— Onde eu estou?
Eu me via paralisado, não conseguia mexer meus braços nem minhas pernas, tudo que eu conseguia fazer era olhar em volta.
Eu estava claramente em uma cidade, porém ela estava queimando, completamente em chamas, tudo que eu via eram pessoas correndo, em pânico, o desespero era visível em seus rostos.
Aquelas que não corriam o suficiente logo eram atingidas com golpes fatais de espada, pessoas cobertas por um manto branco vinham atrás, cortando todos pela frente.
Homens e mulheres, jovens e velhos, até mesmo crianças eram assassinadas, as vezes por decapitação, outras vezes eram cortadas ao meio por aquelas espadas malditas.
Espadas que queimavam, com chamas iguais aquelas da cidade, o desespero também tomava conta de mim, eu só podia ficar ali parado, observando as vidas que eram tiradas diante dos meus olhos.
— O que é isso? Por que estou vendo isso, qual o significado?
No meio daquele caos, diante dos meu olhos eu via caindo algo, um homem, eu não conseguia ver seu rosto, mas ele empunhava uma grande espada prateada, ele ficou entre mim e um dos assassinos.
Eles começaram a lutar, era algo rápido, eu ouvia os sons que as espadas faziam quando encostavam uma na outra com força, de um lado um assassino com uma espada flamejante, e do outro um forte homem com sua espada prateada.
Eu ia ficando mais calmo a medida em que o homem misterioso lutava, mas de uma hora para outra, o desespero voltava ao meu coração quando o homem começava a ganhar ferimentos em seu corpo, até que repentinamente.
— Corra! Leve-o daqui imediatamente, se
esconda em um lugar seguro, e não saia até que eu apareça.
Disse bem alto o homem misterioso, enquanto lutava com todas as suas forças, com quem ele estava falando isso? Eu me pergunto.
Aquilo não parecia estar sendo dito a mim, e sim sendo dito para alguém atrás de mim, mas quem? Eu não sinto ninguém.
Eu começava a me afastar do homem, como se algo estivesse me levando para longe, mas o que? O que estava me levando? Minha visão está ficando embaçada, eu não vejo mais nada...
— Eu acordei... então tudo isso não se passou de um sonho, ou melhor um pesadelo.
Ali estava, um garoto deitado, ele se levanta e abre a janela, deixando a luz do sol adentrar seu quarto de madeira, iluminando tudo, uma estante com 4 livros, sua cama, e outras coisas normais que você esperaria encontrar em um quarto.
— Que dia lindo, hoje é o grande dia... — sua fala é interrompida para dar lugar a um longo bocejo — que pesadelo esquisito, eu nem li ontem antes de dormir.
Um garoto de altura mediana, cabelo cinza escuro na altura de seu pescoço, olhos caídos com pupilas de coloração roxa, um nariz levemente maior que o comum, usava um pijama branco, e naquele momento tinha um sorriso no rosto.
— Vamos lá, não quero perder um único...
— Você está atrasado para o café, quando disse que não era para eu te acordar, imaginei que pelo menos ia fazer isso sozinho! — disse uma voz atrás do garoto.
— Ah, desculpa mãe — disse ele se virando.
A voz vinha de uma mulher, levemente maior que o garoto, tinha um cabelo ruivo que batia na cintura, olhos avelã, e um tom de pele bem claro, se diferenciando bastante do tom de pele pardo do menino.
— Sem desculpas, o café esfriou, e o fogo apagou, você vai ter que acender de novo, e esquentar você mesmo.
— Eu não ligo pra café requentado mesmo.
— E eu perguntei? Eu sei que é o que você vai tomar! Anda, desce logo e vai se preparar, você tem que sair, ou esqueceu?
Ela diz isso e sai dali, descendo as escadas bem a frente da porta do quarto.
— Ela está certa, não tenho muito tempo — ele então fecha a porta do quarto, se troca, e logo desce as escadas.
— Finalmente, fiz o favor de esquentar o café enquanto você se trocava, coma primeiro e me agradeça depois.
— Obrigado mãe — diz ele com muita satisfação, então se senta e come o quê sua mãe tinha preparado, café, biscoitos, frutas, um café da manhã reforçado, enquanto comia, decidiu contar a sua mãe o que tinha sonhado — ei, mãe.
— Termina primeiro, não vou ouvir se você falar com a boca cheia — disse ela lavando alguns copos.
