Não troque o amor por um único sonho ter se transformado em pesadelo.
O quanto você está disposto a perder por uma vingança? Até onde sua coragem o deixa ir? Não tem medo de perder ninguém?
Jade não tinha certeza, mas sabia que não chegou no seu limite e ele não está nem próximo. Há muito tempo sua racionalidade foi engolida pelo ódio, sua bondade se diluiu como uma gota de chuva no mar.
Não tinha mais a perder, ou tinha, mas ele não poderia ser considerado seu, quando a coragem nasce-se ele partiria como todos. Não teria porque ser conservadora, sujar ou não as mãos de sangue não faria mais a diferença, pois já o fez. Eles não tiveram pena de si, não teria porque ter. Seu pai foi claro "destrua a Terceira Aliança", e faria, não por ele, mas por si. Por ambos.
Pensar que um dia sonhou em fazer parte dos sonhos que estão prestes a realizar se não fosse por si a faz rir, não de alegria, mas de dor. Sonhou tanto que hoje não sonha mais, não vale a pena por expectativas e esperança em algo que não se realizará.
Matar, ferir e destruir e para isso que vive, por isso que resiste. Levaria tantas vidas juntas, destruiria famílias e gostaria de entender como eles a machucaram tanto ao ponto de não se importar mais.
Nem sua mãe livra-se da sua insensibilidade, não a culpa, não poderia proibi-la de seguir em frente, mas não entende como seguir em frente teria que ser justo se unindo a quem deseja sua queda. Entretanto, se pensar na satisfação de observar a expressão de todos ao descobrir que sua mãe não herdou nada do seu pai, nem um por cento do império fazia repensar sua união com o pai de Nikolas.
— Jade!
— Mãe!
A mulher tenta sorrir para sua filha, mas basta que seu olhar frio alcance o seu que retrai-se na cadeira. Dói notar que perdeu sua filha para sua ambição, que ela se desprendeu da pura relação que tinham para uma fria e distante.
Tenta enxergar a menina sorridente que um dia foi, a garota sonhadora que parece ter morrido com seu falecido marido. Acreditou tê-la ganhado novamente na adolescência, mas a perdeu como nunca quando fez seus dezoito anos.
Sua filha é tão linda, no entanto, sua maldade estraga sua beleza. Daria o que universo pedisse para ter Jade de volta.
— Qual o motivo do almoço mãe? — estende o guardanapo no colo. — Faz o quer? Dois anos que a senhora só me ver nos jantares formais, eventos ou quando vai em reuniões?
Sorriu com tristeza, sua filha vivia na defesa sempre, atacando mesmo sem ser atacada.
— Queria vê-la Jade, sou sua mãe. Como esta? — tenta soar suave para abaixa seu escudo.
— Melhor do que vocês acham. — diz enquanto entrega o cardápio digital para o garçom. — E a senhora Richter? — desdenha do seu atual sobrenome.
— Muito bem, e os seus… Namorados? — envergonha-se de referir a eles como algo de Jade.
— Estão bem, trabalhando no momento. Kirsten no escritório de advocacia, Célio no consultório. — toma um gole de vinho branco estudando a mãe. — O que quer? Tanto conheço a senhora a ponto se saber que não me chamou para almoçar porque queria me ver, vá ao ponto de uma vez, odeio enrolação.
A atmosfera mudou em um segundo, as mãos da mais velha soam de nervosismo, a verdade e que teme a mulher na sua frente, pois ela é tudo menos sua filha. Nem mais os olhos que sempre a encantou ela tem, fez questão de transforma-se em outra mulher e apagar quem um dia foi.
Sente que odiaria saber quem Jade se tornou, ter certeza das hipóteses que cria sobre suas ações. Sua maior dúvida e medo e descobri se ela matou seu primo Yuri, mas algo, no fundo do seu coração, a alerta sobre a verdade.
No dia do acidente, falou com Jade, uma rápida ligação, mas enigmática. Sua voz, o barulho ao seu redor era estranho tanto que acendeu um alerta em seu peito, por um tempo acreditou quando ela disse esta em uma festa e estava um pouco alterada, todavia, sua certeza se foi quando Yuri morreu de acidente de carro vindo de uma festa e soube ser a mesma que sua filha recusou ir. Não poderia ser uma coincidência, não quando Jade passou a prometer que o mataria quando houvesse oportunidade.
Foi o baque necessário para toda família notar que as ameaças de Jade não são palavras jogadas ao vento, ainda que ninguém tinha certeza se foi ela que fez. Contudo, serviu para abrir seus olhos e ligar um alerta de perigo para conter Jade.
