"Olhe para o passado orgulhoso do que aprendeu"
Amor Honra e Sangue
No centro movimentado de Berna, em um dos melhores prédios comerciais, construído com sacrifícios perigosos, um restaurante destoava dos outros no iniciar do pico do movimento, estava em silêncio, escuro, fechado. Estranho, todos que passavam diante de sua calçada dizia, ainda na noite anterior, encontrava-se iluminado, fervoroso com um entra e saí de cliente da mais alta elite social. Algo sério devia ter acontecido para se encontrar assim.
As portas de vidro, mesmo transparente, inibem a visão total de seu interior, mas não impedem que quem esteja dentro veja o que se passa fora. A lâmpada acima da entrada balança provocando sombras em seu interior, iluminando as mesas vazias e o salão solitário. No entanto, mais ao fundo, longe da luz e da visão de curiosos, uma mulher parada nos primeiros degraus da escada que leva ao andar superior analisava com um sorriso o espaço desprovido de iluminação, mas bastou que passos no topo da escada alcançam-se seus ouvidos que sua atenção se voltou para a figura a esperando com uma mão estendida. Finalizou a distância aceitando sua mão, ampliando o repuxar em seus lábios quando a beijou em gesto de cumprimento.
— Sua presença e uma honra, milady. — sussurra, o tom rouco saindo sedutor.
Desceu seus olhos pelo seu corpo a analisando como costumeiro, da sua vestimenta a expressão no seu rosto, constatando o óbvio, quando envolve ele, ela muda drasticamente. Tanto que hoje vestiu sua cor preferida, verde, um leve vestido verde, porém nunca abandonando o decote profundo em V. Ela o viu ou o veria.
Gostaria de saber, se o viu hoje, ele estaria na cidade, se o veria ao sair do restaurante, viajaria. Quem sabe não foi por isso que marcou o encontro para tão cedo, diferente das outras vezes que prefere a quietude da madrugada com suas ruas quase vazias.
Uma mágoa tomou seu peito, acompanhada da saudade, queria esta com ela nesse momento quando o reencontra-se.
— Sinto que mentir para mim não é necessário. — passa do seu lado encaminhando-se para a única mesa posta no amplo salão. Sua risada a acompanhou em seu trajeto.
Diferente do espaço inferior, possuía menos mesas para espaçar mais uma da outra, dando a privacidade que seus ocupantes desejam. Paredes de vidros separavam alguns espaços, iluminadas com pequenas luzes em formato de flores e pedras pequenas que formavam duas palavras. O nome do restaurante brilhava em dourado na superfície e Jade o encarou sorrindo quando passou diante de si. Rara Joia.
— Nunca minto para a mulher mais linda na minha vida, Jade. — puxa a cadeira para que se sente. — Vinho, champanhe, uísque ou conhaque?
Tardou uma resposta clara, estudando Rodrigo com o mesmo olhar que todos buscam fugir, que descobre mais do que deve. Não, ele não fez nada tolo, teve certeza no fim. Tornou-se uma mania sua estudar todos, com medo que a traísse.
— Vim buscar o envelope.
Ele tinha certeza que sim.
— Cobraria o serviço se não fosse para você. — afasta a jaqueta do corpo, tirando um envelope amarelo do seu interior.
— Te dei um restaurante.
— Por uma noite de amor... — Ironiza a mentira que Nikolas acredita. — Faz-me pensar que sou tão bom de cama ao ponto de ganhar um restaurante que me custaria uma vida de trabalho.
— Você é mais que bom de cama, meu anjo. — guarda o pacote na bolsa.
— Se Jade Mazarratti diz, quem sou eu um mero chef de cozinha para discordar.
A loira de fios longos solta uma risada rouca, divertida com a situação incoerente. Nikolas, e tão idiota que acredita nas próprias mentiras que cria. Precisa de uma utilidade maior que sexo para Jade fornecer grandes favores, e cobrá-los mais tarde como veem fazendo com Rodrigo.
— Desejara jantar? — puxa a cadeira a sua frente, sentando. — Restaurante fecha, mas sou um chefe que não deixa de atender seus clientes.
Os olhos de Jade, brilham com malícia, no entanto, uma risada irônica abandona seus lábios contestando com seu olhar. Rodrigo, seu brasileiro preferido, lindo e cafajeste como adora. Cabelos negros cacheados, olhos verdes e sorriso de canto, pele bronzeada e corpo musculoso.
Seus caminhos se cruzaram pela ironia da vida. Criaram um tipo de elo por algumas situações. O que a fez proporcionar um sonho seu, que sem sua ajuda demoraria anos, muitos.
— O que temos? — Inclina seu corpo sobre a mesa, propositalmente deixando o decote de seus seios mais evidente. — Me diz Rodrigo... — Aproxima seus lábios, quase os tocando. — Diz meu anjo...
— O que você quer? Eu te dou tudo. — embrenha sua mão por seu cabelo, os puxando aproximando mais suas bocas. — Até prazer... — Uni seus lábios em um beijo forte, mas rápido. — Não me respondeu Jade Mazarratti.
— Quero o mesmo de sempre e vá buscar meu convidado especial Rodrigo.
Com um sorriso divertido, lhe dá um rápido selinho para deixar a mesa, indo cumprir as ordens de Jade. Quem visse a cena, jamais imaginaria a história por trás.
Ele não fez objeções ou fez-se de rogado para aceitar o convite da Mazarratti para jantar e tratarem de negócios. Não dispensaria sua fonte de fama e dinheiro.
Ela o proporciona a visibilidade que ama, mesmo que junta venha a raiva do alvo de suas fofocas, reportagem. Ao menos Jade paga os muitos processos que recebe e lhe dá os melhores furos sobre sua família.
Um bom jornalista, canalha como ele ou não, deve valorizar suas fontes, e ele o faz, só não monta um altar para Jade porque outros demônios teriam inveja. No entanto, quem sabe um dia não o faça.
— Toma. — põe um pacote com um montante de dinheiro sobre a mesa. — Publique amanhã, no cair da tarde, será a véspera do jantar de noivado.
— O que devo dizer? E uma mentira ou uma verdade? — Luís pergunta curioso. — Sinto-me excluído por não fazer parte do coro jornalístico do evento.
— Uma hipótese, faça suposições, mas não afirme, deixe todos acreditarem no que desejam. — sorrir com perversidade. — Você e visto como um demônio por eles.
Retira outro pacote da bolsa, o dado por Gustavo, e o empurra para Luís.
— Nossa... Como conseguiu? — fecha o pacote depois de uma breve espiada em seu conteúdo.
— Não interessa. — pronuncia ríspida. — Só faça o que pago para fazer, calado e sem questionar.
Luís levantou as mãos em um gesto de rendimento, não faria mais as perguntas que desejava. Não arriscaria perder a bomba que Jade lhe deu para explodir.
Não se arrependia de ter se vendido para ela, assinado um contrato de silêncio. Poderia falar de quem quisesse, mas dela necessita de autorização.
Quando ela o procurou anos atrás, procurando um fantoche para suas vontades, ele soube que estava se metendo em uma rua sem saída. Talvez em alguma parte da vida se arrepende-se, todavia não seria no agora.
— Como deseja Jade, você manda e eu obedeço.