— Tudo bem, é rápido, eu tive um pesadelo com uma cidade em chamas.
Naquele momento a mulher se assusta, deixando um copo de vidro cair e quebrar, o barulho assusta o garoto instantaneamente.
— Mãe — disse ele olhando na direção dela.
— Calma, está tudo bem, vá se arrumar agora Dark, eu não dormi direito, preciso descansar, antes de sair você termina de contar seu sonho.
— Entendi, tudo bem — Dark se levanta, pega alguns biscoitos na mesa e sai dali em direção do quarto.
— Cidade... em chamas... — pensa ela consigo mesmo.
Enquanto isso, Dark está em seu quarto, pegando suas coisas, sua mochila já estava preparada, pois sairia em uma jornada até a cidade grande pela primeira vez, ele só estava fazendo os preparos finais, veste a melhor roupa que tinha, que também era simples, afinal era apenas um garoto do campo.
— Puxa, eu queria ter uma roupa incrível igual aquelas ilustrações do A Irá Dos Deuses, foi um dos melhores livros que minha mãe me deu — disse ele colocando uma roupa extra na mochila, e olhando para o céu pela sua janela.
Então ele caminha até ela, e observa os pássaros voando no céu azul.
— O que aconteceu com a minha mãe? Ela estava estranha hoje de manhã, até me lembrei que eu não sei nada sobre o passado dela, nem do meu falecido pai, ela nem me diz o sobrenome dela, só sei que seu primeiro nome é Iris, e nada mais.
Ele se vira, coloca sua mochila e desce novamente as escadas.
— Mãe, eu estou pronto!
— Tem certeza, você fez a higiene? Escovou os dentes, lavou o rosto, deu uma molhada nesse cabelo matinal? — disse Íris sorrindo.
— Ahn, não...
— Então coloca essa mochila aí, e vai fazer isso!
Então ele simplesmente obedece e sai dali de cabeça baixa, e volta correndo com a cara molhada.
— Já!? — disse Iris surpresa
— Sim, eu tô muito animado, não quero demorar!
— Entendi — disse ela rindo — vem comigo, tenho um presente para você.
Eles vão até o quarto de Iris, e de baixo de sua cama, ela retira uma pano, desenrolando ele, revela que ali estava uma adaga prateada, de tanto tempo guardada não havia mais brilho, mas ainda era linda.
— Mãe, que linda, onde você arrumou?
— Eu não arrumei, é uma lembrança do seu pai, para você.
— Ei, e por que você não me deu isso antes!? — disse ele alterando um pouco a voz.
— Se alterar um pouco mais a voz, eu vou usar essa droga para outra coisa!
— Não tá mais aqui quem falou...
Depois dali eles finalmente saem da casa, uma bela casa de madeira, atrás da casa um grande lago de água azul cristalina, e todo o conjunto cercado por uma floresta de um lado, e um vale do outro.
— Então, você está pronto, é um adeus.
— Nossa mãe, deixa de ser exagerada, eu só vou estudar na academia, e vou vir te ver sempre que der, eu escrevo para você também.
— Tem certeza que você quer ir? Não quer ficar e treinar mais com aquela espada de madeira?
— Ah, a espada, eu preciso me despedir da poderosa Excalibur!
— Pensei que não gostava de imitar coisas que já existiam, por que nomeou aquela madeira mofada em homenagem ao tal rei Arthur?
— Não pensei em nada melhor na hora de batizar, eu não acho ela faz uns seis mêses, até parei de treinar faz uns quatro mêses, de tão triste que eu fiquei.
— Como se um treinamento qualquer com um pedaço de madeira fosse te deixar bom em espada, bem, eu tenho mais uma surpresa para você — ela pega um pano em cima da mesa, enrolado nele estava a Excalibur.
— Minha espada, espera ela está...
— Sim, eu limpei, e ajeitei tudo, deixei parecido com uma espada de verdade, aquele foi um presente do seu pai, esse é o meu, parabéns por se tornar um homem! — disse ela com um grande sorriso no rosto, e os olhos se enchendo de lágrimas.
— Mãe... — ele abraça Iris bem forte — eu vou ficar muito forte, e te dar orgulho mãe!
— Eu te desejo tudo de bom filho, vá e alcance seus sonhos!
Eles se despedem ali, e Iris observa Dark sumindo no horizonte.
