Algumas horas antes de Titânia partir. Érico estava caminhando pelos corredores do castelo rumo ao quarto de Titânia quando encontro Aine parada próximo a sacada do corredor. De longe, ele pode observar que ela tinha um sorriso extenso no rosto e parecia não conseguir se conter de tanta felicidade, o que já era esperado. Para alguém que nunca herdaria o trono com a presença de sua prima no reino saber que ela provavelmente morrerá em uma jornada não planejada e totalmente perigosa deve ter revigorado a sempre azeda Aine. Érico iria passar direto fingindo que não havia visto quando Aine se virou e o comprimentou.
Érico, tudo bem? Aonde está indo?
A algum lugar. E por favor princesa me trate pelo que sou. Chama-me de príncipe Érico.
Nossa, não pensei que ligasse tanto para meras formalidades.
Não é mera formalidade entre nós.
Claro. Se fosse com minha querida prima não te importaria dela chama-lo até mesmo de idiota certo? Não seria a primeira nem a segunda vez.
Acredito que isso não seja de sua conta princesa Aine. Se me der licença.
Espere um minuto. Para que a presa. Não foi minha intenção aborrecê-lo. Pelo contrário, estava apenas a puxar conversa. Estou me sentindo tão sozinha desde o começo desta festa. Sinto-me aborrecida. Não lhe apreciaria fazer-me companhia? Talvez me acompanhe até o quarto para conversarmos um pouco? Lá é bem ventilado e podemos nos distrair com a vista para a floresta.
Pois procure alguém que deseje e tenha paciência para ouvi- la princesa Aine. Se me der licença, preciso falar com Titânia.
Érico não esperou resposta e saiu às pressas para longe da princesa Aine. Esta por sua vez ficou tão furiosa que literalmente queimou uma árvore de ipê que ficava abaixo da saca. Próximo ao local e ouvindo tudo está o irmão mais novo de Érico, o príncipe Everson o qual se fez presente de imediato gargalhando como se tivesse ouvido a piada do ano, deixando a princesa Aine mais nervosa.
Então, meu irmãozinho te dispensou para ficar com sua rival? Que ironia do destino, não?
Do que falas príncipe Everson? Agora esconde-se para ouvir a conversa dos outros? Não tem vergonha na cara?
E quem disse que estava escondido a ouvir a conversar? Eu já estava aqui quando tu chegastes e não me notaste. Tenho certeza que Érico me viu parado ali.
Sério? Porque não se fez presente antes ?
Porque vi bem, que ao ver o meu irmão, a vossa alteza parou no meio do caminho e tentou colocar um sorriso encantador nesse rosto que devo dizer é bonito mas que parece bem mais venenoso hoje. Rsrsrsrs
Estás me ofendendo gratuitamente príncipe?
De forma alguma princesa. Apenas comentando o quanto suas intenções são transparentes ao ponto de fazer qualquer homem perceber quando está próximo a ser pego em armadilha.
Há, agora está a insinuar que eu faria algo a teu irmão?
E não estava quando o chamou para ir ao teu quarto? Não duvido que tua prima seria a primeira a ficar sabendo ou talvez o próprio rei deveria ser o primeiro?
Ponha-se em seu lugar pirralho maldito. Não sabes do que falas. Você não me conhece príncipe Everson. Não de uma de esperto para cima de mim.
Sei bem meu lugar princesa. E tens razão porque não a conheço e acredito que ninguém a conhece realmente. Mais diferente de você devo garantir que EU SOU bem esperto. Se me der licença tenho algo mais interessante para fazer. Passar bem.
A princesa Aine quase queimou de raiva com a ousadia do Príncipe mais novo de Spart. Ela já tinha ouvido falar o quanto o terceiro filho do reino Spart era insuportável mas nunca tinha presenciado tamanha ofensa a sua pessoa. Não que não fosse verdade o que o príncipe Everson falou. Ela tinha planejado levar o príncipe Érico para seu quarto e deixar que seu pai e prima descobrissem que mesmo que não conseguisse o que queria, a bagunça estaria feita se ela o conseguisse manter lá por 15 minutos. Sua prima Titânia iria embora de coração partido e seu pai exigiria um acordo de casamento entre as nações de Amenoi e Spart. Pelo visto o príncipe Everson estava certo também ao dizer que ela não sabia mentir. Pelo menos não para o príncipe Érico. Com raiva ela se dirigiu para o mesmo corredor que o príncipe Érico tinha ido. A princesa precisava comprovar até onde sua prima e o príncipe estavam dispostos a ir.
