Diante de seus olhos, estava ela, a sua mãe, chorando amargamente com um olhar atônito em direção ao nada, enquanto segurava uma roupa presumivelmente masculina e essa cena voltou a deixar Jonas abalado. Além de abalado, ele ficou confuso e imóvel tentando entender o porque de sua mãe não ter sido arrebatada. "Por que ela ficou assim como eu? Ela era tão ativa e dedicada a igreja".
Não é que não tenha ficado feliz de vê-la, ele só não conseguia entender o motivo dela não ter sido arrebatada, no entanto, esse fato não o impediu de dar um forte e demorado abraço em sua mãe. Ela, era o primeiro e único ente querido, ou até mesmo conhecido que ele teve a oportunidade e a "felicidade" de ver, em meio ao dia mais difícil da sua vida. — Mãe! — exclamou Jonas. — Jonas, meu filho! você também? — respondeu ela.
Até então, sua mãe não havia o visto, mas, sua voz a despertou do limbo emocional em que ela se encontrava. — Por que, Mãe? — questionou Jonas — Meu filho, o arrebatamento é real! Seu pai sumiu diante dos meus olhos enquanto saíamos de casa. — Mas e a senhora mãe? Toda aquela dedicação na igreja? — Eu não mereci! Eu errei muito e não O busquei e honrei como deveria! — exclamou a mãe de Jonas, após chorar de soluçar por alguns segundos, ao mesmo tempo que seu corpo inteiro tremia.
Toda essa conversa, ocorria enquanto Jonas abraçava sua mãe, o que deveria durar menos tempo, entretanto, o abraço era uma forma dele conter toda aquela tremedeira, que aparentava ser uma forma do corpo de sua mãe expor o seu estado mental e emocional. Após alguns minutos, apenas se abraçando, ou seja, sem proferirem ao menos uma palavra, ele a soltou quando sentiu que ela havia se acalmado, mesmo que minimamente. — Seu filho está aqui, calma, mãe, quer me contar alguma coisa? — Eu preciso, mas não tenho coragem de olhar nos seus olhos e dizer. — Pode dizer, não pode ser pior do que… enfim, confia em mim, o que você vai dizer não pode me abalar mais do que tudo o que eu passei nas últimas horas me abalou. — Meu filho! É horrível! — insistia ela. — Pode falar mãe. — teimava ele. — Eu não era fiel ao seu pai. — Como assim? — retrucou Jonas. — Eu o traia, meu filho! — disse ela, em lágrimas. Jonas ficou sem palavras, tentando não acreditar no que havia acabado de ouvir e ao tomar coragem indagou: — Como, mãe? Você o traiu no passado? — Não foi só no passado, era constante, com a mesma pessoa e isso perdurou por muitos anos — respondeu ela ainda chorosa. — Não pode ser verdade... — retrucou Jonas cada vez mais incrédulo. — Eu sou uma pessoa horrível, eu vivi só de aparência. Seu pai era um homem tão bom, ele não merecia, mas, a minha carne e meus desejos falavam mais alto. — Estou tentando, mas, não consigo acreditar nisso, mãe.
Ao dizer que não conseguia acreditar, Jonas virou as costas para sua mãe, foi para a cozinha e como um ato de fuga da notícia chocante que havia acabado de receber, começou a separar garrafas d'água e alguns alimentos, tanto para comer quanto para levar em sua caminhada. Ao terminar de lanchar e separar os suprimentos, ele, ainda transtornado, foi para o banheiro, observou que o corte de sua cabeça havia sido superficial e após limpar o rosto foi para seu antigo quarto, procurar sua mochila ou até mesmo uma bolsa em que pudesse alocar os suprimentos que havia separado até então. Ao afastar a esteira de seus pais, que impossibilitava que seu antigo armário fosse aberto, ele percebeu que mesmo tendo alguns objetos novos, eles não se desfizeram de nada que ele pudesse considerar importante, ou seja, tudo, exceto as coisas que havia levado após se casar estava ali no quarto.
Ao abrir a porta do armário, sua mochila estava no mesmo lugar de sempre e ele tratou de pegá-la, para que pudesse sair daquela situação estranha e constrangedora com sua mãe, o mais rápido possível. Jonas, talvez pelo fato de ser egocêntrico e mimado, sempre arrumava uma forma de fugir de situações que não eram de seu agrado, isto é, qualquer situação atípica que não lhe fosse favorável o fazia ter reações que poderiam ser julgadas como infantis, em geral ele fugia das situações o mais rápido que podia, ou agia de forma agressiva, seja com atitudes ou palavras. A situação em que estava, mediante a notícia recebida era demasiadamente desconfortável, mas, talvez por se tratar de sua mãe, mesmo não a respeitando da forma que era devida durante toda a sua vida, ele não agiu agressivamente, apenas saiu de sua presença o mais rápido possível.
Quem sabe, toda situação pela qual havia passado até então, possa ter o mudado mesmo que minimamente, pois, nem mesmo seus pais eram privados de seus "chiliques". Ao se virar, logo após pegar a sua mochila, ele avistou a sua antiga cama e logo lhe vieram as lembranças do fim de sua adolescência, onde houve uma época em que levava meninas com as quais ficava na escola para seu quarto, enquanto seus pais não estavam em casa. Lembrou ele, de cada uma das quatro meninas que havia levado para aquela cama e cometido o ato da fornicação. Após essas lembranças, que não se adequavam com a sua religião, ele foi direto do quarto para a cozinha e ao passar pelo corredor entre os cômodos, teve a impressão de ter visto, mesmo que de relance uma pessoa de pé na sala, todavia, não ligou e continuou indo a caminho da cozinha.
Com toda pressa possível, ele colocava os mantimentos que havia separado em sua mochila, enquanto pensava que de certa forma não merecia a esposa que tinha, pela razão dela ter se guardado para o casamento, se mantendo virgem, enquanto ele, mesmo sendo um filho de pastor era um jovem demasiadamente devasso e fornicador. Ao vagar por esse pensamento, de repente um barulho alto que aparentava ser um tiro o assustou, isso não o impediu de terminar de arrumar sua mochila, contudo, breves segundos depois, ele sentiu um aperto em seu coração e ao mesmo tempo, a memória de que seu pai possuía uma arma em casa tomou conta de sua mente, suas mãos ficaram fracas, o que o fez deixar cair uma lata de suco no chão, logo em seguida, decidiu procurar sua mãe, ao mesmo tempo que uma enorme preocupação passou a tomar conta de seus sentimentos.
Chegando na sala, ao ver que ela não estava mais lá, seu coração acelerou ainda mais e sua primeira reação foi ir correndo para o quarto de seus pais, onde suspeitava ser o local onde seu pai escondia a arma. Ao chegar em frente ao quarto, ele se deparou com a porta trancada e começou a chamar por sua mãe, não obtendo respostas, sem pensar duas vezes arrombou a porta com um chute, entrou no quarto e se deparou com sua mãe, deitada na cama repleta de sangue.