Chapter 5 - Capítulo 04

Eu ainda me lembro do dia em que entrei no Instituto Moteshiro. As flores das cerejeiras estavam sendo levadas pelo vento, transformando aquela cena em uma visão tão bela que parecia um sonho.

Enquanto caminhava pelo jardim da escola, meus olhos se fixaram em uma garota encantadora, que estava em frente a uma cerejeira, na ponta dos pés, tentando pegar algo, que parecia ser uma carta presa nos galhos das árvores. Por impulso, me aproximei e estendi a mão para pegar a carta. Ela me olhou com surpresa, segurando a carta em suas mãos.

"O-Obrigada, eu não conseguiria entrar no meu primeiro dia sem a carta de admissão."

"De nada."

Quando a olhei, senti uma vergonha extrema, pois sua beleza era como a de uma deusa, como uma pintura de um pintor renomado. Seus olhos eram de um verde semelhante a esmeraldas, seu cabelo prateado e cacheado tinha um tom tão belo que parecia neve. Ela usava um penteado de twintails com pequenos lacinhos em ambos os lados, o que a fazia parecer sexy, mas não vulgar. Tudo isso a tornava incrivelmente feminina, complementado pelo rosto delicado e bem desenhado, parecendo uma deusa na terra.

Ao perceber sua beleza, meu coração deu um salto, e um sentimento estranho percorreu meu peito, que eu não conseguia entender. Aquele sorriso tinha feito meu coração reagir de forma inesperada.

"Existe algo errado com o meu rosto?"

Perguntou a garota, enquanto passava a mão pelo rosto. Eu corei intensamente quando ouvi isso.

"Não, não, não tem nada."

Eu suspirei, olhando para baixo. Quando finalmente reuni coragem para iniciar uma conversa, os alto-falantes da escola começaram a fazer barulho.

"Todos os alunos, por favor, dirijam-se ao ginásio para a cerimônia de entrada."

Naoya suspirou, sentindo-se inútil ao tentar iniciar uma conversa com ela e fracassar rapidamente. Após ouvir o anúncio, a garota se virou, deu alguns passos para a frente, parou e sorriu enquanto olhava para ele. Ela arrumou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha enquanto sorria.

"Espero te ver de novo, Naoya."

Aquelas palavras ecoaram nos ouvidos de Naoya e o deixaram confuso, pois era a primeira vez que ele via aquela garota, e ela disse seu nome tão tranquilamente.

"Como você sabe o meu nome?"

"Bom, isso é porque…"

"Ainda tem gente aqui no jardim? Vamos todos para o ginásio."

A resposta da garota foi interrompida pela voz da representante do conselho estudantil. Ela se virou e correu para dentro do ginásio. Naoya não conseguiu reagir à súbita chamada da garota que mencionou seu nome.

Após a cerimônia de entrada na escola, Naoya seguiu para sua sala de aula. Sentado na cadeira no fundo da sala, a professora entrou, escreveu algumas palavras no quadro negro e se virou para seus alunos.

"Bom dia a todos, eu serei sua nova professora neste ano."

"Sensei, por favor, cuide de nós."

Todos os alunos responderam em uníssono. A professora pediu que todos se apresentassem, e um por um fez sua apresentação. Quando chegou a vez de Naoya, ele não conseguiu se apresentar direito. Seu nervosismo atrapalhou sua apresentação e o fez engasgar nas palavras. Ele se sentou e abaixou a cabeça sobre a mesa com extrema vergonha.

'Vou ser ignorado novamente como fui no fundamental I, eu tentei me apresentar mas fracassei de novo.'

Enquanto se autodepreciava, Naoya sentiu como se alguém o estivesse observando atentamente. Ele então inclinou a cabeça levemente para a esquerda e percebeu que uma garota o observava com muito interesse. Quando seus olhares se cruzaram, ele corou e desviou o olhar. enquanto tentava recompor a compostura, ouviu um pequeno sorriso vindo da sua esquerda.

"Tão fofo."

Estas palavras acertaram como lanças o seu coração, fazendo-o sentir-se envergonhado.

"Huh?"

"Algum problema?"

"Não, não, nenhum problema."

"Pfft."

Ela segurou o sorriso enquanto ele mantinha sua cabeça baixa cheio de vergonha. Ela o encarava enquanto estava corado, e Naoya não conseguia olhar para ela.

"Você é simplesmente interessante, Akagawa-san, suas reações são tão fofas assim como ela disse."

Estas palavras ecoaram pelos ouvidos de Naoya, que ficou confuso. Como uma garota estava provocando ele só para confirmar o que outra garota disse, e mesmo que ele quisesse descobrir quem seria esta outra garota, ele não conseguiria, pois não conseguia manter uma conversa com uma pessoa por muito tempo ou até iniciar uma.