Na mesma direção no final do corredor dos quartos reais, um casal discutia. A duquesa Amélia não se conformava com o fato de sua filha mais velha Titânia ter que partir sem mais nem menos por um capricho repentino do rei, e estava a discutir mais uma vez com o marido Ricardo, o qual nunca fazia muito para proteger a filha.
Você precisa falar com seu irmão. Tente convencê-lo a esquecer esta loucura. Titânia acabará morta e nem teremos a chance de enterrar nossa filha para que descanse em paz. Você sabe disso.
Acalme-se Amélia. A decisão do rei já foi anunciada a todos na corte, não há mais nada que se possa fazer. Nem o próprio rei pode voltar atrás em sua palavra e te sabes disso tão bem quanto eu.
Você sempre foi tão covarde Ricardo. Sempre se preocupou mais com o teu caso com a Condessa Ana do que em cuidar de tuas filhas. Nunca enfrentar teu irmão mesmo que ele esteja errado. Um rei também é um ser humano e comete erros. Outros já tiveram mais coragem em ir contra as ordens do rei, mesmo que poucos sejam aqueles que continuam vivos, ao menos tiveram coragem de fazê-lo.
Seu discurso é bonito Amélia mas não te vejo a enfrentar o rei também. Mesmo para alguém que sempre haje como leoa para as filhas.
Você acha mesmo que não falei nada com ele? Hum. O chamei de mesquinho e bon vivant filho da mãe. Disse que ele não pode fazer o que bem entender com a filha dos outros e sabe o que ele me disse? " EU SOU O REI. SE EU DISSE SERÁ FEITO". Mesmo sendo quem ele é, deveria respeitar o seu povo.
Ele nunca respeitou ninguém e isso não é novidade. Ninguém está acima do rei e de suas vontades.
Isso não é justo. Em séculos ninguém praticou esse absurdo. O fundador mandou seus filhos para morte e se arrependeu amargamente por isso. Ele não se importa porque sua preciosa filha continuará são e salva aqui no castelo a suas vistas.
Acha mesmo que ele não tem mais planos para nós? Ele não entregará o reino tão facilmente. Mesmo que Titânia não volte, o reino não passará para Diana. Ele não permitirá que sua filha não seja a rainha.
E mesmo sabendo disso tu não havia antes a nós? Ficamos no escuro até agora. O que podemos fazer para sair desta situação?
Nada. Não podemos fazer nada além de rezar e esperar o próximo passo. Estou andando no escuro tanto quanto vocês. Se eu soubesse o que ocorreria esta noite não achas que teria pensado em um contra ataque?
Tudo que sei é que não conseguirei viver por um ano sem minha pequena filha.
Dito isso, a duquesa começou a derramar grossas lágrimas já vislumbrando o futuro que se reserve a sua preciosa filha. Ricardo por outro lado não aguentou ficar naquele quarto com um clima de luto. Ele precisava respirar e pensar. Pensar em como tirá-los dessa situação antes que o rei invente mais algum capricho que acaba por exterminar toda a família do próprio irmão. Era tudo pelo poder da coral e isso não era novidade neste reino.
