A noite estava estrelada, talvez perfeita demais para iluminar o palco de um espetáculo muito bem planejado. Aine estava nervosa e não conseguia disfarçar a ansiedade. Não sabia como aconteceria, mas, quando o pai Rei Augusto tinha concordado com sua exigência, ela soube. Soube que ele não estava disposto a sair do castelo e muito menos perder o controle de seu império.
Aine tinha consciência de que o pai precisava estreitar relação com o reino de Spart e já havia demonstrado interesse em Everson, porém este almejando a coroa vivia de galanteio para prima Titânia, que mal trocava duas palavras com o rapaz. Não que ela ligasse verdadeiramente, apenas precisava de alguém para reger o reino e não tivesse interesse em pegar no seu pé. Só queria pôr a coroa na cabeça e ter suas vontades atendidas sem questionamentos. E claro, gastar sem ter quem a controlasse com todo aquele sermão ridículo de "princesas também precisam de limites".
Limite não era uma palavra que ela gostasse de ouvir. Era uma princesa afinal. O que desejava conseguia. Seja por suborno ou chantagem. E seu pai que era o rei não ligava, então, quem poderia impedi-la?
Ao tocar da Melodia Entediante da harpa, observou o salão em silêncio e suas primas Titânia e Diana entrarem enquanto recebiam comprimentos e felicitações. Vislumbrou com prazer ambas serem ignoradas pelo Rei, porém, percebidas com gosto por alguns membros do Conselho. Tinha que lembrar de substituí-los assim que possível.
Ao decorrer da comemoração, lembranças foram lhe atingindo. Quando tinha 7 anos todos no Castelo lhe davam atenção. os serviçais, os membros da realeza, os visitantes, absolutamente tudo era só dela. Até as primas chegarem sendo pequeninas fofuras. E muitas vinham visitá-las com presentes e bons agouros. Todos queriam conhecer a nova princesa Imperatriz. Todos queriam fazer parte do seu crescimento. Só de olhar para aquelas crianças dava ânsia. Tudo era perfeito e de repente tinha que dividir tudo e todos. Os vestidos, os brinquedos, os passeios. Já não tinha nada que fosse só dela. Além Claro, de sua babá e de sua dama de companhia que às vezes a irritavam.
Onde já se viu a filha de um Visconde morar em um Palácio e preferiu o campo. Mia sua dama de companhia com o passar do tempo mudou de opinião. Passou a ser leal e conivente com suas armações. Já a babá Bridget havia falecido a um tempo, entretanto, ainda não conseguia esquecer suas últimas palavras :" lembre-se minha jovem princesa, sua imprudência constante não lhe dará o respeito e carinho que deseja nem de seu pai nem de seu povo". Tolice. Era isso que Aine pensava sempre que lembrava de Bridget.
Sua prima merecia cada armação. Titânia era apenas uma criança ingênua sem o menor controle de sua magia. Uma sem talento que iria reinar e arruinar o nome da família. Porém, nos últimos dois anos, Titânia tinha crescido como maga, ganhando respeito e admiração. O motivo de seu descontrole na infância justificou-se pela pressão emocional além da grande mana que possuía. Agora mesmo que não totalmente ela já possui controle e provavelmente com o passar dos anos chegaria a perfeição. A mesma perfeição que Aine possuía para usar magia desde que se entenderá por gente. E até isso a princesa herdeira parecia querer lhe tirar.
Lembrou-se ainda de quando tinha vinte e um anos. Em uma tarde ensolarada que estavam visitando o reino Spart. O sol quase se pondo enquanto ela voltava de um chá com a rainha, quando encontrou Érico a observar o horizonte. Ao olhar para a mesma direção que o príncipe, vislumbrou Titânia cavalgando longe do Castelo. Um sorriso estonteante e o reflexo do sol em seus cabelos esvoaçantes. Não seria possível que até o garoto que desejava caísse nas garras da prima.
Érico era um ano mais novo que Aine. Inteligente, talentoso e principalmente bonito. Um belo rapaz de olhos azulados, cabelos tão negros quanto a escuridão e bem aparados. Com porte físico de guerreiro e uma pele bronzeada marcada pelas lutas travadas desde cedo. Um prodígio para seu reino. Conhecido como "o Gênio", vice capitão do pelotão de elite da capital real. Era um rapaz extremamente reservado e que nunca havia aceitado seus flertes.
Nenhuma regra havia em ambos os reinos onde estivesse escrito que as moças deveriam guardasse para o casamento. Muito pelo contrário. Algumas passavam dos limites do que poderia ser próprio ou impróprio para o público. O que lembrava Aine dos lobos ao leste ou estrangeiros do além mar. Eles poderiam ser piores de acordo com os rumores que ouvirá. Amantes insaciáveis. Era assim que descreviam os noturnos.
Então, porquê? Por que Érico não lhe dava a atenção que desejava? Talvez agora, olhando-o hipnotizado enquanto observava o horizonte, finalmente soube-se. É isso que lhe dava ainda mais raiva.
Agora teria que investir em novas estratégias. Talvez se aproximar do irmão mais novo para conquistar o mais velho. Everson seria o mediador perfeito. Ambicioso e tão mal caráter quanto ela poderia pensar em ser. E sua prima que lhe aguarda-se. As coisas mudariam. De uma forma ou de outra.