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Chapter 2 - Capítulo 2 - O princípio do fim

 Enquanto aguardava no estúdio, Jonas refletia sobre sua vida, sobre todo tempo que dedicou a música e achava que de fato merecia estar ali. Lembrava ele de cada elogio dos amigos, parentes e membros da igreja, lhe ocorreu também, o fato de ter saído da aula de canto até mesmo antes de sua conclusão, pois, não suportava mais a repreensão do professor quanto a sua displicência durante as aulas.

Para Jonas, era um tédio ter que se esforçar cada vez mais nas aulas, porque, em sua mente, ele já era "O cara". Jonas, sempre se achou e seus pais e colegas nunca o ajudaram a "abaixar um pouco a bola", pelo contrário, eles o superestimavam ainda mais. Enquanto refletia, Jonas escutou a porta da sala em que estava se abrindo lentamente, enquanto as batidas do seu coração disparavam por conta de sua grande ansiedade e nervosismo.

 Era ele, João Oliveira, a pessoa que entrou na sala e que Jonas tanto aguardava. Ao sentar-se em sua cadeira, ele olhou diretamente nos olhos de Jonas e disse: — Graça e paz, meu amigo! Desculpe a demora, o trânsito estava muito intenso. Vou direto ao assunto, você tem uma voz muito linda, diferente das demais, com uma autenticidade que eu não vejo a muito tempo. Passei a noite toda escutando sua demo, mas, contudo, lhe falta algo!

Ao ouvir que lhe faltava algo, o semblante de Jonas mudou tão rápido quanto o flash de um raio e em sua mente ele pensava: "Não acredito que passei por tudo isso pra ouvir essa merda!" Enquanto ele pensava, João concluiu dizendo: — Eu fiz teologia com seu pai, eu sei que ele também é pastor e creio que talvez ele já tenha lhe falado o que irei dizer agora. Percebi quando lhe ouvi cantar a primeira vez na Igreja e como servo de Deus, não posso deixar de te falar que lhe falta a essência de um adorador, quando você canta é somente isso, cantar! Como cristão lhe falta o adorar e a essência de Deus. Não estou dizendo isso da boca pra fora, muito menos estou dizendo que não quero gravar com você. Não quero lhe constranger, eu tenho certeza que se eu lançar suas músicas, iremos vender muito, o seu talento é algo raro e sem igual, porém, não posso me calar quando Deus quer que eu fale, o meu lado Pastor fala mais alto. Enquanto eu ouvia suas musicas, Deus me revelou tudo isso e me mandou lhe dizer o seguinte: Te vejo o tempo todo, mas, mesmo assim sinto a sua falta! Neste exato momento, o telefone tocou, estavam solicitando a presença do Pr. João na sala de reuniões, ele pediu desculpas, solicitou que Jonas aguardasse alguns minutos e se retirou.

 Assim que a porta se fechou, Jonas deu um chute na mesa, o quão grande era sua raiva e decepção, com isso, alguns materiais caíram no chão. Em seu pensamento, ele achava um absurdo tudo o que havia ouvido e não deu nenhum crédito a mensagem recebida, pois se sua voz era tão linda e autêntica, para que todo esse sermão?! "Se meu pai que é pastor nunca conversou sobre o tema comigo, não vai ser um pastor qualquer que vai me esculachar desse jeito", pensou Jonas. A raiva era tamanha, entretanto, o seu sonho era maior do que qualquer futilidade advinda de sua parte, ou seja, ele estava disposto a fingir que nada havia acontecido e fazer "carinha de Jesus" quando o Pr. João retornasse, para simular que havia recebido a mensagem.

 Após arrumar os materiais que havia derrubado e se concentrar ao ponto de relaxar o suficiente para não exalar a raiva contida, Jonas acabou cochilando na cadeira, devido ao cansaço extremo de uma noite de trauma e pouco sono. A fadiga era tão grande, que o fez ter um cochilo pesado, ao ponto de sonhar; nesse sonho, a sua primeira visão foi o rosto de Clara iluminado de uma forma que ele nunca havia visto antes, aparentemente ela estava se despedindo dele, pois, se afastava cada vez mais, enquanto fazia ''tchauzinho'' com as mãos, não de forma debochada, pelo contrário, seu semblante era de tristeza e enternecimento. A luz que havia em seu rosto era tão forte, que salientava o brilho da veste branca que vestia, enquanto partia lentamente. Jonas, não conseguia se mexer, nem mesmo falar ou piscar os olhos e a última visão que teve de Clara, antes que ela sumisse, foi dela chorando e apontando para sua retaguarda.

A partir de então, ele se sentiu livre para se mexer, fazer as demais coisas que seu corpo antes não permitia e se virar para trás. Atrás dele, estava uma mulher com vestes escuras, vestindo um vestido longo, todo rasgado e que se arrastava no chão, ao analisar melhor, ele pôde perceber, que era uma espécie de vestido de noiva preto, algo que jamais havia visto, a não ser em filmes e séries de bruxas. A mulher de preto, chorava de uma forma tão perturbadora, que fazia com que ele sentisse uma angústia que jamais havia sentido, ao chorar, essa mulher cobria o rosto com as mãos, o que não permitia que Jonas o visse, porém, quando ele piscou os olhos, aquela mulher apareceu dois palmos diante de sua face e o encarou fixamente por bastante tempo.

Enquanto ela o olhava, ele percebeu que de seus olhos ainda escorriam lágrimas, entretanto, eram lágrimas com um tom escuro, algo entre o cinza e o preto, como as que escorrem de um rosto exacerbadamente maquiado. Ainda olhando fixamente para Jonas, aquela mulher deu um grito de lamento ensurdecedor, fazendo-o cair de joelhos, com a face no chão e as mãos no ouvido, o que o fez até mesmo, despertar do seu sonho e consequentemente do seu sono.

