Rafa:
— Zack! E aí? Conseguiu achar alguma coisa? — Gritei chamando sua atenção, enquanto corria em direção ao anjo de asas negras - Encontrou algo? Algum sinal de penas douradas?
— Não, infelizmente nenhum sinal... Porque será que ele fugiu? Eu ainda não consigo entender... — Zack parecia um tanto abalado, eu o conheço bem o suficiente para perceber que estava preocupado. Seu coração é bom de mais, e sei o quanto ele fica desconfortável quando não consegue proteger ou cuidar de algo – Ele me disse que as coisas no reino dele não estavam nas melhores condições... Tenho quase certeza de que ele voltou para lá... Só espero que ele tenha conseguido chegar em segurança...
— Esperamos que sim, até porquê já tem dias desde que estamos o procurando por aqui, e ninguém diz ter avistado qualquer sinal de sua presença... Mas não desanime, vamos tentar procurar mais um pouco, certo?– Tentei anima-lo, encorajar ele a não desistir agora é a melhor opção que tinha para que ele não ficasse mais pra baixo do que já estava.
E cá estamos nós, em busca de um anjo com grandes asas douradas, desaparecido a alguns dias. Como não conseguimos encontrar um anjo com grandes asas douradas? Acredito que mais chamativo que isso não dá pra ficar, e eu também estava preocupada com ele, pois sua asa estava bem machucada. Zack também estava frustrado, afinal, aquele anjo poderia ser a chave para suas maiores perguntas sobre seu passado. Estamos desde cedo nessa busca incessantemente que já dura dias, e mais precisamente, estamos nesse exato momento no centro Lafilía. Zack está tenso, com a expressão de alguém que esta pensando em um milhão de coisa ao mesmo tempo, mas sua força de vontade e sua determinação não deixam que ele desista, isso é um dos vários motivos pra eu gostar e admirar quem ele é.
— Já está quase na hora do almoço... Vamos procurar mais um pouco, e então achar algum lugar para comer? — Seguro sua mão em uma tentativa de demonstrar que ele não está ali sozinho.
— Certo... Vamos! — Respondeu ele sorrindo a mim, parecendo ter se animando um pouco mais.
– Ah! Zack! – Eu o seguro, o impedindo de seguir em frente – Mesmo que nós não o achemos... E mesmo que você não descubra nada sobre seu passado... Eu quero que saiba que vou estar aqui com você, sempre que precisar!
Ele me olhou por alguns segundos, e então abriu um sorriso em resposta, assentindo com a cabeça. Sorri para ele em resposta, e assim logo começamos a tomar um caminho novamente. Eu só queria ser um pouco mais verdadeira quanto aos meus objetivos, gosto muito do Zack mas tem certas coisas que eu não posso falar agora, tenho medo de perde-lo. Seguimos procurando pelo centro, falamos com moradores, guardas, comerciantes e outras pessoas, mas não havia nenhum sinal do anjo de asas douradas. Por fim, acabamos por sentar em um lugar afastado da multidão, estávamos aos pés de uma grande árvore, que ficava em uma praça pública bem pouco movimentada da cidade.
— Que canseira! — Me espreguiçando, estico todo o meu corpo, tentando afastar aquele cansaço que já estava me tomando conta – Não encontramos nada mesmo ainda... Nem sequer um sinal...
Abrindo as asas em toda sua enorme invergadura, Zack também aproveitou para fazer o mesmo, criando um pouco de sombra acima de mim. Ver aquela cena me fez agir instintivamente, abrindo outro sorriso diante ele. Era inegável que eu gosto muito de Zack, é como se eu observa-se nele alguém a ser seguido e respeitado. Mas meu passado, acabou por me estragar com o tempo, pois me tornei cada vez mais medrosa e desconfiada. Confesso ter usado Zack por muitas e diversas vezes, como meu "guarda costas pessoal", ou até mesmo para benefício próprio em algumas ocasiões. Talvez eu não seja alguém ao qual ele mereça ao seu lado, e me arrependo muito das coisas que eu possa ter feito pra ele, pois no fim de tudo, seu sorriso sempre esteve lá. Não é atoa os motivos pelos quais quero seu bem, e percebi que eu deveria tentar recompensa-lo de alguma forma, mesmo que ele não tenha noção das coisas que já se passaram na minha mente. Eu também estou um pouco perturbada com tudo isso, e acho que essa é a melhor forma que tenho para me redimir com ele, e até mesmo... Comigo mesma.
