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Chapter 9 - O SILÊNCIO DELA

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Todos nós somos quebrados, é assim que a luz entra.

-Ernest Hemingway-

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"Senhor!" A paciência de Madam Anne estava se esgotando enquanto ela colocava sua mão livre nos quadris. "Eu preciso que o senhor solte a garota agora!"

O desrespeito na voz de Madam Anne fez Torak rosna perigosamente e fez com que Raine se sentisse ainda mais desconfortável, olhando para Madam Anne com lágrimas no canto dos olhos, incapaz de se libertar da pegada mortal de Torak.

"Segure ela." Torak arrancou o guarda-chuva que Rafael segurava para eles e entregou Raine a ele.

Assim que Torak a soltou, ela tentou correr em direção a Madam Anne, mas Rafael segurou seu ombro firmemente. "Por favor, fique, nós não vamos machucar você." Disse ele em voz baixa, o suficiente para Raine ouvir. 

Contudo, ela estava tão assustada e determinada em se libertar, que virou-se e mordeu a mão de Rafael que segurava seu ombro. 

Surpreso com o que ela fez, não pela mordida insignificante, Rafael soltou sua mão do ombro dela. Ele olhou sem poder fazer nada enquanto Raine corria em direção a Madam Anne. 

Contudo, antes de a pequena garota poder alcançar sua salvadora, Torak agarrou sua cintura e a trouxe para o seu lado, novamente, ignorando os gritos de Madam Anne e as tentativas de Raine de bater nele.

Virando-se, o Alfa lançou um olhar cortante para seu Beta após falhar em seu dever, o qual Rafael retribuiu com um sorriso nervoso.

"O que você quer?" Ela estalou e tentou ameaçá-lo. "Eu vou chamar a guarda se você não a soltar!" Madam Anne exigiu.

'Quantos guardas você acha que ela precisa para parar o Alfa?' Uma voz irritada ecoou na mente de Rafael.

Do nada, um grande lobo cinza com altura até o quadril de Rafael apareceu ao lado dele. 

'Eu disse para você vir' Ele respondeu ao lobo através da ligação mental. 

Visto que lobos não podiam falar, eles se comunicavam com uma ligação mental que os conectava sempre que estavam em sua forma de lobo.

'Estou aqui!' Calleb respondeu travesso enquanto abanava sua cauda peluda como um filhote. 'Você não me disse especificamente que eu tinha que vir em forma humana, certo? Está chovendo, eu não quero que meu terno de milhares de dólares se molhe.' Ele retrucou astutamente.

Para os transformistas como eles, uma vez que estavam em sua outra forma, significava que estavam em outro reino, nenhum humano poderia vê-los. 

A coisa mais benéfica para eles era, eles podiam manter suas roupas intactas quando retornavam à forma humana, então eles não precisavam ficar completamente nus ou apenas de cueca para se transformarem.

Rafael não disse nada quando deu um chute nele, no entanto Calleb desviou do seu pé preguiçosamente. 

Ambos olharam na direção de Torak e da senhora gorda que, finalmente, estava falando calmamente apesar da forte chuva que caía.

'É ela?' Calleb apontou seu focinho em direção à garota que se encolhia nos braços de Torak. 'Nossa Luna?'

'Sim. É ela.'

'Sério? O que ela é? Fae? Mas fae não é transformista.' Ele murmurou. Em outras palavras, humanos não podiam vê-los.

Rafael olhou para o lobo cinza, confuso. 'Ela é humana, claro.'

O lobo levantou o canto do lábio e mostrou seu canino que Rafael assumiu ser um sorriso. 'Ela estava claramente me vendo um momento atrás. Nenhum humano poderia me ver na minha forma de lobo.'

Rafael olhou para Raine, mas a pequena garota havia enterrado seu rosto nos braços de Torak, já que não conseguia se soltar dele.

Após cinco minutos de discussão, finalmente Madam Anne concordou com a sugestão de Torak e o deixou entrar no orfanato enquanto ela abria o portão e o segurava para ele.

Como num sinal, Rafael se aproximou deles quando uma sacola plástica branca chamou sua atenção. Curvou-se levemente, ele pegou a sacola plástica consigo enquanto continuava a caminhar para dentro do edifício com o lobo seguindo atrás dele.

O edifício do orfanato era enorme e obsoleto, parecia que havia sido construído há séculos e fazia muito tempo que não o renovavam.

