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Chapter 4 - Amizade Inesperada

Hoje o dia foi… interessante. Após uma tarde inteira cheia de loucuras, como uma mulher abaixando as calças de meu amigo, um cara nos roubando e ver a minha tia fingindo abaixar a calcinha… Eu queria ir para casa dormir. As aulas começaram a pouco tempo e já estava começando loucuras. Essa seria minha tal vida no ensino médio? Sinceramente, espero que não. Queria só uma vida normal, algo comum.

"Às vezes penso que tenho o charme pra me encontrar com gente biruta.", suspirei, "Acho que tô exagerando, afinal, isso só aconteceu hoje, e quando eu chegar em casa, estará tudo normal como sempre."

Andava na rua, debaixo do calmo sol da tarde, indo sozinho para casa.

— Estou de volta! — anunciei minha chegada, porém, ninguém respondeu. Estranhei, mas guardei meus sapatos e explorei a residência.

Chegando na cozinha, vi uma carta colada em uma embalagem de pão de melão. Era um aviso da minha mãe, dizendo que ela, meu pai e irmã sairam e que iriam chegar mais tarde.

— Bem, acho que vou ficar um tempo sozinho.

Decidi não comer o pão agora, e subi as escadas para chegar logo ao meu quarto.

— Ué? — Por algum motivo, a porta estava trancada e a chave na fechadura.

Quando a abri, a primeira coisa que me deparei foi com a invasora sentada no chão envolvendo as penas em seus braços. Quando ela me viu abrindo a porta, correu até mim chorando.

— Por favor! Me perdoe por ter invadido sua casa, mas, por favor, só deixa eu ir no banheiro! E me dê comida e água! Não aguento mais!

Ela se agarrou nas minhas pernas, se esforçando para escalar o meu corpo com seu rosto cheio de lágrimas.

— O… quê…? — Acabei esquecendo completamente que ela existia!

— Eu quero fazer xixi! — ela gritou completamente desesperada.

Pelo o que foi dito, após acordar da madrugada anterior, ela se viu trancada no quarto. E sem o gato dentro para entretê-lá, ficou no tédio esperando pela minha chegada. O problema era que a vontade de ir ao banheiro bateu, e a invasora estava segurando por muito tempo, até eu chegar. Não sabia quantas horas foram, mas tinha que admitir uma coisa, se foi no tempo que eu pensei que seria, essa autoproclamada súcubo tem uma habilidade incrível em segurar a bexiga.

Mas se fosse isso, já tava bom… ou não. A grande questão era que ela alegou estar há muitos dias sem comer, e isso só contribuiu na situação desesperadora em que estava. Aparentemente, tudo que ingeriu foi água.

Parando pra pensar agora, o que essa garota sofreu não foi algo perto de cárcere privado? Bem, me sentiria mal pela situação em que ela estava, se não fosse uma ladra! E era uma ladra burra ainda, do pior tipo! Além do mais, desacreditava totalmente da história dela de estar passando fome há dias. Como que alguém nesse estado conseguiria subir no segundo andar de uma casa?

Na minha frente, sentada na minha cama de pernas cruzadas, havia uma garota que invadiu o meu quarto e tentou tocar nas minhas partes baixas. Agora ela estava se alimentando na minha frente com o pão de melão que deixaram para mim de forma completamente desesperada, o que trazia um pouco de veracidade para sua história, mas ainda tenho minhas dúvidas.

A garota também estava usando uma camisa e um short, com um moletom meu. Além de invadir minha casa e usar o meu vaso, aproveitou para tomar um banho na minha banheira. Sinceramente, admirava a audácia dela. Como essa pessoa era alguém intelectualmente imbecil e eu estava no comando, não vi por que não emprestar umas roupas

Uma boa desculpa seria dizer que "emprestei minhas roupas para essa moça para que ela não fique mais de calcinha e sutiã e seja tão indecente!", mas não sou o tipo de cara que fica envergonhado com isso. Claro, vi que essa cosplayer não ligava de ficar assim, por isso, não diria nada. Se ficasse incomodada, aí a história era outra.

— Obrigada! Achei que iria morrer, mas ainda tô com fominha!

Estava na frente dela, também sentado de pernas cruzadas, pronto para fazer as perguntas e a chutar para fora da minha casa.

— Se você…

Fui interrompido pela palma de sua mão estendida.

— Antes disso, deixe-me saber algo importante.

Fiquei calado, esperando a resposta da criatura.

— Você é broxa? Ai, ai, ai! — Puxei seu nariz com força, depois dessa pergunta indecente.

