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Chapter 12 - O Menino e o Dragão

Redy:

Talvez tenha sido muita informação para apenas um único dia, Jonathan estava completamente surpreso com o que estava ouvindo daquela mulher. Assim como John e a mim, Derik não tinha seus pais, e provavelmente foi deixado para trás por sua família.

– Ele é igual a mim... – Jonathan se levantou pegando nas mãos da mulher – Por favor, me conte tudo o que sabe sobre ele!

Ela havia ficado um pouco surpresa por toda aquela comoção, mas logo um sorriso gentil se formou em seus lábios, como se estivesse agradecendo Jonathan por alguma coisa que seja. A garçonete assentiu com a cabeça, e então começou a nos contar quem realmente Derik era de verdade. De acordo com ela, Derik é o último descendente daquele que um dia foi o último Cavaleiro de Dragão, o mesmo homem homenageado naquela estátua de bronze. Por ser muito jovem, muito provavelmente ele não pode despertar suas habilidades ainda, ou simplesmente não foi escolhido por qualquer dragão que seja. Sua família o tratou como um peso morto após a morte de seus pais, justamente por não ter despertado suas habilidades, e consequentemente não ter dado dinheiro e fama ao nome da família, e assim todos foram embora, o deixando para morrer sozinho nessa cidade. Porém Derik nunca desistiu nem por um único minuto, e justamente por seu carisma e força de vontade, fizeram com que algumas pessoas se simpatizassem com o garoto. Ele cresceu lutando contra tudo e todos, e aquela mulher podia ter total autoridade no que dizia, pois quem dava comida a ele, era ela mesma depois do expediente. Ela também falou que ultimamente ele vem sido atacado por algumas pessoas que não gostam dele, dizendo que ele da azar de ter por perto, sem falar nos pequenos delinquentes que tentam tirar dele aquilo que ele já não tem.

– Pelos Deuses! – Jonathan se apoiou na mesa claramente assustado após a explicação – Agora eu entendi... Eu finalmente entendi! Entendi o cheiro de medo! Derik está em perigo! Nós temos que achar ele! Agora!

[...]

Saímos correndo daquele lugar o mais rápido possível, se a linha de raciocínio de Jonathan estivesse certa, muito possivelmente aquele garoto estaria sofrendo maus tratos nas mãos daqueles garotos que haviam o chamado mais cedo. O sol estava em seu ápice, estando extremamente quente, mas nenhum de nós parecia realmente se importar com isso, tudo o que queríamos era achar Derik e o seu cão o quanto antes. Decidimos nos dividir pela cidade em duplas, eu e Jonathan voltamos aquela praça, enquanto Sabre e Rafa tornaram a buscar pela cidade mais afundo. Andando lado a lado, começamos as buscas por pistas com mais atenção, qualquer coisa que nos leva-se a Derik, até gritar pelo seu nome tentamos, mas nada parecia nos levar até ele.

– Não podemos desistir agora! Temos que achar ele o quanto antes! – Jonathan tomou a frente da situação – Vou usar meu faro aguçado e tentar rastrea-lo!

– Certo! – Abri minhas asas alçando vôo – Nesse caso vou tentar um suporte aéreo! Se eu achar alguma coisa, eu venho até você!

Impulsionei minhas asas para cima voando o mais alto que poderia naquele momento, ao observar de cima, pude perceber uma movimentação estranha vinda da parte norte entre as vielas das casas. Com um forte impulso, voei com velocidade para averiguar a situação, até que percebi ser Derik fugindo junto ao seu cãozinho, onde logo atrás dele estava um grupo de garotos carregando alguns pedaços de madeira.

– John! – Ao ver Jonathan correndo de quatro como um verdadeiro lobo voraz, percebo que já havia conseguido achar seu rastro – Eles estão por ali!