No intervalo para o almoço, Naoya estava sentado em sua mesa comendo seu almoço sozinho como de costume. Ele olhava ao redor e notava os grupos de garotas conversando. Sua maior frustração era não conseguir se enturmar e fazer amigos. Enquanto olhava para sua marmita, uma mão colocou sua marmita sobre a mesa. Ele levantou o olhar e notou que era a mesma garota que sentava ao seu lado.

Ela lhe deu um sorriso enquanto estava parada de frente a ele e segurava seu almoço.

"Posso me sentar ao seu lado, Akagawa-san?"

"Ah, c-claro."

Ela sentou-se em uma cadeira na frente de Naoya, que inclinou levemente a cabeça para baixo.

"Você sempre come aqui sozinho?"

Surpreso com a tentativa da garota em puxar um assunto com ele, Naoya levantou sua cabeça e cruzou seu olhar com o dela. Em muito tempo, ninguém ainda teve coragem de puxar assunto com ele.

"Sim, é mais ou menos isso."

"Isso me deixa feliz."

"Huh?"

"Isso me deixa feliz porque sou a primeira pessoa a almoçar com você."

'Ah, claro, o que mais eu estaria esperando ela responder? Mas quem é ela?'

Ela deu um pequeno sorriso enquanto olhava para Naoya e ajeitou seus longos cabelos loiros, como fios de ouro, e ajeitou uma mecha de seu cabelo em sua orelha, deixando Naoya sem reação e corado.

"Onde estão meus modos, eu estava aqui falando e falando e não me apresentei. Prazer, eu me chamo..."

Enquanto a garota falava, sua voz foi abafada pela voz da representante do conselho estudantil que chegou na porta da sala chamando pelo nome de Naoya. Ela sorriu levemente como se dissesse "Teremos outras oportunidades, assim como esta."

Aquelas palavras e aquela reação o deixaram curioso a ponto de descobrir quem ela seria, mas essa tentativa seria frustrada pela mudança repentina de sala que ele recebeu. O diretor trocou Naoya de lugar e pediu para chamá-lo para informar dessa mudança. Após esse acontecimento, ele não teve mais oportunidade de falar com aquela garota. Com o passar dos meses, ele foi se esquecendo dela enquanto olhava seu celular. A preocupação aumentava, pois faltava apenas 1 semana para o aniversário dele e o anúncio de seu noivado com uma garota totalmente desconhecida.

Aquela semana era a última que ele tinha para decidir se aceitaria ou não aquele destino que teria que enfrentar. Sua decisão ainda parecia um pouco nebulosa, o medo de escolher uma decisão ruim o afastava de uma certeza absoluta. Várias hipóteses surgiam em sua mente, e várias vezes ele voltava atrás em sua decisão.

"Eu não consigo entender por que tenho que me casar. Nem pretendo ter filhos, e isso também não é uma obrigação que quero seguir. Mas como recusaria este aviso?"

Naoya se encontrou novamente pensando em seu aviso e sua noiva misteriosa. Não importava quantas vezes pensasse, a resposta seria sempre a mesma. Sua vontade de desistir desse casamento era grande, mas como enfrentaria um destino já decidido antes de seu próprio nascimento? Como em um mangá de romance onde o garoto estava prometido em casamento à sua noiva, no começo brigavam muito, mas aos poucos criavam laços e se apaixonavam verdadeiramente. Histórias como essas passavam pela cabeça de Naoya constantemente, e sempre o mesmo final era a união dos casais. Ele lia diversas novels e mangás de casamentos forçados, e o final era sempre o mesmo. Via sua realidade espelhada naquelas histórias, queria escrever uma nova história, sua própria história com a pessoa que amasse, a garota de seu passado. As buscas por essa garota estavam cada dia mais difíceis, e sua vontade de desistir de procurá-la aumentava.

Enquanto olhava para o passado tentando decidir seu futuro, sua decisão parecia cada vez mais difícil. Parou e pensou na garota que seria sua futura noiva. Em meio aos seus pensamentos, fantasias sobre a possibilidade de que seu par arranjado pelo governo fosse sua amiga de infância surgiram. Aquele futuro parecia mais viável para ele, mas também pensou sobre os sentimentos da garota que seria sua futura noiva caso não fosse sua amiga. Como ela se sentiria com ele tratando-a com tanta indiferença?

Suas perguntas sem resposta não poderiam ser respondidas pelos pais, pois ouviria deles sermões ao invés de apoio a sua decisão. Essas perguntas cabiam apenas a ele encontrar a resposta. Não podia depender que outras pessoas o ajudassem. Enquanto mantinha a cabeça baixa, melancólico por se encontrar em um beco sem saída, ele já havia desistido de tentar achar uma solução para seu problema.

"Que bom que nos encontramos de novo, Naoya."

Aquela voz familiar ecoou pelo ouvido dele, que se levantou assustado e elevou seus olhos para a direção que a voz tinha vindo.

"Você aqui?"