Eve tinha emoções mistas em sua mente. Por um lado, estava finalmente feliz por ter conseguido o emprego de governanta que tanto esperava desde que terminou seus estudos. Mas por outro lado, seu peito estava cheio de ansiedade ao pensar que finalmente encontrara o homem que matara sua mãe diante de seus próprios olhos.
"Agora, se você pudesse voltar à sala do piano com o mesmo vigor de quando saiu da sala. Não gostamos que as pessoas percam tempo inutilmente aqui," declarou o Sr. Moriarty, lembrando-a de que seu trabalho já estava em andamento. "Mexa suas..." seus olhos se moveram para olhar para o seu traseiro, e Eve cerrou os dentes. "Pernas." Ao dizer as palavras, seus olhos caíram em seus sapatos desgastados.
"Sr. Moriarty," Eve conseguiu que ele desviasse seus olhos de volta para ela. "Eu acho que seria melhor se falássemos sobre algumas coisas antes de eu começar a trabalhar aqui."
"Mestre Vincent Moriarty. É assim que todos me chamam aqui," o homem de cabelos prateados a informou. "Vá em frente, tente. Tenho certeza de que você vai gostar."
Este homem arrogante... pensou Eve. Considerando o quão grande e luxuosa era a mansão, era de se esperar que alguém se comportasse da maneira como ele se comportava.
"Mestre Vincent," Eve o chamou hesitante, e o olhar nos olhos castanhos do homem parecia divertido. Ela continuou, "Acredito que meu trabalho aqui é apenas ser a governanta da Senhorita Allie e nada mais ou menos?"
"A menos que esteja planejando tomar mais de uma pessoa sob sua asa, eu acho?" As palavras despretensiosas de Vincent vieram.
Este homem precisava aprender mais disciplina do que sua irmã, pensou Eve. Mas se ela fosse vocal a respeito, não seria apenas rude. Ela estava preocupada, pois quem sabia se o homem apareceria à sua frente para disciplina?
Em circunstâncias normais, chamar um homem rico de rude na cara dele e depois sair da sala abruptamente a teriam deixado sem nenhuma segunda chance de ter um emprego. Por um bom momento, ela estava preocupada que tinha perdido a oportunidade.
"A descrição do trabalho é como mencionada na carta, e seu salário mensal é este," Eve assentiu às palavras de Vincent, onde ele enfiou a mão no bolso da calça e tirou uma moeda de ouro e duas moedas de prata. Ele as largou na mão dela. "Mais uma coisa, Senhorita Barlow."
"Sim?" Perguntou Eve, sentindo o frio das moedas deixadas em sua mão.
"Como sou eu quem a contratou hoje, você só me responderá. Acredito que manterá isso em mente?" havia uma sutil insinuação de aviso em suas palavras, o que não passou desapercebido por Eve.
"Sim, Sr. Moriarty," Eve respondeu, e ela viu os olhos de Vincent se estreitarem para ela. "Mestre Vincent."
"Eu sabia que você não era tão lenta quanto parece. Agora vá," ele acenou sua mão num gesto de 'shoo', como se tivesse acabado de falar com ela.
Como se não quisesse perder mais um segundo com ela, Vincent se afastou. Caminhando na direção de onde Eve tinha visto os outros dois homens desaparecerem no corredor. Ela voltou à sala do piano. Abrindo a porta, ela viu o mordomo oferecendo uma xícara de chá para a menininha.
Ao ver Eve voltar para a sala, os olhos da menininha brilharam, mas a expressão em seu rosto não mudou muito.
"É bom vê-la novamente, Senhorita Barlow," Alfie curvou a cabeça, e Eve retribuiu com uma leve inclinação.
O olhar de Eve voltou a se fixar na garota, e ela disse, "Parece que a partir de agora passaremos muito tempo juntas. Espero poder te ajudar o máximo possível no aprendizado e vou dar o meu melhor, Senhorita Allie."