– Estou a caminho! – Ele gritou a mim com um uivo poderoso, aumentando sua velocidade. John estava tão preocupado que não se importou em grudar nas paredes das casas e subir para o telhado, onde começou a correr comigo voando ao seu lado.

– Ele está sendo perseguido por um grupo de garotos, aparentam serem um pouco mais velhos que ele... E estão armados com pedaços de madeira – Os telhados das casas acabam quando uma rua corta o caminho de Jonathan, porém corajosamente sem perder tempo, ele pula em direção ao telhado da casa do outro lado da rua. Mas logo percebi que acabaria tendo que escalar a parede, pois não conseguiria nem mesmo chegar na beirada. Sendo assim agarrei em suas mãos, levantando vôo para cima, o alavancado para o ar por um pouco mais de tempo, fazendo com que pousa-se perfeitamente nos telhados mais uma vez – Essa foi por pouco!

– Obrigado penoso! – Agradeceu Jonathan enquanto continuava a correr vorazamente.

– Disponha! – Fiz um gesto de comprimento com a mão descendo de minha cabeça, e continuei em um rasante perfeito enquanto voava ao seu lado.

Avancei para o alto mais uma vez, onde informei novamente a direção dos garotos a Jonathan. Para a nossa infelicidade, Derik estava correndo para uma zona fechada e sem saída, e ainda estávamos um pouco longe de todos eles para chegar a tempo de impedir o pior. Sendo assim, decidi puxar meu arco e tentar criar distrações sem machucar ninguém. Me impulsionei para frente ficando bem acima dos garotos que o perseguiam, e mirando a minha seta em direção a uma tábua de madeira que segurava alguns caixotes empilhados, soltei a flecha que vôo zumbindo por onde passou, acertando seu devido alvo, e criando uma distração boa para os perseguidores. Alguns se assustaram e ficaram para trás, enquanto outros tropeçaram em meio a bagunça e acabaram no chão. Ainda sim, havia seis meninos correndo atrás de Derik, e eu precisava de um segundo alvo para atirar minhas flechas e atrapalhar os mesmos em seu objetivo. Os garotos pareciam incansáveis, estavam extremamente determinados a pegar Derik, que por sua vez, não estava nem percebendo ou ouvindo a bagunça que havia feito atrás dele. Ele estava se esforçando de verdade para fugir de seus agressores, e com certeza se tentasse me comunicar não daria nada certo, sem falar que as vielas em que eles se enfiavam, eram pequenas de mais para que eu pudesse entrar e resgata-lo voando, minhas asas não iriam caber ali.

– Merda! – Abri minhas asas com tudo, as batendo em seguida para ganhar altitude – Vamos lá... Vamos lá... Só mais uma!

Ao observar de cima, percebi que havia uma forma de Jonathan chegar ao garoto bem a tempo, pois a viela iria mudar sua direção para esquerda, enquanto John continuaria a seguir reto entre os telhados. Nesse caso, eu só teria uma última forma de ganhar tempo para ele, e dessa forma eu decidi fazer, mesmo que machucasse aqueles garotos um pouco.

– Bem... Se você vai brincar com fogo... – Puxei três setas em meu arco, as fazendo ficar em chamas – Com certeza você vai se queimar uma hora!

Atirando as flechas em direção ao chão, consegui fazer com que elas acertassem alguns itens inflamáveis em meio aquelas vielas, fazendo os jovens agressores hesitar em sua perseguição sem entender o que estava acontecendo. Bem a tempo e no momento, Jonathan pulou diante a mim para o outro lado dos telhados, ficando bem próximo de alcançar Derik.

– Bom Trabalho Redy! Eu assumo daqui! – Jonathan continuou a correr.

Meu olhar se voltou aos perseguidores que já haviam continuado seus caminhos após o fogo se apagar.

– Vai nessa John... – Baixei meu arco observando aquele lobo correr para salvar seu mais novo e pequeno amigo.