Madam Anne caminhou à frente com Torak e Raine, nos seus braços, seguindo-a de perto. Enquanto isso, Rafael e o lobo Calleb caminhavam lado a lado a três metros de distância deles.

Eles andaram pelo corredor em silêncio antes de Madam Anne parar em frente a uma porta azul, ela a abriu. "Vocês dois podem descansar aqui esta noite. Vou pedir a alguém para entregar roupas limpas para vocês."

"Eu quero falar sobre a adoção dela agora." Torak disse logo após Madam Anne terminar de falar. Imediatamente Rafael soube onde essa conversa estava indo e se aproximou.

"Senhor, podemos discutir isso amanhã de manhã." Madam Anne franziu a testa um pouco. 

"Eu não vou esperar até a manhã." Torak estava conversando com ela, mas seus olhos nunca deixaram a garota ao seu lado. 

"Senhor—"ela começou, irritada, mas suas palavras foram brevemente interrompidas.

Pelo lado Rafael pigarreou para chamar a atenção deles e se apresentou educadamente. "Por favor, me deixe me apresentar primeiro." Ele se aproximou deles e olhou para a expressão de desgosto que persistia no rosto de Madam Anne. "Eu sou Rafael Lockwood, assistente pessoal de Torak Donovan." Rafael fez um gesto em direção a Torak ao seu lado que ainda segurava a cintura de Raine, sabendo que sua tentativa era inútil, ela não tentou escapar novamente.

Entretanto, num instante Madam Anne gritou e tapou a boca com a mão grande. "Você é—você é o multibilionário Sr. Donovan?" Ela exclamou e se inclinou para frente para obter uma visão melhor do homem que estava imponentemente diante dela.

Quem não conhece o nome dos Donovan? Ele era o solteirão mais famoso entre as mulheres de negócios e as mulheres em geral.

O empresário bem-sucedido que raramente aparecia em público, mas uma vez que as pessoas o viam, era impossível esquecer. Sua forte impressão fazia sua figura se gravar em todas as mentes.

Madam Anne não tinha notado ele antes, por causa da falta de luz e da noite chuvosa. Mas, agora que Rafael havia mencionado e ela o viu com seus próprios olhos. "É ele!" Ela deixou escapar um grito abafado. 

Ela era uma mulher solteira no início dos trinta, é claro que com a visão de Torak Donovan diante de seus olhos com gotas de água caindo do seu cabelo, era bem uma cena. "Eu sou Anne… Anne Julliane." Ela gaguejou.

Calleb riu de forma abafada em sua forma de lobo ao lado de Rafael. 'Você acabou de quase dar um ataque cardíaco na senhora.' ele brincou.

Rafael o ignorou enquanto continuava falando com ela. "Boa noite, Sra. Julliane."

"Anne por favor." Ela disse timidamente.

"Anne." Rafael acenou com a cabeça educadamente. "Nós gostaríamos de falar sobre a adoção agora mesmo. Você vê, porque de manhã precisamos voltar para a Cidade de Redriver e precisamos levá-la conosco."

Torak não prestava atenção em qualquer discussão que estava acontecendo ou notava o sorriso de Anne para ele. 

Ele estava preocupado com a garota ao seu lado. Raine olhava para seus sapatos, inquieta em seu braço, ele podia sentir o corpo dela tremendo. Agora, Torak se perguntava, ele não havia ouvido a voz dela desde a primeira vez que a viu. Por que ela não falava?

"Qual é o seu nome?" Torak perguntou suavemente, mas Raine nem mesmo levantou a cabeça. 

Ignorando sua conversa com Rafael, foi Anne quem respondeu em vez disso. "O nome dela é Raine."

"Raine," Torak repetiu e gostou da forma como o nome dela soava em sua língua. "Nome lindo." Ele elogiou.

"Quantos anos você tem?" Ele achava que ela deveria ser bem jovem, adolescente pelo menos. 

"Ela tem dezessete anos senhor." Anne respondeu novamente com sua voz doce demais.

"Eu perguntei pra você?" Torak levantou a cabeça para olhar para ela com um olhar severo. Ele queria ouvir a voz dela, mas essa mulher continuava respondendo suas perguntas. Isso o irritava.

"Não, senhor—mas—ela," ela gaguejou. "Mas, ela não vai responder à sua pergunta."

"Por quê?" Torak franziu a testa.

"Ela não fala." Anne olhou para Raine que ainda baixava a cabeça.

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