A excitação de Allie estava concentrada na xícara de chá de cerâmica que segurava.
"A Senhorita Allie está muito feliz em tê-la aqui," o mordomo falou em nome da menina.
Eve sorriu, "Eu também. Vou tomar um cubo de açúcar no meu chá," ela informou ao mordomo sobre a pergunta que ele tinha feito há um tempo. Não importava o motivo que tivesse mudado sua mente, este era seu primeiro emprego, e ela estava animada para tê-lo.
"Claro, minha senhora!" Respondeu o mordomo, preparando uma xícara de chá para a recém-contratada governanta da família Moriarty.
Quando Eve deixou a família Moriarty, passava das quatro horas. Ela chegou à periferia da cidade rica a pé. Esperando pela carruagem local para poder voltar para casa.
Com a mão direita, Eve brincava com o cabo do guarda-chuva enquanto caminhava para casa. Murmurando suavemente, seu humor estava elevado. Ela revirou no bolso do vestido com a outra mão, puxando as três moedas que brilhavam sob a luz do sol. Seu primeiro salário, ela pensou, e um sorriso se formou em seus lábios.
Quando avistou a Tia Aubrey e o Eugene no jardim de sua casa, o passo dos seus pés acelerou para encontrá-los.
"Você está de volta, Eve," disse Lady Aubrey. "Isso é bom."
"Graças aos céus!" Eugene soltou um suspiro de alívio, e Eve notou sua tia balançar a cabeça.
"Está tudo bem?" Perguntou Eve enquanto fechava o pequeno portão.
"Eugene estava preocupado que você tivesse se perdido no caminho de volta para casa," Lady Aubrey virou-se para Eugene e disse, "Eu disse que Eve é uma adulta e que ficaria bem."
Eve riu enquanto caminhava em direção a eles, seus olhos pousando em Eugene, cujas sobrancelhas ainda estavam franzidas.
"Bobo Eugene. Por que eu perderia o caminho?" Eve riu antes de dizer, "Estou atrasada porque consegui o emprego."
Ela viu as sobrancelhas da Tia Aubrey se levantarem em surpresa enquanto Eugene piscava. Tia Aubrey perguntou, "É mesmo verdade?" Um sorriso se espalhou nos lábios da mulher mais velha e Eve assentiu. "Estou tão feliz por você, Eve. Venha aqui," ela abriu os braços.
Eve abraçou a Tia Aubrey, que havia lhe ensinado tudo o que sabia.
"Parabéns, Senhorita Eve. Eu sabia que você conseguiria o trabalho de governanta e não nos decepcionou. Você trabalhou duro," Eugene estava mais animado do que as duas mulheres.
"Isso merece comemoração, Eugene!" Lady Aubrey anunciou, e Eugene concordou. Ela se afastou de Eve e perguntou, "Eu não sabia que você tinha enviado outra candidatura a emprego. Abençoada seja a família que lhe deu o trabalho. Você não deve ter quebrado nada nem dado um tapa em ninguém, não é?"
Eve balançou a cabeça, uma risada suave escapando dos seus lábios, "Fui muito cuidadosa. Comecei hoje, por isso estou atrasada. E não tenho que trabalhar aos domingos. Recebi um adiantamento." Ela pegou a mão da Tia Aubrey antes de colocar a moeda de ouro na palma da mulher. "Quero que você fique com esta. Sempre quis que minha primeira moeda fosse sua."
A mulher havia feito tanto por ela, protegido, cuidado e educado. Ela estaria para sempre em dívida, uma dívida que nunca seria capaz de pagar.
"Oh, você criança," murmurou Tia Aubrey em voz baixa, olhando para o metal. Mas ela não pegou. Em vez disso, colocou a moeda de volta na mão de Eve.