— O que foi? Você está bem? Parece um pouco vermelha... — Rapidamente comecei a corar ao ver que ele tinha percebido meu sorriso. Pra piorar o idiota ficou muito próximo ao meu rosto.
— N-não é n-nada não! Pode ficar tranquilo! Tá calor aqui né?!– Balançando as mãos caoticamente na sua frente, fiz o que podia para desviar do assunto.
– Fico me perguntando se um dia eu vou saber alguma coisa sobre meu passado... Parece que toda vez que tenho algum indício, alguma pista que seja... Ela não está sob meu controle, e desaparece assim que tenho a oportunidade de pegá-la com minhas mãos – Ele levou as mãos abertas a frente de seu rosto, as observando atentamente – Tenho medo de viajar para outros lugares, pois tenho receio do que pode acontecer ao meu pai e a mim, nunca sei no que realmente estou envolvido, mas ainda sim...
– Você queria tentar né...? – Completando sua fala, entendo os sentimentos dele. Zack tem cede de descobrir tudo aquilo que lhe foi privado, é isso é uma característica que só diz respeito a ele – Acredito que você vai ter suas respostas um dia... Não desista e seja paciente, uma hora a verdade sempre vem a tona.
"Até mesmo para mim..."
Coloquei a minha mão sobre a dele que sorriu em resposta ao meu gesto, sem que eu pudesse fazer ou entender a situação, Zack colocou a mão em minha cintura, me beijando sem qualquer aviso prévio. Um beijo lento que por alguns segundos, me mostrou que seus sentimentos talvez não fossem uma ilusão, porém por outro lado, será que eu estava sentindo verdadeiramente a mesma coisa? Após esse beijo, percebi que possivelmente, meus sentimentos por ele não sejam tão fortes quanto eu pensava que eram, eu fiquei confusa em um segundo de epifania pessoal. Zack parou me olhando carinhosamente, não queria que o momento ficasse sem resposta, pós mais confusa que minha mente havia se tornado naquele momento, e assim decido fazer carinho em sua bochecha.
— Vamos? Ainda temos que comer alguma coisa — Ele me perguntou olhando para as ruas da cidade que estavam pouco movimentadas para um dia bonito como aquele – Quero procurar ele ainda por mais algum tempo... Por algum motivo ainda sinto que ele está aqui em algum lugar.
– Não fique pensando muito nisso, vamos continuar tentando, uma hora vamos encontrar algumas coisa – Estou me sentindo culpada, mas não quero desencorajar ele por nada nesse momento. Usei Zack como uma ferramenta pessoal esse tempo todo, e agora pelo menos uma boa namorada eu deveria ser.
– Tudo bem... – Assentiu ele com a cabeça, mas logo seu olhar se tornou sério, ao mesmo tempo que colocou sua mão sobre seu queixo.
– Pensou em alguma coisa? – Observando sua atitude misteriosa, pergunto a ele curiosa.
– Ah... Nada não... Só preocupado com meu velho, afinal eu não contei nada para ele ainda... E eu não sei no que me meti – Zack se levantou colocando as mãos na cintura enquando andava para frente – Seja como for, temos que achar o Chrys, e aquele livro o quanto antes... Pelo menos, é o que minha intuição está me dizendo que isso pode estar trazendo algo muito fora do comum a nossos tempos...
Ele se virou para mim que ainda estava sentada, prestando atenção em suas palavras, e então estendeu sua mão para me ajudar a levantar. Mais algum tempo depois, estávamos de volta as buscas pelo anjo dourado, porém mais uma vez sem respostas de nada. Ficamos mais alguns minutos rondando toda Lafilía, mas parece que toda vez que achávamos uma mínima pista do que poderia ser o senhor das penas douradas, ela se dissipava assim que as peças não se encaixavam. Decidimos dar uma pausa e esfriar a cabeça, já estava na hora de comermos algo e descansar também.
— É... Acho que agora chegamos ao tempo limite... Vamos comer algo? — Ele pergunta parecendo um pouco desapontado.
— Vamos! Não vou negar que estou morrendo de fome! – Aceito de imediato entre uma gargalhada.
Andamos por mais alguns minutos, até que finalmente avistamos um bar com o nome de Elmo Bêbado. A princípio, não pensei que Zack iria ir para um lugar desses, mas assim que percebi sua intenção, e a inocência pelo qual o levava até ali, resolvi não perder a oportunidade de tirar uma com a cara dele.