Jonathan:

Eu estava quase lá, faltava pouco para alcançar Derik e seu cãozinho, não podia deixar que tal atrocidade continuasse a acontecer com aquele garoto. Dessa forma acelerei meu passo, até que finalmente eu havia chegado próximo dele, que corria desesperadamente por aquelas vielas da cidade. Infelizmente para ele, aquele era o fim da linha, pois não havia mais para onde correr, Derik havia se colocado dentro de um beco sem saída. Observando de cima, vi quando os outros garotos chegaram até ele, o cercando naquele lugar de forma covarde e nada justa. Seis contra um, e ainda sendo mais velhos que o pequeno garoto, já era algo extremamente deplorável. Todos carregavam com sigo pedaços de madeira e sorrisos malvados no rosto.

– Você corre rápido mesmo... Ainda mais para um lixo esquecido como você... – O loirinho do meio parecia ser o líder daqueles pequenos arruaceiros – Você não trouxe para mim o que eu havia lhe pedido! Então vamos te dar uma lição agora mesmo!

– A irmãzona não tinha o que vocês queriam! – Gritou Derik assustado segurando seu cãozinho que não parava de latir, pronto para defender seu dono – Me deixem em paz!

– Depois que você encantou todos nesse lugar... Você começou a ser mimado pelos comerciantes locais... E usar você pra conseguir as coisas de graça foi a coisa mais legal que poderia ter acontecido! – O loirinho partiu pra cima de Derik em toda sua maldade e fúria – Conheça seu devido lugar pirralho! Você serve a mim!!!

Não vendo mais qualquer opção, me joguei do telhado pousando com força no chão, logo a frente de Derik que esperava o golpe doloroso em seu corpo. A poeira que eu havia levantado se dispersou, e a minha frente, o loirinho agressor havia se assustado ao ponto de cair ao chão, olhando de baixo para cima, enquanto eu me levantava diante a ele.

– Você está bem Derik? – Seriamente olhei para o loirinho que claramente se assustou com a silhueta do homem lobo a sua frente.

– Jonathan...? É você? – Ele me olhou pelas costas, vendo minha cauda balançar enquanto olhava para aqueles meninos idiotas que haviam o perseguido por interesse egocêntrico.

– Vai ficar tudo bem agora... – Olhei para ele por cima de meu ombro, dando-lhe uma piscadela com o olho. Voltando minha atenção aos pirralhos, eu apenas mostrei meus dentes, o que foi suficiente para estremecerem de medo – E aí? quem vai ser o primeiro? Já deveriam saber que não se deve mexer com meu amigo Derik!

– Não tenham medo dele! Ele é apenas um! – O Loirinho se levantou, mas seus amigos por outro lado, já haviam corrido para bem longe dali enquanto gritavam – Ah... Seus Covardes!

– Eu diria que são espertos... Qual é o seu nome loirinho... – Soquei a palma da minha própria mão enquanto andava em direção a ele.

– Ah... É Ardok... Senhor... Lobo... – Ele soltou o pedaço de madeira.

– Vamos fazer um acordo... Eu não vou mostrar pra você o porque de me chamarem de "O Lobo mal", e você... – Me aproximei bem perto dele, olhando de cima pra baixo para aquele garoto – Não vai mais incomodar nunca mais... O meu amigo aqui...

– S-sim... S-s-sim Senhor! – O cheiro de medo estava extremamente forte naquele lugar.

– Ótimo... Então vá embora logo... Antes que mude de idéia! – Rosnei a ele no final da frase, o fazendo correr imediatamente, gritando de medo.

Quando me voltei a Derik novamente, percebo que eles já haviam o machucado, pois seus arranhões e marcas estavam bem aparentes. Aquele garoto conseguiu fugir deles na primeira oportunidade que teve, e por sorte, eu e Redy conseguimos chegar a tempo. Caindo ao chão extremamente cansado, Derik se pôs a chorar, e eu não o julgo, ele deu seu melhor e está todo machucado, eu também choraria no lugar dele.

