Sim, a mãe de Jonas estava morta e o que ele havia presumido, infelizmente, aconteceu, isto é, ela pegou a arma e se suicidou. Isto se tornou um fatoquando ele viu a arma próxima do corpo. Mais uma vez, ele ficou parado sem saber o que fazer, as únicas coisas que se movimentavam, eram as lágrimas que escorriam involuntariamente do seu rosto.
Era tudo muito novo, já que ele não era acostumado com situações que não lhe eram favoráveis. E mais uma vez, ele chorou, só que dessa vez a dor era muito maior, já que nunca havia passado por uma perda e, logo na primeira vez, foi com uma pessoa tão próxima e de forma tão perturbadora.
Após o primeiro impacto do luto, Jonas, mesmo estando triste e abalado, sabia que precisava ser forte, com isso, fechou os olhos ainda abertos de sua mãe e a enrolou no lençol que cobria o colchão da cama. Ele sabia que precisava prosseguir para o destino que havia traçado, por outro lado, algo lhe dizia que seria errado deixar o corpo dela apodrecer ali.
Enquanto decidia o que fazer, seu corpo, cheio de adrenalina e sentimentos, andava sem rumo pela casa, até que em um momento, resolveu ir para a cozinha pegar a mochila que havia enchido de mantimentos, chegando lá, ele deu um chute por acidente na lata que havia deixado cair ao pressentir o ocorrido e logo tratou de pegá-la no chão. "Está amassada, mas, o que importa é o que tem dentro — pensou ele, enquanto a colocava na mochila. Jonas, não havia percebido, mas, até mesmo aquela latinha amassada estava lhe dando uma pequena lição.
Após colocar o último item na mochila, fechá-la e por nas costas, enquanto passava pela sala, ele observou seu celular e lamentou por não ter energia na casa para que pudesse carregá-lo, o que o fez lembrar de procurar um carregador pela casa, pois, por ter saído de casa com pressa pela manhã, havia esquecido o seu em casa. Ao achar um carregador, e guardá-lo na mochila, ele olhou o smartphone e observou que a bateria estava em 7%, além disso a rede da operadora ainda estava fora de área e sabiamente tratou de desligá-lo para economizar bateria, ainda na esperança de que de alguma forma pudesse contactar Clara.
Chegando no quarto, ele tomou a difícil decisão de deixar o corpo de sua mãe ali, pois, pensando friamente, não o ajudaria em nada levá-lo consigo no carro, imaginando também possíveis situações atípicas pelas quais poderia passar nas ruas, decidiu levar a arma da tragédia consigo. Como uma forma de despedida, ele beijou a mão de sua mãe, cobriu seu corpo com mais um lençol e outra vez, lágrimas caíram de seu rosto, enquanto saia da casa e andava rapidamente em direção ao carro.
Após abrir melhor o portão, que antes estava muito próximo a lataria do carro, ele entrou no veículo e colocou a chave, que havia encontrado no sofá da sala, na ignição. Antes de qualquer coisa, precisou tomar mais uma decisão, embora estivesse decidido a ir em busca de Clara, estando ela na terra ou não, ele não sabia se a procuraria na rodoviária ou se ia direto para a casa de sua sogra, pois, não tinha como saber exatamente onde ela estava na hora do arrebatamento. A casa da sua sogra, era à 2 horas de viagem, isto é, demasiadamente longe para ir à toa e não ter notícia alguma, com isso, a decisão que aparentemente foi se tornando cada vez mais sensata e eficaz, era a de ir na rodoviária e caso ela não estivesse lá, ele poderia seguir calmamente o mesmo caminho do ônibus que Clara costumava pegar.
De decisão tomada, antes que desse partida, o estado de sua mãe ainda o icomodava, com isso, Jonas percebeu que poderia ligar para uma ambulância ou para polícia e informar sobre o corpo, já que se tratavam de números de emergência em que não é necessário ter área na operadora. Logo, ele decidiu ligar para a ambulância e informar o ocorrido, mesmo que isso lhe custasse um pouco de bateria, que já lhe era escassa.
Dando partida no carro, sem se importar em fechar o portão, seguiu ele seu caminho rumo a rodoviária que ficava a aproximadamente 15 minutos de onde estava. Ao passar de carro pelas primeiras ruas, logicamente não era mais como antes, isto é, não havia um grande número de pessoas andando pelas calçadas como em uma segunda-feira normal e as poucas que ele via, agora com mais atenção e clareza, não estavam em um estado normal, algumas corriam, outras gritavam e uma chamou a atenção dele em especial, pois estava literalmente paralisada, olhando para um carrinho de bebê vazio.