— Primeira vez que saímos, e você traz sua namorada para um bar? — Faço aquele comentário ácido, me divertindo com a situação que foi proporcionada, já que Zack entrou em um colapso de vergonha – Não imaginava isso de você senhor das penas negras...
— Espera! Não! É que... — Ele cora levemente, deixando seu rosto vermelho de vergonha por não ter percebido algo tão simples. Um sorriso envergonhado se formou em seu rosto, e logo veio a fatídica pergunta — T-tem algum lugar que goste?
— Ei! Aonde você for, eu vou! E acho que não é de todo mal tentar um lugar diferente as vezes — Digo agarrando seu braço morrendo de rir.
Ele deu um longo suspiro, deixando uma expressão tediosa de quem não tava vendo nenhuma graça ali, e então começamos a ir em direção aquele estabelecimento. Ao entrar no bar, havia muitas pessoas diferentes, cavaleiros de outros reinos, um anjo de asas vermelhas com um menino lobo, e muitos outros que apenas estavam ali por diversão. Sentamos em uma das mesas e pedimos duas canecas de suco de uva para a garçonete, que veio gentilmente nos atender. Olhando de relance ao redor, percebo que o garoto lobo não para de olhar para nossa mesa, e por diversas vezes tento codificar o que exatamente ele quer olhando novamente para o mesmo. Sendo bem sincera, aquilo estava me deixando um pouco desconfortável, e assim que fui comentar com Zack sobre o menino lobo, as portas do bar se abrem, revelando grandes asas douradas, acompanhadas por um demi-hunano tigre. De imediato, não acreditei no que estava vendo, porém, eles passaram por nós com Chrys piscando em nossa direção, dando a entender que já sabiam que estaríamos aqui. Ambos se sentaram em uma mesa próxima a nossa, eu e Zack ficamos boquiabertos com o que vimos, mas nossa atenção foi rapidamente levada a garçonete pois...
– Aqui estão os seus pedidos... – A Garçonete deixou a mesa as canecas cheias de suco de uva.
Zack:
Aquele ambiente parecia estar tranquilo, pessoas bebendo, garçonetes atendendo, o barman estava em seu balcão limpando copos e canecas, mas diferente de todos ali, eu sentia uma ar pesado e ameaçador no ar. Meus sentidos estavam aguçados, tudo parecia estar me dando sinais claros de que algo estava para acontecer. Esse tipo de coisa não acontecia comigo desde a última vez que entrei em uma briga com alguém. Essa tensão tomava conta do meu corpo quase como se fosse um instinto de caçador, avisando sobre algo que estava com inerte, e com intenções claras de matar ou machucar. Não sabia o porquê disso, o porquê de um alerta tão forte estar tomando conta dos meus sentidos, eu não sabia... Até notar um par de olhos fixos em mim. Havia um grupo de cavaleiros com armaduras peculiares, cheios de ornamentos em suas placas metálicas, juntamente a uma combinação de cores roxas em seus brasões de arma. Além disso, suas aparências eram um pouco familiares para mim, haviam caudas saindo de suas costas, chifres pontiagudos em suas cabeças, e asas que pareciam ser de algum tipo de dragão, só que em uma escala menor. Seus olhos eram claramente predatórios, e foi ali que percebi da onde vinha toda essa tensão no ar, pois sua aura nada amigável, já demonstravam no profundo de seus olhos a intenção clara de me atacar.
– Zack? Está tudo bem? – Rafa tentou chamar minha atenção, mas eu havia ficado extremamente focado e vidrado no olhar daquele cavaleiro – Ei... Zack...?
— Que que se tá me olhando?! Hein? O muleque das asas negras? — Um dos cavaleiros grita para mim. Levantando-se e vindo em nossa direção. Sua calda balançava em suas costas de uma forma ameaçadora, e seus passos pesados claramente anunciava uma encrenca, e das grandes – Você perdeu a noção do perigo... Perdeu alguma coisa aqui?
A voz grossa e rouca não soava nem um pouco amigável, e assim que chegou a nossa mesa, ele se apoiou sobre ela, me dando um sorriso ameaçador, que acabou por revelar seus caninos que eram bem próximos aos meus.
— Facilite o nosso trabalho e venha conosco... Temos uma paradinha ai... Que temos que resolver com você — Aproveitando o momento em que estava um pouco assutado, ele começou a me ameaçar claramente, porém, o mesmo foi interrompido por um dos demi-humanos que estavam presentes ali, o enorme tigre que se levantou indo em direção ao cavaleiro.
