"Tenho um medo que cresce dia após dia, o de não ser feliz"
Anos atrás...
— Nikolas sai do meu quarto, garoto chato! — Jade o empurra para o lado, tirando seu corpo de cima do seu.
— Não mesmo. — Insisti puxando sua coberta para tirara-la de cima da sua cabeça. — Vamos lá maninha hoje e seu aniversário, alegra-se!
Com uma rapidez assustadora e uma expressão longe das melhores, Jade levanta a cabeça do travesseiro e senta na cama segurando o objeto, Nikolas atencioso a seus movimentos e esperto levanta da cama rapidamente com um pulo, dando passos cuidadosos para trás até suas costas colidirem com a porta fechada. Um sorriso sem graça pinta seus lábios e as mãos são levantadas para o alto como uma demonstração de rendimento.
— Não sou sua irmã seu... Seu idiota! — Segura mais firme o travesseiro em mãos, ficando em pé. — Nossos pais podem ter se casado, mas nós não somos irmãos. Não tenho seu sangue.
O garoto da de ombros, não importava tanto o fato a lembrava apenas para irritá-la, a achava engraçada com raiva, suas bochechas inflam e ficam coradas, suas mãos se fecham ao lado do corpo e bate três vezes o pé esquerdo no chão para começar a falar ou correr atrás de si. Se divertia, e de um jeito torto e a forma como achou para se aproximar de Jade e furar sua bolha que criou.
Fazia menos de um ano que moram todos juntos, mas poderia contar nos dedos quantas vezes a viu sorrir ou sair do quarto por livre vontade, sempre necessitava de alguém para tira-la do espaço ou a lembrar de comer quando aparentemente esquecia. A pouco idade poderia atrapalhar seu raciocínio e inteligência, no entanto, no percurso que se desenrolava, sua "irmã" perderia sua infância e gostaria de arrumar um jeito de evitar.
Sua madrasta colocava a culpa da sua reclusão na morte do seu pai quando tinha seis anos, ele também acreditava, não duvidaria das afirmações de uma mãe quando ela foi quem esteve desde o ocorrido com Jade, todavia questionava seu pouco caso com ela. Parecia que cansou de tentar ajuda a filha, todos, na verdade, parece que desistiram dela, mas ele não faria o mesmo.
Eles poderiam não ver mais solução, mas ele o via. Sabia que em algum lugar perdido residia a menina que antes de perder o pai, chamava de princesa e dizia que um dia seria a sua princesa.
— Dez anos Jade, vamos Jadinha, vamos curte seu aniversário. — Sorrir empolgado. — Mandei fazer seu bolo de pêssego e chocolate preferido, pedi ao papai para alguém nos levar ao parque e ele deixou.
A empolgação nas suas palavras não surtiram efeito em Jade, pelo contrário sua carranca cresceu. Porém, ele e um menino persiste e não desisti.
— Não vou te deixar em paz até sair comigo para o parque, comer o bolo depois de assoprar as velas e fazer um pedido. Eu quero ir para o parque e comer muita besteira, e você também quer. — A olha sério. — Você sabe como sou persistente, Jade Mazarratti.
Ela não tinha dúvidas, seis meses convivendo com ele foi o suficiente para ela não ter. Nunca perdoaria a mãe por ter se casado novamente, principalmente com alguém da terceira aliança. Será que para ela dois anos e meio foi o suficiente para esquecer seu pai? Se perguntava sempre que a via beijando seu padrasto.
Jade mesmo tendo dúvida, não queria ter a reposta. A mãe vem esquecido de si própria, não queria ter mais resposta do que poderia suportar. Seu novo casamento parecia está apagando todo o anterior. Nikolas ganhou uma mãe, formando sua família, enquanto ela parecia ter perdido a sua.
— Nikolas!
— Jade! — Tira o travesseiro da sua frente quando o agarrar depois que ela o joga na sua cara. — Vamos, meu doce, ou faço uma festa para você e chamo a escola toda, principalmente as meninas que você não gosta e te faço passar a tarde toda do lado delas. — Sorrir maldoso. — Ou só eu, ou uma festa.
[...]
Jade e grata por Nikolas ser insistente, foi essa insistência incansável que a libertou da prisão das suas lembranças, que não a permitiu desistir e voltar a criar sonhos e ser feliz. O agradece, por nunca ter deixado ser abalar e fazer de tudo para derrubar suas barreiras, e curar mesmo inconsciente suas feridas o máximo que pode, as deixando meros arranhões.
— Obrigado... — Desvia o olhar do horizonte para o garoto sentando do seu lado vendo o por do sol.
— Por? — Sorrir, um sorrindo que a encantava.
— Por nunca ter desistindo de mim há cinco anos, por ter me dado o melhor aniversário que tive depois da morte do meu pai. Foi por causa daquele dia que comecei a te ver como alguém legal.
Depois de anos, aquele foi o primeiro dia que Jade sorriu sem ressalvas. Que curtiu seu aniversário como uma criança comum, comendo o que queria, correndo, se sujando e aproveitando como podia o parque de diversão.
Foi no fim da tarde quando Nikolas trouxe o bolo e a mandou fazer seu pedido, que notou verdadeiramente seu carinho em seus olhos e se permitiu se aproximar dele, com cuidado, mas ainda assim se deixou. E não se arrependia da atitude que tomou.
— Nunca vou desistir de você Jade, você e preciosa demais. Eu sempre soube que você só precisava de um amigo para se soltar. — Tira uma mecha do seu cabelo da frente dos seus olhos e aproveita para acariciar seu rosto. — Você e a garota da minha vida sabia?
Uma risada alta soa deixando de lado o silêncio da estrada solitária, a que leva a propriedade rural da família fora da cidade.
— Diga isso para suas namoradas. — Se recupera da crise de risos, o olhando divertida. — Sei das suas sacanagens, Nick.
— O que uma pirralha como você sabe? — A derruba no chão subindo em cima do seu corpo. — Mal fez quinze anos e pensa saber alguma coisa Jade?
— Você só e dois anos mais velho que eu. — Tenta empurra seu corpo mais não consegue. — Idiota!
— Chata!
— Chato!
— Linda... — Nikolas sussurra encarando o pingente do colar que deu mais cedo deslizar para lateral do seu pescoço. — Você não disse que ama hoje. — Muda de assunto.
Jade fez um suspense encarando os olhos do amigo para acompanhar seu sofrimento aguardando a resposta. Ele sabia sua resposta, todavia ela sabia que ele adorava ouvir depois de lutar tanto para que ela dissesse as palavrinhas em voz alta. Ela também adorava, só não admitia para não inflar ainda mais seu ego.
Dentre todos ele era o único que a dizia isso, então não tinha como ser ao contrário.
Nikolas tornou-se seu tudo, não sabe se conseguiria viver sem ele. Poderia ser loucura, todavia quando se viu sozinha no escuro ele foi o único que lhe trouxe uma luz, que sentou do seu lado mesmo contra seus protestos, não gritou consigo quando começava a chorar, mas a apoiava silenciosamente e a abraçava sem medo de se ferir com os tapas que o desferia. Ele diluiu seu ódio, a fez esquecer que queria destruir o império.
— Jade...
A manha em seu tom a divertiu.
— Te amo seu chato, maninho.
— Te amo, Jade Mazarratti. — Fala num tom baixo, encarando seus olhos.