Nós dois, eu e Sujina, estávamos de cabeça baixa, sentados na cadeira da cozinha. Estava com medo da fera à minha frente, minha mãe. Depois que a desgraçada da minha irmã falou aquilo, chegamos a esta situação.
Olhei para Aiko com ódio, e ela apenas me mostrou uma língua. Essa garota era o quê? Uma criança?
Apenas ouvi uma respiração profunda vindo da minha mãe. Ela estava se preparando para falar algo, e apenas esperei, com medo do que poderia ser.
— Então, Takashi… você e… esta garota estavam fazendo… se…
"Se"... Bem, já sabia o que era, só não queria ouvir mesmo. Que bonito uma mãe falando isso para um filho, hein… Apesar de que ela não estava, ou parecia não estar, muito à vontade de falar neste assunto. Quero dizer, seu rosto ficou um pouco corado só de tentar pronunciar a famosa palavra que começava com "se" e terminava com "xo".
— Se… — Ela tentou de novo, mas não saiu nada. — se… — De novo!
— Mãe…?
— Se… Cof! Cof! — Se engasgou desta vez.
— Mãe…
— O-o q-quê foi? — Ela pegou sua xícara de chá na mesa e começou a beber, tentando disfarçar a sua vergonha.
Achava que nesse momento, a melhor coisa que eu poderia fazer é deixar ela menos envergonhada sobre esse assunto.
— Você é realmente horrível nisso, não é?
Talvez isso não tenha sido uma boa ideia, pois a sua próxima reação foi se engasgar e acabar cuspindo todo chá no chão. Então, antes de continuar a conversa, ela preparou outra xícara, e se sentou novamente na cadeira.
— Se você já sabe sobre o que estamos falando, vamos ser mais rápidos.
Se não queria continuar falando sobre isso, a gente poderia encerrar esse assunto pra hoje, né?
— Então, meu filho… — disse meu pai, estando ao lado da minha mãe, colocando o braço em cima do meu ombro — você fodeu forte com ela? — falou, enfiando o dedo indicador em um buraco que fez com a outra mão, e tirando, repetidas vezes.
Me levantei da mesa e dei a costa aos dois. Sinceramente, meu pai fala muitas coisas desnecessárias e que me deixam sem jeito, mas isso foi muito longe.
— Vou pro meu quarto, boa noite.
— Ei, volte aqui, ainda temos coisas a conversar! — minha mãe gritou.
Sem muito o que fazer, apenas voltei e me sentei novamente.
— Por que não nos apresenta a sua amiga, antes de tudo, hein? Você ainda não respondeu a minha questão.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Sujina entrou na frente.
— Muito prazer, eu sou a Arasuka Sujina. Não, nós não fizemos nada naquele quarto, e nem sei porque a Aiko falou sobre isso. E mesmo que fizéssemos, não se preocupe, eu não poderia engravidar de qualquer forma. Ao menos, foi o que a minha falecida mãe disse, aquela cadela.
Uuuh…? Mãe cadela? Olhei incrédulo, meus pais também.
— Aah, tudo bem. Então, o Takashi não disse que trazia visitas hoje.
— Bem… — Tentei falar, mas fui cortado novamente.
— Bem, entrando nesse assunto, na verdade, não estou com lugar para morar. Então… — Sujina abaixou sua cabeça na mesa e começou a implorar: — por favor! Me permitiriam morar aqui?
Eles abriram a boca em espanto. E tinha como julgá-los? Era uma situação complicada e repentina.
— O quê?! — Aiko gritou, parecendo irritada. — Quem você pensa que é, garota? Por que isso do nada.
Acho que minha irmã não gostava muito dela. Mas qual seria o motivo disso? Tipo, elas se viram pela primeira vez nem tinha uma hora.
— Ah, bom, não tenho lugar para ficar e gostaria de um lar. Basicamente isso — falou em um tom que expressava abertamente que não havia entendido o que Aiko queria dizer.
— Isso eu entendi! Mas e seus parentes? Seu pai?
— Bem, a minha raça de demônios não podem procriar. Portanto, não tenho pai. Apenas uma mãe adotiva que eu odeio. Bem, fazer o quê? Humanos têm vantagens nisso.
— Você é pirada da cabeça ou tá zoando a gente?
— Nunca faria isso em uma situação tão séria.
— Não é o que parece!
Ouvimos apenas um suspiro alto.