— Você cresceu tanto, vai se tornar um grande homem, igual ao pai... espero que o passado não volte para assombrar...
— Aí, mal comecei a andar e já estou cansado, eu não deveria ter parado de treinar com a espada e passado os últimos mêses só lendo livros — pensa ele.
Ele puxa do bolso um papel, e quando abre percebe que era maior do que pensava, e eram instruções que sua mãe havia dado.
— Por que ela simplesmente não disse tudo antes de eu partir?
A resposta estava no começo do bilhete, que dizia que ela o conhecia, e que ele esqueceria se ela tivesse dito antes dele sair.
— Ah...
Ainda no bilhete, estava escrito por onde ele deveria ir, onde ele deveria acampar, os cuidados que deveria tomar, e mais informações importantes.
— Nem precisava de tanta coisa assim, parte eu já sabia, mas não custa lembrar né, melhor que esquecer alguma coisa, eu que não vou voltar para lembrar de nada.
Ele observa tudo a sua volta, plantas, árvores, animais, montanhas, antigas construções derrubadas, até passa por uma grande estátua de ferro enferrujado em forma de cavalo.
— Se eu soubesse que tinham essas coisas legais, eu já tinha vindo até aqui com a minha mãe — ele para para observar a estátua mais de perto — olha, tem algo escrito.
Em uma placa de metal tinha uma frase: "aqueles que buscam o..." Só era possível ler até ali, e algumas palavras soltas, como: "abrir", "matar", "nuvens" e "Zeus".
— Zeus não é um deus grego? Incrível, um dia vou ficar tão poderoso, que vou derrotar até mesmo Zeus! — pensa Dark sorrindo.
Continuando seu caminho, após algum tempo, o sol já estava no meio do céu, era meio dia, e Dark decide parar para almoçar, sua mãe havia preparado tudo, até suas refeições até chegar a cidade, ele se senta em uma pedra abaixo de uma grande macieira, com a intenção de ter sua sobremesa já pronta.
— Dei sorte de ter uma árvore de fruta no caminho, e está lotada, vou comer aqui e ainda vou levar pra comer depois do jantar.
Enquanto comia, ele não percebe, que pelo tronco da árvore, vinha descendo uma serpente laranja, com os olhos amarelos.
— Não vejo a hora de... — ele ouve o barulho da serpente, e ao olhar para cima ela já estava se preparando para morde-lo, ele se assusta e pula para frente, rolando para o lado, a cobra desce e rasteja em sua direção — droga!
Dark se levanta e percebe que suas armas estão na mochila que está encostada na árvore.
— Quer saber, eu vou acabar com você na pisada!
Ele permanece parado esperando a cobra se aproximar, mas a cobra astuta, recua, e foge para dentro da grama alta.
— Ufa... — Dark se alivia, e volta a comer, come um maçã, guarda outra, junta suas coisas e volta a sua jornada.
No caminho volta a observar as muitas coisas, até avistar uma grande torre antiga e abandonada, tinha aspectos de queimada, e parecia ser de uma grande igreja.
— Essa jornada já tá valendo a pena por essas coisas incríveis — ele para ali mesmo, e faz um lanche com aquela vista.
Já estava anoitecendo, e assim como sua mãe havia dito, próximo do anoitecer, ele estaria perto de uma floresta, com grandes árvores de tronco escurecido, ali estava a parte mais perigosa do caminho, a floresta negra, e ele já a avistou de longe.
— Pelo que estava no bilhete, ela disse que quando começar a anoitecer, era para andar até achar a placa escrito floresta negra, depois acampar ali perto da trilha, e não adentrar a floresta.
Então ele entra, e anda por mais uma hora, até achar a placa, ali ele segue as instruções de sua mãe, armando uma barraca improvisada, e acendendo uma fogueira.
— É, vai dar pra passar a noite aqui, com tanto que eu ignore a floresta escura aqui do lado — ele pega o jantar na mochila, e começa a comer, ao terminar, come sua maçã, e se prepara para dormir, coloca a adaga de seu pai escondida abaixo da mochila ao seu lado.
Os ventos batem, balançando a barraca, os grilos não param de fazer barulho, e o frio não é totalmente barrado pelo cobertor de Dark, tudo isso, claro, o impedindo de dormir.
— Droga, assim fica difícil de dormir, eu já tava acostumado com o resto, mas o frio está castigando — depois de minutos, ele consegue adormecer, trazendo um sonho.
