Quando adormeceu, Madeline se viu de volta ao castelo — caminhando pelos corredores vazios que não eram restritos por nenhum guarda. Não havia ninguém ali além dela. Ela podia ouvir o som dos grilos vindos do jardim enquanto caminhava pelo chão frio e limpo. Seus pés estavam descalços, e seus passos não faziam barulho.
Madeline estava com o vestido bege que tinha usado para o baile, as pontas dele arrastando-se atrás dela. Continuou caminhando até encontrar uma porta que estava entreaberta. Ela empurrou a porta e entrou na grande sala que tinha grandes janelas com grades trabalhadas em desenhos. A noite lá fora estava nublada, escondendo as estrelas e a lua por trás dela e quando ela virou para olhar para a direita, viu um homem de pé.
Sua silhueta estava solitária devido à falta de companhia ao seu lado.
"Olá?" Madeline chamou pelo homem, querendo voltar para casa.
Como se ao ouvi-la, o homem virou-se para olhá-la, "Vagueando sozinha novamente?" perguntou a voz profunda, e ela reconheceu essa voz.
Quando o trovão ribombou no céu, os olhos de Madeline se abriram e ela olhou para o teto de madeira do quarto.
Ela podia sentir seu coração batendo no peito pelo sonho que acabara de ter há poucos segundos. Seus olhos lentamente se adaptaram à escuridão do quarto onde ela podia ver as coisas com muito mais clareza agora.
Virando a cabeça, ela percebeu que sua irmã Beth estava dormindo. Em sua própria terra dos sonhos que Madeline acreditava ser menos assombrada do que a que ela tinha experimentado. Parecia que os corredores do castelo haviam voltado para ela por causa do que aconteceu. Aqueles olhos que a olharam eram vermelho escuro, mantendo-a cativa.
Madeline havia crescido sob a sombra de sua irmã, o que era a razão pela qual ela não estava acostumada com a atenção que tinha recebido naquela noite. Pelo menos não tão intensamente. Ela não se importava com a sombra, pois isso lhe dava mais espaço para respirar.
Como o que aconteceu no baile hoje, enquanto ela e Beth dançavam, Madeline observou os fatos já conhecidos sobre sua irmã mais velha. Beth gostava e se deleitava sob os holofotes. Amava a atenção que recebia, mas era assim que ela tinha crescido, ao contrário de Madeline que tinha recebido menos atenção. Beth gostava de ser paparicada e questionada, de ser dada importância mesmo quando se tratava de sua irmã e Madeline não se importava com isso. Ela deixava ela fazer o que quisesse, sem querer chatear sua irmã.
Quando chegou o dia seguinte, como esperado, Beth teve um visitante que veio procurá-la e a Sra. Harris o fez sentar na sala de sua casa, e Beth estava sentada à sua frente. Embora ela não estivesse vestida com um vestido de baile como na noite passada, ainda assim estava deslumbrante comparada às paredes pálidas e aos móveis que a família possuía.
O Sr. Harris tinha saído para trabalhar enquanto a Sra. Harris e Madeline estavam na cozinha com as portas fechadas. A mulher mais velha parou ao lado da porta ouvindo-os.
"Eu acho que o Sr. Danvers gosta muito dela," disse a Sra. Harris, se afastando da porta com um olhar satisfeito no rosto. Beth realmente tinha feito um excelente trabalho encontrando um bom homem. A mulher se sentia um tanto aliviada que o dinheiro que tinham usado para as roupas e a carruagem junto com o cocheiro seria coberto. Pelo menos não foi um desperdício, pensou a Sra. Harris.
"Qualquer um se apaixonaria por Beth, mamãe. Você não precisa se preocupar com isso," disse Madeline pegando uma fruta da cesta e mordendo-a.
"Isso é verdade. Se Beth se casar, não será difícil quando chegar a hora do seu casamento. Quem era aquele homem ontem?"
"O Sr. Hanes?" perguntou Madeline.
"Sim, sim. Esse mesmo. Como foi ontem à noite?" perguntou sua mãe, curiosa.
"Ele sabia dançar," disse Madeline com uma expressão pensativa, "E foi só isso," sua mãe deu um suspiro.
"Você deveria se expor mais, Madeline. Você sabe que a filha da Sra. Boyers ainda está solteira. A vida de uma solteirona e ninguém quer casar com ela por causa de sua aparência," sua mãe balançou a cabeça.
"Mamãe, você se preocupa à toa. Sua filha não morrerá sozinha."
"Mesmo?" veio um sinal de esperança nos olhos da Sra. Harris, que perguntou, "Então, algum cavalheiro a convidou para dançar? Talvez te convidar para tomar um chá?"
Madeline franziu os lábios, seu pé batendo suavemente e ela disse, "Eu estava pensando no Sr. Heathcliff," ela percebeu as sobrancelhas de sua mãe se franzindo. Não era que Madeline estivesse apaixonada pelo homem, mas ela o achava simpático.
"James Heathcliff?" sua mãe verificou.
Ela sorriu, "Sim. James Heathcliff. Ele me convidou para acompanhá-lo em um dos próximos dias. Ele é um bom homem." Ela gostava do homem por sua simplicidade, e de fato ele era um dos poucos homens decentes em sua vila.
"Ele não está saindo com a Lady Catherine? Bem, ele é um homem bonito," sua mãe concordou, "Eu não sabia que você gostava dele. Quando você vai encontrá-lo?" perguntou sua mãe, e Madeline sorriu com a ideia de que sua mãe aprovou o Sr. Heathcliff.
"Não tenho certeza a respeito disso. Eu recusei porque Beth e eu vamos à casa da Tia -"
"Por que você faria isso?" sua mãe perguntou com os olhos arregalados, a mão em um lado da cintura.
"Porque Beth vai precisar -"
"Beth vai ficar bem. Ela pode se cuidar," disse a Sra. Harris. Madeline não era tão expressiva quanto sua irmã mais velha e se ela gostava de alguém decente, a Sra. Harris não via mal algum nisso. Beth se casaria em uma família abastada enquanto Madeline estaria em uma casa gentil e humilde. Também era o que se adequaria a Madeline de uma boa maneira, "Você pode ir encontrá-lo, mas não muito longe. Seu pai e eu queremos que você seja feliz."
"O que direi a Beth?" perguntou Madeline, pois ela havia prometido acompanhá-la.
"Eu direi a ela que você tem um recado para fazer," isso seria melhor, pensou Madeline consigo mesma. Ela não sabia o que Beth diria, especialmente quando ela tinha olhado com desdém para a profissão do Sr. Heathcliff.