— Eles... Eles queriam levar o Guto... Porque eu não trouxe o que me pediram... E eu disse que não! Que não poderiam levar o meu amigo! – Explicava ele entre soluços, sofrendo com tudo o que havia passado. Eu me agachei a sua altura, abraçando fortemente – Podem me levar tudo... Mas ninguém nunca vai me levar o Guto!

[...]

Redy:

— Ei! Jonathan! Redy! – Rafa acenou para a gente enquanto nós nos aproximavamos deles entre as ruas da cidade – Você acharam o Derik!

— É... Felizmente ele está bem! Chegamos a tempo! – Jonathan carregava aquele garoto no colo, enquanto o cãozinho seguia a gente – Ele acabou pegando no sono, está um tanto machucado e cansado... Mas vai ficar bem.

– Muito bem! Acho melhor voltarmos a pousada, lá poderemos cuidar melhor de Derik, acredito poder tratar seus ferimentos também – Sabre cruzou seus braços ao dizer tais palavras, e ele estava certo, era a melhor opção que tínhamos naquele momento.

Todos assentimos com a cabeça e então iniciamos nossa caminhada de volta até a pousada. Jonathan estava cuidando de Derik quase como se fosse seu irmão mais novo, ele parecia animado, e estava feliz por ter chegado no momento certo de salvar o garoto. Algum tempo caminhando depois, logo começamos a nos aproximar da pousada, já era possível vê-la ao fundo do horizonte. Um sorriso largo estava no rosto de cada um de nós, o sol já não estava tão forte, e o clima entre todos nós parecia estar bem mais leve do que a tensão toda que passamos agora pouco. Só que toda essa calmaria teve um limite após ouvirmos um bater de asas muito forte vindo de trás de nós. Quando você pensa que nada mais pode te surpreender em algum momento calmo, é justamente o momento onde tudo pode acontecer, e no nosso caso, o que nos surpreendeu, foi a aparição de um enorme Dragão Natura adulto, que pousou bem atrás de nós, levantando poeira e uma ventania por todo o local. Rapidamente puxei meu arco, e logo todos já estávamos preparados para o ataque que provavelmente viria, mas Derik acordou no colo de Jonny com toda aquela barulheira, pulando ao chão, indo ficar frente a frente com o gigantesco dragão.

— Um dragão tipo Natura... — Comentou ele ao se aproximar cada vez mais do enorme dragão – Um tipo raro quase nunca mais visto por sua dificuldade de proliferação...

— Derik, o que está fazendo? Volte aqui! — Gritei, mas ele me ignorou completamente e continuou a se aproximar do enorme dragão, que apenas o observava, entre bufados com suas enormes narinas.

— Pelos Deuses Derik! Volte! — Dessa vez, foi Rafa quem gritou ao tentar alertá-lo.

— Esperem... Olhem... — Jonny olhou de relance, apontando para o braço esquerdo de Derik que agora estava emitindo um brilho claro e esverdeado por de baixo do tecido branco – Derik... Você....

O tecido que envolvia seu braço se rasgou completamente ao brilho ficar cada vez mais intenso, revelando um símbolo tribal que estava se desenhando no braço daquele Garoto, no peito de sua mão, o desenho tinha um formato que se assemelhava muito a um dragão. Ele de fato era o último da linhagem de sua família, seu poder havia se revelado, e aqui presenciamos com nossos próprios olhos, o nascer do até então, último Cavaleiro de Dragão. O brilho, ventania a pressão mágica que imbuia todo aquele lugar estava deixando todos nós com dificuldade até mesmo para respirar.

— Calma, se acalme... — Derik disse ao dragão que continuava o olhar fixamente, quase como se estivesse pedindo por ajuda – Eu estou aqui agora...