Já no jardim sul, o príncipe Ricardo estava a lembrar do nascimento de sua primogênita. A princesa Titânia é um bebê realmente bonito e tão delicado que o príncipe tinha medo de machucá-la ao segurá-la em seus braços. Naquela época ela era sua maior felicidade. Mesmo quando sua segunda filha nasceu ele se mantinha mais próximo de Titânia, claro, isso mudou com o tempo. A princesa não era o ser mais talentoso para as magias e isso era visto como uma fraqueza para um futuro soberano. O Príncipe Ricardo foi perdendo o brilho nos olhos que tinha ao ver sua filha e percebendo que seria rechaçado por ter gerado um fracasso. Por isso, ocupou-se com suas amantes para ficar o máximo de tempo longe da família, isso até encontrar a condessa Ana, a mulher que virou sua cabeça de vez e o deixava de quatro para fazer suas vontades. A condessa poderia até ser deslumbrante mas o príncipe Ricardo não poderia dizer que a paixão ainda continuava a mesma. Depois de anos a princesa Titania começou a destacar-se no uso de magia e o amor que tinha por sua pequena filha voltou a bater atormentando seus olhos sempre que olhava para a condessa o qual sabia ele bem que a princesa Titania não gostava nem um pouco. Porém, por alguma razão, ele não consegue deixar de encontrar a condessa. Dando-lhe até mesmo esperança de vir a morar no castelo quando ele se tornar o pai da rainha. O Príncipe já não era mais nenhum jovem apaixonado e inconsequente mas ainda assim não abria mão de poucas coisas que poderia fazer por sua própria vontade, mesmo que fosse egoísta de sua parte e machucasse seu precioso tesouro. Outra coisa que parecia aborrecer sua primogênita era a forma de tratamento da filha mais nova. Diane não mostrava a mesma força que a irmã. Era meiga e inteligente mas não tinha o ar selvagem de uma guerreira, algo que ele não considerava atraente e por alguma razão o mantinha mais afastado dela. Mesmo assim, o príncipe Ricardo sempre tentou dar o seu melhor para fazer sua segunda filha feliz. Para ele, já havia se tornado normal estar a observar de longe sem muito contato e carinho. Ele fez isso por tanto tempo que quando tentou se aproximar de sua primogênita novamente não obteve o resultado desejado. A princesa Titânia podia ser bem rancorosa quando lhe convém, e a raiva não vinha só do abandono com as filhas mas do abandono da sua esposa. Ele sabia que as coisas não seriam fáceis para si quando fosse pai da rainha mais ainda assim, a princesa Titânia nunca tinha ido contra uma ordem sua sempre respeitando o pai, então, poderia ser fácil ao menos convencer a deixar a condessa ficar por perto mesmo que a convivência entre eles pioraram, ele ainda poderia ter um pouco de prazer nos braços de sua amante e assim suportaria os dias mais com o rumo que as coisas estavam tomando agora o mais provável seria que ele nem sequer pudesse dormir a noite com medo de acordar com a boca cheia de formigas.
Como se os pensamentos estivessem ligados a condessa Ana se aproximou do príncipe Ricardo pronta para derramar seu infortúnio com a situação.
Querido? Não está a me ouvir chamá-lo? Quero lhe falar.
Diga. O que quer?
Prometeste que eu poderia vir morar no Palácio quando sua filha assumisse o reino. Da maneira que vejo agora ela não está nem perto de ser rainha, muito pelo contrário, está mais perto de se tornar uma moribunda.
Cale-se. Que tolice estás a falar? Coloque-se em teu lugar antes de falar da princesa herdeira do trono de teu reino. Quem pensas que és? Não passar de uma amante. Não tem o menor direito de falar dessa forma da minha filha.
Calma Querido, só estou dizendo que deste jeito continuaremos longe um do outro apenas com pequenos encontros momentâneos quando o dever não nos chamar. Só estou lembrando do que me prometeu.
Sei bem o que lhe prometi. Mas agora não é hora para falar disso. Tenho coisas mais urgentes a resolver.
E porque ainda não foi ter com o rei? Se estás preocupado, porque não tentar um acordo? Quem sabe o rei não lhe ouve?
Estas certas. Ainda posso tentar um acordo.
Dizendo isso, o príncipe Ricardo dirigiu-se de volta para a festa onde o rei se encontrava, pronto para qualquer acordo que seu irmão mais velho estivesse disposto a oferecer. Mas não se surpreendeu que o rei disse-lhe para apenas aproveitar a festa. Que não queria conversar hoje e não estava disposto a abrir exceções. O príncipe Ricardo quase explodiu de raiva na frente de todos os convidados, mas conseguiu se controlar. Se fizesse um estando na frente dos súditos do rei ele com certeza seria condenado à morte sem direito a julgamento por isso. Mas o príncipe Ricardo estava disposto a esperar o rei Augusto o tempo que fosse necessário para terem uma conversa. Uma conversa que lhe renderia dor de cabeça com toda certeza.
Quando o rei August já estava alterado pelo álcool ele se dirigiu para dentro do castelo. O rei não escondia sua felicidade por sua suposta astúcia e o príncipe Ricardo foi atrás do rei na mesma hora que o viu sair da comemoração.
Majestade… Poderíamos discutir sobre o ocorrido desta noite? Quero saber porque não fui informado desse desafio com antecedência. Eu também sou seu conselheiro e nunca ouve esse assunto em questão ser mencionado antes.