— Desculpe amigo... Mas isso não vai acontecer!— Seus olhos estavam cheios de confiança, lançando-lhe um sorriso com seus dentes maiores que o do meu inimigo à mostra.
– Como disse? Acha que uma escória como você pode falar assim com um Cavaleiro demoníaco de alta patente como eu?!? – Esbravejou o cavaleiro indignado, pronto para demonstrar o quão encrenqueiro ele era – Vou colocar você no seu...
Sem responder qualquer pergunta ou dar espaço para cordialidades, o grande homem tigre, apenas sorriu de forma gentil com a mão sobre o ombro do ignorante cavaleiro, e num piscar de olhos, avançou rapidamente desferindo um soco poderoso no cavaleiro que viu seu elmo sair voando de sua cabeça. Sem dar qualquer tempo de reação aquele demônio, o habilidoso tigre encaixou rapidamente mais um movimento, pegando pelo chifre de seu oponente, fazendo com que o cavaleiro chocasse seu rosto com tudo contra a mesa. Depois de toda essa violência, já havia ficado bem claro ali quem realmente era o bom de briga, e logo o cavaleiro briguento caiu nocauteado no chão do bar. As garçonetes que estavam em seu trabalho gritaram, saindo correndo para fora do bar. Tenho quase certeza de que ouvi o barman resmungar algo como "ih lá vamos nós de novo", e após isso, se escondeu atrás do balcão. Os demais que acompanhavam aquele que havia sido nocauteado, se levantaram de imediato de sua mesa, puxando suas espadas da bainha. Todos os demais clientes que estavam ali dentro fizeram o mesmo, e logo todo o pessoal do bar já estava em pé, prontos para começar uma pancadaria frenética. Observando um pouco aqueles que logo se colocaram ao meu lado, Chrys e o anjo vermelho já tinham seus arcos em mãos, prontos para atirar, já o lobo, estava socando a palma de sua própria mão com um sorriso sinistro, enquanto que o tigre a minha frente, massageava seu punho após aquela brutalidade com sua última vítima. E claro que em meio a tudo isso, eu me sentia mais perdido que cego correndo em meio ao campo de batalha.
"Ei ei.... O que diabos tá acontecendo aqui!?! Tudo está acontecendo rápido demais!! Ah cara... Me dá um tempo vai!"
Pelo olhando de canto, vejo que um dos cavaleiros que ainda permanece sentado, como se nada estivesse acontecendo ali. Está comendo e bebendo, em meio a toda aquela confusão que está lentamente se desdobrando bem diante de seus olhos. Ele parecia bem maior e mais experiente que os demais, e sua armadura e ornamentos davam a entender que sua patente era a maior de todas ali também. Para mim já estava bem claro quem era o líder de todos aqueles cavaleiros ali, e talvez isso explicasse o motivo de sua calmaria. Um momento de tensão tomou todo aquele lugar por alguns segundos enquanto todos se encaravam. Até que uma garrafa saiu voando de trás de mim, e acertou a cabeça de um dos cavaleiros, dando início ao combate. O caos tomou conta do lugar, bêbados começaram a se socar, enquanto outras garrafas e canecas voavam pelo lugar, e obviamente que logo sobraria também par mim. Armado com sua espada, um dos cavaleiros veio direto em minha direção, pronto para cravar sua espada em meio peito, porém, infelizmente para ele, acabo desviando com dificuldade. Mantendo a atenção firme em seu possível segundo ataque, me lembro que já havia participado de algumas brigas de rua antes. Ah sabe como é né? Vida de Anjo problematizado por causa da origem é foda, ai sempre tem uns engraçadinhos aqui e ali, querendo te fazer um mal gratuito. E pro azar do meu oponente, eu sabia me defender muito bem, e foi o que fiz assim que vi a brecha que precisava.