— Bem, isso não é uma decisão tão simples. Podemos conversar sobre isso, mas primeiro iremos nos apresentar. Meu nome é Hana Kobayashi, e esse ao meu lado, meu marido, se chama Yudi Kobayashi. Muito prazer, Arasuka Sujina. — falou minha mãe.
O que podia dizer sobre eles? Bem, pais normais? Com certeza, porém, meu pai em específico, era um pouco excêntrico e meio sem noção, me deixando envergonhado diversas vezes com suas piadinhas sujas. Acabei me acostumando com isso, mas às vezes ele exagera muito, e isso faz parecer que estava ouvindo essas piadas de um estranho, pela primeira vez.
Bem, isso tudo era um começo, apesar de não achar que isso fosse uma decisão tão inteligente, mas, sinceramente, se o assunto já não me envolvia mais, minha vontade era de subir para meu quarto. Tudo isso que aconteceu hoje derreteu meus neurônios.
— Espera, mãe! Você vai realmente considerar isso? E se essa garota for uma ladra? E se ela for uma enganadora e só trazer problemas para a nossa casa? — Em protestos, Aiko negou essa opção. Achei que fosse a única pessoa com a cabeça boa naquela sala, até porque, já não estava mais disposto a ficar com a minha funcionando corretamente.
— Isso é o que iremos ver com o tempo, Aiko. Eu não posso simplesmente expulsar essa garota de casa desse jeito!
Uou… isso que a mãe falou estava… certo? Na verdade, fazia sentido? Agora não sabia se Aiko só estava sendo lúcida ou muito cabeça-dura. Pra falar a verdade, meu desejo era de expulsar a Sujina de casa, mas depois de ouvir ela, isso meio que sumiu? Não sei ao certo, mas ainda não confiava muito nela, e nem gostava.
Mas não achava que expulsaria alguém da minha casa sabendo que essa pessoa não tinha local para ficar, ao menos, não teria a coragem.
No entanto, minha irmã ainda parecia rejeitar essa ideia, e isso só se comprovou mais quando pude a ver virando o rosto e estalando a língua.
— Se me permitem dizer — Sujina levantou a mão — se o problema é falta de confiança, acho que tem algo que eu poderia fazer para confiarem em mim. — Se levantou da mesa e foi até os talheres da cozinha.
O que ia fazer? Quando veio pra cima de mim com esse papo de "confiar" falou em contrato, porém, achava difícil ela meter esse migué pra cima da família inteira. Se não funcionou com um, porque com outros?
Sujina estava a procura de algum talher em específico. Algo me dizia que essa garota ia fazer ou falar alguma idiotice. Não tinha um bom pressentimento…
Até que então, ela pegou uma faca.
— Se eu me cortar e despejar meu sangue sobre o chão, vocês confiariam em mim?
Sabia que era alguma idiotice! Isso me deixou chocado! Pálido! Não só eu, como o restante das pessoas nessa casa.
— Que papo é esse, garota? Sabia que você era pirada! — gritou Aiko.
— Não é questão de ser pirada, Aikozinha.
— "Aikozinha"?!
— Se uma pessoa estaria disposta a se machucar apenas para conquistar a confiança de alguém, isso já comprovaria, ou estou errada? — falou, encostando a ponta da faca na palma da mão.
— Você está completamente errada. Por favor, jovem, largue esta faca! — gritou meu pai.
Essa foi a segunda vez que o vi tão desesperado. A primeira foi quando ele quase explodiu tudo colocando uma comida do dia anterior embrulhada em alumínio no microondas, porque estava sonolento demais para notar o embrulho.
— Tudo bem, senhor. Mas ainda não sei como fazer vocês confiarem em mim.
— Por favor, querida, não se preocupe com isso! Se é amiga do meu filho, já está de bom tamanho. — Hana gritou, ainda visivelmente desesperada com o que acabara de ocorrer.
Espera, ela falou que éramos amigos? Nós éramos…? Ah, verdade… nós éramos, apesar de não sentir isso ainda.
Depois dessa loucura, Sujina apenas se sentou novamente. Isso já foi o bastante pra mim.
— Posso ir pro meu quarto agora? — Olhei para minha mãe.
— Sim, vai lá, filho.
Finalmente! Saí da cadeira e fui em direção às escadas.
— Espera, Takashi. — Yudi veio rapidamente até mim, envolveu seu braço em meus ombros, e cochichou no meu ouvido: — Depois me fale o seu tamanho "P" para que possamos comprar camisinhas para você.