Ele foi se aproximando cada vez mais, enquanto o dragão começou a se deitar diante a ele, baixando sua cabeça e fechando suas asas. Já completamente imóvel, Derik tocou seu focinho, o acalmando por completo, era incrível como sua mão brilhava onde ele o tocava. O dragão então, finalmente adormeceu, e o brilho das marcações que nasceram no braço do Garoto, já haviam se apagado.

— Agora... Está tudo bem... — Ele se virou para nós como se o que tivesse feito agora pouco fosse algo normal para ele. Seus olhos verdes intensos, estavam bem claros, como se tivesse transbordando energia mágica, partículas de energia pairavam ao redor dele. Mas em um subto moment, tudo se apagou, e Derik caiu inconsciente ao chão.

— Derik! — Jonathan correu até ele, o pegando em seu colo, enquanto colocava sua cabeça próxima ao seu peito. E com um breve suspiro de alívio, o comentário de Jonathan veio — Precisamos deixar ele descansar... Ele vai ficar bem.

Todos suspiramos aliviados, enquanto Guto não parava de latir com toda aquela situação que havia de entendido. Como estávamos perto, não tardamos muito a chegar na pousada, e Jonathan, logo subiu para levá-lo ao quarto onde ele mesmo estava hospedado. Assim que o lobo desceu para se juntar a nós na sala de estar, iniciamos uma pequena reunião para tirar a limpo tudo o que havíamos presenciado hoje.

— O que exatamente aconteceu agora a pouco? — Sabre estava massageando sua nunca enquanto mantinha a outra mão na cintura.

— Parece que a informação sobre o garoto ser da linhagem dos antigos cavaleiros de dragões era real — Sabre manteve sua atenção em mim esperando uma explicação mais detalhada e profunda — Os Cavaleiros de Dragões foi uma casta mágica e poderosa entre os humanos, que nasciam com a habilidade de domar e controlar os dragões. Usavam os dragões de várias formas diferentes, desde a proteção e batalhas... Ou até mesmo construções e utilidades públicas... Até onde eu sei, essa casta foi extinta com o tempo, deixando somente alguns Cavaleiros e descendentes restantes, espalhados por todo o Mundo Mítico, mas agora, o único Cavaleiro existente que se tem confirmação de que realmente está vivo, é Derik. Ele é bem novinho e aparentemente não tem nenhuma noção do tamanho poder que tem em mãos. Pelo menos... isso é tudo que tenho conhecimento sobre esses Cavaleiros.

— Isso explica o controle sobre o dragão — Sabre fica pensativo ao ouvir toda a história que lhe foi explicada. Jonathan estava extremamente quieto, mesmo ouvindo tudo aquilo, mas sabia exatamente o porquê dele estar daquela forma.

— Jonathan... Não podemos ficar cuidando dele, temos nossa própria missão, sem falar que agora que ele despertou seus poderes... Ele vai saber como se virar muito em breve – Explico nossa situação gentilmente a Jonathan, que apenas me observa com um olhar profundo – Acredite um pouco no potencial daquele garoto...

— Eu sei... Mas não quero deixá-lo também, eu era igual a ele no passado, sei o quanto ele irá sofrer para sobreviver no início — Se colocando no lugar do garoto, era possível entender o que ele passaria. Sei que sentimento é esse que Jonathan carrega com sigo, mas as vezes a realidade das coisas tendem a ser fato cruéis e assustadoras... Mas são esses mesmos momentos que nos faz mais fortes no futuro.

— Tenho certeza que vamos achar um bom lugar para ele John, ele é um bom garoto — Rafa pega de leve o braço de Jonathan, em sinal de apoio.

Ficamos em silêncio por algum tempo, até que comecei a dar falta de duas pessoas ali naquele lugar.

— Estranho... – A raposa anunciou aquelas palavras com uma cara desconfiada.

— Talvez eu já saiba a resposta... Mas vou perguntar mesmo assim... O que é estranho, Rafa? — Obviamente que ela estava tendo o mesmo sentimento de falta que o meu.