Tentando desferir mais um golpe de sua espada contra mim, me desvio segurando seu braço com força, e em seguida, consigo encaixar um soco poderoso em seu queixo que não estava protegido por qualquer placa de metal. A sensação que causei nele com certeza não foi agradável, e sem pensar duas vezes, torci seu braço, forçando-o a soltar sua espada. Antes que a mesma caísse no chão, eu a peguei com a mão esquerda, acertando um segundo golpe em sua cabeça, que fez com que seu elmo voasse e acertasse um dos bêbados que lutava no bar. Mantendo aquele demônio ainda imobilizado pela torção, vejo que um dos cavaleiros estava se preparando para atacar o lobo pelas costas. Em uma tentativa esperançosa, usei o meu próprio oponente, o empurrando em direção ao cavaleiro demônio que covardemente atacaria o meu aliado. Fazendo-o perder o equilíbrio, e cair sobre as mobílias juntamente ao segundo cavaleiro, que mal teve tempo de reagir e fazer alguma coisa. Em seguida, rapidamente avanço para ficar lado a lado com o lobo, podendo assim defender o seu flanco de mais golpes inimigos eminentes. Olhando para mim por de trás do seu ombro, o lobo então me agradeceu silenciosamente, assentindo com a cabeça e um olhar. O cavaleiro que me atacou primeiro se levanta junto ao agressor covarde de meu aliado, e ensandecido, ele ataca novamente com uma adaga que estava na bainha em suas costas. Aprendi algumas táticas e regras de esgrima vendo os espadachins do reino treinarem, isso foi crucial para que eu pudesse agir de forma definitiva contra meu oponente que já estava atacando sem pensar em muitas coisas, eu estava usando aquilo que eu tinha em mente. Me desviando ao máximo para não tomar um ataque daquela adaga, continuo me esquivando e aparando seus golpes com a espada. Eu precisava agir logo, para que a batalha não de estendesse tanto, e acaba-se ficando cansado por conta daquilo. Preocupado com isso, eu decidi tentar a sorte, e usando o impulso do bater de minhas asas, rapidamente avancei na primeira brecha que achei, segurando com força o pulso que continha a Adaga em mão, e em seguida cravando minha espada em sua barriga. Fiquei extasiado com aquele momento, eu vi o sangue escorrer pela lâmina, e fiquei assustado, afinal era a primeira vez que havia feito algo assim. Olhando para o rosto do cavaleiro, ele sorriu de forma sinistra para mim pegou meu pescoço com sua outra mão, e aproximou sua boca de meu ouvido.
– Eu vou matar todos você quando voltar... Garoto... – Soltando uma risada macabra ao final, aquilo me deixou ainda mais assustado, e sem pensar duas vezes, retorci a espada, a retirando de sua barriga, e a enfiando novamente em um golpe finalizador, que se cravou de baixo para cima na região de seu maxilar.
Um sentimento estranho começou a tomar conta dos meus sentidos, e com isso senti meus caninos começaram a crescer em minha boca. Por algum motivo, isso me encheu de energia, eu estava me sentindo muito forte, como se nada pudesse me parar. Ao retirar a espada cravada do meu inimigo derrotado, senti ainda mais essa sensação consumir meu corpo. Assim que olhei para minha mão, minhas marca negras que estavam desenhadas sobre ela, estavam pulsando em um brilho púrpura fraco, e não só elas, como as marcas de meu corpo inteiro. Um sorriso macabro de formou em minha boca, mostrando meus caninos que realmente estavam anormais. Era como se eu estivesse perdendo o controle e até mesmo gostando daquele cenário caótico, como se uma cede por mais sangue estivesse me dominando. A íris de meus olhos oscilaram de dourado para um roxo intenso por alguns segundos. Mas assim que vi que algo maior tomaria conta de minha racionalidade, me pressionei a não perder o controle, principalmente após ouvir alguém gritar o meu nome.
– Zack!!! – Rafa estava dando seu melhor em combate, estava assustada mas criava feitiços fortes o suficientes para imobilizar, ou até mesmo ferir os oponentes. Estava muito assustada, mesmo que estivesse sob a proteção e auxílio de dois anjos arqueiros que a auxiliava com uma precisão impecável de seus arcos.
Chrys e o anjo vermelho atiravam suas flechas em perfeita sincronia contra seus oponentes, era com certeza uma cena linda de se observar, e assim, sempre que tinha uma brecha, Rafa mostrava toda sua capacidade, que havia treinado em sua aulas de magia. Observando mais um pouco, Rafa estava bem exausta, acredito que estava usando mais mana do que estava acostumada a usar, e ela também não parecia preparada para esses tipos de situação. Rapidamente eles derrubam seus inimigos, enquanto que o resto do bar inteiro ainda continuava um caos impensável. O tigre e o lobo conseguem derrubar seus oponentes também, e assim minha atenção de volta a mesa dos agressores, onde ainda havia o último cavaleiro que estava sentado naquela mesa. Maior, claramente mais forte, e o líder daqueles que havíamos dado cabo, ele puxou a sua enorme espada, que estava apoiada na parede ao seu lado. A mesma estava repleta de runas talhadas por sua lâmina, que brilhava em um tom azulado celestial. Mesmo que todos nós ali estivéssemos esperando o golpe que viria, ainda sim ele foi uma surpresa. Com um único movimento horizontal, ele cortou o ar com sua espada, e todos naquele bar sem exceção, foram lançados contra as paredes do estabelecimento, que também chegou a estremecer.