Ninguém entendia o que a motivava, tem uma lacuna na vida de Jade que ninguém sabe preencher. Perdeu-se na sua infância, encontrou-se na adolescência e novamente se perdeu, enclausurou-se na mesma dor que se libertou.
Não poderia ser só a morte do pai que a transformou, tinha que ter outros motivos, não quer acredita que Jade e quem é porquê, quer. Não é possível que ela escolheu ser mau.
Tem consciência que falhou, seu falecido marido tinha mais jeito com Jade que si, e quando ele partiu não soube como cuidar dela só. Esteve do seu lado, mas sente como se não estivesse tido. Talvez tenha sido um erro se casar, pois envergonha-se admitir que após o matrimônio sua relação com a filha tornou-se mais distante.
— Soube que jantou antes de ontem com Ayla.
— Não é uma mentira.
Ajeitou-se melhor na cadeira, iniciaria uma discussão que não saberia acabar e que não levaria a lugar algum, mas não custaria nada tentar.
— Queria pedir que reconsidera se seu pedido Jade e o melhor para todos, para você. — tenta pegar sua mão, porém, Jade não deixa. — Esqueça que seu casamento que não deu certo e pare de fazer tudo iss…
— O que me motiva a fazer o que faço nunca será por um casamento que não aconteceu, pouco me importo com isso. — joga o guardanapo na mesa se levantando. — Pensa tanto neles, no maldito deste império que ficou cega para a verdade. Prepara-se mamãe, tome cuidado para não cair junto com eles, não esteja na minha frente ou irá com eles para o inferno.
— Jade! — tenta a repreender.
— Esteja linda amanhã mamãe, será um dia memorável, tenho um presente maravilhoso para mostrar a vocês. Até breve. — lhe dá as costas indo embora.
[...]
As doze cadeiras na grande sala de reunião da família Richter compõe o corpo da Terceira Aliança, três em especial situadas em formato de triângulo onde a mesa forma a figura, diferenciam-se das outras em sua cor branca e o símbolo dos três anéis com a primeira letra do seu sobrenome gravadas no meio do seu estofado, onde apoiam as costas. Hoje, duas delas tem seus assentos ocupados, sendo uma por alguém que futuramente assumirá as duas as transformando em uma só.
Iniciando uma nova era planejada com a construção da Terceira Aliança, começando um sonho que todos têm, mas que poucos têm o privilégio de realizar ou ver tão próximo de acontecer. Todavia, para alguns a unificação e o iniciar de um pesadelo, e quase que a certeza que ninguém nunca poderá chegar onde eles chegaram, conquistar tudo que tem.
Em no máximo uma hora o sol sumiria, e o dia chegaria no fim. No dia seguinte, nesta mesma hora, Nikolas estará se preparando para o jantar do seu noivado, dando mais veracidade para um sonho que sua família há anos tenta realizar.
Entretanto, poder e coração são coisas delicadas de serem lidadas, para manter um império necessita que uma paixão no passado não exista mais no futuro. A conversa que pai e filho teria longe dos olhares curiosos decretaria a continuidade ou o fim para tudo aquilo. Ainda havia tempo de voltar atrás.
— Você tem certeza Nikolas? — seu pai pergunta com seriedade, adotando a mesma postura de negociador que o fez chegar onde está. — Não irá no último segundo recuar e jogar por água abaixo tudo?
— Não! — foi enfático ao afirmar.
— Terá forças para resistir a ela, a tudo que ela fará? Não seja tolo menino, ninguém além de mim o conhece o suficiente para saber que contra ela você amolece.
As duras palavras do seu pai atingiram seu ego, no entanto, faltou coragem para contradizer uma verdade. Não disse asneira, mas deveria acreditar em sua verdade quando afirmar que nada o fará recuar, nem Jade.
Foram os dias que ela tem dominância sobre si, sobre seu psicológico e usa do seu segredo para o intimidar. Seria o mesmo que ela é em sua vida, seu carrasco.
— A atingirei duas vezes mais forte quando ela o fizer comigo.
O tom que respondeu agradou seu pai, próximo ao agressivo. Demonstrou toda a certeza que queria ouvir.
Todavia, a cruel verdade e que não acredita em tudo que seu filho afirma como gostaria, o conhece bem demais para isso. Nikolas não admite o óbvio, que ele ver e tem certeza que muitos outros também, apenas cegos não enxergariam. Seu filho nunca foi bom em omitir os sentimentos, sejam ele raiva, rancor ou amor.
Tem coisas que não tem como deixar no passado, pendências não resolvidas afetam drasticamente o futuro, só esperava que ele não desse a Jade o que tanto deseja, o fim do império.
