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Chapter 3 - Uma Tarde Estranha no Shopping

Após o fim de mais um dia de aula comum, fomos fazer o que pretendíamos fazer, assistir um filme. Era do gênero do terror, e achei bem sem graça. Os outros caras pareciam compartilhar da mesma opinião, mas, curiosamente, o Miyako parecia que ficou um pouco assustado. Me lembrava que, quando íamos nós quatro assistir filmes na casa dele, ele era o que mais tomava susto quando se tratava de filmes desse gênero. Eu também tomava vários, mas só quando o filme sabia assustar de verdade.

Achei que a melhor coisa do filme foi um personagem gordinho, que era um alívio cômico. Sempre tinha um, e esse era bem engraçado. De resto, foi bem medíocre pra baixo. A história era ruim, a motivação dos personagens também eram e, por algum motivo, tinha um romance no meio disso tudo, que não se encaixou bem na história e nem foi bem desenvolvido.

Parando para pensar, isso tinha muita cara de ser um filme que seria originalmente de romance, mas, de última hora, decidiram mudar tudo e fazer um terror, mas sem esquecer sobre o romance dos personagens principais. Muito porco. Me lembrou até aquela história de que Devil May Cry era pra ter sido um Biohazard, o famoso Resident Evil 4. A diferença era que ambas as duas franquias eram boas. Esse filme não deveria ter sido bom, mesmo sendo romance ou terror.

Mas tinha que admitir algo: pra um filme como esse, os efeitos especiais eram muito bem feitos. Teve momentos que realmente me deixaram desconfortável e impressionados. Mas se fosse só pra ver por isso, nem teria saído de casa hoje.

Bem, diria que foi dinheiro jogado no lixo, mas não fui eu que paguei.

— Se for para o Takafumi escolher o filme, deixa que eu escolho e pague pra todo mundo — Ryotaro disse, e concordo completamente.

— Eu pago e os caras ainda acham ruim.

Takafumi mostrou a língua, junto do seu dedo do meio. Fizemos o mesmo, em retribuição.

— Aí, vocês querem comprar um sorvete? — sugeri.

— Pode ser… Um sorvetinho pode ser bom depois daquele filme… me deu calafrios…

Provavelmente o que mais deu medo no Miyako foi aqueles efeitos especiais, porque não vi ele tomando algum jumpscare com aquela porcaria de filme de uma hora e meia.

Enfim, os outros caras curtiram a ideia, e, então, fomos comprar um sorvete… 

Nosso ponto de partida seria para o primeiro andar. Estávamos no segundo, e aproveitamos que estávamos indo embora mesmo para comermos o sorvete que ficava no andar sob nossos pés, daquele grande e lotado shopping.

Fomos em direção ao elevador, mas, de forma repentina, do nada uma mulher correu em nossa direção e ficou atrás da gente, com um rosto assustado e como se nós fossemos escudos.

— Ei! Parada aí! — gritou um de dois seguranças daquele lugar, e isso chamou a atenção de todos à nossa volta.

— Vocês quatro, por favor, me ajudem! — ela falou isso, tentando se esconder atrás de nossas costas — Aqueles dois seguranças nojentos passaram a mão na minha bunda, dizendo coisas como "você é uma mulher tão jovem e bonita" e "nós vamos nos divertir bastante com você".

Ela estava quase chorando enquanto falava isso, e comecei a ficar com pena dela.

Todos em volta olharam para aqueles dois seguranças, com olhares irritados e demonstrando desgosto.

— Sua mentirosa! — o segurança de antes gritou.

— Não estou mentindo!

— Está sim! Você, sua mulher desgraçada, estava vendendo nesse shopping sem permissão! — o outro segurança tomou adiante da conversa.

Os olhares de desaprovação de todos em volta viraram olhares de surpresa e, de repente, todo mundo puxou camisinhas de seus bolsos.