 Jonas, começou a suar excessivamente, o estúdio estava quente e escuro, o que o fez imaginar o que parecia ser óbvio, havia faltado energia. Ainda sem entender o porque de o Pr. João ainda não ter voltado, ele procurava a porta de saída do estúdio em meio àquela escuridão, sua preguiça e sonolência pós-cochilo eram tão grandes, que ele ao menos considerou que tinha um celular com lanterna no bolso. Mesmo sem a ajuda da lanterna, Jonas conseguiu achar a porta e ao abri-la, como ainda era dia, ele ficou sem visão por alguns instantes, até que sua vista se acostumasse com a repentina mudança da escuridão para a luz. Enquanto a sua visão ia se normalizando, a primeira coisa que vizualisava, ainda que aos poucos, era uma vidraça demasiadamente grande e que estava excepcionalmente limpa, o que dava impressão de que não havia nada a sua frente; a não ser toda aquela destruição que seus olhos contemplavam, mas sua mente não compreendia ou entendia.

 A vidraça dava uma perfeita visão de uma das principais ruas do centro da cidade, porém, tudo o que se via eram carros batidos e engavetados, alguns até mesmo em chamas, ao mesmo tempo que pessoas corriam sem rumo ou direção. Mesmo com tudo isso, havia algo ainda mais impressionante e perturbador no prédio em frente, havia um helicóptero todo amassado, que queimava em meio ao corredor de um dos andares (similar ao que Jonas estava). Por um breve momento, ele piscou e eis que o helicóptero caiu em cima de uma pequena multidão que se agrupava na calçada, aparentemente para entender ou conversar sobre tudo o que estava acontecendo. Jonas, assustado com o que acabara de ver, deu dois passos para trás, o que o fez tropeçar e bater com a parte lateral da cabeça na maçaneta da porta do estúdio que havia acabado de sair, ocasionando um sangramento com o qual ele não queria, mas, deveria se preocupar naquele momento tão perturbador.

 Jonas, começou a correr, procurando um pano para segurar o sangramento de sua cabeça ou até mesmo, alguém que pudesse o ajudar, mas, não havia ninguém na gravadora, o que o fez pensar que seu cochilo poderia ter sido bem mais longo do que ele imaginava. Enquanto ainda acelerava, tropeçou em um sapato que por algum motivo estava no chão, mas, como dessa vez a queda foi de frente, ele conseguiu se apoiar com as mãos no chão, ao abrir os olhos que por extinto haviam se fechado, ele viu uma gota do sangue que escorria de sua cabeça cair lentamente em cima da blusa, onde suas mãos se apoiavam no chão, blusa essa, que parecia ser a mesma que o Pr. João estava usando enquanto conversavam. Jonas não pensou duas vezes, pegou a blusa e segurou com força sobre o sangramento, que parou por alguns instantes. Ainda de joelhos, ele amarrou a blusa na cabeça e ao se levantar, percebeu que toda a roupa que o Pr. João usava, estava no chão diante dele, inclusive o sapato no qual tropeçou. Olhando ao redor, viu que haviam também, outras roupas caídas no chão, embora fossem poucas. Sua mente, estava ficando cada vez mais confusa, buscando imaginar o que poderia estar acontecendo, sua mentalidade carnal, brigava com o seu "entendimento cristão" por conta de tudo o que seus olhos contemplavam. "Seria isso o arrebatamento da igreja? Algum tipo de brincadeira? Ou uma espécie de catástrofe isolada?" , pensou Jonas.

 Após alguns minutos tentando imaginar e ao mesmo tempo assimilar tudo isso, teve ele a ideia de ligar a internet em seu celular, pra ter uma maior noção do que estava acontecendo. Um canal estava anunciando uma notícia urgente com o título: "MILHARES DE PESSOAS DESAPARECEM NO MUNDO TODO, SENDO A MAIORIA DELAS CRIANÇAS." À medida em que ia averiguando, a grande maioria dos canais de notícia, anunciavam a mesma coisa, porém, com títulos diferentes. Mediante a tudo o que estava acontecendo, nada parecia ser tão absurdo para algumas pessoas entrevistadas. Tendo em vista esse primeiro impacto, alguns, associavam os "desaparecimentos" à abduções feitas por extraterrestres, outros associavam ao multiverso, dizendo que os corpos saíram do universo que estavam para outra dimensão, mas, a grande maioria associava esses acontecimentos ao fim do mundo e buscavam saber qual religião sempre compartilhou a mensagem correta sobre este tema. Isso, levou Jonas a cair na real e pensar a respeito de tudo que ouviu e leu sobre escatologia e que tudo poderia realmente estar acontecendo.

 Jonas, lembrou-se de sua esposa Clara e logo fechou o aplicativo de notícias, desesperado, deixou até seu celular cair no chão ao tentar ligar para ela. Quando caminhava, para pegar o celular caído, em sua mente ele não sabia se torcia ou não para que ela estivesse do outro lado da linha, ao pega-lo sentiu um imenso alívio por não estar quebrado, porém, seu alívio logo se desfez, quando viu que não havia sinal na operadora para que efetuasse qualquer tipo de ligação. Com tantas dúvidas, tais como: o que fazer?; Onde está Clara?; Por que não há luz e nem sinal?; e com todo aquele caos nas ruas, seu corpo estava paralisado e sua mente exaurida, contudo, ambos entraram em consenso e conseguiram executar uma única ação; sentar na cadeira mais próxima.