_— Dark, não quer ir a um picnic hoje?_
_— Mãe!? É sério!? — disse o pequeno Dark, ainda criança._
_— Claro, está tudo pronto, era uma surpresa para comemorar seus oito anos — disse ela revelando que em suas mãos escondidas atrás das costas, estava uma cestinha._
_— Eba, vamos!_
De repente Dark acorda assustado, o motivo, um grito alto vindo do interior da floresta.
— O que é isso!? — ele se levanta rapidamente, pega a adaga, e olha assustado em direção de onde veio o grito, e então ele ouve o mesmo grito se repetir.
— Cara o que tá acontecendo, alguém pode estar precisando de ajuda... não, minha mãe disse para não entrar na floresta — o suor escorre na testa de Dark, ele está com medo, mas a curiosidade fala mais alto, e ele corre para dentro da floresta — droga, odeio ser curioso!
Quanto mais ele adentra a floresta, mais escuro fica, os galhos começam a bater em sua cabeça, e teias de aranha ficam presas por todo seu corpo, chega uma hora que ele para de correr, pois já não enxerga nada.
— Que merda, eu não acho nada, o que era aquele grito afinal — ele avista luz, e animado corre para ver o que é — deve ser uma parte sem árvores ou...
Então ele da de cara com um precipício, escorrega e cai — Droga! — felizmente consegue se agarrar a uma raiz, e escapa da queda por pouco, seu outro braço fica pendurado segurando a adaga, e ao olhar para baixo, percebe que ali passa um rio.
— Meu braço já está doendo, e o outro ocupado, o que eu faço!? — pensa ele.
A raiz da árvore não aguenta, e cede um pouco, dando um susto em Dark, e o fazendo soltar a adaga para segurar a raiz com as duas mãos.
— Não! — e olha para baixo e vê a adaga caindo na água — a espada do pai, eu não posso... — em um impulso, ele solta a raiz e se joga no rio.
Ele cai e afunda, após isso nenhum movimento no rio pode ser visto, até que de lá ele emerge com a adaga em mãos, rindo e gritando.
— É isso aí, eu sou incrível! — ele nada até a margem do rio, e sai de lá ileso, até que ouve o grito novamente — aí está você!
Ele mais uma vez se levanta e volta a sua corrida para descobrir o que estava acontecendo, a floresta volta a escurecer, e a adrenalina a abaixar, trazendo de volta o medo, até que ele chega a uma clareira, iluminada pela luz da lua, e com um belo gramado com muitas flores.
— Que lugar lindo, eu não acho ninguém, é melhor eu voltar agora, infelizmente se alguém está em perigo, a essa altura já deve ter morrido...
Ele para de falar, pois ouve um barulho que lembra um rosnado, e ao olhar para trás, da escuridão da floresta surge olhos vermelhos, Dark dá alguns passos para trás.
— O que é...
Então sai dá floresta, um grande leão cinza, com uma juba vermelha, uma cauda de serpente, e grandes dentes saindo de sua boca, suas patas eram desproporcionalmente grandes em relação ao corpo, e seus olhos não paravam de brilhar em vermelho.
— Mas isso é... — pensa ele.
Rapidamente ele se vira para trás e sai correndo desesperadamente, enquanto corre, ouve os passos do leão, que nem parecia correr tão rápido, ele era duas vezes maior que Dark, e poderia o devorar com apenas uma mordida.
Dark pula troncos, se abaixa em galhos baixos, corta com a adaga tudo que pode atrapalhar seu caminho, mas ele não parava por nada, infelizmente para ele, seu caminho chega ao fim, e em sua frente, um penhasco de três metros para cima, fim da linha.
— Não! — Dark se vira e empunha a adaga, a cada barulho de passo, sua alma tremia, até que como a morte em carne e osso, emerge sob a luz da lua, com um olhar maligno em seu rosto, e um rosnado ameaçador.
— Fique longe, eu vou acabar você, eu vou acabar com sua raça seu bicho de merda!
Claramente não funcionava, e ele não parava de se aproximar, até que o leão se assusta, e olha para cima do penhasco.
— Ele se assustou comigo... não, claro que não, tem alguém... — pensa ele ao olhar para cima, porém, só vê uma silhueta de um homem, usando uma cartola, e aparentemente uma roupa escura, ao voltar seu olhar a floresta, o leão havia sumido, e percebeu que sua vista estava ficando embaçada, assim ele perde a consciência.