— Zack e Chrys, ainda não voltaram, será que não deveríamos procurá-los? Eles sumiram desde muito cedo – Ela cruzou os braços olhando para todos, como quem aparentava dizer que iria puxar a orelha dos dois quando voltassem.

— Eles devem estar bem, tenho certeza disso... Não será qualquer coisa que irá derrubar aqueles dois — Comento a ela que abriu um sorriso fraco para mim – Ainda mais se forem quem dizem ser mesmo... Uma Lenda e uma Pena Real, diria até mesmo que é improvável machuca-los tão facilmente...

— Gente, se estamos sendo procurados... Não deveríamos usar outras vestes? Estamos com essas mesmas há algum tempo — Sabre comentou algo realmente inteligente – Devem estar vindo atrás da gente, com uma imagem de nós que incluam nossas roupas atuais.

— Concordo... Por mais que não tenha entendido muito bem, mas parece inteligente de mais ao meu ver... Então eu só vou concordar — O contraste de conhecimento entre Sabre e Jonathan acabou de ser colocado a prova.

— Sim, de fato é a coisa mais inteligente a se fazer — Complemento a idéia de Sabre – Teremos que nos disfarçar melhor daqui em diante.

— Então, acho que vamos às compras!!!— Rafa rapidamente se virou para nós com seus olhos brilhando feito estrelas no céu — Só precisamos esperar aqueles dois bobos voltarem agora!!!

Eu, Jonny e Sabre nos entre olhamos abrindo um sorriso lateral ao ver a animação de Rafa por algo tão simples quanto comprar coisas novas, mas acho que entendia os motivos dela. Nesse momento, ouvimos passos pesados ressoarem do lado de fora do estabelecimento. O dragão estava lá, sentado como se estivesse a esperar alguém. Saímos para vê-lo, um pouco receosos mas prontos para confrota-lo. Ele nos olhou de cima para baixo, mas não fez nada, a não ser nos surpreender mais uma vez, pois o dragão abriu sua boca, e começou a falar conosco, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— Olá viajantes, estou procurando por meu novo mestre, sabem onde ele está? — Sua voz era extremamente grave e alta, até mesmo assustadora e imponente – Acredito tê-lo visto com vocês a alguns momentos atrás.

— Senhor... – Creio que nenhum de nós esperava por isso, estávamos todos em verdadeiro choque naquele momento.

— Por favor, me chame de Dilophodis – Anunciou o dragão ao abaixar seu pescoço até a nossa altura.

— Certo, Dilophodis... Pode nos explicar o que está acontecendo? — Pergunto tentando obter mais informações sobre tudo o que estávamos presenciando.

— Claro, meu jovem. Há muito tempo atrás, uma linhagem de humanos que podiam nos compreender, apareceu em meio a uma enorme guerra entre Dragões e Humanos. Eles ficaram conhecidos como cavaleiros de dragões, pois sabiam como nos acalmar, também tinham o conhecimento de nos guiar ao caminho certo. Quando um dragão encontra seu mestre, uma marca cresce em seu corpo, ela é uma espécie de contrato. No meu caso, aquele menino contém a minha marca, ele é meu mestre. A força e a conexão que temos, é chamada de dragonessence. É o equilíbrio entre a essência dos humanos e a essência dos dragões... É meu dever protegê-lo, até que tenha força o suficiente para montar em mim e fazer suas próprias decisões ao qual vou apoia-lo. Nem todos os dragões são maus ou selvagens, apenas têm fome e precisam se alimentar — Ele explica, brevemente sua conexão com Derik.

— Entendo, mas... Como consegue falar nossa língua? — Jonathan curioso com aquele fato incrível, fez a pergunta que não queria calar.