— Se fosse só isso, tudo bem, mas você estava vendendo camisinhas usadas, e por sua culpa, acabei pegando uma infecção no pinto, e não consigo mais transar!

Como que a gente chegou nessa situação? Nós quatros nos olhamos, e só com isso, já sabíamos o que queríamos: sair dali.

Aquela mulher começou a tremer e olhar para o lado, parecendo não saber o que responder. Ela era a culpada da situação, não uma vítima.

— M-m-mas… você não pode acusar os outros sem provas…

Com seus gaguejos, todos em volta já perceberam a real situação. Eles jogaram os preservativos no chão, e andaram em nossa direção, provavelmente para recuperarem o dinheiro gasto.

Abruptamente, aquela mulher abaixou as calças de Takafumi e saiu correndo, distraindo a todos.

— Sua piranha! — ele gritou, levantando as calças rapidamente.

Essa pequena distração foi o suficiente pra ela correr até o elevador, que já estava aberto, pois uma senhora com crianças acabara de sair dele. Ela empurrou a senhora, e, com um sorriso, mostrou o dedo do meio pra todo mundo.

— Até mais, otários!

Os seguranças tentaram correr até ela, infelizmente, não deu tempo, ela havia escapado.

— Não se preocupe, cara, vamos avisar para todos de lá embaixo cercarem o elevador! — o outro segurança confortou o outro cara, que estava vermelho de tanta raiva.

— Que loucura…

Pelo que foi dito, aquele segundo segurança caiu na enganação daquela mulher. Parando pra pensar, porque uma autoridade comprou um produto de uma vendedora ilegal em sua área em seu próprio emprego?

Bem, depois de toda aquela loucura, decidimos usar as escadas. Vimos aquela mulher sendo levada pela polícia. Aparentemente, além de venda sem autorização, ela também cometeu desacato à autoridade.

Tanto faz, aquilo não era nosso problema mesmo, mas o Takafumi ainda parecia irritado pela sua cueca ter sido exposta em público assim.

Mas, tudo bem, ele poderia se alegrar, já que estávamos na sorveteria, e iriamos comer um sorvete… apesar de que o bolso que sofreu hoje foi o dele.

Estávamos em um shopping, o lugar perfeito para você ir comprar um sorvete depois de você fazer algo completamente não relacionado só porque podia, queria e tinha dinheiro. 

— Muito obrigado — dissemos ao vendedor daquela sorveteria.

Ele parecia ser um cara simpático. Nos atendeu super bem e falava de forma bem educada.

— Ô, calma aí, molecada.

O vendedor nos chamou. Fiquei confuso, mas não pensei muito no que ele queria.

— Vocês não pagaram.

"O quê?!", pensei, completamente confuso. Depois de raciocinar melhor no que ele disse, percebi que estávamos nos metendo em problemas.

— O quê? Mas eu paguei! — Takafumi, que parecia indignado, gritou.

— Aaahn, não! Vocês não pagaram. Se forem para ser pobres fudidos e não pagarem, é melhor nem aparecerem aqui.

— O quê você disse?

Agora ferrou, ele se irritou com as provocações do balconista. Takafumi tentou ir para cima do homem, com o punho fechado, mas nós três o seguramos antes de dar algum problema.

Olhei para os lados, e os poucos clientes daquela sorveteria olharam para gente, parecendo sem saber quem estava certo ou errado. Eles provavelmente estavam distraídos vendo os biscoitos doces do estabelecimento, e não sabiam se pagamos ou não.

— Deixa de ser mentiroso, moço!

— Eu vou ter que chamar a segurança?

Naquela sorveteria, ao lado da porta de entrada, tinha uma grande vidraça para mostrar tudo de volta. Então, vi que um guarda do shopping estava se aproximando.

— Takafumi, se acalma! — exclamei, mas ele não me ouvia.

Os outros dois também tentaram o acalmar, mas não funcionou.