Uma luz ilumina os olhos de Dark, e ao abri-los, ele percebe estar de volta a sua barraca, ao seu lado a adaga, estava tudo ali, intocado, parecia até mesmo que nada havia acontecido, e ele tivesse dormido a noite toda normalmente, porém suas roupas estavam úmidas, provando assim que nada foi um sonho.
— O que... o que aconteceu — Dark se levanta, e ao olhar para o céu, percebe que o sol está no meio, já devia ser meio dia pensou ele — bem, eu não sei bem por onde começar.
Ele confere tudo, para ver se realmente estava tudo ali, e nem o dinheiro que sua mãe lhe deu havia sido levado.
— Aquele homem de chapéu engraçado, ele me salvou sem mais nem menos? Ou melhor, como ele fez isso — ele começa a desfazer o acampamento e guardar as coisas — ele assustou um monstro daqueles...
Ao terminar de arrumar tudo, ele se senta para comer algo, afinal teria que sair andando dali.
— O objetivo era chegar, ver um pouco a cidade, achar um lugar para ficar, e ir no dia seguinte para a academia, mas vou chegar lá de noite, do jeito que as coisas vão.
Dark termina de comer, sua água havia acabado no dia anterior, então agora sabendo da existência do rio logo ali, decide ir lá em busca de água para o resto da viagem.
— Cheguei, foi aqui que eu caí — pensa ele observando a raiz da noite passada, olhando para o lado ele observa uma trilha que desce para uma parte mais rasa do rio — é, melhor descer da forma tradicional.
Dark pega e bebe água, curioso, decide deixar as coisas ali, e seguir o mesmo caminho da noite anterior, para tentar achar algo que explicasse o que havia acontecido.
— Bem, minha mãe disse que a floresta não é nada perigosa de dia, e como o plano de chegar lá a tarde já era mesmo, então não custa nada...
Ele passa por todos os lugares que havia passado, chega na clareira, e observa suas pegadas nas flores, e mais ainda, as grandes pegadas do leão.
— Cara, aquele bicho era enorme, muito bem, vamos seguir.
— Achei — finalmente chega até o penhasco que quase tirou sua vida, observa tudo a sua volta, mas só acha uma coisa — isso...
Então bem onde havia perdido a consciência, ele pega no chão um pequeno pedaço de ferro enferrujado com um formato que lembrava o símbolo de coração.
— Legal, vou levar isso comigo — ele procura mais um pouco, mais não acha mais nada — muito bem, vou voltar, perder tempo é a pior coisa agora.
Ele volta ao rio, pega suas coisas, sobe de volta, atravessa tudo, até finalmente estar de volta a trilha, ali estava ele, finalmente de volta ao sua jornada, a noite havia sido turbulenta, ele quase morreu duas vezes, e mesmo assim, não parecia ser afetado, estranhamente, parecia ainda mais animado.
— Se esse foi o começo, imagina o que vai vir, tudo bem, vamos logo com isso!
O entardecer havia chegado, e Dark já visualizava várias casas espalhadas pelo caminho, parecia que quanto mais ele se aproximava, mais complexas elas ficavam, antes de madeira, depois vinham tijolos de pedra, tijolos vermelhos, e a quantidade de pessoas por perto iam aumentando, ele jamais havia estado em um lugar com tantas pessoas.
— Eu estou nervoso, é muita gente, muitas construções, parece outro mundo para mim!
Então finalmente, ele chega até a entrada da cidade, na placa dizia seu nome, Adamas, e da entrada se podia ver uma alta torre, feita com tijolos brancos, e um grande brasão dourado no topo.
— Adamas, então é aqui que fica a academia Makko, incrível, e aquela torre é muito linda, o que será que é? — diz ele muito animado.
— Aquela? Me surpreende você vê-la tão bem com a noite chegando, as luzes nem se acenderam ainda — disse um senhor baixinho ao seu lado — acho que disse bobagem, eu sou velho, você jovem, tem a visão muito melhor.
— Ah, nem tanto, um dos meus olhos vê tudo embaçado na verdade.
— As vezes só basta um olho para enxergar a verdade...
— O que?
— Nada jovem, aquela é a torre da guilda Adamas, a maior guilda de toda Partavia — disse ele com muita animação.
