nenhuma delas seria capaz de ouvi-las, Julie pensou consigo mesma. O vestiário tinha uma tranca na porta? Ela questionou a si mesma. Seus olhos rapidamente se moveram para onde Melanie estava. Espera, onde estava a porta?!
E ao contrário do que Melanie havia dito antes sobre o vestiário estar vazio, daquela sala surgiu o antagonista da vida do porco-espinho.
Os olhos de Julie se fixaram em Roman, que ainda usava o uniforme dos Falcões, e ele saiu do vestiário.
"Achei que ouvi algo chiar aqui fora," comentou Roman, pousando o olhar em Mateo, e perguntou, "Foi você, Jackson?"
O porco-espinho estreitou os olhos e retrucou, "E o que você está fazendo aqui, seu merdinha? O treinador te expulsou do time por não marcar um ponto decente? Não é patético?"
Roman inclinou o corpo para o lado e questionou, "Sabe o que é patético? Cair no chão por uma garota menor que você em tamanho. Não é verdade, Winters?"
Os olhos de Julie se arregalaram ao ser arrastada para a conversa, e ela não sabia por que Roman estava tentando causar mais problemas para ela. Se ele não tivesse dado risada e feito comentários da última vez, Mateo Jackson não estaria querendo caçá-la.
Quando ela olhou para o porco-espinho, seus olhos se estreitaram, e Julie pigarreou, "Só viemos aqui para encontrar nosso amigo Conner. Não estamos procurando confusão," disse ela aos rapazes que estavam lá.
"Acho difícil de acreditar," murmurou Roman, sem se mover do lugar. Depois do primeiro tempo do jogo, ele havia decido voltar para o vestiário, mas não esperava ter visitantes tão cedo. "Seu amigo não está aqui. Enfermaria," ele respondeu em tom desinteressado para a garota dos óculos.
"Obrigada," disse Julie, percebendo que Roman a observava silenciosamente.
"Cai fora, Moltenore. Eles são nossa presa. Encontre outra pra caçar," o porco-espinho advertiu com um olhar furioso para Roman.
"Você pode caçar as galinhas no refeitório," rebateu Julie, mantendo sua posição.
Um dos capangas do porco-espinho disse, "Preferimos as que estão vivas e frescas para saborear," e as palavras foram o suficiente para fazer a pele de Julie se arrepiar. Quando o garoto começou a andar em sua direção, Julie apertou os punhos. Mas antes que ele pudesse chegar perto do seu espaço pessoal, não foi seu próprio punho, mas o de Roman que veio bater no garoto, jogando-o longe dela.
Aconteceu tão depressa que Julie perdeu Roman se aproximando e socando o rosto do garoto, porque agora o garoto estava com as duas mãos cobrindo o nariz enquanto sangrava.
"Que porra foi essa?!" perguntou o garoto, cujas mãos não eram suficientes para conter o sangue.
Tanto Julie quanto Melanie arregalaram os olhos ao ver a quantidade de sangue. Claro, ela tinha esperado que Roman as ajudasse, considerando que ela havia percebido que ele e o Porco-espinho haviam brigado no seu primeiro dia na universidade. Mas vendo o sangue escorrer das mãos do garoto, ela ficou preocupada.
Roman esticou os dedos das mãos que havia usado para socar.
"Isso foi um golpe de senso. O próximo será um conhecimento aprofundado, se você quiser se indulgir nisso," respondeu Roman, ficando cara a cara com os três rapazes.
Mateo parecia furioso, e ele deu um passo raivoso para frente. Ele disse, "Você não tem direito sobre elas. Então volte ao que estava fazendo enquanto nós podemos continuar."
Os lábios de Roman se curvaram em um sorriso. Sua cabeça se inclinou sutilmente para o lado, e ele disse, "Não arranje mais problemas do que pode lidar, Jackson. Volte para o seu próprio vestiário. Aqui não é sua toca," suas palavras subentendidas com uma ameaça ao garoto de moicano.
"Quero ver como você vai me impedir," rosnou Mateo, e ele marchou em direção a Julie, que estava atrás de Roman. "Você tem agido muito arrogante," e ele levantou a mão para socar Roman, mas o garoto de cabelos escuros moveu-se sem esforço para o lado antes de levar sua própria mão de baixo para cima, acertando o queixo do outro garoto.