Se nunca ouviu, era porque não lhe interessava ouvir. Não há o que discutir. Eu já decretei o que será feito e não vou voltar atrás.
Você sabe também ou melhor do que eu por quanto tempo essa tradução existe em nossa família e ainda assim assumiu o risco de mandar a herdeira legítima do trono para aventurar-se em países estrangeiros por puro despeito. Acha justo?
Você criou coragem de dizer na cara de seu rei que sou despeitado? Nossa irmão, quando ficou tão valente? Você não se importava tanto assim com sua filhinha quando ela era considerada uma maga fracassada. Agora que finalmente ela conseguiu ser reconhecida como alguém digna de estar sentada no trono você quer bancar o bom samaritano? Me pergunto se faz isso por sua filha mesmo ou pelo seu próprio bem.
Que pergunta descabida majestade! Eu logicamente estou preocupado com minha filha e não me preocupei antes porque ela estava segura neste reino. Agora por sua vontade esta a mandando para longe de sua família. De suas terras. Ela estará longe de quem a ama e pode protegê-la. Não é justo para o que estás fazendo majestade.
Se é justo ou não, não esta em questão. Se já foi feito antes pode ser feito novamente. Se está tão preocupado porque não aproveita as últimas horas com sua amada filha. Seria mais proveitoso do que está a escutar as artimanhas de sua amante. Não acha que seria mais inteligente de sua parte irmão?
Dizendo isso, o rei pediu para parar de importuná-lo com assuntos triviais e seguiu seu caminho. O príncipe Ricardo ficou inflamado de raiva mas não poderia mais continuar seguindo o rei com medo de não poder mais estar junto ao conselho. E estar como conselheiro do rei era melhor do que nada. Então, o príncipe Ricardo fez seu caminho para os aposentos reais e se dirigiu ao seu quanto. A dor de cabeça realmente veio e absolutamente nada foi resolvido.
Enquanto isso, do outro lado do castelo dentro da floresta que cercava o lugar, encoberta por uma longa capa para que ninguém pudesse ver seu rosto, a princesa Diane estava esperando seus convidados chegarem. Ela havia convocado sete dos doze conselheiros do rei. Somente aqueles que reconheciam sua irmã como próxima soberana na esperança que eles pudessem mostrar um caminho para o grande problema que isso com certeza se tornaria. Salvar a irmã que ela tanto ama seria o seu objetivo pelas próximas horas mesmo que sua irmã atualmente não parecesse tão preocupada com o que havia acontecido.
Os conselheiros Frigfrild e Sigfrild foram os primeiros a chegar ao ponto de encontro, seguidos por Amber, Tauros e Sugar. Por fim, Efésios e Bifurco chegaram para a reunião. Com os oito reunidos, o assunto se estendeu por quase duas horas e nenhum dos conselheiros conseguiu achar uma solução para o caso em questão. Parecia que não havia maneira de persuadir o rei a desistir de seu decreto sobre a jornada quase mortífera da princesa imperatriz Titânia. Por fim o conselheiro Sigfrilde disse:
Não podemos permanecer aqui por mais tempo. Alguém já deve ter notado nossa ausência e não seria bom para nenhum de nós uma acusação de conspiração contra sua majestade. Além disso, estamos em um impasse que parece não haver solução. O mínimo que podemos fazer agora é acompanhá-lo até a fronteira para que ninguém a encurralar no nosso território. Infelizmente depois disso não podemos fazer mais nada. Pelo menos por enquanto. Todos fomos pegos de surpresa e precisamos ser cautelosos em nossos passos a partir de agora.
Verdade. Concordo com o conselheiro Sigfrilde. Se formos pegos agora não poderemos ajudar no futuro. O mais prudente é não despertar a ira do rei e observar. Depois do que aconteceu a princesa imperatriz podemos esperar tudo de sua magestade, inclusive nos mandar para o quinto dos infernos por traição. Disse Tauros.
Mesmo que eles quisessem ajudar, não havia muito o que pudessem fazer depois que o rei já havia anunciado publicamente sua decisão. Agora só podiam rezar para que nada grave ocorresse no caminho da princesa imperatriz Titânia. Porém, por debaixo dos panos logo após a reunião o conselheiro Sigfrilde não voltou a festa mas se deslocou até o quartel general próximo para falar com o capitão Ayami sobre a possibilidade de mandar alguém capaz de ajudar a princesa imperatriz em sua jornada. Claro, tudo sem que alguém lhes percebesse.