— Guilda Adamas, é um bom lugar para começar a ficar forte.
— Esse é seu objetivo jovem?
— Sim, meu objetivo é ser o mais poderoso de todo o mundo, e ter o poder para derrotar qualquer um!
— Não acha que é um objetivo um tanto raso? — disse o velho olhando bem nos olhos de Dark e o deixando desconcertado.
— Ah, bem, com esse vem muitos outros, eu só quero ser forte!
— Sei, a noite chegou, agora eu preciso ir, boa sorte na sua empreitada jovem — diz o velho, depois sai andando, e entra na cidade.
— Uh, bem, obrigado pelas informações — responde Dark acenando — raso? Não é raso, só é simples, porém incrível! — pensa ele.
Como o senhor havia dito, a noite chegou, e Dark finalmente decide entrar para achar um lugar, andando lá dentro, ele vê muitas e muitas placas escrito pousada, uma delas, chama sua atenção por ser feita de madeira escura, e também pelo nome: Pousada e Taverna Adamas.
— A cidade é Adamas, a guilda é Adamas, e uma pousada Adamas, deve ser a de melhor qualidade, vamos ver — ao chegar perto da porta, um alto barulho, e diante dos seus olhos um homem é simplesmente lançado a rua — o que?
— Ei sua vagab... — começou a dizer o homem enquanto se levantava, mas parou quando na porta da taverna, uma grande e forte mulher o observava, ela estava bem zangada.
— Vamos — ela pisa do lado de fora, e cerra as mãos, Dark só observava tudo assustado e em silêncio — vamos, termine a sua ofensa, se tiver coragem!
— Você... você... você vai se arrepender disso! — disse ele gritando, e correndo dali.
— Idiota, é melhor que nunca mais pise aqui dentro — ela se vira e entra de volta.
Dark vai logo atrás, observa o interior do lugar, e percebe que tudo estava normal, limpo, não havia nada de errado, também estava vazio, a mulher volta para trás do balcão, e ele se senta em um banquinho em frente a ela.
— Aparentemente aquele era o último cliente de hoje... — pensa ele.
— Bem vindo a Adamas, tanto cidade, quanto taverna — uma mulher bem alta, musculosa, usava roupas de couro, um cabelo preto longo, uma cicatriz em seu queixo, e uma marca de nascença em volta de todo seu olho esquerdo.
— Obrigado, como a senhora sabe que eu sou novo na cidade?
— Não me chame de senhora, eu sou só a dona da taverna, me chame de Sina, eu sei que é viajante, está cansado, e com essa mochila cheia de coisas, veio para o teste da Makko certo?
— A academia, sim, você é boa nisso, é de tanto trabalhar com pessoas?
— Você também não é tão burro garoto, bem, você tá certo, eu sou dona de taverna, pessoas é o que eu mais vejo — disse ela rindo.
Alguém entra pela porta, e senta ao lado de Dark, um homem encapuzado, usando um casaco grosso e preto, ele está molhado com se tivesse acabado de sair da chuva, mas o tempo lá fora estava limpo.
— Café, dois copos por favor, um pra mim, e para meu amigo smile — disse o homem com uma voz grossa e rouca.
— Amigo, eu só estou vendo você, não amola velho, você tem dinheiro aí? — disse Sina.
— Meu amigo smile já vai chegar — disse ele, apontando para a porta, depois colocando as duas mãos na mesa.
Naquele momento, Dark percebe que na mão do homem, tem um grande anel, com um sorriso gravado nele, além disso sua mão direita estava muito suja.
— Então está bem, vou pegar — Sina se dirige a cozinha para preparar o café — eu já te atendo garoto — grita ela da cozinha.
— Não tenha pressa — diz Dark — esse cara é estranho, melhor eu tomar cuidado — pensou ele.
— Eu sinto medo em você menino, não se preocupe, não vou lhe fazer mal algum — disse o velho virando seu olhar para Dark, naquele momento foi possível ver um de seus olhos, sua pupila tinha uma coloração azul, mas o que surpreendeu, foi um símbolo de nuvem azul claro bem no meio da pupila.
— Isso, o que será que...
Nesse momento Sina retorna, colocando na mesa duas xícaras de café bem quente, o homem vira seu olhar para Sina, tira o dinheiro do pagamento do bolso de seu casaco, e paga, naquele momento Sina também consegue ver os olhos do homem.