— Qual é o seu problema? Vai quebrar meu nariz! Ai, ai, ai!

— Eu que pergunto isso! Não vê a situação em que estamos e você aí fazendo piadinhas? E não! Eu não sou! — A soltei, fazendo-a recuar um pouco.

— Ai, ai… Como você é chato! — reclamou, acariciando o nariz — Isso não foi uma piada, me ouviu? É uma pergunta séria!

— Por quê? — questionei, não entendendo onde ela queria chegar.

A ladra apenas abriu um sorriso e ficou de pé na cama. Apenas pude a ver de baixo para cima, com um olhar convencido.

— Não é óbvio?

Não era óbvio o quê?

— Eu… sou gostosa! — gritou, apontando para si mesma com uma pose tão convencido quanto a cara.

Apenas a olhei sem expressar muita reação. Realmente a invasora era bem bonita, mas eu tava pouco me fodendo para isso. Só queria dormir…

— Eu tenho meu charme.

Tava achando que era a Emma Stone?

— Um corpo sexy com belos peitos.

Já vi melhores e maiores. Bem, havia entendido o que estava acontecendo aqui. Essa garota era do tipo que se achava irresistível para os homens e, em sua cabeça, era o centro das atenções. O tipo de pessoa mais problemática.

— Você acha que só porque é acima da média que qualquer cara vai querer dormir com você?

— B-bem… foi o que me ensinaram desde pequena.

"Que tipo de lar ela cresceu?", achei melhor jogar a real.

— Pensar assim só faz de você uma garota prepotente que vai afastar as pessoas boas e atrair pessoas desastrosas em sua vida. Não pense que é alguém especial porque você não é, isso não existe.

Não costumava fazer esse tipo de coisa, e nem esperava que isso fosse funcionar. Talvez por ela ser uma pessoa cheia de si, acabei por ficar um pouco irritado com essa atitude e quis destruir essa máscara que essa garota usa inconscientemente. Enfim, esperei as negações e acusações de mentira por parte dela… Esse tipo de gente sempre era assim.

— Não pode ser…

Ao invés do que eu esperava, a cosplayer em questão parecia estar derrotada. Ela caiu de joelhos na cama, e seu rosto fez parecer que estava sofrendo uma espécie de crise existencial.

— M-mas sempre me disseram que as súcubos eram as melhores… que… nós podíamos conseguir tudo usando os nossos corpos. Parando pra pensar, eu nunca fiz nenhuma safadeza na minha vida… Sempre fracassei nisso… Isso deve provar que… você tem razão? Toda minha vida foi uma mentira? Súcubos não são as melhores?

"Acho que acabei destruindo ela sem querer.", isso foi bem inesperado, e não fazia ideia de como prosseguir. O jeito como essa garota falava… será que realmente acreditava ser uma súcubo? Bem, tanto faz, só não a queria mais na minha casa. Decidi acabar com tudo ali mesmo.

— Você agora pode ir embora? É sério. Não quero saber da sua crise existencial, de como você invadiu minha casa ou você ser uma súcubo. Vai embora antes que eu decida chamar a polícia.

Repentinamente, fez uma cara de surpresa na minha direção, e falou:

— Espera, você não sabe?

— Não sei do quê?

— Súcubos são mais fortes e resistentes que os humanos. Por isso, eu consegui escalar até o seu quarto mesmo estando dias sem comer.

— Ótimo, mas eu não perguntei!

Se ela ia continuar com isso, decidi fazer o mesmo.

— É mesmo, mulher? Então, me explica, se você é realmente uma súcubo, ou seja, um demônio, porque não usou suas asas para sair do meu quarto pela janela? — Quando percebi, as asas de súcubo não estavam mais juntas de sua roupa. — E cadê suas asas, hein? Por acaso se soltaram do cospl…

De repente, as asas soltaram para fora. Não sabia da onde ou como ela fez isso em seu cosplay, mas fiquei impressionado.

— É porque voar gasta bem menos energia do que escalar. E também seria bem perigoso fazer isso fisicamente desgastada.

Para ser sincero, não me importei muito com essa explicação e toquei nas asas. Era estranho a sensação… aquilo tinha uma textura de qualquer coisa menos tecido.

— Ei, seu verme! Não saia tocando nas asas de uma garota sem permissão! que falta de educação!

— Ai! Para com isso! Qual o seu problema? — gritei, em reação a ela contorcer com força minhas duas bochechas. Em resposta, puxei sua orelha enquanto afastava seu rosto.

Depois disso, nós voltamos ao estado de sentar civilizadamente. Enfim, tinha uma cartada final.