Ao desviar o olhar, para prestar atenção nessa mulher e em seu estado nada normal, Jonas, escutou um barulho, que o fez frear o carro instantaneamente e voltar a prestar atenção no que estava a sua frente. Diante dele, no capô do carro estava uma mulher a qual aparentemente havia acabado de atropelar. Por sorte, estava dirigindo devagar, pois, ao passar pela primeira rua viu que havia alguns "obstáculos", o que tornou o atropelamento não tão grave, contudo, a mulher atropelada levantou, mais rápido do que o tempo que possivelmente ele levaria para se preocupar com a situação. — Vai se ferrar, seu idiota! — disse ela. — Quer ajuda? Se não quiser, eu já estou indo. — respondeu ele apressado. A mulher, aparentava ser uma garota de no máximo 17 anos, pois, possuía um rosto jovial, tinha no máximo 1,65 m, pele morena, corpo formoso e cabelos cacheados. Ela, parou para pensar por alguns segundos, tentou controlar a raiva misturada com a adrenalina de uma pessoa recém atropelada e perguntou: — Para onde você está indo? — Para rodoviária, mas estou com pressa — respondeu Jonas. — Não está mesmo! Se estivesse com pressa, o atropelamento seria mais grave. Também estou indo para a rodoviária. — Não posso perder tempo, garota! Ao dizer que não podia perder tempo, ele indicou que daria partida no carro e a garota correu para o lado do carona, batendo na janela com força. — Abre essa porta, idiota! — gritou ela. Jonas, sem muita paciência e não querendo perder mais tempo, abriu a porta do carro e pediu para que entrasse logo, ela entrou e ele voltou a andar com o carro.
Longos e constrangedores 2 minutos depois, em que não falaram nada um com o outro, a garota quebrou o gelo se apresentando. — Meu nome é Elisa e o seu? — Jonas! — Está indo pra rodoviária fazer o quê? — perguntou ela — UMA COISA! — falou ele em um tom mais alto do que o normal — Nossa, que coincidência, eu também! Pra que responder com tanta aspereza, seu grosso? Tá com raivinha? Foi você quem me atropelou e não o contrário. — Vamos partir em silêncio, por favor? Meu dia não está fácil. — Nossa! Você realmente acha que só seu dia está difícil, bonitão? — Ta bom minha filha, me convença de que seu dia foi pior do que o meu. Jonas, havia achado uma pessoa com um temperamento tão ardente quanto o dele, Elisa não se intimidou com o desafio e mesmo não sendo a pessoa mais aberta do mundo, tratou de continuar a conversa, pois, não gostava de perder uma discussão ou argumento. — Antes de te contar, qual a sua opinião sobre o desaparecimento das pessoas? — perguntou Elisa. — Você é chatinha, hein! Simples, elas foram arrebatadas — respondeu Jonas. — Biblicamente falando? Nossa, você também é um fanático igual aos meus pais. — E cadê seus pais? Após alguns segundos em silêncio, Elisa respondeu bem baixinho: — Eles sumiram! Pelo menos aparentemente! — Então seus pais eram fanáticos cristãos e sumiram? Isso não aumenta as chances de eles terem sido arrebatados, biblicamente falando? — Não enche! Eu não acredito nisso. — Nisso o quê? Em Deus? — Exatamente! Eu tenho 16 anos e um QI de 159, que me impede de acreditar em alguém cuja existência nunca foi vista ou provada. — Ok, mas isso não anula o fato de que é bastante estranho "cientificamente falando" seus pais, CRENTES, terem sumido. Agora para de me enrolar e me convença de que o seu dia foi tão difícil quanto o meu. — Olha, gostei de você, é debochado igual a mim. Mas isso vai ficar pra depois ou pra nunca, por que eu acho que não iremos conseguir passar com o carro por esse engarrafamento, a não ser que DEUS faça o carro voar. Jonas, ignorou o deboche e parou o carro, ao ver que realmente era impossível prosseguir.
Ao sair do carro, observando melhor o que ocorria mais adiante, eles não tinham uma resposta concreta do que poderia estar ocasionando o engavetamento, a única coisa concreta, era a ideia de que teriam que abandonar o carro, mesmo que por enquanto. Jonas, tratou de pegar a mochila e sem querer perder mais tempo, deu adeus a Elisa. — Você realmente vai abandonar o carro aqui, bonitão? — indagou Elisa. — O que você quer que eu faça, tenho que chegar na rodoviária logo, e creio que esse engarrafamento vai durar bastante tempo ainda — retrucou Jonas. — A rodoviária está próxima, da pra ver ela daqui, deixa o carro em um lugar mais seguro, as pessoas estão doidas, não dá pra confiar. — Por que você simplesmente não vai embora? Já te dei a carona até onde eu pude. Após dizer isso, ele virou as costas para Elisa e foi andando o mais rápido possível em direção a rodoviária, sua pressa foi tão grande, que ele nem percebeu que havia deixado a chave do carro na ignição.