— Cuide de Ayla, ela e será seu elo fraco. Não faça escândalos com amantes, se tem alguma termine com ela, se for ter que não crie laços.
— Pai! — sentiu-se ofendido. — Não trairei Ayla.
— Pode ser que fisicamente não, mas em pensamentos, Nikolas nem você acredita que não.
A resposta foi o silêncio e a expressão descontente em seu rosto. Poderia não amá-la, mas acreditava que com o tempo conseguiria, conseguiu o mesmo anos atrás quando se deixou envolver por alguém e mesmo que não consiga, não traíra quem lhe entregou sua confiança e sabe que seu coração também.
Ele queria amá-la, acima de tudo esquecê-la. Apagar seu passado ou reescrevê-lo com atitudes diferentes, fazer diferente na única coisa que realmente importa em sua vida. O que não sacrificaria por uma segunda chance, ou coragem para fazer o que tanto sonha, ele odeia Jade não só por ela querer destruir tudo que preserva, mas por ter a coragem para enfrentar tudo e todos pelo que deseja, enquanto ele se acovarda com receio das consequências das imprudências que comentou e hoje cobram seu preço. Para Nikolas, o bem-estar com sua família e seu tesouro.
— Vou respeitá-la, serei fiel a ela como merece.
— Espero que sejam felizes, os dois. Que possa amá-la, e esquecer o que não pode ter.
[...]
Nikolas se afasta da janela quando passos ecoam pela sala de estar, mas não se vira até Ayla chamar seu nome. Aprendia aos poucos reconhecer sua presença, pelo aroma do seu perfume e sua essência suave.
A levaria para jantar, por pouco não esqueceu, porém, não entendia sua presença na sua casa quando combinou que a buscaria na sua. A encarou com preocupação, estranhando sua expressão descontente que é raro aparecer. Poderia contar nos dedos quantas vezes viu Ayla com raiva.
— Aconteceu alguma coisa? — questiona preocupado vendo seu pai e o de Ayla passarem diante de si na direção do seu escritório.
— Jade, ela aconteceu. — profere furiosa balançando seu celular na frente do seu rosto e o tacando no seu peito. — Ela aprontou mais uma vez.
Nikolas fica sem entender tomando o celular na sua mão e lendo a reportagem, chocando-se com seu conteúdo. Ler uma, duas vezes para ter certeza que seus olhos não o enganam.
"Nova Investidora?"
O título despretensioso e a foto comprometedora aflora a imaginação para caminhos maldosos e perigosos. Nikolas fica sem saber o que pensar, no duelo de seguir a confiança em Nélio ou como outros prosseguir pelos pensamentos traiçoeiros. Uma imagem diz mais que palavras, no entanto, ele preferia que não.
Procura o autor da reportagem e o dono do site, não se surpreendendo por serem conhecidos. Os ataques ao longo dos anos a sua família o tornarem familiarizado.
— O que seu pai disse?
— Que tudo não passa de um mal-entendido. — afirma, porém, Nikolas não acredita tanto como quer. — Que a culpada e Jade.
Ele balança a cabeça voltando a atenção para o celular, encarando a foto de Nélio sentando com uma mulher desconhecida em um restaurante que deseja destruir. Sozinhos, o salão vazio como se quisessem privacidade, as mãos unidas e um olhando intimamente para o outro.
"As reuniões parecem estarem a cada dia mais deixando as salas tradicionais, e ocupando outros espaços. Espaços que afirmo tornarem-se cada vez mais conhecido por um dos CEO da Terceira Aliança.
Sondando uma fonte confiável, tive acesso à informação que são "reuniões" comuns, marcadas com frequência no restaurante, que não contaremos qual. A alegação para o fechamento do piso superior do estabelecimento e o desejo por privacidade, para que nada atrapalhem os envolvidos.
Uma ação que para muitos parece um absurdo, fechar metade de um restaurante para uma reunião, no entanto, diante da grandeza do envolvido, me espanta que não fecha o local como um todo. Talvez seja a porta privativa e a proteção de não passar pela porta da frente, que o faz não tomar essa atitude.
Foram tantos jantares que minha fonte não sabe me dizer com exatidão quantos. Estamos no aguardo do anúncio dos motivos de acontecerem. Poderia revelar, mas será mais interessante pela boca dos envolvidos.
Não queremos atrapalhar nem um anúncio. Adoramos surpresas!"
Nikolas interrompe sua leitura pela quinta vez, encarando Ayla com desconfiança. Entendendo parcialmente sua raiva
— Pela primeira vez o culpado e seu pai, Ayla, que se meteu em um escândalo de uma suposta traição.