— O que, isso, não pode ser! — pensa ela, ficando visivelmente nervosa.
— Cara, ela mudou totalmente de atitude, segundos atrás ela era assustadora — pensa Dark.
O homem simplesmente termina uma das xícaras, se levanta, acena sua cabeça para Dark e Sina, e sai dali, deixando no balcão a outra xícara.
— Esquisito, acabou que o tal smile não apareceu, e ele deixou isso aí, você tá bem Sina?
— Garoto, você não conhece muito né? Não viu os olhos, aquilo não era um homem, era um Zigre.
— Zigre, o que diabos é isso?
— Os Zigres, são demônios andarilhos, dizem que foram amaldiçoados, e a chuva cai sobre eles constantemente, eles não fazem mal, param em tavernas, pedem duas coisas, e sempre deixam uma.
— Eu tenho muitas perguntas, por que alguém teria medo disso, e se eles pagam dois e levam um, por que seria um problema, e além disso, por que sempre deixam um?
— Simples, quem ousar roubar o que ele deixou, terá quatro anos de vida roubada, você pode jogar fora, dar a alguém, quebrar, enfim, qualquer coisa, mas nunca usar para benefício próprio diretamente.
— Tá, e por que o medo?
— Eles são muito raros garoto, mas existe um tipo ainda mais raro, aquele que te ataca se não gostar da comida ou bebida servida, e eles são fortes.
— Entendi, a cidade grande é realmente interessante.
— Haha sim, e eles realmente só aparecem onde tem grande concentração de pessoas, mas ele já foi embora, então não corremos perigo — Sina pega a xícara, e joga ela com tudo no lixo — e agora não tem mais risco de perder anos de vida.
— Ainda bem, não tô afim de morrer ainda — diz ele rindo — ele deve ser realmente forte, alguém como ela ficou com medo — pensa ele consigo mesmo.
— Desculpe a demora garoto, em que eu posso ajudar?
— Eu quero um lugar para ficar.
— A noite completa começando agora, até às dez da manhã, mais refeição, fica por dois milhões — diz ela com um sorriso malicioso.
— Dois milhões!? — exclama Dark completamente surpreso.
— Calma garoto, estou de bom humor, então hoje eu faço por apenas cinquenta — diz ela aproximando e colocando a chave na mesa.
— Era isso desde o começo né?
— Não sei do que está falando.
— Sei...
Finalmente Dark está em seu quarto, prato de comida na mão, mochila nas costas, a chave na boca, e um cansaço extraordinário, finalmente vai comer e dormir sob um teto, sua barriga ronca, e seus olhos estão quase se fechando, ele coloca sua mochila no chão, senta na cama, faz sua refeição, e depois adormece em uma velocidade assustadora.
Não tão longe dali, em uma floresta escura, três pessoas escondidas pelas sombras conversam.
— Você não tem outra escolha, se não conseguir, sabe bem quem paga no seu lugar — disse uma das sombras, a maior delas em altura.
— E além disso, o último trabalho não foi como planejamos, e a culpa disso foi sua, então que faça direito seu trabalho agora — disse a outra sombra, muito menor do que as outras duas, e tinha uma voz extremamente fina.
— Eu não vou falhar dessa vez, mas prometam que eu vou poder vê-la quando isso acabar! — exclamou a terceira sombra, sua voz parecia alterada por algo, e dali, era o único com um corpo normal.
— Nós prometemos — disseram as duas outras sombras ao mesmo tempo, seguindo de uma risada da menor que ecoou pela floresta.
Batidas na porta, muitas batidas na porta, Dark desperta com um barulho estrondoso em sua porta.
— Eu já vou levantar mãe, calma — diz ele se espreguiçando.
Então a porta se abre, e claramente não era sua mãe, e sim Sina muito nervosa.
— Garoto, ontem antes de subir você disse que veio para o teste da Makko, não é?
— Ah, Sina, é você, sim foi isso.
— Pois bem, já está atrasado se quer saber...
— Ah...
Da porta da taverna sai Dark, correndo desesperado, enquanto isso da janela, Sina o observa.
— Esse garoto, faz tempo que eu não vejo essa animação, um mês para ser exata — diz ela sorrindo, e se virando para voltar ao trabalho.
E assim Dark começa sua vida na cidade, o que será que a academia Makko guarda para ele, e será que ele chegará a tempo? Quem sabe...