"Tia Aubrey—"
"Você não me deve nada, Eve. Nem um único xelim," afirmou Tia Aubrey, olhando nos olhos da jovem. "As circunstâncias e razões pelas quais eu te acolhi podem ter sido diferentes. Mas estou feliz por ter feito isso. Você não é menos do que uma filha para mim," ela colocou sua mão calejada na bochecha de Eve.
Mas Eve colocou a moeda de volta na mão da mulher mais velha e disse, "Então você a guarda como o presente de sua filha para você. Se minha mãe estivesse viva, eu teria dado a ela."
Eve não tinha muitas lembranças do que sua mãe fazia para viver, e ao longo dos anos, passou a acreditar que sua mãe trabalhava como empregada. E embora a maioria das memórias em sua mente tivesse desaparecido, ela se lembrava de sua bela mãe que sempre fora gentil. Se sua mãe estivesse viva, ela teria ficado feliz por ela finalmente ter encontrado um emprego, não teria?
Lady Aubrey notou a tristeza nos olhos de Eve e apertou a mão da jovem na dela. Ela disse, "Agora, eu pegarei de volta de você. E vou guardá-la comigo. Sua mãe estaria muito orgulhosa de você."
"Obrigada, Tia Aubrey," a voz de Eve havia suavizado consideravelmente com os pensamentos sobre sua mãe em mente.
Quando entraram na casa, Eugene perguntou, "Qual família te contratou?"
"Foi a dos Moriartys," respondeu Eve, e nas suas palavras, um olhar pensativo apareceu no rosto de Lady Aubrey. "Você já ouviu falar da família?"
"Eu não apenas ouvi, mas também os vi. Foi há alguns anos, depois que parei de ser governanta. Eu fui convidada e estive presente na mesma soirée que a família Moriarty. Eles são uma família bem estabelecida e poderosa," Lady Aubrey se lembrou de sua memória. Ela se sentou em uma das cadeiras de madeira presentes na sala de estar, e Eve se juntou a ela, sentando-se na cadeira. A mulher então disse, "Se não me engano, naquela época, o Senhor Moriarty mais velho era um Visconde, um nome bem conhecido que mantinha negócios apenas com os círculos de ricos."
"A mansão parecia mesmo um castelo," Eve concordou com as palavras da mulher mais velha.
"Você se candidatou para trabalhar na família?" Perguntou Lady Aubrey, e Eve balançou a cabeça negativamente.
"Acabei recebendo a carta de convite ontem."
Lady Aubrey já havia cruzado caminhos com famílias ricas antes, e achou estranho que uma família como os Moriartys tivesse contratado Eve, que não tinha experiência prévia como governanta.
"Eugene," Lady Aubrey se virou para olhar para o homem, que entendeu o que a senhora queria que ele fizesse. "A família Moriarty pode ser muito respeitada, mas não vamos correr riscos."
Muitas vezes era o pano mais limpo que tinha que ser olhado de perto, porque teria sido lavado muitas vezes para remover as manchas.
"Na verdade, descobri algo hoje," começou Eve, e as outras duas pessoas no cômodo voltaram sua atenção para ela. "Acho que encontrei a pessoa que matou minha mãe."
"Você tem certeza disso?" Perguntou Lady Aubrey, enquanto uma carranca apareceu em sua testa.
Eve franziu os lábios antes de falar, "Ele tinha uma cicatriz no rosto. Perto do olho, então estou adivinhando que é ele. É alguém com quem o Senhor Moriarty mais velho está associado."
Lady Aubrey e Eugene não estavam cientes dos detalhes específicos, já que as palavras haviam sido incoerentes da pequena Eve, que era uma bagunça de choro e soluços quando ela havia recuperado a consciência. Mas o que eles sabiam era que Eve havia testemunhado sua mãe ser assassinada.
"Você precisa ser extremamente cuidadosa, Eve. Este mundo em que vivemos, ele não permite espaço para erros. Se você quiser meu conselho, fique o mais longe possível dessa pessoa," Lady Aubrey avisou Eve.