Estávamos do lado de fora do shopping. A gente havia conseguido afastar o Takafumi daquele cara, mas não adiantou, já que o homem o provocou dizendo que ia fazer coisas "estranhas" com a mãe dele, enquanto o pai do nosso amigo assistia tudo. Com isso, o vendedor recebeu um soco na cara, e nós fomos expulsos do shopping.

— Que raiva, que raiva, que raiva, que raiva!

Takafumi estava batendo com o pé no chão de forma frenética, enquanto andava em círculos. Ele estava com tanta raiva que seus olhos estavam até com lágrimas.

— Maldito! Queria ter dado mais um soco nele! Maldito! E nem conseguimos aproveitar o sorvete.

Nós havíamos sido derrotados por um adulto cruel… Os outros dois estavam frustrados com a situação, e eu também.

— Ah! Oi, meninos, há quanto tempo!

Olhamos para o lado, e uma figura familiar olhava em nossa direção.

— Como vocês estão?

— Tia Honoka! — nós gritamos.

Honoka Komura era seu nome, e ela era minha tia, irmã da minha mãe. Recentemente, a tia estava passando por um divórcio, já que ela havia pego o esposo na cama com um monte de mulher depois do trabalho, tinha até um homem disfarçado no meio.

Era uma mulher bem bonita, e vestia um longo vestido preto.

Como eu e os meninos éramos amigos de infância, meio que minha tia acabou virando a deles também, por isso eles a chamavam assim.

— Tia, ajuda a gente!

— Hã? O que foi?

Takafumi correu até ela, se jogando em sua cintura.

— Um homem balconista da sorveteria falou que a gente roubou ele! E agora fomos expulsos do shopping, sem dinheiro e sem sorvete…

— Isso é sério?

Ela olhou para a gente, e apenas concordamos com a cabeça, e fazendo uma cara deprimida.

— Espera, isso foi em qual andar?

— No primeiro! É a sorveteria mais próxima da saída.

— Aaah! Então é aquele tarado?

Certa vez, eu ouvi minha mãe e a tia conversando sobre um certo vendedor de uma sorveteria do shopping que a gente foi. Aparentemente, ele ficou dando em cima dela por uma hora seguida, até mesmo quando ela estava em outros estabelecimentos. Aparentemente, esse cara chegou em um nível tão insuportável e desrespeitoso que tentou pegar nos peitos dela, e a Honoka o espancou ao ponto do cara desmaiar, e acabou tendo que fugir dos guardas depois disso.

Me lembrei que essa não foi a única vez que eu a ouvi reclamando desse homem, o que significava que o cara não desistiu de conquistar ela. Parecia até personagem de anime… credo. Não sabia como ele ainda não foi preso.

Bem, por sua reação, acho que era o mesmo homem.

Ao olhar para seu rosto, ela parecia bem determinada.

— Meus jovens, esperem dentro do meu carro, terei uma conversinha com esse sujeito.

Ela me entregou as chaves, e fizemos o que nos foi ordenado.

Fazia alguns minutos que a tia entrou dentro do shopping, e até agora não voltou.

— O que será que ela vai fazer? — Miyako perguntou.

Não fazíamos ideia do que aconteceria a seguir, então, não sabíamos o que responder.

Até que, de repente, a Honoka saiu do shopping, e junto dela aquele idiota. Eles foram em direção a um beco ao lado.

E como se respondesse a pergunta anterior, Ryotaro falou:

— É o que vamos descobrir.

Saímos do carro, e seguimos discretamente aqueles dois, como agentes secretos.

Eles pararam no fundo do beco, e dava para ouvir o que diziam. Então, paramos na parte de fora, dando uma bisbilhotada.

— Oooh! Honokazinha, você realmente faria isso por mim?

— Não me chame pelo primeiro nome, idiota! E sim! Mas só se você me pagar primeiro… é minha palavra como uma mulher.

— Ah, é? É que, sabe, palavra de mulher geralmente não vale merda nenhuma.

— Hã? — Com esse comentário, a tia parecia querer dar um soco nele, mas se controlou.