— Quando a conexão entre um dragão e um humano é estabelecida, nós dragões ganhamos as habilidades de nossos mestres, incluindo a comunicação humana — Ele explica brevemente mais uma vez sua situação

Nós nos entre olhamos, e já sabíamos que tínhamos que fazer a coisa certa, afinal, aquele sempre foi o destino daquele garoto. Aquela era a herança que seus pais haviam lhe deixado. Decidimos que devíamos acordar Derik e levá-lo à Dilophodis, para que ele decidisse o que iria querer para si mesmo. Subimos, e rapidamente o acordamos, fazendo uma breve explicação sobre tudo que estava acontecendo, e ele foi ao encontro de Dilophodis, junto com seu cão. Diante ao seu mestre cavaleiro, Dilophodis se curvou diante a Derik, desculpando-se por seu comportamento. Derik o abraçou de um jeito estranho, já que ele só consegui envolver o focinho daquele enorme Dragão.

— Mestre, eu gostaria de protegê-lo, venha comigo para a casa. Um dia ela pertenceu a seus pais, e eu a mantive segura e inteira, para que um dia você pudesse tomar aquilo que era seu por direito — Humildemente, Dilophodis conversou com Derik, fazendo aquele pedido com veemência – Se tornará um grande cavaleiro de dragão, tenho plena certeza disso.

Derik estava maravilhado com tudo o que estava presenciando, e assentindo com a cabeça, ele concordou com Dilophodis, aceitando finalmente o destino que era seu por direito. Correndo até nós, ele abraçou e agradeceu a cada um ali presente. Após isso, Sabre me puxou para perto dele assim que a primeira dúvida brotou em sua cabeça.

– Ei... Redy... – Sussurrou ele a mim – Tem certeza que o menino ficará bem?

– Acredito ter lido algo sobre os dragões terem penalidade de morte, caso seu mestre morra por qualquer motivo... Então acredito que Dilophodis vai querer cuidar muito bem de seu mestre.. – Cruzei os braços sorrindo observando toda aquela cena.

– Acho que entendi... Vendo por esse lado, realmente não tem porque se preocupar... – Sabre colocou as mãos em sua cintura observando aquela comoção que estava acontecendo a nossa frente.

– Quando eu morava com meus pais, eles me contavam muitas histórias e lendas de heróis, algumas delas eram de Cavaleiros Dracônicos. Em muitas eras, esses cavaleiros protegiam as vilas, cidades e reinos... – Eu e Sabre nos viramos para a pousada e iniciamos nossa caminhada para dentro do local de descanso – De fato tudo o que meus pais me contavam era real, desde a marca no braço dele, indo até a fidelidade que os dragões tem com seus respectivos cavaleiros. Ele vai ficar bem, tenho certeza que vai.

– Será que um dia voltaremos a rever ele? –A expressão de preocupação de Sabre lentamente vai se desfazendo.

– Tenho certeza que sim, Jonathan ficará animado nesse dia também, espero que ele volte a nós crescido e bem treinado por Dilophodis... – O respondo enquanto abria a porta para que pudéssemos entrar para dentro da pousada.

– Por que exatamente você pensa isso? – Ele me ajuda a abrir a outra porta, olhando pra Jonathan que vinha limpando algumas lágrimas em nossa direção, após Derik ir embora voando com Dilophodis e seu cãozinho.

– Não sabemos o que iremos enfrentar daqui pra frente... É importante que tenhamos todo o tipo de ajuda e suporte que pudermos... Essa profecia me dá arrepios na espinha, parece que tudo está sendo levado a uma grande e brutal guerra, e não qualquer uma... Uma bem sangrenta – Meu olhar se torna profundo e melancólico – Que os deuses nos ajudem até lá... Torça para que eles estejam junto a nós Sabre...

Sabre continuou me olhando após eu entrar primeiro dentro da pousada, e então acudiu Jonathan que ainda estava sentimental com a despedida de seu amigo.

"Espero que esteja errado sobre tudo isso... Caso contrário, Zack ainda terá muitos problemas para superar pela frente... E muita dor e sofrimento para aguentar também"