— Do que você tá falando? Eu não preciso disso! — O empurrei, completamente envergonhado.
— Se o que essa garota estiver falando sobre não engravidar for verdade, então não terá problema em fazer na pele. Mas tem certeza que não deseja nenhuma camisinha?
— Do que você tá falando, seu doente?!
Por que ele achava que iria tentar algo com a Sujina? Qual era o problema desse velho pervertido?
Após aquilo, fui tomar um banho antes de deixar o sono me consumir. Ao sair do banheiro completamente vestido, me deparo com minha irmã na porta.
— Mas que problemão você trouxe pra dentro de casa, hein, Takashi!
Na verdade eu não trouxe nada pra dentro.
— Não se preocupe, a Sujina é inofensiva — afirmei, andando em direção ao quarto.
— Como pode ter tanta certeza disso? — Ela veio logo atrás de mim.
— Bem, pode confiar que quando uma pessoa com falta de intelecto, QI, inteligência, e as outras trocentas formas de dizer, só pra afirmar ainda mais que aquela pessoa seja burra e não seria capaz de ser uma ameaça, é porque é a mais pura verdade.
— Tá… Desnecessário falar assim dela — "desnecessário"? Não fui eu que estava gritando com aquela cosplayer —, mas como você tem tanta certeza disso? Ela até pensou em se cortar para provar que era de confiança. Isso é insano!
— Pode até ser, mas realmente não acho que ela seja perigosa. E porque está tão preocupada com uma "amiga" minha? — questionei, já que a Aiko não era disso, e pareceu que essa pergunta a desestabilizou.
— É porque… me… preocupo… com… você… — disse toda envergonhada, e isso foi fofo.
Para ser sincero, também corei um pouco com isso. Não sabia que ela pensava assim.
— Afinal de contas, quem comprará os meus chocolates se algo de ruim acontecer com você?
— Interesseira!
Ela me deu a língua… Essa minha irmã era uma criança… uma criança chata.
Apesar de que senti que isso que a Aiko falou pareceu mais da boca pra fora, querendo abafar a sua vergonha de demonstrar seus sentimentos, mas não tinha como ter certeza.
— Mas tudo bem… irei confiar em você. Mas olha só, se amanhã acordamos esfaqueados, eu pularei do céu e irei até o inferno onde você estará queimando em fogo ardente só pra reclamar no seu ouvido, então se prepare!
— Que horror! E por que você estaria no céu e eu no inferno?!
Bom, talvez com isso, minha irmã ficaria mais tranquila. Não sabia que ela pensava na minha segurança, isso me deixou feliz, já que, geralmente, essa peste gosta de encher o saco.
— Por falar em chocolate. E aí?
Não entendi…
— E aí?
Falou de novo, mas como uma entonação mais lenta, grave e insistente.
— O quê? — questionei, tentando me lembrar se ia fazer alguma coisa para ela ou algo parecido, mas nada me veio à mente.
— Como assim o quê?! Você comprou ou não?
— Uh… Ah! — Nossa, era mesmo! Havia esquecido completamente! O dia no shopping foi tão louco que apenas comprei a bateria e esqueci dos chocolates.
— Perdão! Acabei esquecendo. Pode deixar que amanhã compro sem falta. — Juntei as mãos, abaixando a cabeça.
Ela pareceu meio irritada, mas respirou fundo. Achava que tinha mantido a calma.
— Tudo bem. Hoje deixarei essa passar, irmãozão. — Aiko colocou um sorriso na cara, virando-se para ir embora — Mas se não quiser que a mamãe saiba sobre o seu histórico do navegador, é melhor não vacilar comigo de novo. Entendeu?
— O-o quê… v-você quer dizer? — Tentei disfarçar olhando para o lado, completamente nervoso com a sua ameaça.
— Você sabe muito bem do que estou falando. Boa noite! — falou, com esse sorriso grande, saindo do quarto logo em seguida.
Aquela ameaça foi completamente golpe sujo! Que droga! Qual era o problema dessa garota! Isso se chamava invasão de privacidade, sabia? Só acabei esquecendo do chocolate, poxa!
Bem, o dia também não havia acabado pro resto da casa, mas para mim, sim. Decidi dormir mais cedo naquela noite, e saber melhor sobre a situação de Sujina amanhã. Felizmente, desta vez, a situação não estava mais nas minhas mãos, e sim de alguém responsável, desta vez.