— Vamos logo com isso! Quer que eu faça ou não?

— Oh, sim!

Ele botou a mão no bolso para pegar a carteira, mas acabou se atrapalhando e deixou cair no chão, mas logo pegou de volta, tirando lá uma quantia de dinheiro que não dava para ver dessa distância.

— Assim está bom?

— Sim.

— Ooooh!

Credo, esse cara falava como um virjão seboso de animes perto dela… Nunca conversou com uma mulher não?

— Agora, como o combinado…

Ela fez algo que nunca imaginaria um membro da minha família fazendo.

— É preta!

A Honoka mostrou a calcinha do nada pra ele. Eu fiquei extremamente envergonhado com essa situação. Olhei para os outros três, que ficaram bem corados.

— N-não olhem! Não olhem, seus imbecis! — sussurrei, empurrando eles pra longe.

— Então, quer que eu mostre o que tem debaixo dessa calcinha? — Ao ouvir o que ela falou, me virei para lá novamente.

— S-sim!

— Ótimo! 30 mil ienes.

O quê? Ela ia extorquir o cara?

— Certo! E-eu mal vejo a hora de te encher de leite quando ver o que você esconde por baixo, Honokazinha.

Isso pareceu a irritar ainda mais, fazendo uma cara de nojo. Parando pra pensar, esse cara não era muito obcecado pela tia? Talvez isso se torne um grande problema no futuro.

— Ah, é, garanhão? Então que tal 100… não! 150 mil ienes.

O cara concordou, entregando o dinheiro em nota.

— Só isso?

— Ah, mas você disse que…

— Vamos lá, garanhão, sabemos que eu mereço mais. Manda mais 200… não! 250 mil ienes.

— Oh, tudo bem…

E ela continuou, aumentando o valor do dinheiro a cada 50 mil ienes, até que acabou arrecadando 600 milhões. Não sei se deveria me orgulhar dela por isso, mas também não senti nenhuma pena daquele cara. Aquilo já estava em um nível patético, ele era definitivamente um pervertido sem salvação por se submeter a isso.

— Você realmente tem dinheiro sobrando, né?

— Se você quiser mais, eu posso…

— Não! Tudo bem, não sou uma monstra. Mas agora, sua recompensa.

Minha tia colocou a mão por baixo do vestido. Aquilo me deixou em um choque tão grande, que esqueci de impedir aqueles três malditos de ficarem assistindo essa cena.

Ela deslizou as mãos para baixo, enquanto seu corpo seguia o fluxo. Aquele cara taradão parecia literalmente explodir.

— E, então… Toma!

— Aaaaaah!

Ela nos enganou… ao invés de mostrar o que tinha por baixo da calcinha, ela o acertou um golpe nos ovos, fazendo o cara cair no chão. Depois disso, se levantou e gritou:

— Isso foi por trazer problemas pros meus sobrinhos!

Depois disso, ela veio até a gente e entregou uma parte do dinheiro. Os outros caras pareciam muito alegres com isso, mas acabei pensando em algo que não pude deixar de perguntar:

— Vem cá, não tem problema em pegar o dinheiro daquele cara? — perguntei.

— Não se preocupa, aquele tarado deu esse dinheiro pra mim porque quis, então, não era nada criminoso. — me respondeu.

Bom, ao menos poderia pagar por

uma nova bateria. Comecei a ver a tia como uma mulher bastante curiosa e um pouco gananciosa por ter nos ajudado dessa forma… principalmente pegando todo o dinheiro do cara, o que não precisava.

— Ah, e não conte nada disso pra sua mãe. Caso ela fique curiosa de como eu te dei tanto dinheiro, apenas fale que foi algo que estava guardando pra vocês.

Concordei com a cabeça.

— Caso ela descubra, vai brigar comigo de novo…

— Como assim de novo?!

Honoka disse, com um olhar assustado e tremendo um pouco. Talvez tenha se lembrado de uma memória ruim.