— Por que você não volta logo para casa? Sua família deve estar preocupada.

Ela apenas tremeu lábios e respondeu:

— Que se dane eles! Nunca me deram uma cama ou um cobertor para dormir na agência de súcubos, além que disseram que se eu não mostrasse resultado e trouxesse sêmen de um humano até uma semana, elas iriam me expulsar do local. Meu tempo já está acabando, então não ligo mais.

"Que família horrível!", agora realmente senti pena dela!

— Ao invés disso, eu queria um novo lugar para morar. Pode ser com você!

— O quê? Não! Nem te conheço! Nem somos amigos! — Me levantei protestando.

A garota me olhou inocentemente, se levantando logo em seguida.

— Sabe, eu gosto de você, então, vamos ser amigos. E como agora sou a sua amiga, você não me jogaria para fora, não é? O que seus pais iriam pensar? "Ó, o meu filhinho jogou uma doce e jovem menina para fora da rua, que decepção".

Essa atuação dela com essa voz irritante me fez considerar isso seriamente…

— Mas não sabemos nem o nome do outro.

— Sem problemas.

Ela estendeu a mão para mim, esperando um aperto.

— Eu sou Arasuka Sujina. Muito prazer.

"Isso é sério?"

Cocei a minha cabeça, não acreditando nisso. Acabei por retribuir, apertando a mão dela.

— Takashi Kobayashi, o prazer é todo seu.

— Ótimo, agora somos amigos, certo?

— Somos?

— Claro que sim! E como somos amigos, você vai me deixar morar aqui, né? Ai, ai, ai!

Então esse era o plano dela?

— Sua desgraçada, então você está fingindo criar uma amizade comigo só para virar uma encostada? — Apertei a mão dela com força. Que golpe sujo…

— Não, não, você entendeu tudo errado! Quero realmente ser sua amiga!

Ela parecia sincera nas palavras, mas mesmo assim…

— Por quê?

Não havia nenhum motivo para sermos amigos. Tudo que fiz quando nos encontramos foi bater nela. A não ser que essa tal de Sujina seja uma tarada por apanhar, não vejo motivos para isso.

— O que você falou sobre as súcubos não serem especiais… Você abriu meus olhos. Além disso, você seria o meu primeiro amigo nessa vida! — Começou a se aproximar de mim mais do que o meu coração suportaria presenciar!

— E se você não confia em mim, lembre-se de que tecnicamente eu sou um demônio! Então, relações e até mesmo contratos se for preciso são muito importantes para nós. Então, não estou te enganando!

— Tá, tudo bem, só se afasta um…

— E também eu tenho vivido nas ruas até te encontrar. Se não acredita em mim, veja minha calcinha e meu sutiã sujos no chão do banheiro! Eles são a prova de quê…

— Tudo bem, tudo bem, eu confio em você! Se não quiser que eu acabe te beijando, se afaste um pouco! — Ela estava tão perto que poderia acontecer algo mais além nessa "amizade".

— Haha, é verdade, vacilei. Acho que quase te beijei. Perdão por isso.

"Espera, quer dizer que isso realmente poderia acontecer?"

Suspirei alto. Acho que a Sujina poderia estar falando bem sério. E não posso comprovar que estar há dias sem comer era uma mentira, já que ela comeu aquele pão de forma tão desesperada que dava até pena. Mas ainda assim…

— Olha, mesmo que eu quisesse que você morasse aqui, não sou a pessoa com o direito de decidir isso.

— São seus pais, né? Então, vamos falar com eles.

"Que insistente…"

Suspirei, sinceramente estava desgastado de tudo.

— Pode ser.

Bem, ainda não confiava nela, mas a Sujina não parecia ser uma completa mentirosa. E também, é melhor levar essa situação até meus pais. Eles saberiam o que dizer.

— Muito obrigada por isso, Taka.

— "Taka"?

— Penso em apelidos para todos os meus amigos.

Suspirei novamente. Bem, esse era o início da minha amizade com Arasuka Sujina, ou coisa assim. Duvidava que isso iria durar por muito tempo, mas só o futuro me diria.

De repente, ouço o som da minha porta sendo aberta. Quando olhei para ela, vi a minha irmã parada na porta, olhando para gente sem expressar nenhuma reação.

— Oi, Aiko, tudo bem?

— Oi! — Arasuka falou animadamente, balançando a mão.

Minha irmã apenas abriu a boca respirando fundo todo o ar presente no quarto, e fechou a porta com força.

— Mamãe, papai! O Takashi está no quarto com uma vagabunda! E está deixando ela cheia de leite!