— Que... força..! — O anjo vermelho tentou exclamar, mas sua voz falhou pela falta de ar que aquele golpe lhe causou. O fazendo tossir fortemente em seguida, enquanto empurrava uma mesa que havia caído próximo a si.
O lobo tentou se levantar, tirando de cima de si mesmos alguns escombros de cadeiras e mesas que também voaram pelo local. O tigre logo apareceu ao seu lado também, fazendo voar para longe cadeiras e restos de mesas.
— Temos... Que sair daqui...— Sem ar tento me levantar, abrindo minhas asas e jogando para longe as cadeiras que havia caído sobre mim e Rafa.
— Ei! Lobo! Consegue abrir a janela!? — Chrys apontou para a janela que estava bem atrás de nosso aliado – Acho que tive uma idéia!
— Acredito que sim! – Segurando seu ombro lesionado, o lobo o respondeu com dificuldades
Olhei para os dois confiantes de que sabiam o que estavam fazendo, e assim, corremos para próximo do lobo. O cavaleiro estava vindo em nossa direção em seus passos pesados e assustadores. Seu silêncio por de baixo daquele elmo que escondia todo seu rosto, o deixava ainda mais assustador, e claramente, sua espada estava sendo carregada novamente para mais um corte aéreo. Todos nós estávamos encurralados, esperando que o plano de Chrystopher desse certo, pois a espada de nosso carrasco já estava pronta para uso novamente, mas dessa vez, eu já sabia o poderia nos dar tempo suficiente para fugir. Colocando-me a frente de todos ali, abri minhas asas em toda minha envergadura, que rapidamente se tornaram rígidas, ao pressentir o perigo eminente que as atingiria. Agindo com um enorme escudo, que me protegeu, e protegeu todos ali do impacto. O cavaleiro pareceu estar surpreso com o que havia visto, e todo o silêncio que ele havia mantido até ali, se desfez em uma enorme e sinistra gargalhada, que estava abafada pelo seu elmo.
— Chrys! Lobo! Se quiserem fazer algo! Façam agora! – Na esperança de tentar quebrar o medo que estava nos corações deles, gritei para que recobrassem seus sentidos.
Todos ali ficaram surpresos ao ver minhas asas os protegendo, mas assim que ouviram meu aviso, Chrys e o lobo se entre olharam, assentindo com suas cabeças. O lobo rapidamente quebrou a janela, deixando que os raios solares fortes daquela tarde entrassem para dentro do lugar. Enquanto isso, Chrys posicionou suas asas contra os raios solares que entraram pela janela, pronto para usar suas penas douradas ao seu favor. Foi naquele momento que havia entendido o que ele estava prestes a fazer.
– Chrys! Você fica comigo! O resto passem pela janela agora! – Ordenei sem pensar duas vezes, mas eles me olharam relutantes, como se não quisessem me deixar sozinhos – Vamos ficar bem... Apenas confiem na gente...
Mais uma onda de choque bateu em minhas asas, e os passos de nosso inimigo já estavam bem próximos de nós. Todos menos Chrys, saltaram pela janela, e assim que percebi o quão próximo o cavaleiro estava de mim, olhei para Chrys que preparou suas asas entendendo o recado. Jogando minha asa metálica para o lado, consigo acertar a mão que segurava a espada mágica do cavaleiro, a fazendo voar para longe. Então rapidamente as fechei em minhas costas, me jogando pela janela, fazendo com que os raios solares brilhassem a asa de Cristopher, enviando um feixe de luz poderoso aos olhos do agressor, o fazendo cegar por algum tempo. Ajudei Chrystopher a sair pela janela, enquanto o cavaleiro gritava e urrava com as mãos sobre os olhos. Antes de correr atrás dos outros, olhei pela janela, percebendo que todos os cavaleiros que havíamos dado cabo, estavam se levantando mais uma vez... Todos sem excessão.