Roman não parou por aí e usou todo o espaço ao redor deles para empurrar o porco-espinho para longe da posição original. Quando o outro capanga do porco-espinho apareceu por trás tentando agarrar para que o líder pudesse socar, Roman usou suas pernas para chutar diretamente no rosto de Mateo antes de dar uma cotovelada e jogar o outro garoto, que estava atrás dele, contra a parede.
"Não me diga que era só isso que você tinha com toda aquela ladainha," comentou Roman, o que enfureceu ainda mais os outros três garotos.
Julie podia ver que Roman estava gostando mais disso do que deveria, como se estivesse esperando entrar em uma briga.
O que estava com o nariz sangrando continuou a segurar as mãos perto do nariz sem se mexer, enquanto os outros dois se levantavam, prontos para mergulhar de volta na briga. Mateo voltou à sua forma de touro, seus olhos transformando-se em uma expressão de raiva e fixando Roman como seu alvo. Mateo veio correndo, mas em um segundo, ele estava no chão gemendo de dor porque Roman tinha quebrado mais um nariz.
Julie estremeceu ao ouvir o som do estalo e viu o sangue começar a jorrar do nariz dele, similar ao do primeiro cara.
"Eu vou te matar por isso, Moltenore," rosnou o porco-espinho.
Roman o encarou de volta e disse, "Agora corra antes que eu estrague mais do que apenas o seu nariz."
Julie observou Mateo, que aparentava querer continuar lutando. Mas depois de jogar em campo, ele havia drenado a maior parte de sua energia. Os outros dois garotos o arrastaram para longe do corredor, e ela ouviu os passos se afastando, substituídos pelo barulho da multidão do lado de fora.
Ela sentiu Melanie puxar sua manga, fazendo um gesto com a cabeça indicando que era hora de elas também irem embora para que não fossem questionadas.
"Obrigada," veio o rápido chiado de Julie, pronta para escapar dali, e elas começaram a andar.
"Onde vocês pensam que vão?" exigiu Roman, fazendo as duas garotas pararem no caminho.
Ambas viraram, e Roman fixou seu olhar em Julie. Ele ergueu a mão antes de enrolar dois de seus dedos em um gesto de 'venha aqui' para ela com uma expressão séria naqueles olhos negros dele.
Ao mesmo tempo que ela estava agradecida, cada vez que via Roman lutar com tanta brutalidade, isso só a fazia ficar ainda mais cautelosa de sua presença. Julie engoliu em seco e caminhou para ficar a dois passos de distância dele.
"Você queria alguma coisa?" perguntou Julie e percebeu que seu cologne habitual estava misturado com suor, e talvez sangue.
"Sim," respondeu Roman. O espaço entre eles diminuiu quando Roman deu um passo à frente, fazendo seu coração disparar, "Quem disse que você podia ir embora?" ele perguntou, inclinando a cabeça para o lado enquanto a questionava.
Mateo e seus capangas haviam as deixado por agora, e ela havia agradecido a Roman por afastá-los. O que mais havia para fazer ali? perguntou Julie a si mesma. Ela deu um passo sutil para trás, para que não tivesse que esticar o pescoço para olhá-lo.
"Eu entrei na briga por sua causa. Certo?" Roman questionou Julie, com uma das sobrancelhas erguida para intimidá-la.
"Sim, estamos muito agradecidas por isso-"
"Bom. Está vendo aquelas manchas no chão?" ele perguntou, e Julie olhou para baixo. Haviam gotas de sangue dos narizes quebrados. "Você vai encontrar o esfregão e o balde no vestiário. Limpe isto antes de sair daqui. A última coisa que preciso é que as pessoas fiquem questionando o que aconteceu," e ele entrou no vestiário.
"Julie!" sussurrou Melanie, indo ao seu lado. "O jogo vai terminar em breve. Vamos fazer isso rápido."
Eles realmente iriam passar o esfregão no chão agora? E sim, eles fizeram depois de cinco minutos, rapidamente indo e voltando para fora do vestiário porque Roman expulsou o porco-espinho.
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