Cada vez mais próximo da rodoviária, ele percebeu que muitos carros haviam sido abandonados e que o que causava aquele engarrafamento era a batida de dois ônibus, por fim, Jonas ficou tranquilo ao notar que a viação de ônibus que sua esposa costumava pegar, não era nenhuma daquelas duas.
A rodoviária estava cheia, havia algumas pessoas feridas, que muito provavelmente estavam envolvidas naquela batida, muitas delas chorando e mais uma vez as mais afetadas emocionalmente aparentavam ser mães ou pais de crianças. Ao chegar dentro da rodoviária, olhando com enorme esperança para todos os lados esperando avistar sua esposa, uma situação chamou a sua atenção; um homem brigava com funcionários da rodoviária, por não o deixarem entrar no banheiro feminino. Enquanto ele ia para um dos únicos guichês que estavam abertos, aquele homem que brigava para entrar no banheiro feminino, gritava cada vez mais alto com uma voz de desespero e dor: — Minha filha está lá dentro a mais de 2h, ela só tem 12 anos e é especial!
Jonas, chegou no guichê e a atendente da forma mais arrogante, curta e grossa possível, disse que todas as viagens estavam canceladas, ele se afastou e foi para outro guichê na esperança de ser melhor atendido e enquanto se movia até lá, percebeu que havia luz na rodoviária, diferentemente do resto dos locais por onde havia passado. "Será que tem WIFI aqui? Uma tomada também não cairia mal." Enquanto pensava, os guichês estavam se fechando, o que o fez correr e pedir uma orientação para a outra atendente: — Por favor, eu não quero passagem nem nada, só quero uma informação. A outra atendente, um pouco mais simpática o respondeu: — Senhor, nós estamos fechando, estamos aqui desde de cedo, as meninas do segundo turno não vieram trabalhar e estamos exaustas. — OK, eu entendo, mas é só uma informação, vejo que seu computador ainda está ligado. — Sim, mas pode desligar a qualquer momento, pois, estamos no gerador de emergência. Enfim, o que você quer? Já vi que não vai me deixar em paz mesmo. — Obrigado, eu só quero saber que horas saiu o último ônibus para Cabo gelado. — Deixa-me ver… O último saiu às 09:15h. — Tem como você ver também os nomes dos passageiros? — insistiu Jonas. — Você está de sacanagem comigo, né? Tchau e uma boa tarde para o senhor! — retrucou a atendente, antes de fechar seu guichê.
Após levar o fora mais "elegante" de sua vida, Jonas se afastou dos guichês, afinal já tinha a informação que precisava, o último ônibus para Cabo gelado saiu às 09:15h, isto é, mais ou menos o mesmo horário em que havia chegado na gravadora, e isso o levou a imaginar que, provavelmente, Clara estava nesse ônibus, já que uma vez ela havia lhe dito que saia um ônibus a cada uma hora. Enquanto ele se afastava cada vez mais, de repente as luzes e painéis eletrônicos da rodoviária se apagaram, com essa informação e zero chances de acessar a internet ou carregar seu celular, tratou de sair de lá.
Ao passar novamente próximo ao banheiro, ele percebeu que aquele homem ainda estava lá, incansável, chamando por uma filha que todos diziam não estar lá dentro. Esta situação só tirou seu foco por breves segundos e ele continuou, a caminho do seu carro. O lugar onde o carro estava, não era longe e enquanto caminhava em direção ao mesmo, Jonas ia imaginando a rota que pegaria e pedia a Deus, mesmo sem a certeza de que Ele estivesse o ouvindo, que não houvesse engarrafamento por onde quer que dirigisse, assim como aquele que estava presenciando, ele também ia imaginando uma maneira de tirar o carro de onde estava, pois, não seria uma missão tão fácil.
Ao se aproximar do local onde havia deixado o carro, ele colocou a mão no bolso e percebeu que a chave não estava lá, procurou na mochila e viu que também não estava e ao olhar ao redor percebeu que nem mesmo o seu carro estava aonde havia deixado, o que o fez sentir muita raiva e, instantaneamente, ligar Elisa ao sumiço do veículo. Enquanto ele a xingava mentalmente, ela tocou em seus ombros. — Você demorou, bonitão! — exclamou Elisa. — Você roubou meu carro, sua pivete — esbravejou Jonas. — Roubei? Que calúnia! — Para de graça! cadê meu carro? — Seu ignorante, eu salvei seu carro, você de forma idiota deixou a chave na ignição e foi embora. — E onde ele está agora? — Vem comigo, seu ignorante.
Jonas começou a seguir Elisa, em silêncio, mas ainda sem dar o braço a torcer, mesmo que estivesse errado. Ela o levou para uma esquina onde havia deixado o carro, mesmo sem saber dirigir muito bem. Ao chegarem próximo ao veículo, ela jogou as chaves no peito dele e perguntou: — Para onde iremos agora?