"Só pode estar de brincadeira..."
[...]
— Todos estão bem? Alguém se machucou? — O tigre pergunta para todos, ainda tanto ofegante após correr por tanto tempo.
Olho para meu peito e vejo que estou sangrando um pouco, aquela maldita lâmina mágica, ocasionou isso quando fui atingido pela primeira vez, mas não só meu peito, como todo meu corpo havia cortes e lesões que na hora da adrenalina, eu não havia percebido. Acabo desabando de joelhos no chão, estava cansado, e por mais que a dor fosse mínima, ela ainda estava ali. Todos se assustaram, mas meus cortes já estavam se fechando, eu podia sentir já que mais uma vez, aquelas marcas estava pulsando pelo meu corpo todo em uma cor única de roxo púrpura. Era uma coisa que me intrigava, já que nunca me machuquei tanto a ponto disso acontecer.
— Deixem-me dar uma olhada no garoto... — O tigre diz se aproximando de mim, se ajoelhando a minha frente começando a me examinar – Quando se vive por anos sozinho na mata densa do mundo mítico... Você também aprende um pouco de medicina natural...
O tigre enfaixa, pegou de sua bolsa, um kit médico que carregava com sigo, juntamente a frascos com produtos naturais. Ele cuida de meus ferimentos e enfaixa cada um deles.
– Muito bem... Agora é questão de tempo até que se recupere novamente – Ele guarda suas coisas, se levanta e então olha para os outros procurando ver se mais alguém havia se machucado ali – Descanse por agora, e evite qualquer novo problema.
O lobo está me olhando sentado de pernas cruzadas, e curiosamente, ele parecia apenas um cachorro curioso daquele jeito.
— Eu nunca vi um corvo tão grande como você! Ah espera! Eu ajudei você com um dragão vermelho que te atacou alguns dias atrás! — Abrindo um sorriso enquanto sua cauda balançava, ele se apresenta de forma amigável e até um tanto inocente — Meu nome é Jonathan! Qual é o seu nome? E por algum acaso você também é um anjo que nem eles?
—Meu nome é Zack... E na verdade... Eu sou um anjo metade demônio — Digo sorrindo com dificuldade, sentado de baixo de uma das árvores ao nosso redor, eles me olham com um pouco de espanto em seus rostos – Obrigado por me salvar aquele dia inclusive...
— Calma gente! Ele não é como os que nos atacaram no bar, na verdade é bem diferente — Diz Chrys sorrindo para mim, ao puxar o livro negro de sua bolsa.
– Chrystopher tem razão, cresci ao lado de Zack, ele não está junto com aqueles cavaleiros babacas – Rafa se senta ao meu lado, ajudando Chrys em seu aviso.
— Sendo assim! Acho que todos podemos nos apresentar! — Jonathan estava bem animado para os padrões em que nos encontrávamos, abanando sua cauda sem parar ao cruzar os braços e fechar os olhos em um sorriso.
— O meu nome é Redy — Diz o anjo vermelho acenando para mim – Prazer.
— O meu é Sabre — O tigre diz estendendo a mão a mim e a Rafa – Inclusive, obrigado pela ajuda lá trás...
— Bem, o meu vocês já sabem... Mas para os novos, eu sou Chrystopher — Ele estava focado no livro negro, enquanto folheava as páginas.
— É um prazer em conhecê-los – Aceito a gentileza do tigre que me ajuda a levantar.
— Meu nome é Rafaella, prazer pessoal — Rafa faz o mesmo timidamente.
– Ah! Chrys! Como foi que achou a gente no bar? – Pergunto um tanto intrigado com seu aparecimento no exato lugar onde estávamos.
— Eu sobrevoei a área do reino tentando achar vocês! O grandão aqui me ajudou a curar meu problema com a asa, isso facilitou muita coisa! — Chrys está com seu livro aberto em uma páginas, enquanto fala animado sobre como Sabre o ajudou. Ele então mostra a página para todos nós – Olhem... Nós estamos reunidos...
Observando a imagem, fico espantado com o que estou vendo, pois as figuras eram muito familiares para mim. Eu mesmo estava ali, no centro daquela imagem, segurando duas espadas que pareciam um tanto anormais em comparação as tradicionais. Não só eu, como todos ali presentes estavam na imagem também, era como se alguém estivesse contando nossa história a todo momento. Todos na ilustração usavam armaduras imponentes e diferentes, e no pescoço de cada um, havia uma espécie de crista, cada uma com cores diferentes.
— Esperem! Eu não estou nessa imagem — Diz Redy fazendo uma observação, ao apontar para uma outra figura que não estava presente com a gente naquele momento.
Chrys olha novamente para o livro, e então todos percebem que a sexta pessoa parecia ser uma menina com orelhas de coelho. Pouso minha mão gentilmente no ombro de Redy, numa tentativa de mostrar a ele que não havia nada para se preocupar.
— Por mais que você não esteja na imagem, você ainda está aqui, e nos ajudou, deve ter um propósito de estar aqui nesse momento junto a nós — Sorrindo a ele, acredito ter concluído meu pensamento sobre ele, e então gentilmente ele retribuiu com outro sorriso ao assentir com a cabeça – Vamos até as terras de meu pai, podemos conversar melhor lá.
[...]
Andamos por mais algum tempo, mas assim que chegamos perto de minha casa, a mais ou menos uns duzentos metros de distância, o meu mundo desabou por completo. Caindo de joelhos com o que vejo, o maior sentimento de impotência e injustiça, recaiu sobre meus ombros de uma forma tão intensa, que jamais pensei que sentiria isso outra vez dessa forma. A propriedade de meu pai, a minha casa, o lugar onde cresci... Agora estava todo ardendo em chamas. Nem percebo quando as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, eu apenas comecei a chorar chocado com o que estava vendo. Mas estão um pequeno flash de memória, me faz lembrar que meu pai estava em casa. Agarrando todas as forças que tinha tento correr e gritar por ele, mas Redy me puxa e coloca sua mão sobre a minha boca.
— Ei! Ei! Presta atenção, olhe ao redor! – Ele sussurra alto em meu ouvido, enquanto aponta para o local. Vejo alguns cavaleiros parecidos com os que nos atacaram no bar. O que está acontecendo? Por que estão nos atacando? O que querem?
— Eu sei garoto — Sabre diz calmamente, se agachando ao meu lado novamente — Sei que dói... Mas é como você mesmo disse, deve haver um propósito para nos encontrarmos, e uma hora você vai poder ter o momento de fazer algo... Mas no momento, nós não podemos correr o risco mais uma vez.
– Sabre tem razão – Redy me solta lentamente, ao perceber que estou me acalmando – Você precisa pensar que se quiser enfrenta-los... Vai precisar ficar forte também.
— Você é o grande anjo negro da lenda, você é nosso maior mistério... Tenho certeza que conseguirá ter sua chance de enfrenta-los em algum momento — Chrys diz com o livro ainda em mãos, tentando me encorajar — Se tudo o que disseram de você for verdade, então precisamos de você.
– Mas... E meu pai? – Tristemente olho para eles, que se entre olharam.
– Você sozinho não vai conseguir salva-lo, e não temos força suficiente para conseguir enfrenta-los com você – Sabre pegou em meus ombros – Vai precisar ser forte Zack... Crer que seu pai ainda está sendo mantido como refém, e ficar mais forte para se preparar... Tanto para o melhor, quanto para o pior... E acredito que podemos te ajudar com isso, afinal... Todos aqui parecem ter perdido alguma coisa importante também.
Suas palavras me deixaram intrigado, era encorajador, porém de um dia para o outro, uma enorme responsabilidade recaíra em minhas costas, e eu nem sei o que fazer. Estou a ponto de desabar novamente, afinal, minha mente não está conseguindo processar nada do que vem acontecendo até aqui, e milhões de perguntas não param de ser criadas em minha mente.
— Zack, estamos com você — Rafa colocou a mão sobre meu rosto, me abraçando em seguida – Vamos dar nosso melhor juntos...
Eu estou confuso, mas consigo ver a sinceridade nas palavras de cada um ali, e acredito que estava na hora de ir atrás de tudo o que não quiseram me contar até agora nessa minha vida. Abraço a Rafa ainda entre lágrimas, e então assentindo com a cabeça a todos, demonstro entender o que me falam.
— Gente, eu sei que é um momento complicado... Muito bonitinho por sinal... Mas assim... Precisamos ir! — Jonathan diz, apontando para alguns cavaleiros que rondavam a área, e já estavam vindo para nossa direção.
— Certo! – Me levantei com a ajuda de Rafa, E então olhei para todos – Vamos sair daqui!
Todos assentiram, e então começamos a correr mata a dentro.